Diversidade é atalho para o desenvolvimento
Esqueça o discurso politicamente correto: sua cooperativa precisa investir em diversidade, sim — e o mais rápido possível —, se quiser ter resultados melhores que os da concorrência. Não é questão de ser bonzinho ou socialmente responsável. Diversidade é um caminho para crescer. Por isso, sua cooperativa precisa pensar sobre isso.
De acordo com o estudo A diversidade como alavanca de performance, publicado em 2021 pela McKinsen — líder mundial em consultoria empresarial —, organizações com maior diversidade de gênero em cargos executivos têm 21% mais chance de ter resultados acima da média. No caso de diversidade étnica, isso é ainda mais aparente: 33%.
Até aí, tudo bem, exceto por um pequeno detalhe: embora a diversidade seja comprovadamente um atalho para o crescimento de qualquer negócio, 39% dos líderes acreditam que as pautas sobre equidade, empoderamento e inclusão são perda de tempo, de esforço e de dinheiro. Os dados são de uma pesquisa publicada pela United Minds, consultoria de RH e transformação organizacional, no fim do ano passado.
O dado acima fez a equipe da revista Saber Cooperar se perguntar como o tema da diversidade é visto dentro do cooperativismo. As respostas para essa pergunta foram dadas por duas mulheres que convivem diariamente com os benefícios e com os desafios da gestão da diversidade: Fabíola Nader Motta, gerente- geral do Sistema OCB, e Sil Bahia, codiretora executiva do Olabi — organização social com foco em inovação social, tecnologia e diversidade — e coordenadora da PretaLab — projeto que estimula mulheres negras e indígenas a trabalhar no mercado de inovação e novas tecnologias.
Confira, a seguir, os principais trechos dessa entrevista.
Revista Saber Cooperar: O que significa diversidade para você?
Fabíola Nader Motta: Diversidade, para mim, é poder conviver — na minha vida e no meu trabalho — com pessoas que são diferentes de mim. Diferentes em todos os sentidos: sexo, raça, formação, condição social, visão de futuro, religião, orientação sexual... Esses diferentes pontos de vista ajudam a construir uma diversidade de pensamentos e visão sobre o mundo. Além disso, diversidade, para mim, é um papel ativo; é promover um ambiente plural dentro das nossas vidas, dentro das nossas organizações; é entender que, ao estar rodeado de pessoas que pensam diferente, temos mais chances de criar produtos e serviços que possam atender um maior número de pessoas.
Sil Bahia: Diversidade é a possibilidade de se ter um espaço, uma possibilidade de convivência a partir da diferença. Isso, para mim, é diversidade: conviver a partir das diferenças, respeitando essas diferenças como algo positivo.
Como trazer esse conceito para as nossas vidas e para o nosso trabalho?
FM: O primeiro passo para a gente trazer esse conceito para a nossa vida, para o nosso trabalho, é estarmos abertos a isso. É óbvio que é muito mais fácil a gente trabalhar com quem tem a mesma origem, o mesmo estilo, a mesma idade que a gente... Quando trabalhamos com pessoas diferentes, temos de alinhar nossa comunicação, ouvir outros pontos de vista, defender ideias, mediar conflitos. E no meio dessa ebulição de ideias vem a inovação.
SB: Existem caminhos para isso, e um deles é trazer essa discussão sobre a importância da diversidade para dentro das organizações. Na sequência, temos de buscar caminhos para que, de fato, essa diversidade possa existir, florescer e aparecer, com a criação de um ambiente que não apenas possibilite, mas que também estimule diversidade.
Abraçar a diversidade pode aumentar a produtividade e a competitividade de um negócio? Como?
FM: A diversidade consegue, sim, ampliar a competitividade de um negócio. Um time mais diverso traz melhor compreensão do mundo e do seu público-alvo. Se a gente só se conecta com pessoas que são iguais à gente, como vamos entender a necessidade do outro? Por isso, um time diverso tem menos pontos cegos. Isso faz com que, sim, você aumente a sua competitividade.
SB: Muitos estudos dizem que quanto mais diversidade em um negócio, maiores as chances de inovação, assim como a performance em relação ao lucro aumenta. Temos estudos que defendem que a diversidade é um incentivo à inovação. E isso acontece porque você acaba tendo múltiplos olhares para determinado problema e para a criação de soluções. Quando você tem essa pluralidade presente, de fato, dentro do negócio, acaba tendo mais inovação, melhor performance e, consequentemente, melhor resultado em relação ao lucro.
Cite as principais vantagens de se ter um time diverso dentro de uma organização.
FM: Em primeiro lugar, um ambiente diverso ajuda a atrair talentos. E esses talentos vão formar uma equipe mais plural, empática e engajada. De acordo com um estudo da Harvard Business, empresas nas quais o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a ir além das suas responsabilidades. Um segundo ganho importante é o aumento da criatividade e da inovação. Por fim, a diversidade ajuda a oferecer melhores produtos e serviços, ampliando nossa capacidade de atingir a necessidade real de seus clientes.
SB: Os ganhos são muitos: ter mais inovação, ter um ambiente mais seguro para que as pessoas possam expor suas ideias, ter um ambiente no qual as soluções possam vir de outros lugares. Ter um ambiente diverso também tem a vantagem de estar colaborando para uma sociedade melhor, por estarmos expandindo o olhar e as possibilidades de criatividade, a possibilidade de ter novos produtos que sejam mais inclusivos, principalmente no campo da tecnologia.
Por ser um movimento com foco nas pessoas, o cooperativismo tem no respeito às diferenças um princípio. Como isso facilita a integração dos diferentes tipos de pensamentos?
FM: O cooperativismo é um modelo de negócios que estimula a cooperação. Estimula o foco nas pessoas, independentemente de etnia, raça, sexo, religião, condição social. Então, é um modelo ideal para a gente estimular a participação de todas as pessoas por um objetivo em comum. É um modelo de negócios que consegue estimular a participação de diferentes, convidando todos os cooperados a se unirem para melhorar a vida não apenas do grupo, mas de toda a comunidade.
SB: Acredito que sim. Se as cooperativas têm um espaço maior de escuta do que as empresas tradicionais, acho que isso acaba facilitando a integração, o diálogo entre diferentes tipos de pensamento.
No cooperativismo, existe uma preocupação grande em aumentar a participação de jovens e mulheres em posições de liderança. Qual seria a melhor maneira de fazer isso?
FM: Sem dúvida, atrair jovens e mulheres para o cooperativismo, principalmente para cargos de liderança, é o objetivo de todo o nosso movimento. Cooperativas de diferentes segmentos, de diferentes portes, terão estratégias diferentes para isso. O que importa de verdade é que isso seja uma decisão consciente da liderança da cooperativa. Que a liderança da cooperativa tome a decisão de fazer ações efetivas para atrair esses públicos. Isso significa ter um planejamento, pessoas na sua equipe direcionadas para executar esse plano e prever recursos para isso. Não adianta fazer apenas um discurso bonito sem fazer mudanças efetivas. O que não faltam são opções de como fazer. A questão é colocar isso como prioridade, dedicando recursos e pessoas para esse objetivo.
SB: Abrir espaço para mulheres ocuparem posições de lideranças é um bom começo. Além disso, concomitantemente, colaborar com a formação e o desenvolvimento de novas lideranças, pensando isso em relação à juventude, em como a gente pode investir no desenvolvimento. Estou falando de todas as competências; não apenas das habilidades técnicas, mas também das soft skills (habilidades comportamentais). Há um trabalho bem grande a ser feito em relação ao desenvolvimento de pessoas e de lideranças.
Falamos bastante da diversidade dentro das equipes de trabalho de uma empresa. No entanto, é preciso pensar em diversidade na hora de lidar com os clientes externos, que precisam ser respeitados em suas diferenças. Como isso pode ser trabalhado?
FM: Isso é um pouco sobre o que conversarmos anteriormente. Para você conseguir ter uma visão ampla e entender toda a sua base de clientes, você precisa ter diversidade dentro da sua organização. Quanto mais diversidade, quanto mais pontos de vista, quanto mais contextos diferentes, maiores serão as chances de entender as reais necessidades de seus clientes.
SB: Acho que todo mundo tem de ser respeitado, independentemente de qual seja a sua diferença. Acho que isso tem de ser trabalhado a partir da empatia. A empatia é fundamental e é uma chave importante para a gente lidar com quem é diferente e não pensa igual a gente. De quem não veio do mesmo lugar que a gente e não ocupa os mesmos espaços. Então, acho que a empatia é a chave para tudo.
Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação