Promoção da equidade é um chamado internacional
A igualdade de gênero é condição indispensável para a construção de um futuro equitativo e sustentável. Das mais de 1,3 bilhão de pessoas vivendo em condições de pobreza no globo, 70% são mulheres, segundo relatório das Nações Unidas. Elas são ainda as chefes de família em 40% dos lares mais pobres em áreas urbanas. Em áreas rurais, predominam na força de trabalho mundial da produção alimentar (de 50% a 80%), mas dispõem de menos de 10% das terras.
Pensar em um mundo mais igualitário, portanto, inclui a necessidade de empoderamento financeiro de mulheres.
Sempre à frente do seu tempo, as cooperativas são um modelo econômico centrado nas pessoas e que pode contribuir para o alcance dessa meta em todo o planeta.
Por meio de seus valores de ajuda mútua, igualdade e justiça, e princípios de adesão aberta e voluntária e controle democrático, as cooperativas estão prontas para enfrentar muitas das questões que afetam negativamente as mulheres, especialmente para abordar o problema multifatorial da pobreza e ajudar a moldar o bem-estar delas.
As cooperativas são, dessa forma, uma ferramenta potente para alcançar a equidade de gênero.
Na avaliação da presidente do Comitê de Igualdade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), María Eugenia Perez, as cooperativas aumentam o acesso das mulheres aos recursos e às oportunidades econômicas e capacitam as mulheres, não apenas economicamente, mas também individual e socialmente, para desafiar as normas sociais e culturais. Além disso, criam um ambiente propício para que mulheres e meninas usem essas oportunidades e recursos para alcançar resultados iguais aos dos homens.
O modelo cooperativo provou ser um meio de construir resiliência a longo prazo, permitindo que as comunidades, especialmente mulheres e meninas, superem múltiplas crises e choques, incluindo a pandemia e a guerra que estamos enfrentando”, avalia María Eugenia Perez que, em março, em virtude do Dia Internacional da Mulher, publicou uma declaração mundial sobre o assunto
Vale destacar: o Comitê de Igualdade de Gênero da ACI trabalha extensivamente pela integração do impacto do modelo cooperativo, pela conquista da equidade de gênero e da justiça climática. “Abordar a desigualdade de gênero e empoderar as mulheres é um pilar essencial de nosso trabalho para promover os direitos humanos e o desenvolvimento econômico sustentável e resiliente.”
ESFORÇO NA EUROPA
Recentemente eleita, a presidente da ACI Europa, Susanne Westhausen, também acredita na importância das cooperativas para a construção de um mundo mais justo e democrático. Para ela, os princípios e valores do cooperativismo já norteiam a ideia de igualdade de gênero.
Quando você tem valores como autoajuda, autorresponsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade, isso, obviamente, orienta você em uma direção. Quando você tem democracia e direitos iguais, isso resulta em um melhor uso dos recursos – tanto recursos naturais quanto recursos humanos. Porque quanto mais diversidade, mais igualdade, mais bons cérebros você tem ao redor da mesa para encontrar as soluções certas”, completa.
Em entrevista exclusiva à Saber Cooperar, Susanne, que também é presidente da Confederação Dinamarquesa de Cooperativas, afirma que o modelo cooperativo está à frente de outros modelos de negócios no quesito igualdade de gênero e aposta no conhecimento e nos bons exemplos para guiar novas iniciativas.
Acho que o que precisamos fazer é olhar para os bons exemplos. Então, onde vemos os bons exemplos? E temos que nos orgulhar de que o movimento cooperativo esteja à frente desse processo. Podemos não estar milhas à frente, pode não ser 50-50, mas o movimento cooperativista está à frente do que está acontecendo no mundo.”
“Para mim, essa é a maneira de fazê-lo: é compartilhar conhecimento e bons resultados. É muito bom reconhecer que uma das únicas coisas no mundo que quanto mais você compartilha mais você ganha é o conhecimento. E isso é uma coisa que reconhecemos nas cooperativas que o compartilhamento de conhecimento é a base do nosso modelo de negócios.”
Primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da ACI Europa, Susanne não credita sua eleição ao fato de ser mulher, e sim, ao de ser a melhor candidata no pleito.
Não vejo a minha eleição para presidente das cooperativas Europa como algo que tenha a ver com o fato de eu ser mulher. É uma curiosidade que eu seja a primeira mulher presidente? Sim. Mas alguém acabaria chegando lá. Foi uma eleição aberta e eu ganhei porque era a mais qualificada”.
Para a sua gestão, entretanto, Susanne garante que haverá preocupação com a equidade. “Quando eu apresentei meu programa para as eleições, a igualdade e a igualdade de gênero estavam incluídas no sentido mais amplo. Então, é claro que estou comprometida com isso. No momento, estamos trabalhando em nossa estratégia para nosso mandato e a igualdade de gênero será uma das prioridades dessa estratégia”, garante.
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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação