Cooperada de ouro
Foi o esporte que “consertou” o seu coração, ainda menina, e a fez subir em vários pódios ao longo da vida. Ana Sátila, 24 anos, é atleta da canoagem slalom e conquistou o título de brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada. Com um diagnóstico de problema cardíaco na infância, o pai dela, também atleta, apostou no esporte como tratamento. O começo dessa história foi na natação, ainda aos 5 anos.
“Eu tinha uma má formação no coração, ele não era totalmente fechado, então sempre tinha desmaios e ninguém conseguia saber exatamente o que era. Eu morava em uma cidade pequena [Primavera do Leste, em Mato Grosso], e não tínhamos condições na época de ir a um hospital particular”, conta.
Os médicos chegaram a dar um prazo de vida para Ana, o que era muito difícil para a sua família.
Minha mãe dormia com a mão no meu nariz para ter certeza de que eu estava respirando. Meu pai decidiu então começar a me treinar muito cedo. Ele apostou no esporte porque nenhum medicamento resolvia. E deu certo”, conta Ana.
O pai-treinador não dava moleza. Entre escola, treinos da modalidade e de força, Ana começava a rotina de madrugada e já estava na água às 5h. O início precoce e a dedicação levaram à conquista de uma vaga olímpica ainda aos 15 anos, poucos meses após deixar a cidade natal para integrar a Seleção Brasileira de Canoagem. Assim, Ana se tornou a atleta brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada, em 2012, nos Jogos de Londres.
O caminho da jovem atleta cruzou com o cooperativismo há dois anos, quando o Sicoob Rondon (MT) passou a patrociná-la e investir no seu treinamento. Depois de duas participações nos Jogos — 2012 e 2016 —, ela dedicou os últimos quatro anos a treinos pesados para alcançar a tão sonhada medalha olímpica em 2020. Mas o vírus se espalhou e o improvável aconteceu: no fim de março, os Jogos de Tóquio foram oficialmente cancelados.
“Quando a confederação nos dispensou e mandou voltar para casa foi que eu tive a real noção da pandemia. Eu estava realmente assustada porque, por ser atleta, se eu pegasse covid seria um regresso muito grande, sem contar que existem problemas decorrentes da doença que são irreversíveis”, pondera.
INSPIRAÇÃO QUE FALTAVA
Além do medo da doença, o adiamento das competições e a falta de perspectiva levaram embora a motivação. “Eu fiquei muito para baixo porque me sentia muito bem preparada para Tóquio, estava numa fase muito boa. Fiquei muito desmotivada porque não tinha nenhuma programação de competição para o ano inteiro”. Mas a irmã e o namorado, também atletas, trouxeram a inspiração que faltava. Junto com eles, Ana montou uma academia em casa e conseguiu remar em uma área afastada da cidade.
No final eu consegui sair desse confinamento mais forte do que cheguei, com uma parte física boa e muito feliz. Tenho certeza que poderia ter terminado muito pior, eu sou uma atleta que precisa ter tudo muito bem programado para dar o meu melhor a cada dia, estar junto do meu técnico. Mas eu consegui superar tudo”.
O resultado veio logo em novembro: Ana ganhou a medalha de ouro na Copa do Mundo de canoagem e está focada em alcançar o pódio em Tóquio neste ano.
Em 2020, depois de 4 meses de confinamento, Ana, que também é cooperada, foi até a sede conhecer o Sicoob Rondon e ganhou uma injeção de ânimo para seguir. “Fiquei muito maravilhada quando consegui visitar o Sicoob, foi emocionante porque eu vi que fazia parte de uma família muito grande, tive o carinho de muitas pessoas que eu nem conhecia e que estavam torcendo por mim. Vai muito além do patrocínio em si”, comemora.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação