Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?
Foi da produção dos pequenos grãos de arroz e soja que saiu o sustento de Jessyca Leon ao longo dos seus vinte e poucos anos. Nascida em São Sepé, no interior do Rio Grande do Sul, essa jovem de riso fácil é filha de uma produtora da Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel). O cooperativismo está na vida de Jessyca desde que puxa na memória as recordações da infância, mas ganhou um novo sabor há quatro anos, quando ela também se tornou cooperativista. O gosto é, precisamente, de uva. Hoje, ela trabalha na Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul, a Fecovinho, localizada em Farroupilha, na Serra Gaúcha.
A gente luta pelas cooperativas, está do lado dos produtores”, afirma a moça, também cooperada da Sicredi Serrana.
Assim como Jessyca, o jovem Neuryson Santana é um entusiasta do nosso movimento. Natural de Porto Nacional, em Tocantins, ele trabalha no Sicredi União MS/TO e foi na cooperativa que aprendeu a importância de buscar o melhor não apenas para si, mas para todo o grupo.
Por fim, chegamos a Minas Gerais e, aqui, mais duas histórias, separadas por 218 quilômetros: Adriana dos Santos, de Belo Horizonte, e Amanda Luiza, moradora de Arcos. A primeira é administradora e cooperada da Unicred Aliança há quatro anos, quando se apaixonou pela causa. Já Amanda é advogada e associada ao Sicoob União Centro-Oeste, com sete anos de vivência no cooperativismo.
O que essas vidas têm em comum? Jessyca, Neuryson, Adriana e Amanda fazem parte do time de 20 mulheres e 20 jovens eleitos como Embaixadoras e Jovens Embaixadores Coop, durante o 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), realizado em Brasília em 2018. Juntos, eles tentam responder uma pergunta importante: “Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?”.
NOVOS RUMOS
“Como eu, Jessyca, posso contribuir para a construção do cooperativismo do futuro?” Foi com a resposta a essa pergunta que a colaboradora da Fecovinho garantiu o título de embaixadora jovem do cooperativismo. Ela produziu um vídeo caseiro que trouxe a resposta em fórmulas matemáticas: “Dividindo conhecimento, multiplicando o número de cooperativistas e somando para o time”.
Para ela, ninguém melhor que os cooperativistas mais novos para fazer isso.
Está na juventude o espírito revolucionário, o caráter coletivo e o sinônimo para cooperação de quem é, naturalmente, agente de transformação social”, ensina.
A reivindicação de Jessyca é por espaço, oportunidades e investimento nos jovens cooperativistas: “O jovem é um investimento a longo prazo. É ele que queremos ver lá na frente como um dirigente. Vamos prepará-los! Entre os nossos princípios estão a educação, a formação e a comunicação. Temos tudo isso para ensinar sobre o cooperativismo. Basta fazer, estudar e investir”.
A gaúcha acredita que o futuro das cooperativas não depende de medidas mirabolantes, mas de dois passos simples: vestir a camisa e consumir produtos de cooperativas. “Quando você compra um vinho de cooperativa, por exemplo, não está comprando de uma pessoa, mas de mil cooperados. É o trabalho de todas as pessoas e das famílias associadas. Vinho, iogurte, leite, grãos… tudo produzido em uma cooperativa é mais rico de conteúdo e de vida!”.
DIVERSIDADE TRAZ RESULTADOS
Já no time das Embaixadoras Coop, fala-se em temas da atualidade como chave para o futuro. Adriana dos Santos defende a necessidade de se adaptar às mudanças tecnológicas. “O cooperativismo pode ser um modelo de negócios do futuro! Para isso, é necessário acompanhar tendências que movem o mercado, como as novas tecnologias e a economia de compartilhamento. Tudo isso, levando em conta os princípios cooperativistas de ajuda mútua, compartilhamento e democratização de ganhos de forma justa”, alerta.
A mineira também defende a necessidade de trazer todos os públicos para o cooperativismo.
Precisamos de mais diversidade, incluir jovens, mulheres e negros. Em um congresso como esse, por exemplo, temos pessoas de várias regionalidades, culturas e percepções que nos fazem entender mais como funciona cada cooperativa nos diferentes lugares do país”, argumenta.
Uma pesquisa da Harvard Business Review reforça a sugestão da moça: empresas com maior diversidade entre os colaboradores têm 45% mais chance de aumentar a participação no mercado. As instituições que investem nesse fator podem ter resultado 35% melhor que as concorrentes, segundo pesquisa da consultoria McKinsey and Company, em 12 países. Outro dado da Hay Group mostra que os funcionários de organizações diversas têm 17% mais engajamento e 75% sentem liberdade para inovar no trabalho.
Quem também aposta na diversidade como caminho para o cooperativismo é Amanda Luiza, adotando uma perspectiva de gênero: “O cooperativismo do futuro deve ser construído com a união e o empoderamento feminino. Este é o momento de o cooperativismo ouvir suas associadas, colaboradoras e guerreiras”. A advogada defende que não faltam boas ideias nas mentes femininas, mas oportunidades para apresentá-las. Como medida prática para isso, ela sugere a inserção obrigatória de mulheres e jovens em órgãos estatutários.
HIGHLIGHT: NÚMEROS
493 mulheres e 171 jovens de todo o Brasil se candidataram às vagas de embaixadores cooperativistas. Eles participaram de um concurso cultural no qual responderam à pergunta: “Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?” Os autores dos melhores vídeos e textos foram convidados a participar do CBC com tudo pago pelo Sistema OCB.
Assista aos vídeos dos 20 jovens embaixadores do cooperativismo
POVO-FALA
Jovens embaixadores
Como posso ajudar a construir o cooperativismo do futuro?
“O Cooperativismo do futuro deve ser construído com a União e o Empoderamento feminino; a mulher atual não quer elogios, quer respeito e possui grandes ideias, estando disposta a lutar por elas e pela mudança no rumo do Cooperativismo no mundo”
Amanda Luiza de Sousa - Sicoob União Centro Oeste (MG)
Sendo cooperados ativos e atuantes da cooperativa, mostrando ao mundo a importância do trabalho coletivo em prol de um objetivo comum. Para isso, é preciso cada um conquistar seu espaço querendo o melhor para as gerações futuras.
Elisetei Bellettini - Cooperativa Agroindustrial Coopeja (SC)
“Disponibilizar mais espaço para que lideranças femininas possam demonstrar seu potencial com muita garra e determinação no desenvolvimento da comunidade por meio da cooperação.
Isabela Albuquerque - Lar Cooperativa Agroindustrial (PR)
“Tendo interesse genuíno no ser humano, com foco no coletivo e não no individual, cada cooperativista assumindo a missão de viver este propósito fará do mundo, um lugar melhor, mais justo e mais cooperativo.
Marlian Catarina - Credicomin (SC)
“Disseminando e incentivando a cultura do cooperativismo para as crianças e adolescentes, pois quando se entende o que é cooperar, é impossível não se apaixonar por essa ideologia. Assim podemos garantir os representantes do futuro do cooperativismo.
Michele Moura da Silva - Unicred (MT)
“Incluindo as mulheres e jovens com iguais condições de participação na cooperativa, principalmente na governança”.
Vera Lucia Ventura - Sicoob Norte Sul (BA)
Confira todas as ideias dadas por nossas embaixadoras do cooperativismo na página do Sistema OCB no facebook
Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação