De estagiária a presidente
Apenas alguns passos separam a casa de Maria Nascimento da sede da OCB/Amapá, na capital, Macapá. Ela decidiu tornar-se vizinha da organização quando assumiu uma gerência da unidade estadual.
Eu acordo e durmo respirando cooperativismo. As pessoas já dizem que minha casa é um subnúcleo da OCB”, brinca.
Tamanha dedicação trouxe frutos: aos 30 anos, Maria foi a primeira mulher eleita presidente de uma unidade estadual do Sistema OCB na Região Norte. E ela sonha com voos ainda mais altos, como assumir posições de liderança em âmbito nacional, como conselheira ou, quem sabe, diretora da Casa do Cooperativismo.
O primeiro contato de Maria com o cooperativismo aconteceu há 11 anos, quando ela fez um curso de bombeira e passou a integrar uma coop de trabalho da capital amapaense. Nessa época, surgiu o nome de guerra — Nascimento, pelo qual é conhecida até hoje. Ao longo dos anos, passou por vários cargos dentro da cooperativa, desde a limpeza até a presidência. Depois, virou prestadora de serviços do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e, em 2015, conseguiu um estágio na OCB/AP.
“Depois de apenas 23 dias no estágio, eu assumi uma gerência. Talvez porque nunca tenha me visto como uma simples estagiária. Eu aprendi na prática mesmo a palestrar, a redigir uma ata, a fazer um atendimento na área jurídica, na contábil. Esse conhecimento foi me dando muita experiência no trato com as pessoas”, lembra Maria.
CORAGEM PARA VENCER
Mesmo com a experiência acumulada em uma década de trabalho no cooperativismo, ela enfrentou a desconfiança de alguns sobre sua capacidade de presidir a OCB/AP.
Algumas pessoas me viam como muito jovem para ocupar o cargo. E eu ainda sou uma mulher negra; por isso, o desafio foi muito maior. O mais gratificante é, em menos de um ano de mandato, já ouvir de algumas pessoas frases como ‘eu queria me desculpar com você porque agora vi que você era alguém capaz’. Desabafos como esse, de quem um dia não acreditou no meu trabalho, são a minha maior recompensa”, afirma.
Maria assumiu a presidência da OCB/AP em um ano difícil para todo o cooperativismo. Além da pandemia, em 2020 o estado sofreu com uma série de apagões elétricos que duraram dias, afetaram a economia e a qualidade de vida da população.
A estratégia foi mobilizar as cooperativas para apoiar quem estava em necessidade — especialmente os cooperados do ramo Transporte e Saúde, que foram mais prejudicados. Foram várias campanhas de arrecadação de alimentos para fazer o que ela chama de “equilíbrio da balança”, entre as cooperativas que conseguiram se manter e aquelas que passam por mais dificuldade.
Tudo que faço, seja no trabalho, em casa ou na igreja, tem que ter um impacto na vida das pessoas. A minha maior razão de ser presidente do sistema OCB/AP é, com esse status, poder fazer a diferença na vida das pessoas”, diz.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação