Semeando Futuros
"Falar de protagonismo feminino é falar de empoderamento feminino. As mulheres investem em seu próprio empoderamento quando dedicam tempo para estudar e para investir em sua qualificação”, ressalta Divani Matos, coordenadora do projeto Semeando Futuros, desenvolvido pelo Sistema OCB em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para formar e capacitar lideranças femininas para o Agro, especialmente no âmbito da agricultura familiar.
Ao participar de capacitações como essa, Diva, como é conhecida, tem a oportunidade de compartilhar um pouco de sua própria vivência. Nascida em Januária, norte de Minas Gerais, assim como muitas meninas do interior, ela teve de lutar muito para estudar.
Aos 18 anos, Diva ouvi seu pai dizer que — para uma mulher — bastava concluir o Ensino Médio.
Eu tive de sair da minha cidade, que não tinha faculdade na época, para estudar. Meu pai, no começo, não aceitava essa ideia. E minha mãe não sabia como me apoiar”, relata.
Ela conta que discordou, esperneou, chorou e com muita garra, perseverança e, claro, muito estudo, conseguiu ser aprovada no vestibular de Pedagogia na Universidade Federal de Viçosa (UFV), distante cerca de 800 km de sua cidade natal e localizada na zona da mata mineira. “Morei em Viçosa, em alojamento e enfrentei, com essa escolha, uma evidente decepção do meu pai”.
Na Universidade, Diva se engajou no movimento estudantil e despertou uma curiosidade acadêmica pelo tema do protagonismo feminino, inspirada nas próprias barreiras, antes consideradas por ela mesma como intransponíveis. O tema das mulheres continuou em seus estudos no Mestrado em Extensão Rural (UFV). Mas sua trajetória no cooperativismo e associativismo, em especial com lideranças femininas, não ficou só na teoria. Ainda recém-formada, ela passou a trabalhar com associação de mulheres extrativistas cuja principal bandeira era o empoderamento feminino.
Diva trabalhou por vários anos como consultora do tema em organismos de cooperação internacional, como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Também passou por diferentes cooperativas e trabalha no Sistema OCB desde abril de 2013.
Não importa onde atuo, sempre procurei direcionar o meu olhar para as particularidades e os desafios das mulheres. Ao estimular o protagonismo feminino não estamos querendo o lugar dos homens, queremos a igualdade, a equidade, o respeito. Assegurar espaços para a liderança feminina nas organizações não é uma questão de ser ‘politicamente correto’ e está intrinsecamente ligado ao desempenho das organizações como um todo , incluindo a economia, como diversos estudos comprovam. Inovação é outro tema que surge quando falamos em tendências de futuros, no plural, mesmo. E como inovar contando sempre com as sugestões de um mesmo perfil de liderança?” questiona.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação