imagem site coop

Crise em 2020

  Os números da safra de grãos que estamos colhendo em 2020 são animadores: um volume de 249 milhões de toneladas — ou 3,10% a mais que a safra do ano passado, que já foi recorde. A área plantada cresceu 1,2% — nem um terço do crescimento da produção —, ou seja, aumentou a produtividade por hectare plantado. E isso significa que os produtores rurais brasileiros continuam a incorporar novas tecnologias, ano após ano. O caso da soja é exemplar. Vamos colher algo em torno de 125 milhões de toneladas (10,4% acima da colheita de 2019), enquanto a área semeada cresceu só um quarto disso, 2,6%! E não é só nesses grãos que colhemos bons frutos. Os cafeicultores devem colher 57 milhões de sacas, ou 22,3% mais do que no ano passado. Claro que aqui tem a influência da bianualidade das colheitas, mas o aumento é muito sólido. Ora, as cooperativas tiveram — e sempre terão — papel preponderante no processo de inovações, por uma razão doutrinária evidente: elas oferecem aos seus cooperados os insumos realmente indicados para cada região e cultura, sem se preocuparem com o lucro que obterão com essas vendas. O resultado traduz-se em menor custo de produção e maior produtividade para o produtor. Este é o papel das cooperativas: são um instrumento para a melhor sustentabilidade e competitividade de seus associados. Portanto, elas já cumpriram parte considerável de sua missão até aqui, neste 2020. Agora, no entanto, surge um fator de desequilíbrio nos mercados: o novo coronavírus. Provavelmente haverá um esfriamento da economia, dadas as medidas adotadas em todos os países afetados pelo vírus, do fechamento de logradouros públicos (restaurantes e bares, cinemas, teatros, academias e estádios), ao cancelamento de congressos, seminários, espetáculos e demais eventos de aglomerações, à suspensão de aulas em todo tipo de instituições de ensino, ao colapso de muitas empresas de serviços, e assim por diante. Tudo isso vai produzir desemprego, queda de renda; haverá redução do consumo das famílias e os preços poderão cair.
As cooperativas, mais do que nunca, precisarão estar atentas a isso para mitigar os efeitos perversos na renda dos cooperados. Terão que financiar estoques porque, quando a crise passar, as coisas voltarão ao normal, e é preciso sobreviver até lá. Mas não fica só nisso."
As cooperativas financeiras devem criar modelos de crédito para ajudar, tanto na cidade quanto no campo, àquelas pessoas físicas e jurídicas que ficarem “sem ar” durante a permanência da pandemia. Já as cooperativas médicas, sem a menor dúvida, terão uma responsabilidade enorme nessa guerra pela vida. Não nos esqueçamos de que é nas grandes crises que o cooperativismo se agiganta. Estamos entrando em uma crise enorme!
Essa matéria foi escrita por Roberto Rodrigues, embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação para o cooperativismo  e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 

Conteúdos Relacionados