Colhendo os frutos
Iniciativas de inclusão feminina são como um plantio: é preciso semear para colher os frutos lá na frente. Na década de 1980, a Cooperativa de Produção e Consumo de Concórdia (Copérdia), em Santa Catarina, deu início a uma ação pioneira ao criar os núcleos femininos, que existem até hoje. Na época, os grupos reuniam principalmente as esposas dos associados, líderes das suas comunidades, para discutir a gestão da cooperativa e o dia a dia dos produtores.
Criadora de suínos e, na época, esposa de um dos cooperados, Idilse Mosel, 56 anos, se encantou pelo movimento a partir da participação nesses núcleos. Liderança feminina desde 1986, ela seguiu engajada nos trabalhos até ser eleita, em 2005, a primeira mulher a participar do conselho fiscal da cooperativa.
Cooperada há 35 anos da Copérdia, Idilse lembra que as mulheres desse movimento pioneiro receberam alguns “olhares atravessados” quando começaram a ocupar os espaços, mas não sentiu dificuldade na missão porque sempre viu homens e mulheres com igualdade.
Eu me candidatei a uma vaga não para tirar espaço dos homens, mas para mostrar que nós, mulheres, também podíamos fazer esse trabalho, que era exclusivo dos homens. E a gente conseguiu provar que o trabalho andou do mesmo jeito”, lembra.
TEM MULHER NO CONSELHO
Atualmente, Idilse faz parte do Conselho de Administração, no seu segundo mandato. Ela avalia que hoje há muito mais oportunidades de crescimento para as mulheres no cooperativismo, mas ainda há muito a conquistar. “Nós temos espaço, mas, no Conselho de Administração, por exemplo, somos só duas mulheres entre 12 pessoas. Ainda temos muito caminho a percorrer, inclusive nas diretorias executivas”, compara.
Os núcleos femininos continuam funcionando a pleno vapor, mesmo durante a pandemia. Atualmente, o projeto atende a cerca de 4,5 mil participantes em 93 núcleos que desenvolvem atividades periódicas com as mulheres em 24 municípios gaúchos e catarinenses em que a Copérdia atua. Idilse destaca a capacidade mobilizadora da mulher, que leva com ela o marido, os filhos e toda a comunidade para se envolver no trabalho.
Tenho muito orgulho do sistema cooperativo e gratidão pela Copérdia ter criado esses núcleos femininos, porque daquela sementinha que foi plantada, lá em 1988, a gente está colhendo frutos até hoje. Através da inclusão das mulheres no seu quadro social, nos seus conselhos, ela conseguiu transformar não só a minha vida, mas a da minha família, da comunidade e dos municípios onde ela atua.”
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação