O doce sabor do sucesso

O município pernambucano de Triunfo, localizado no alto da Serra da Baixa Verde, é conhecido como Oásis do Sertão. A altitude mais elevada e as temperaturas amenas fazem com que ali seja uma terra “onde tudo que se planta, colhe”, define Nadjanécia Guerra, presidente da Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar Orgânica Agroecológica (COOPCAFA). A organização, que reúne produtores de Triunfo e do município vizinho, Santa Cruz da Baixa Verde, completou 10 anos em março, todos eles sob a liderança dela. 

Nadjanécia tinha apenas 19 anos quando a antiga associação de produtores resolveu compor uma cooperativa.

Quando começou a se pensar nos grupos e diretorias, meu nome era um dos citados. Isso, para mim, foi uma surpresa grande, porque, até então, eu não entendia muito de cooperativa. Mas aceitei o desafio de ajudar o grupo. Eles pensaram que, por eu ser jovem, poderia correr atrás de muitas coisas. E foi o que aconteceu”, lembra. 

RAPADURA

O carro-chefe da COOPCAFA é a cana-de-açúcar orgânica e seus derivados: açúcar mascavo, melaço e rapadura. O principal mercado da cooperativa ainda é o local, no estado de Pernambuco. Mas, em 2020, mesmo diante das dificuldades econômicas impostas pela pandemia do novo coronavírus, a pequena cooperativa de apenas 40 associados rompeu fronteiras e levou seus sabores bem mais longe. Uma parceria garantiu a comercialização das rapaduras orgânicas em 20 lojas da rede de supermercados Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foram 7.200 unidades do produto vendidas à rede no ano passado.

“Em 2020, as vendas alavancaram bastante. A gente pensou que ia ficar dentro de casa, em quarentena, mas na realidade trabalhamos muito, geramos renda para os cooperados e para o município”, conta Nadjanécia. Além da cana, a cooperativa trabalha com produtos derivados de frutas como manga, acerola, goiaba e cajá. Também são matéria-prima inhame, batata-doce, cenoura, feijão, entre outros. 

Mais um braço importante da COOPCAFA são os contratos com o governo federal, relacionados a políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Desde sua fundação, a cooperativa fornece alimentos para a merenda escolar dos municípios da região e, com as escolas fechadas em razão da pandemia, pensaram que as vendas diminuiriam. Mas, junto com a prefeitura, os cooperados — liderados por Nadajnécia — tiveram a ideia de montar kits alimentares para serem entregues aos alunos. Garantiram, assim, o alimento na mesa de muitas famílias em um momento de tanta dificuldade. 

É uma sensação de orgulho, fico muito emocionada. Quando chegavam fotos das famílias recebendo a cesta de alimentos, com lágrimas nos olhos, foi muito gratificante. Saber que a gente está enviando para a casa delas uma alimentação saudável, produzida em uma região ainda pouco explorada, que é o sertão. Não é só pela venda, mas por saber que a gente estava na mesa dos pernambucanos em um momento tão difícil”, diz Nadajnécia.

Aos 29 anos, ela já acumula farta experiência à frente do negócio que transformou a vida dos produtores locais. Para os próximos anos, Nadjanécia tem como meta atrair mais jovens mulheres produtoras para o quadro de associados e concretizar um outro sonho: exportar a rapadura da COOPCAFA. 

“Nunca imaginei que a gente chegaria a tantos quilômetros daqui. No início, quando a gente começou, achava que não vai tão longe, não sabia se ia dar certo. Mas quando você começa a entender a cooperativa, a se apaixonar e se engajar mais, aí você consegue ver além”, diz. 


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


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