Agricultura de precisão é tendência
As cooperativas brasileiras estão cada vez mais precisas e eficientes quando o assunto é agronegócio. E uma das tendências mais fortes do momento é a agricultura de precisão, caracterizada pela tomada de decisões a partir de uma análise detalhada das características do solo, do clima e das culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.
Para o Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as cooperativas agropecuárias têm maiores condições de fazer a ponte entre o desenvolvimento da agricultura digital no Brasil e as pequenas e médias propriedades.
Quando falamos em agricultura de precisão, temos a impressão de que ela vai chegar somente nos grandes produtores rurais. Mas, é importante lembrar que, por meio de um cooperativismo sólido, as pequenas e médias propriedades terão acesso a essa inovação também. As cooperativas têm um papel muito importante. O sistema cooperativo vai ser o grande elo entre a agricultura de precisão e os agricultores familiares”, ressalta Márcio Madalena, médico veterinário e coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.
O Ministério iniciou, em parceria com a OCB, um trabalho de intercâmbio de boas práticas produtivas entre as cooperativas de todo o país. “Sabemos que algumas cooperativas têm utilizado essas ferramentas de tecnologia e o objetivo é que essa tendência de inovação possa se tornar rotina nas cooperativas”, afirmou Madalena.
A cooperação ocorrerá por meio de eventos regionais para trocas de experiências entre cooperativas mais adiantadas no processo de digitalização e outras que apresentam mais dificuldades. A estratégia ainda não teve início plenamente em razão da pandemia, mas a ideia é começar virtualmente e expandir para encontros e visitas entre os cooperados.
“Todas as regiões do país tem experiências interessantes. Identificamos que o Nordeste tem um potencial muito grande e o Norte do país, por conta da sociobiodiversidade, da bioeconomia, já tem alcançado alguns mercados interessantes, e tem um potencial de crescimento muito grande, não só na área de gêneros alimentícios, mas no setor de cosméticos, seguindo todo um arcabouço de responsabilidade social e ambiental, que o cooperativismo carrega na sua essência”, destacou o coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.
FOCO NA PRECISÃO
Uma das cooperativas que oferecem serviços de agricultura de precisão no país é a Castrolanda — cooperativa agroindustrial situada em Castro, Paraná. A assistência técnica especializada na agricultura de base tecnológica é oferecida pela cooperativa desde 2014 e já presta o serviço para 81 cooperados, de um total de 464.
Começamos com o propósito de levar essa oportunidade e esse acesso aos produtores que não tinham a condição de comprar equipamento, máquina para fazer as operações na propriedade. E essa demanda aumentou. Hoje temos uma estrutura bem robusta e oferecemos desde levantamento de dados até corretivo com fertilizantes”, explica o engenheiro agrônomo Rudinei Borgoni, coordenador de Assistência Técnica e Agricultura de Precisão da Castrolanda.
Segundo Borgoni, todos os tipos de produtores têm utilizado os serviços de agricultura de precisão, mas os produtores que apresentam maior demandas têm propriedades com área superior a 300 hectares.
Entre os serviços oferecidos pela cooperativa, está a leitura de condutividade elétrica do solo, para analisar a qualidade do solo e definir as técnicas de manejo. Também é feita coleta de amostras de solo para permitir a aplicação exata de corretivo com taxa variável pelas zonas de manejo, conforme a demanda.
Culturas como soja, milho e trigo estão entre as que mais demandam aplicação de fertilizantes, e o serviço mais utilizado é a aplicação de corretivo no solo, com gesso e calcário.
Temos também a possibilidade de fazer a leitura por NDVI (Índice de Diferença Normalizada de Vegetação, tradução livre) da cultura, para ter essa visibilidade diferenciada sobre o que a cultura está precisando em cada ponto, em termos de aplicação nitrogenada. É a leitura da biomassa que tem no solo e através dos dados a gente consegue ver onde tem maior demanda de nitrogênio ou onde não precisa de nitrogênio”, explicou o agrônomo.
A cooperativa está se preparando para usar novas tecnologias de leitura e interpretação de satélite com o objetivo de começar a oferecer o serviço de recomendação técnica de plantio e semeadura a taxas variáveis, que permitem a aplicação correta de insumo, conforme a característica de cada talhão.
“Todo ano, nossa área de produção vem aumentando. Os produtores e a área técnica veem esse processo como um caminho sem volta. A agricultura de precisão é uma área que deve ter um crescimento bastante grande, em decorrência dos resultados obtidos”, destaca Borgoni.
A base de dados para essa nova etapa está sendo feita pela Fundação ABC, que realiza pesquisas sobre soluções tecnológicas para a agricultura, a pecuária, zootecnia, insumos e outros, para a Castrolanda e outras cooperativas.
A mais nova ferramenta em desenvolvimento na Fundação é a plataforma Sigma, que irá integrar na web todos os dados sobre solos, cultivos, épocas de plantio, tipos de manejo, colheita, produtividade, fatores ambientais, clima e precipitação de todas as cooperativas.
“Essa ferramenta vai nos auxiliar e dar uma segurança muito grande no momento da recomendação técnica e facilitar a vida do produtor, porque ele vai conseguir talhão a talhão fazer a gestão do negócio dele de forma muito assertiva”, completou Borgoni.
Aliado ao trabalho da agricultura de precisão, a cooperativa também tem estimulado os produtores a seguir as boas práticas de produção para conquistar certificações ambientais, como a Certificação RTRS, que assegura a sustentabilidade do processo produtivo, além da saúde e da segurança do trabalhador em campo.
SEGURANÇA ALIMENTAR
O pesquisador da Embrapa Ricardo Inamasu acredita que a revolução digital certamente irá fortalecer o Brasil em sua posição como grande produtor mundial de alimentos e ainda melhorar a imagem do país sobre a qualidade e sustentabilidade dos produtos.
A agricultura de precisão pode favorecer a segurança alimentar mundial, fazendo um sistema mais confiável. É o valor agregado, nesse novo mundo com mais informação. As pessoas tendem até a querer pagar mais por um alimento que promova a sustentabilidade”, destaca Inamasu.
O Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura também aposta que o incremento da tecnologia nos sistemas produtivos levará os produtos brasileiros a outro patamar de qualidade e confiabilidade no mercado internacional.
“Com essa revolução digital, o consumidor tende a exigir um arcabouço de responsabilidades dos setores produtivos. O Brasil tem sentido isso na pele e o cooperativismo carrega na sua essência a responsabilidade social e a ambiental. Então, acreditamos que, dentro dessa questão da inovação e da agricultura 4.0 – já tem gente falando em 5.0 –, o cooperativismo vai ser esse elo forte do avanço tecnológico com pequenos, médios produtores e com a sustentabilidade”, reitera Márcio Madalena, que coordena do Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação