Super encarecimento é ameaça ao agronegócio catarinense

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Florianópolis (21/1) – Um perigo real e iminente assusta o agronegócio catarinense, representada no grave quadro de super encarecimento de milho que assola violentamente as maiores cadeias produtivas de Santa Catarina e ameaça causar pesados e irreversíveis prejuízos à avicultura e à suinocultura. Desemprego na indústria, insolvência de criadores e quebradeira de empresas são os efeitos temíveis se a crise não for contornada.

Documento endereçado aos governos do estado e da União e firmado pelos presidentes da Ocesc, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (José Zeferino Pedrozo) e Coopercentral Aurora Alimentos e diretoria de agronegócio da Fiesc (Mário Lanznaster) relata a raiz da crise e reivindica ações imediatas.

Os principais agentes econômicos dessas cadeias produtivas – os produtores rurais e as agroindústrias – foram surpreendidos pelas rápidas e imprevisíveis mudanças do mercado, o que fez o preço do milho saltar de R$ 27,00 a saca em outubro para R$ 42,00 em janeiro deste ano, marcado por forte e persistente viés de alta.

Esse espantoso aumento superior a 50% em apenas 90 dias tem origem na taxa cambial, fruto da gestão macroeconômica do Governo Federal, que instituiu um novo parâmetro nesse mercado: “o preço do porto”. A rigor, nesse momento, não há escassez nem excesso de milho no mercado, mas a opção pela exportação drenou 30 milhões de toneladas do mercado doméstico para o mercado internacional. Dessa forma, os criadores de aves e suínos e as indústrias pagam, desde o ano passado, o valor correspondente à cotação internacional para comprar milho destinado a sua transformação em carne.

Os dirigentes assinalam que a procura mundial pelo grão tornou o Brasil o segundo maior exportador de milho do mundo, arrecadando bilhões em divisas externas. Mas isso tem um preço: a produção interna de carnes sofre pela elevação do custo. O milho existe no mercado, mas seu preço é absurdamente elevado: a saca está sendo vendida a até R$ 46 reais em algumas regiões.

Essa situação afeta todo o País, porém, é mais grave em Santa Catarina que está longe de obter autossuficiência em milho. Aliás, o Estado é o maior comprador de milho dentro do Brasil. Santa Catarina possui o mais avançado parque agroindustrial do País, representado pelas avançadas cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura. Essa fabulosa estrutura gera uma riqueza econômica de mais de 1 bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano, sustenta mais de 150 mil empregos diretos e indiretos e gera bilhões de reais em movimento econômico.

PRODUÇÃO DESPENCA EM SC

Nesse cenário de intenso consumo de milho, a produção desse cereal cai continuamente há dez anos. Em 2005, 106 mil produtores rurais catarinenses cultivavam 800 mil hectares com milho e colhiam entre 3,8 e 4 milhões de toneladas. Nessa década, a área plantada foi se reduzindo paulatinamente e, em 2015, foram cultivados 340 mil hectares de lavouras para uma produção estimada em 2,5 milhões a 3,0 milhões de toneladas. (Cerca de 40% desse volume nem sai da propriedade e é transformada em silagem para nutrição do gado leiteiro).

Esse quadro representa uma equação perigosa: para um consumo de 6 milhões de toneladas haverá uma produção interna de 2,5 milhões e, portanto, uma necessidade de importação de 3,5 milhões de toneladas de milho. Insumo escasso representa encarecimento para os produtores rurais e para as agroindústrias. A conjugação de uma série de fatores contribuiu para chegarmos a esse ponto, com redução tão drástica da produção. Os produtores migraram para a soja, um produto com grande liquidez no mercado de commodities, menor custo de produção e melhor remuneração final aos agricultores.

A OCESC, FAESC e AURORA alertam que “o elevadíssimo custo do milho está inviabilizando dezenas de pequenas e médias indústrias frigoríficas e tornando insolventes milhares de produtores rurais.” E advertem que o governo cometerá um grave erro se considerar essa crise apenas “um problema do mercado”. A avicultura industrial e a suinocultura industrial são os setores que empregam intensa mão de obra no campo e nas indústrias de processamento.

MEDIDAS - As entidades reivindicam duas medidas urgentes formalizadas em documento entregue ao governador Raimundo Colombo nessa quarta-feira, em Chapecó, que se comprometeu em levar ao governo federal. Uma, é a intervenção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no sentido de abrir leilões para venda de milho e promover a transferência dos estoques do centro-oeste brasileiro para o sul. A outra, é a concessão de subsídio de R$ 10 reais por saca de milho transportada do centro-oeste para Santa Catarina a ser deduzida dos créditos de PIS e Cofins que as indústrias da carne têm junto à Receita Federal.

Os dirigentes foram categóricos: “Precisamos estancar rapidamente essa crise do milho, caso contrário, milhares de produtores e muitas agroindústrias de pequeno e médio porte sucumbirão. Isso representará milhares de novos desempregados na cidade e nova onda de êxodo rural no campo”.

Zordan, Pedrozo e Lanznaster asseveram que não são contrários ao produtor de milho ser bem remunerado, mas, explicam, “precisamos de mecanismos para evitar que esses custos tenham reflexo no aumento do preço da carne e na inflação”.

Lembram que, em 2011/2012, crise semelhante ocorreu provocada por outros fatores, e o governo federal permaneceu absolutamente inerte, indiferente e apático. Em consequência, milhares de criadores quebraram, dezenas de agroindústrias caminharam para o precipício e fecharam ou foram incorporadas aos grandes grupos econômicos – em um processo de concentração industrial sem precedentes. (Fonte: Assimp Sistema Ocesc)

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