Doando fôlego
Em 2020, por várias vezes, nos sentimos sem ar diante das dificuldades. A Covid-19, que afeta principalmente as vias aéreas, provocou uma corrida mundial por respiradores. Com isso, um procedimento complexo passou a fazer parte do nosso vocabulário: a intubação. Até mesmo médicos que não estavam habituados a realizar o procedimento tiveram de se adaptar às novas rotinas.
“Para nós, anestesiologistas, é algo comum. Eu intubo, em média, de dois a três pacientes por dia. Mas o meu colega médico na emergência provavelmente fazia isso uma vez por mês, antes da pandemia. O grau de tensão desse profissional que precisou, de repente, intubar quatro ou cinco pacientes por plantão, foi enorme”, compara a médica Simone Almeida, presidente da Cooperativa dos Anestesistas de Recife (Coopanest-PE).
Ela explica que, durante a formação médica, o anestesiologista faz o treinamento em vias aéreas durante os três anos de residência, mas, em outras especialidades, a prática da intubação é menos comum. Diante do quadro dramático nos hospitais, a cooperativa decidiu oferecer cursos de capacitação para o procedimento.
Esse é um momento de extremo risco de contaminação. Porque o médico manipula a via aérea do paciente, então a chance de se contaminar é muito grande. O treinamento foi nesse sentido, para proteger o profissional e melhorar a qualidade do serviço”, explica a presidente da cooperativa.
Mais de mil médicos participaram da formação, em parceria com sociedades médicas e a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco.
ALTO RISCO
Dos 640 médicos cooperados da Coopanest, muitos se contaminaram e ficaram em estado grave. Dois, faleceram vítimas da Covid-19.
A perda de um colega nunca é um momento fácil, fragiliza todo mundo. A gente começa a colocar muitas coisas em xeque e o treinamento serviu também para ajudar nesse sentido, garantir mais segurança”, diz Simone.
A cooperativa também ofereceu treinamento a distância a profissionais da saúde de Fernando de Noronha que não podiam sair da ilha durante o confinamento e receberam toda a formação por videoconferência.
O curso foi gratuito, para cooperados e não cooperados, e, em troca, os alunos doaram alimentos para uma ação solidária. A Coopanest conseguiu arrecadar 400 cestas básicas que foram entregues a uma cooperativa de transporte, ramo duramente afetado pelas medidas de isolamento social. “Dois mil e vinte foi um ano em que o sentido do cooperativismo se sobressaiu. O que fica é isso, a união. A gente juntou forças com a sociedade e pensou na proteção individual de cada um e naqueles que estavam com dificuldades maiores do que as nossas”, diz Simone.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação