Energia compartilhada
Se uma cooperativa sozinha consegue gerar energia suficiente para economizar centenas de milhares de reais, imagine o que duas cooperativas juntas são capazes de fazer? Pois acaba de surgir, no Espírito Santo, a maior usina de energia compartilhada limpa do Brasil. Localizada no município de Ibiraçu, ela é encabeçada pelo Sicoob Espírito Santo e pela Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi).
Com 3,2 mil placas solares instaladas, o empreendimento é responsável pela produção de energia elétrica para 95 agências do Sicoob e para 87 cooperados — escolhidos levando em conta critérios como tempo de associação, proximidade e interesse pelo projeto.
Para viabilizar a execução do programa e o compartilhamento de energia, uma terceira cooperativa foi criada: a Ciclos, uma plataforma de serviços com soluções para simplificar a vida de seus associados nas áreas de energia, comunicação, saúde e negócios. É a Ciclos a responsável pela distribuição de energia aos cooperados.
A usina de Ibiraçu está dividida em 10 unidades geradoras, sendo uma destinada para a Coopeavi e nove para o Sicoob. Das unidades do Sicoob, sete direcionam energia para as agências e duas, para associados da Ciclos.
RETORNO EM CURTO PRAZO
O vice-presidente do Sicoob-ES, Arno Kerckhoff, ressalta que o investimento realizado na usina — de R$ 4,2 milhões — vai gerar uma economia de cerca de R$ 85 mil por mês, além de propiciar a preservação do meio ambiente.
A geração de energia limpa contribui para a redução de gastos e causa menos danos ambientais, evitando, por exemplo, a construção de barragens e a alteração do curso de rios e de nascentes”, destacou.
Para os próximos meses, a expectativa é de que a produção seja ampliada por meio da construção de outras usinas, o que vai propiciar a inclusão de novos associados no sistema de energia compartilhada.
O investimento total, nos próximos 12 meses, chegará a R$ 35 milhões. Assim, a capacidade de atendimento aumentará para 2,5 mil residências ou estabelecimentos comerciais de cooperados vinculados ao Sicoob-ES.
A Ciclos tem por objetivo levar energia limpa compartilhada para todo o Brasil e ajudar os cooperados a entenderem melhor o mercado de energia. Além de investir na ampliação do atendimento em solo capixaba, em 2020, vamos iniciar a nacionalização da cooperativa”, destacou Kerckhoff.
Geração compartilhada— A geração compartilhada é aquela em que um grupo de pessoas usufrui da energia gerada pelo mesmo sistema.
FIQUE POR DENTRO
Ciente do crescente interesse das cooperativas brasileiras pela geração de energia limpa, a OCB fará nove workshops neste segundo semestre para levar mais informações sobre o tema. O primeiro evento foi realizado em Rondônia, em agosto. Ainda devem receber o workshop: Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, Amazonas, Maranhão e São Paulo.
Desde 2012, a Aneelpermite que todo consumidor possa gerar sua própria energia, e tem algumas vantagens para fazer isso”, explicou Marco Morato, analista técnico-econômico da Gerência Técnica da Casa do Cooperativismo.
Ele [consumidor] gera energia, abate na conta de luz, porque não pode vender, mas pode fazer uso da rede de distribuição como se fosse uma bateria – gera energia fotovoltaica durante o dia, injeta na rede e consome na hora que quiser”, completou o analista.
Morato explica, ainda, que em 2015 houve uma reformulação da regra e a OCB conseguiu incluir o cooperativismo no rol de alternativas para geração de energia, ou seja, em vez de cada consumidor, sozinho, tentar criar uma forma de gerar energia, a resolução permitiu que eles se unissem em cooperativas que produzissem energia a ser compensada nas casas ou unidades consumidoras dos cooperados (cooperativa de Geração Distribuída).
Um grupo de pelo menos 20 pessoas pode constituir uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos. Também no entendimento da ANEEL, é possível que cooperativas já constituídas, independentemente da atividade econômica principal, promovam a geração de energia e compensem nas unidades consumidoras de seus cooperados.
Publicada em 17 de abril de 2012, a norma permitiu aos consumidores realizar a troca da energia gerada com a da rede elétrica. Com isso, consumidores que instalam placas solares em seus telhados ou terrenos (ou usam outra tecnologia de geração própria) podem entregar a energia excedente ao sistema elétrico pelas redes das distribuidoras durante o dia, quando o sol está a pino. Depois, durante a noite, recebem a energia das outras fontes de geração do sistema, por meio das mesmas redes elétricas.
Atualmente, a resolução encontra-se em revisão na ANEEL, com o desafio de alocar corretamente os custos do uso do sistema de distribuição ao modelo.
Uma cooperativa de Geração Distribuída: Uma cooperativa de Geração Distribuída (GD) consiste na reunião de pessoas, físicas e/ou jurídicas, que têm em comum a vontade de produzir a própria energia, mas que, por alguma razão, não poderiam (ou não gostariam) de fazê-lo sozinhas.
Gostou da ideia?
Tem interesse em reduzir o valor da conta de luz e ainda agregar valor aos seus produtos? Já pensou em produzir a sua própria energia? Se você gostou da ideia e quer constituir uma cooperativa com esse intuito, baixe agora o Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica, documento produzido pela OCB em parceria com a DGRV (entidade de representação do cooperativismo alemão), a Aneel, o Ministério de Minas e Energia e a Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (Agiv).
Saiba onde buscar recursos para trazer energia solar para sua casa ou cooperativa
Sicredi
A cooperativa tem, desde 2015, uma linha de crédito específica para a aquisição de tecnologias (equipamentos, softwares e serviços) por associados (pessoa física ou jurídica) interessados em investir em energia renovável.
Somente em 2018, a linha de Financiamento para Energia Solar concedeu R$ 232 milhões em 2,7 mil operações – quase oito vezes mais operações que no ano anterior.
Atualmente, a carteira do Financiamento para Energia Solar do Sicredi é de R$ 586 milhões. As contratações têm um valor médio de R$ 69 mil e o prazo para pagamento é, em geral, de cinco anos. Apenas em julho deste ano, foram concedidos R$ 60 milhões em crédito nessa linha, em mais de mil operações
Sicoob
Os cooperados do Sicoob têm à disposição a linha BNDES Finame Energia Renovável, destinada a empresas, órgãos da administração pública, empresários individuais e microempreendedores, produtores rurais, transportadores autônomos de carga, fundações, associações e cooperativas, pessoas físicas e condomínios. O prazo de pagamento é de até 120 meses, com carência de até 24 meses.
Cooperativas agropecuárias — além de pequenos, médios e grandes produtores —podem ter acesso, ainda, aos programas de financiamento agropecuário do BNDES. As taxas variam de 3% a 8% ao ano, com prazo de pagamento de cinco anos e carência de até 36 meses. Nessa linha, apenas em 2019, foram financiados R$ 20 milhões, em 133 operações de crédito.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação