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Atualização da Lei das Cooperativas de Crédito é prioridade para 2021

As cooperativas de crédito são um dos mais importantes agentes de desenvolvimento econômico e social no Brasil. Em 2020, elas atenderam cerca de 12,69 milhões de pessoas, gerando mais de 71,7 mil postos de trabalho, e recolheram aos cofres públicos em torno de R$ 1 bilhão em tributos. Além disso, em 234 municípios, são o único agente financeiro presente fisicamente, oferecendo, além de serviços bancários, inclusão. Esses dados são — respectivamente — do Banco Centra; do Censo Brasileiro do Cooperativismo 2020, produzido pelo Sistema OCB, e do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop).

Um dos pilares do desenvolvimento do setor — que cresce ininterruptamente há pelo menos uma década — foi a aprovação, em 2009, da Lei Complementar nº 130/2009, que criou o Sistema Nacional do Cooperativismo de Crédito (SNCC).

Esse foi o marco regulatório que reconheceu as cooperativas como agentes financeiros aptos a oferecerem à população os mesmos produtos e serviços dos bancos comerciais, dando segurança legal para a atuação do setor. 

Acontece que, desde então, as novas tecnologias causaram  mudanças significativas no mercado financeiro e no dia a dia das cooperativas. Com isso, alguns pontos da legislação tornaram-se defasados e necessitam de aprimoramento.

Com esse objetivo, foi elaborado — com a participação do Sistema OCB,  do Banco Central e de todos os sistemas cooperativos e singulares —, o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 27/2020, que visa exatamente modernizar a forma de participação do cooperado em sua cooperativa de crédito. Devido à agenda de combate aos reflexos da pandemia de Covid-19, o projeto não avançou em sua tramitação em 2020, mas deve ganhar força nos próximos meses. 

“A atualização da lei das cooperativas de crédito é importante para que o setor continue avançando e gerando empregos, renda e desenvolvimento local”, destaca o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. “A proposta aprimora o sistema de investimentos brasileiros para garantir um sistema de negócios mais seguro para os empreendedores”, completa.

No momento, a equipe de representação institucional do Sistema OCB e a Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) têm atuado junto ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, e com diversas lideranças partidárias na aprovação de requerimento de urgência para que o projeto tramite diretamente no plenário da Casa. O PLP nº 27/2020, inclusive, é uma das pautas prioritárias da Agenda Institucional do Cooperativismo de 2021, lançada recentemente, com a presença da ministra da Agricultura, Tereza Cristina; do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e de diversas outras autoridades dos Três Poderes da República. 

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES

O PLP nº 27/2020 atualiza o conceito de área de atuação das cooperativas, institui regras mais claras de organização sistêmica e possibilita a oferta de novos produtos e serviços, como os empréstimos sindicalizados, quando duas ou mais cooperativas do mesmo sistema unem forças para, juntas, atender a determinadas demandas de crédito de seus cooperados.

Com a alavancagem, torna-se mais viável o atendimento a cooperados que não conseguem tomar crédito na sua própria cooperativa por restrição de limite operacional”, explica a gerente de relações institucionais do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta.

O projeto também prevê delegar ferramentas e poderes maiores para as centrais e confederações realizarem o trabalho de supervisão auxiliar. Além disso, amplia a participação do cooperado na gestão da cooperativa e permite a realização de campanhas promocionais visando atrair novos associados e integralizar quotas-partes.

“Com regras mais claras de organização sistêmica, a nova lei delimita possíveis conflitos de interesse e agiliza os processos de tomada de decisão, promovendo o maior fortalecimento de estruturas de supervisão do modelo societário cooperativo”, destaca Fabíola.

De acordo com o superintendente jurídico do Banco Cooperativo Sicredi, Clairton Walter, outras mudanças importantes previstas no PLP nº 27/2020 são a restrição de sobreposição de cargos de presidente e vice-presidente do conselho de administração ou de diretor executivo entre os segundo e terceiro graus dos sistemas cooperativos; a possibilidade de realizar campanhas de premiação englobando capital social; o estabelecimento de condições a serem observadas na elaboração do estatuto social, e na realização de assembleias e reuniões deliberativas; e a criação de critérios mais rigorosos para desfiliação de cooperativa de crédito singular de sua central, além de condicionar o enquadramento nos limites operacionais.

Quando da construção da proposta, consultamos previamente nossas cooperativas e centrais para identificar as necessidades de evolução legislativa, o que nos permitiu apresentar diversas sugestões que foram contempladas no projeto de lei”, aponta Walter. “Vemos essa iniciativa como necessária e adequada para o momento de crescimento e desenvolvimento do cooperativismo de crédito”, ressalta. 

Para o diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, Ênio Meinen, outros avanços previstos no projeto de modernização são o aperfeiçoamento dos instrumentos de supervisão ao alcance das confederações e cooperativas centrais, e o reforço à impenhorabilidade das quotas-partes de capital enquanto o cooperado mantiver o vínculo associativo. “Também merece destaque a possibilidade de destinação de recursos do Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social (Fates) para projetos comunitários”, observa. 

ESFORÇO COLETIVO 

A construção do PLP nº 27/2020 foi resultado de um esforço coletivo do movimento cooperativista, com participação de representantes das cooperativas financeiras, unidades estaduais do Sistema OCB, congressistas, representantes do Banco Central e do Governo Federal.

Existe um esforço conjunto para construirmos um cooperativismo financeiro de alto impacto para o Brasil. E esse esforço passa pela ação coordenada entre o movimento cooperativo e as autoridades públicas, em especial o Banco Central do Brasil, por sua área de normas, supervisão e organização do Sistema Financeiro Nacional”, afirma o coordenador do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito do Sistema OCB, Marco Aurélio Almada.

Almada destaca que as alterações sendo pleiteadas na legislação das cooperativas de crédito são fruto de observação do desenvolvimento orgânico do segmento. “Queremos manter tudo aquilo que deu bom resultado na lei vigente, mas também entendemos que a prática nos indica que algumas alterações são necessárias para aprimorar o modelo em vigor e também para que possamos reunir condições de passar pelas mudanças gigantescas que estão acontecendo no Sistema Financeiro Nacional. De forma geral, esse é um trabalho virtuoso que está apontado para o desenvolvimento do cooperativismo brasileiro”, completa Almada, que também é diretor-presidente do Centro Cooperativo Sicoob (CCS).  

No Congresso Nacional, o PLP nº 27/2020 foi protocolado pelo deputado federal Arnaldo Jardim, um dos membros mais atuantes da Frencoop. Entusiasta da matéria, ele  destaca a importância de se modernizar o marco legal das cooperativas de crédito.. 

Distribuídas por todo o País, as cooperativas auxiliam na inclusão financeira e colaboram para o surgimento de prósperas e novas realidades socioeconômicas no interior do País, possibilitando a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros”, afirma o parlamentar. “A modernização da lei atual é fundamental para que o cooperativismo de crédito continue sendo esse importante vetor de desenvolvimento da nossa economia.”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, concorda com o autor do projeto e acrescenta: a modernização do marco regulatório do cooperativismo financeiro tem potencial para fortalecer ainda mais o SNCC. 

As mudanças propostas pelo PLP nº 27/2020  são fundamentais para que as cooperativas estejam aptas ao ambiente competitivo, inovador e tecnológico em forte desenvolvimento no Sistema Financeiro Nacional”, destaca.

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Sobre as cooperativas de crédito

Segundo pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com o Sistema Sicredi, divulgada em fevereiro de 2020, a presença de cooperativas de crédito em determinada região afeta positivamente os indicadores econômicos: o número de estabelecimentos por milhares de habitantes se eleva, em média, 19,6%; a proporção das vagas de emprego formal em relação à população em idade ativa cresce, em média, 6,2% e a renda per capita da região aumenta, em média, 5,6%. 

Ainda segundo a pesquisa, 50% das cooperativas de crédito do País estão presentes em municípios com até 12 mil habitantes. A atuação é maior em municípios menos urbanizados, com até 40% da população concentrada no campo. Esse dado mostra que as cooperativas atuam, em sua maior parte, em locais menos urbanos e suas agências tendem a ser mais interiorizadas, possibilitando que comunidades rurais tenham acesso ao sistema financeiro.

O crescimento do cooperativismo de crédito também se mostra presente nos indicadores financeiros. Em 2020, os depósitos totais somaram R$ 290,1 bilhões, o que equivale a um aumento de 42,4% em relação ao ano anterior. As operações de crédito, por sua vez, alcançaram R$ 213,2 bilhões, segundo dados do Banco Central do Brasil.

Ainda segundo a autarquia, o patrimônio líquido das 847 cooperativas de crédito singulares existentes no Brasil totalizou R$ 57,4 bilhões e os ativos totais superaram R$ 370 bilhões, demonstrando grande capacidade na obtenção de resultados positivos.

“Além disso, para cada real originado em crédito pelo sistema de cooperativas, o valor agregado de R$ 2,45 é adicionado à renda da região e um novo emprego é criado para cada R$ 36 mil de crédito concedido”, informou o presidente do BCB, Roberto Campos Neto, em discurso durante a apresentação do PL nº 27/2020.

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Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Um jeito único de cuidar

Sorridente, bom ouvinte e sempre disposto a investir no desenvolvimento das pessoas. Essas são apenas algumas das qualidades de Luiz Paulo Tostes Coimbra, 66 anos, presidente da Unimed Volta Redonda (RJ), eleito o CEO mais incrível do Brasil, entre empresas de grande porte, no prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar 2020 — uma iniciativa da Fundação Instituto de Administração (FIA) e do UOL. 

No comando da cooperativa desde 2002, Coimbra atribui esse prêmio ao que ele chama de Jeito Unimed de Cuidar (JUC) – um movimento cooperativo baseado em três grandes atributos: gentileza, respeito e competência. 

Em 2008, iniciei um movimento na cooperativa, de entender o que era valor para os nossos clientes, cooperados e colaboradores. Por meio da análise de diversas informações, identificamos que o nosso ambiente e a nossa cultura eram o nosso grande diferencial. Aproveitamos, então, para assumir publicamente esse compromisso com todos os que se relacionam conosco”, explica.

Desde então, o JUC é o grande pilar da cultura institucional da Unimed Volta Redonda. "Assumimos a nossa identidade quando somos gentis, quando respeitamos as demandas que chegam pra gente e quando desejamos construir competência para cuidar das pessoas”, completa o executivo. 

RECONHECIMENTO DOS PARES

A proximidade com colaboradores e cooperados é outra marca do presidente da Unimed Volta Redonda. “Quando a cooperativa tinha menos colaboradores, eu sabia e fazia questão de chamar todos pelo nome. Hoje já são mais de 1.900 pessoas; não consigo saber o nome de todo mundo, mas continuo fazendo questão de ter uma gestão próxima, transparente, aberta ao diálogo e ao compartilhamento de ideias”, enumera o pneumologista.

Coimbra não esconde o orgulho e a felicidade de ter sido eleito por uma pesquisa feita com os próprios colaboradores e acredita que isso é fruto de um trabalho pautado na empatia e no desejo de cuidar bem das pessoas. 

Mesmo nos momentos difíceis, como gestor, o investimento no desenvolvimento das pessoas (colaboradores e médicos cooperados) sempre foi mantido. Acredito, fortemente, que isso está diretamente relacionado aos excelentes resultados obtidos pela cooperativa, ano após ano, além de ser a melhor garantia do cumprimento do nosso fundamento (gerar trabalho e renda para o cooperado, com sustentabilidade para a cooperativa)  e do nosso propósito (cuidar da saúde e do bem-estar das pessoas).”

De acordo com a pesquisa Lugares Incríveis para Trabalhar 2020, 87% dos funcionários da Unimed Volta Redonda afirmaram conhecer o CEO e  77% confiam totalmente nele. Além disso, 85% avaliam sua gestão como excelente ou muito boa. A premiação de CEO mais Incrível levou em consideração entrevistas realizadas com 150 mil funcionários de mais de 300 empresas brasileiras, entre agosto e setembro do ano passado. 

ABRINDO A CASA

Luana Andrade

Para a analista de marketing Luana Andrade, 29 anos, a postura de Coimbra — sempre aberto a novas ideias e incentivador do crescimento pessoal e profissional dos funcionários — deveria ser exemplo para gestores de todo o Brasil.

Ele tem uma mente ‘fora da caixa’. Em dez minutos de conversa, você tem insights para o resto da vida. É uma pessoa sensacional, sempre disposta a motivar os funcionários. Eu admiro muito a postura dele como gestor”, admite a funcionária, que deixou a direção de criação de uma agência de publicidade para compor o quadro da Unimed Volta Redonda há um ano e dez meses. 

A conversa franca e a relação fácil com os funcionários já são marca de Coimbra. Sabendo da fama, o marido de Luana, Carlos Augusto Mesquita, também funcionário da Unimed Volta Redonda, fez um convite despretensioso ao chefe: que ele participasse do podcast Ap. 301 – um programa de entrevistas sobre assuntos diversos – conduzido pelo casal, com a ajuda do amigo e também funcionário da cooperativa Eduardo Mota. E ele participou.

“Ele foi na minha casa, brincou com os peixes do meu aquário, participou do podcast – que nem é famoso –,  contou a história da vida e da infância dele, numa conversa com os funcionários”, lembra Luana, sem disfarçar o encantamento. “É assim que ele é: sempre acessível”. 

SANGUE VERDE

Quem também é fã incondicional do presidente da Unimed Volta Redonda é a supervisora do setor Relacionamento com a Rede, Josiane Aparecida Teixeira, 41 anos — 18 deles dedicados à Unimed. “Trabalhar com ele é sensacional. Ele tem uma alma e um coração bons. É uma pessoa simples, acessível e que nos impulsiona”, garante. 

Ela afirma que, apesar do cargo que ocupa e do status, Coimbra se importa de verdade com os outros. Ele é um visionário e um empreendedor nato.

Não tem como ficar desmotivado olhando pra ele. A gente brinca, na Unimed, que tem o sangue verde [em referência à cor da marca] e é ele quem bombeia esse sangue pra gente”, declara. 

A preocupação do CEO com o desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores é comprovada por Josiane. “Eu sou exemplo disso. Entrei na cooperativa como auxiliar de serviços gerais, tendo concluído apenas a 8ª série. Não tinha muita perspectiva de crescimento profissional quando entrei. Hoje, estou concluindo o meu MBA em Gestão Inovadora, oportunizado pela Unimed. Ele investe muito no funcionário e tenho certeza que isso foi fator primordial para que eu buscasse novos horizontes. Além disso, ele sempre trata todo mundo com respeito e gentileza”, diz Josiane, que concluiu o ensino médio e a graduação em Gestão de Pessoas com o apoio da cooperativa.

TRAJETÓRIA

Luiz Paulo Tostes Coimbra

Nascido em Miracema, também no estado do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Tostes Coimbra participou da fundação da Unimed Volta Redonda, em 1989, mas só começou a integrar a gestão no início dos anos 2000, quando compôs o Conselho Fiscal. Em 2002, foi eleito presidente da cooperativa, uma singular já de médio porte, com cerca de 42 colaboradores e 350 cooperados que, nos cinco anos anteriores, tinha enfrentado duas situações muito conflituosas e traumáticas: a destituição e exclusão de um presidente; e a intervenção fiscal da Agência Nacional de Saúde (ANS).

Nosso primeiro desafio foi reconquistar a confiança dos colaboradores e dos cooperados, para implementar uma gestão participativa e eficiente. Durante o processo eleitoral, nossa diretoria estabeleceu dez metas para serem cumpridas nos quatro anos de mandato. Cumprimos todas no primeiro ano”, relembra. 

A partir daí, o médico — e agora gestor — investiu  no desenvolvimento dos cooperados e colaboradores, e na construção de uma cultura de engajamento e cooperação. Após alguns anos na presidência da Unimed Volta Redonda, Coimbra passou a se dedicar integralmente ao cooperativismo. Deixou de dar aulas na Faculdade de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), e de atuar no hospital público municipal e no consultório particular. 

“À medida que vivenciava a gestão, estudava novas metodologias, fazia cursos, frequentava atividades de educação corporativa e MBA Executivo; assim, fui desconstruindo e construindo minhas competências.”

CRESCIMENTO E FUTURO

Hoje, com 462 cooperados e 1,9 mil colaboradores, a Unimed Volta Redonda cresceu e ampliou sua área de atuação, atendendo também os municípios de Angra dos Reis e Paraty. 

“Construímos um hospital em Volta Redonda, que virou referência estadual em alta complexidade e qualidade assistencial. Temos ainda um hospital em Angra dos Reis, de menor complexidade, e cinco unidades ambulatoriais, chamadas de Centro Cuidar, em Volta Redonda, Angra e Paraty.” 

Além das unidades assistenciais, que continuam recebendo investimentos para sustentar o crescimento da cooperativa, o dirigente gosta de destacar a criação do Instituto Lóbus, focado em treinamento, ensino e pesquisa. 

Criada para o treinamento de nossos colaboradores da assistência, a unidade logo assumiu uma importante função de disseminação de conhecimento, à medida que começamos a enxergar oportunidades de levar treinamentos e conteúdos relevantes ao mercado. Hoje, o Lóbus é uma Unidade de Negócio, e realizamos diversos treinamentos para outras instituições da área da saúde.” 

CUIDADOS EXTRAS

Durante a pandemia, a Unimed Volta Redonda redobrou seu cuidado também em relação à comunidade. Em uma parceria com a prefeitura, a cooperativa custeou o trabalho de médicos em um Centro Especializado de Doenças Respiratórias — unidade exclusiva para atendimento de pessoas com sintomas de Covid-19.

 Por causa do início da crise sanitária, decidimos ampliar nossa capacidade  assistencial, com o aumento do número de colaboradores e de médicos. Com isso, intensificamos o cuidado com as pessoas e também com a sustentabilidade da cooperativa", pondera. 

Mais recentemente, em abril, essa parceria foi ampliada, agilizando o diagnóstico e o tratamento da doença, fornecendo teste laboratorial de antígeno com resultado em até duas horas, e atendimento médico on-line (teleconsulta) para a população com sintomas gripais, em conjunto com a Conexa — plataforma de telemedicina que facilita a conexão entre médicos e pacientes. 

Para o futuro, está prevista a consolidação do Centro de Oncologia da Unimed Volta Redonda, com a implantação de um equipamento de PET-CT Digital — exame diagnóstico por imagem mais eficiente na detecção de cânceres, problemas neurológicos e doenças do coração. Outro projeto importante é a modernização da radioterapia, com equipamento de alta precisão que amplia as possibilidades terapêuticas.

INOVAÇÃO À VISTA

Atenta ao que acontece no mercado de saúde e bem-estar, e aos impactos da pandemia, a equipe de Coimbra deu início, em 2020, a um projeto de reformulação estratégica da cooperativa, redefinindo a visão de futuro e incluindo a transformação digital em um contexto diário.

“Criamos um Núcleo de Inovação, que estamos apartando da operação, de forma a criar uma cultura de inovação e não uma célula isolada. Este núcleo trabalhará novas ideias ou o aprimoramento de nossos processos, tendo como alvo facilitar a vida de nossos clientes”, explicou.

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A Unimed Volta Redonda conta com

462 cooperados e 

1,9 mil colaboradores.

Atua nos municípios fluminenses de Volta Redonda, Angra dos Reis e Paraty.

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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Vai um cafezinho aí?

O cafezinho é um amigo íntimo do brasileiro. Afinal, o país é o maior produtor, o maior exportador e o segundo maior consumidor de café do mundo — posto em que se alterna em dobradinha com os Estados Unidos. Durante a pandemia, não foi diferente. O setor driblou a crise, com o consumo interno registrando crescimento de 1,34% em 2020, na comparação com 2019, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Ainda segundo a Abic, vem crescendo a busca por qualidade e segurança, o que leva empresas e cooperativas a investirem em certificações.

Os números coletados pela entidade indicam que, entre 2019 e 2020, houve um aumento de 18,11% no número de certificações de qualidade. Para se ter ideia, nos últimos cinco anos, a emissão de certificado de produtos de alta qualidade (cafés gourmet) cresceu 85%. Já o café torrado em grão, aquele das máquinas de espresso, representava 3,7% do faturamento do setor no ano 2000 e atualmente responde por 15%.

Ao longo dos anos, o consumo de café no Brasil sempre cresceu acima do consumo mundial. Enquanto no mundo crescia na faixa de 1,5%, no Brasil crescia 3,5%. Eu costumo dizer que o café passa bem pelas crises, é um companheiro, uma bebida que está em 98% dos lares. Então, registrou esse crescimento de 1,34%, que é significativo no momento”, comenta Mônica Pinto, coordenadora de Projetos da Abic.

Dentro do cooperativismo, o café também ocupa um papel de destaque. Dados do Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indicam que 54,8% do café produzido no país é proveniente de produtores rurais associados a cooperativas. Hoje, existem 104 cooperativas que trabalham com o café no Brasil, não necessariamente como único ou principal produto.

Segundo João Prieto, coordenador do Ramo Agropecuário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o modelo cooperativista é um dos pilares para que a cafeicultura brasileira tenha conseguido atingir os patamares de produção e comercialização que temos hoje.

Além de toda a estrutura de apoio à atividade do produtor associado, desde o fornecimento de insumos até a recepção e comercialização da produção, um dos grandes diferenciais das cooperativas está na prestação de um serviço de assistência técnica altamente qualificado, fazendo toda a diferença para o desenvolvimento de uma cafeicultura de ponta”, afirma.

De fato, cada vez mais cooperativas têm investido na diversificação e qualificação de sua produção para atender diferentes nichos de demanda, a exemplo dos cafés especiais. “Por sua diversidade e capilaridade, as cooperativas cafeeiras conseguem atender com excelência tanto o mercado interno quanto o externo”, comenta Prieto.

Para os produtores interessados em fazer parte desse seleto mercado, João Prieto recomenda que avaliem muito bem questões como clima e investimento. “A primeira avaliação que qualquer produtor deve fazer antes de ingressar na atividade é em relação à aptidão, ligada tanto à afinidade do agricultor com a cultura como às exigências edafoclimáticas da planta vinculadas às regiões de produção. O café é uma cultura perene; sendo assim, após a implantação inicial da lavoura, ainda serão necessários investimentos nos primeiros anos sem que exista um retorno, até as primeiras colheitas."

PRODUTO FORTE

Há mais de 30 anos no mercado de café industrializado, a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé, no Sul de Minas Gerais, sempre foi uma grande exportadora. A partir de 2011, começou a investir mais fortemente no mercado nacional e na certificação de seus produtos. Hoje, tem marcas próprias de café em todas as categorias, do tradicional ao café em grãos e especial.

Culturalmente, o brasileiro toma muito café. É um produto forte, promissor e nós, cooperativistas, somos uma referência no assunto”, comenta o superintendente de Torrefação e Novos Negócios da Cooxupé, Mário Panhotta, um apaixonado pelo produto.

Com a chegada da pandemia, ele conta que houve a reversão da tendência, verificada há alguns anos, de aumento de consumo do café fora de casa.

“Antes da Covid-19, os cafés [estabelecimentos comerciais] estavam em alta, mas, com o isolamento social, eles perderam espaço e houve uma migração desse consumo de cafés especiais para dentro dos lares, especialmente por meio dos e-commerces", explica. De fato, no primeiro trimestre de 2021, os cafés em cápsula da Nestlé cresceram 17% nos Estados Unidos. Foi o melhor resultado dos últimos dez anos. No Brasil, o crescimento também foi de dois dígitos, mas a companhia não abriu os resultados no país.

Atenta ao crescimento do mercado de cafés especiais, a Cooxupé — assim como outras cooperativas — está apostando no segmento. Atualmente, ela comercializa três marcas: Evolutto, Prima Qualitá e Terraza. O Evolutto é o café torrado e moído tradicional, vendido em supermercados; o Terraza é um café em grãos, e o Prima Qualitá enquadra-se na categoria especial. Além disso, todos os produtos da cooperativa têm o selo de pureza da Abic e certificação internacional de segurança FSSC 22000, que atesta o monitoramento de riscos físicos, químicos e biológicos durante a produção.

SENHOR CAFÉ

Outra cooperativa que está apostando em cafés diferenciados é a Cooperativa de Cafeicultores e Pecuaristas (Cocapec). É dela a marca Senhor Café, que nasceu em 1989 — praticamente junto com a cooperativa — e, no início, era comercializada apenas regionalmente. O sabor marcante e a qualidade do produto levaram outras praças a buscar pelo produto, que hoje é comercializado também em Porto Alegre, Blumenau, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília.

Com o Senhor Café, ficamos entre os 10 melhores cafés de São Paulo na categoria 'Café Gourmet' três vezes entre 2000 e 2015”, relata o gerente de Torrefação da cooperativa, Victor Alexandre Ferreira. Ele explica que a cooperativa tem duas outras marcas: o café Cocapec, vendido principalmente aos cooperados; e o café Tulha Velha, com grãos torrados e moídos, vendido nos supermercados da região.

Ainda de acordo com Victor, o que torna um café especial é a qualidade do grão. “Quando o produtor produz o café, há grãos que ficam maiores, que a gente chama de mais granados. Eles absorveram da árvore o máximo possível, têm todas as qualidades possíveis. A gente faz uma usinagem em parte da sacaria trazida para a cooperativa e os grãos mais granados vão para a linha Senhor Café. Além da seleção de grãos, precisamos conseguir trabalhar e manipular esse café para não estragar no momento da torra, a fim de que consiga manter essas características”, esclarece.

A Cocapec também viu seu faturamento aumentar em 2020, por conta da pandemia. As vendas on-line dos produtos gourmet da cooperativa tiveram incremento de 50% com relação ao volume registrado em 2019. “Vendemos todos os tipos: almofada, cápsula, capuccino. Hoje temos cápsulas compatíveis com a [máquina] Nespresso. O volume de venda é menor, mas a agregação [de valor] é bem grande”, conclui Victor.

OUTRO SABOR

Não falta diversidade aos cafés produzidos pelo cooperativismo. No noroeste do Espírito Santo, por exemplo, a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel), trabalha com o café conilon, uma variedade menos doce e mais marcante do que o arábica, que é um café suave.

“O clima capixaba não é propício para o café arábica. Como nosso estado é muito quente, o conilon se adapta melhor", explica Luiz Carlos Bastianello, presidente da cooperativa. Hoje, a Cooabriel trabalha com três produtos: o café torrado e moído; o café torrado em grãos da marca Guardião, e o café in natura, para os mercados interno e externo.

De acordo com Bastianello, o lançamento do Guardião aconteceu há pouco tempo, em 2019, quando a assembleia geral da cooperativa decidiu que valia a pena investir no mercado de industrializados. Mesmo jovem, ele já é um café de 75 pontos na escala da Specialty Coffee America Association (SCAA). A partir de 80 pontos, o produto entra para o seleto time dos cafés especiais.

Nós não fazemos o e-commerce do produto ainda. Mas, desde que começou a pandemia, percebemos que houve um aumento do consumo do café. Agora as coisas se normalizaram”, destaca Bastianello, questionado sobre o impacto da pandemia sobre as vendas de café.

Para ele, as cooperativas têm potencial para crescer em um mercado competitivo como o do café, desde que continuem fiéis aos princípios do cooperativismo. “Eu bato muito na tecla que trabalhar sozinho em um negócio desse vulto não é fácil. Se as cooperativas têm uma força grande, por que não formar juntas uma indústria que poderia competir com as multinacionais ao redor? É isso que a gente prega no princípio cooperativista: que juntos somos mais fortes”, conclui.

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NÚMEROS

Consumo de café no Brasil, em 2020

Maior mercado mundial em volume total de café como bebida quente (com ícone)

2o maior consumidor do mundo (com ícone)

4,79kg Consumo médio de café torrado per capita dos brasileiros (com ícone)

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Você sabia?

Apesar de seu sabor marcante, o café conilon não é o mais consumido do Brasil. Aqui, os grãos do tipo arábica — mais doces e aromatizados — costumam ser mais apreciados. Entenda a diferença dos grãos:

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Esta matéria foi escrita por Mariana Branco e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Conheça os brasileiros já indicados ao prêmio Nobel da Paz

O Prêmio Nobel da Paz é outorgado pelo Comitê Norueguês do Nobel, responsável pelas normas de indicação, pela seleção dos candidatos elegíveis e pela escolha final do(s) ganhador(es). É o único Nobel que ocorre fora da Suécia, país onde a premiação foi criada.

A premiação é concedida em Oslo, capital da Noruega, e o Comitê é composto por cinco membros nomeados pelo parlamento norueguês. O vencedor da edição 2021 será anunciado em 8 de outubro e a solenidade de premiação ocorrerá em dezembro. 

O ganhador do Nobel da Paz recebe um diploma, uma medalha e um prêmio no valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,5 milhões).

Conheça alguns brasileiros indicados ao Prêmio Nobel da Paz

Desde a criação do Nobel da Paz, em 1895, ao menos 15 brasileiros foram indicados à honraria.  Confira alguns deles:

Barão do Rio Branco

Advogado, diplomata e historiador, José Maria da Silva Paranhos Júnior nasceu em 1845. Mais conhecido como Barão do Rio Branco, participou de diversas negociações envolvendo as fronteiras brasileiras. Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1911.

Dom Hélder Câmara

Ex-arcebispo de Olinda e do Recife, teve quatro indicações ao Nobel da Paz durante a década de 1970, por conta de sua atuação humanitária e contrária à ditadura militar. Apesar de apresentar todos os pré-requisitos para ganhar a honraria, não recebeu o prêmio, devido à intervenção do governo militar – como aponta dossiê que reúne diversas correspondências trocadas por autoridades entre os anos de 1970 e 1973.

Chico Xavier

Médium e filantropo, Francisco de Paula Cândido Xavier nasceu em 1910, na cidade de Pedro Leopoldo (MG), e tornou-se um ícone do espiritismo. Psicografou mais de 450 livros e foi considerado o maior líder espiritual no Brasil. Chico Xavier foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz nos anos de 1981 e 1982.

Irmã Dulce

Considerada o “anjo bom da Bahia”, a católica brasileira nasceu em Salvador no ano de 1914 e realizou diversos trabalhos de caridade e assistência às pessoas mais pobres e necessitadas. Foi indicada ao Nobel da Paz em 1988, pelo então presidente, José Sarney. Ela não ganhou o Nobel, mas foi canonizada com o título de Santa Dulce dos Pobres pelo Papa Francisco, em outubro de 2019.

Dom Paulo Evaristo Arns

Conhecido como o “Cardeal da Esperança”, foi um dos principais nomes na luta contra a ditadura. Paulo Evaristo Arns nasceu em 1921, em Forquilhinha (SC), e se tornou padre em 1945. Durante dez anos, deu assistência à população carente de Petrópolis (RJ). Em 1972, criou a Comissão Brasileira Justiça e Paz, da Diocese de São Paulo, para denunciar os abusos do regime militar e, em 1985, criou a Pastoral da Criança, com a irmã Zilda Arns. Sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz ocorreu em 1989. 

Herbert de Souza, o Betinho

Sociólogo brasileiro, realizou diversas atividades em defesa dos direitos humanos. Foi o fundador do Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômica (IBASE), voltado para a democratização da informação, e realizou ações contra a fome e a miséria. Foi indicado ao Nobel da Paz em 1994.

Zilda Arns

Médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns Neumann nasceu em 1934 e foi fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa. A Pastoral da Criança teve duas indicações ao Nobel da Paz, e Zilda recebeu sua indicação no ano de 2006.

Maria da Penha

Farmacêutica, Maria da Penha Maia Fernandes nasceu em 1945, em Fortaleza (CE), e hoje é ícone da luta contra a violência doméstica.  No início da década de 1980, sofreu duas tentativas de homicídio do então marido e lutou por 19 anos na Justiça até vê-lo preso. Inspirou a criação da Lei nº 11.340/2006 – a Lei Maria da Penha, de combate à violência doméstica. Foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2017. 


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Tem brasileiro na disputa pelo Nobel da Paz

Um brasileiro apaixonado pelo cooperativismo pode ser o ganhador do Prêmio Nobel da Paz deste ano. Aos 84 anos, o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli baseou sua carreira na ciência, no conhecimento e na inovação. Grande apoiador da formação de jovens pesquisadores, ele trabalhou pelo fortalecimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e é um dos grandes responsáveis pela maior revolução tropical agrícola da história: a que tornou viável a produção de grãos, em larga escala, no Cerrado brasileiro.   

O Brasil merece um Prêmio Nobel pelo que tem feito. Hoje, o país pode oferecer tranquilidade ao mundo em relação à sustentabilidade da alimentação, mesmo com as projeções de crescimento de população e renda”, destacou Paolinelli, que é engenheiro agrônomo.

A indicação do agrônomo ao Nobel da Paz deve-se à sua contribuição para tornar o Cerrado brasileiro um local propício ao plantio (o que era considerado impossível)  e pelo aumento exponencial de oferta de alimentos decorrente dessa mudança — fato que ampliou significativamente a segurança alimentar global.

Na avaliação da Fundação Nobel, existe uma importante conexão entre o combate à fome e a cultura da paz. Afinal, para termos um mundo de paz e estabilidade, é preciso que todos recebam a mais básica das dignidades humanas: o alimento de que precisam para viver.

O último agrônomo a vencer um Nobel da Paz foi o norte-americano Norman Borlaug, em 1970, famoso por seus trabalhos de combate à fome ao redor do mundo.

APOIO ACADÊMICO

O nome de Paolinelli foi protocolado no Conselho Norueguês do Nobel pela Universidade de São Paulo (USP), mas a indicação contou com o apoio de instituições científicas ligadas ao agronegócio de 24 países — entre elas, a nossa OCB. 

Além de um dossiê com a história de Paolinelli, o diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Durval Dourado Neto, entregou 119 cartas de apoio ao pleito, feitas por instituições brasileiras e internacionais. 

Em uníssono, elas destacam que, se hoje o Brasil é uma potência agrícola mundial e tem papel relevante em fornecer alimentos para o mundo, isso se deve, em parte, à liderança, ao entusiasmo e à capacidade de reunir talentos de Paolinelli. 

Muito foi feito por ele para que a agricultura brasileira chegasse onde chegou. A indicação a esse prêmio é, na verdade, para o Brasil; por isso, convido todos os brasileiros a apoiarem essa iniciativa tão importante para o país”, destacou Dourado Neto, durante entrevista coletiva que referendou o nome do engenheiro.

Grande entusiasta da indicação de Paolinelli ao Nobel, o embaixador especial da FAO (Organização Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) para as cooperativas, Roberto Rodrigues, concorda com o colega da USP e completa: Paolinelli é o pai da moderna agricultura brasileira e tudo o que fez foi com base em ciência. 

"Um Nobel da Paz para ele é um Nobel da Paz para o Brasil e para a agricultura sustentável”, defendeu Rodrigues.

Modesto, o indicado acredita que o prêmio seria um coroamento ao trabalho de muitos brasileiros.

Pessoalmente, recebi com muita honra e carinho [a indicação ao Prêmio Nobel], porque ela partiu dos meus companheiros. Eu tenho certeza de que se eu ganhar, eles também estão ganhando”,

disse o mineiro de prosa boa e farto conhecimento, em entrevista à Saber Cooperar

HISTÓRIA DE LUTA

ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli


A preocupação com a sustentabilidade e com formas de melhorar o processo de produção de alimentos sem agredir o meio ambiente sempre foi a marca do trabalho de Paolinelli.

Mineiro de Bambuí, formado pela Universidade Federal de Lavras – à época, Escola Superior de Agronomia de Lavras (Esal) –, ele foi secretário de Agricultura de Minas Gerais (1971) e criou  incentivos e inovações tecnológicas que transformaram o estado no maior produtor de café do Brasil.

Três anos depois, em 1974, ele assumiu o Ministério de Agricultura, iniciando um período de políticas marcantes para o setor e para o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro.

Nessa época, o Brasil era um importador de alimentos. Importávamos um terço do que consumíamos. Isso pesava demais [na balança comercial]. Nós tínhamos 50% da população nas cidades, e a metade rural não dava conta de abastecer a metade urbana. O Brasil dependia de importar alimentos”, relembra.

Durante os cinco anos à frente do ministério, ele estruturou a Embrapa e atraiu profissionais de renome da academia e de órgãos de assistência técnica. Foi também o responsável por montar uma política pública ousada, baseada na ciência, na tecnologia, na assistência técnica, na extensão rural e no crédito orientado para criação de um centro de desenvolvimento do cerrado brasileiro. 

Nesse período, implantou um inédito programa de bolsas de estudos para estudantes brasileiros nos maiores centros de pesquisa em agricultura do mundo. O objetivo era ousado: concentrar as melhores mentes brasileiras em torno de pesquisas para descobrir e desenvolver soluções para o Cerrado e para a região tropical. O orçamento até hoje faz os olhos brilharem: US$ 200 milhões.

“O Brasil formou, de uma vez só, uma equipe muito competente que conseguiu criar, em menos de 20 anos, a primeira agricultura tropical, sustentável e competitiva do mundo. Os trópicos, até então,  não eram capazes de abastecer as demandas mundiais. Só conseguiam fazer isso com produtos tropicais, como era o caso do café, do cacau, da borracha e da madeira. E o Brasil mudou esse cenário”, destacou.

TECNOLOGIA PARA CRESCER

Na opinião de Paolinelli, a pesquisa científica e a busca por inovação foram elementos fundamentais para alcançar esses resultados. Segundo ele, qualquer país que quer se desenvolver precisa criar tecnologia e conhecimento.

A Emater [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural] já estava criada e foi o órgão encarregado de captar e transferir ao produtor as tecnologias mais adequadas para transformar o Brasil em uma potência alimentar", afirma.

Antes de Paolinelli, a agricultura brasileira era incipiente. Depois dele,  o Brasil deixou de ser importador de alimentos e passou a ser exportador. "A entrada no mercado internacional só ocorreu porque passamos a ocupar o Cerrado – que era conhecido como uma terra degradada e infértil – e conseguimos transformá-lo em uma área produtiva e competitiva", complementa o ex-ministro. 

COOPERATIVISMO NA VEIA

Alysson Paolinelli, quando era ministro, na década de 70

Alysson Paolinelli é um forte aliado do cooperativismo. Não é à toa que o Sistema OCB apoiou a indicação de seu nome ao Nobel. 

Eu tenho confiança muito grande no cooperativismo. É um sistema que valoriza o homem pelo trabalho e pelo produto que é capaz de produzir; um sistema produtivo capaz de fazer com que o pequeno, o médio e o grande produtor tenham a mesma capacidade competitiva. É um modelo importantíssimo para o  desenvolvimento de qualquer país”, destacou. 

Ele enumera ainda alguns entraves do setor rural — como a distância entre as propriedades e os problemas de armazenamento e processamento — que são minimizados com o esforço integrado de um sistema com o cooperativo.  

“O cooperativismo fez marca no Brasil. O país precisa ampliar a sua mentalidade associativista”, enfatizou. 

NOVOS CAMINHOS

Foto: Dani Barcellos/Palácio Piratini

A revolução agrícola que tornou o Brasil um grande exportador de alimentos ainda está dando os primeiros passos. “Agora é que estamos achando o nosso caminho”, diz, entre risadas, o engenheiro agrônomo. 

Hoje, entregamos na hora em que o mercado precisa um produto de melhor qualidade e mais barato. "O Cerrado produz trigo, soja, milho, algodão, frutas e legumes. Tudo a um preço mais barato e melhor que os outros países produtores”, analisa. 

Como nova fase dessa revolução, ele menciona os estudos avançados em biotecnologia que farão o país produzir defensivos, fertilizantes e pesticidas. 

“O Brasil ainda é dependente de fertilizante, de produtos químicos. E a biotecnologia vai trazer nossa independência. Estamos caminhando. Brasil e Holanda são os países mais desenvolvidos em biotecnologia no mundo. E isso é muito importante. É a nova fase. Esse vai ser o nosso terceiro salto: em biotecnologia.”

VONTADE DE AJUDAR MAIS
Agricultura de baixo carbono Fazenda do ex ministro Dr. Allyson PAulinelli Baldinho MG próximo a Serra do Cipó

O Nobel da Paz não seria o primeiro prêmio internacional conquistado pelo  ex-ministro. Por garantir mais qualidade e aumentar a quantidade de alimentos no mundo, em 2006, Alysson Paolinelli foi agraciado com o World Food Prize, prêmio que equivale ao Nobel da Alimentação. O feito foi alcançado graças ao trabalho de Paolinelli ao lado do pesquisador Edson Lobato, da Embrapa, que ajudou a transformar o Cerrado brasileiro em um dos mais produtivos celeiros do mundo.

Mesmo com uma biografia consolidada, Paolinelli tem planos de continuar contribuindo com o crescimento e o desenvolvimento do país. 

“Temos outras iniciativas para a gente poder ajudar o país”, destaca, referindo-se ao Instituto Fórum do Futuro, do qual é presidente, grupo de reflexão independente que reúne notáveis e é voltado para o debate de questões estruturantes da sociedade brasileira, a partir da perspectiva do desenvolvimento sustentável. 


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Lição de resiliência

A educação a distância, ao que tudo indica, continuará a fazer parte das escolas de todo o Brasil — ainda que em menor proporção — quando conseguirmos controlar a disseminação do novo coronavírus. As novas tecnologias ganharam maior importância nas vidas de alunos e professores, especialmente na rede privada de ensino, que, dificilmente, conseguirá retroagir a um modelo de aulas 100% off-line, feitas com o apoio apenas de quadro-negro e giz. 

Essa é uma das poucas mudanças trazidas pela pandemia de Covid-19 consideradas positivas pelos professores, pedagogos e especialistas em educação. Via de regra, eles percebem que a suspensão das aulas presenciais ampliou as desigualdades do ambiente escolar, criando um fosso entre os alunos com acesso às novas tecnologias e aqueles que sequer têm conexão com a internet. Outro problema complicado: conscientizar as famílias da importância de participar ativamente da vida escolar de meninos e meninas não apenas agora, durante a crise sanitária, mas durante todos os ciclos de ensino (infantil, fundamental e médio). 

Uma pesquisa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Educação estima que o fechamento das escolas durante a pandemia da Covid-19 pode trazer consequências por 15 anos na economia brasileira. Para conversar sobre esse tema, trouxemos duas referências dentro do cooperativismo educacional:  Elizeth Pelegrini, presidente da Cooperativa Educacional Magna (CEM), de Santa Catarina;, e Alaerte Martins, presidente da maior cooperativa de ensino da Bahia, a Cooperativa de Trabalho Educacional de Irecê (Coperil).; Confira!

Saber Cooperar: Como a sua cooperativa está lidando com os impactos da pandemia de Covid-19?  Vocês estavam preparados para as mudanças que ocorreram?

Elizeth Pelegrini: O ano de 2020 foi desafiador, comparado a todos os demais vividos, por conta da pandemia dae Covid-19. O segmento Educacional foi diretamente impactado;, os processos de prestação de serviço foram reestruturados, descobrimos o universo das ferramentas tecnológicas, incorporamos novas didáticas e metodologias de ensino. Os profissionais da educação se transformaram. Entendo que as cooperativas provaram mais uma vez sua eficiência, acompanharam as mudanças inovando e gerando crescimento para os associados e clientes.

Alaerte Martins: Nossa cooperativa vem lidando com muita perseverança, serenidade, busca de conhecimento e parceria entre os nossos cooperados e a sociedade. A pandemia foi algo inesperado, que trouxe situações desconhecidas. No entanto, apesar de ser algo novo, contamos com uma estrutura e gestão administrativa que nos permitiu enfrentar este momento.

Havia uma expectativa de que, em 2021, a pandemia se resolvesse, mas isso não aconteceu.  Você acha que as cooperativas estavam mais preparadas nessa segunda onda do que na primeira vez?

EP: Entendo que não só as cooperativas, mas os demais segmentos empresariais, aprenderam a trabalhar com o cenário de 2020 e se fortaleceram. As vivências e o conjunto de esforços que foram dispensados nos primeiros meses da pandemia causaram o amadurecimento e, consequentemente, o enfrentamento de problemas no futuro. Sem dúvida, ficamos mais resilientes e aprendemos a lidar com as incertezas.

AM: O que causou a maior dificuldade para o enfrentamento da pandemia foi o desconhecimento. Em que pese a segunda onda tenha surgido de forma mais agressiva, já temos mais de experiência, o que nos permite enfrentar 2021 com um pouco mais de tranquilidade. Tratando especificamente do Rramo Eeducacional, não tivemos mudanças, tendo em vista que as aulas presenciais ainda não foram autorizadas em nosso município. Então, seguimos com as metodologias e dinâmicas de educação aà distância,  mas aperfeiçoando cada dia mais essa nova forma de ensinar.

A importância da educação, da presença das escolas na vida das crianças e jovens, nunca foi tão debatida como agora no Brasil. Como você enxerga esse debate?

EP: Educação é o input para o crescimento do ser humano. Sem educação, as pessoas não se desenvolvem. Promover debates sobre a importância da educação é importante, porém não menos do que pensar e adotar mudanças no comportamento social dos profissionais da área, dos alunos e familiares. Trabalhar as políticas públicas para maior engajamento para desenvolver efetivamente a educação. A educação é fator preponderante para o crescimento das pessoas, das cooperativas e da sociedade como um todo.

AM: Esse é um debate necessário, porém tardio. Foi preciso perder para se falar, defender e mensurar a significância do processo de aprendizagem para o ser humano. Lamentável. E, apesar de o debate existir, percebemos ainda muita ignorância da população sobre o verdadeiro papel e importância das escolas na vida das crianças, o que se mostra em números:  muitas famílias tiraram os seus filhos das instituições de ensino e muitas estão mantendo essas crianças sem vínculo escolar, apesar de ser ilegal. E issto está sendo pouco divulgado pelos órgãos competentes.

O estudo on-line veio para ficar? Quais são as vantagens de desvantagens dessa modalidade de ensino aà distância?

EP: A pandemia corroborou para que o ensino remoto se consolidasse na rotina dos educandários. Observo que esse modelo elevou o aprendizado, promovendo o crescimento do desempenho cognitivo dos alunos. Em contrapartida, observamos que houve a perda no desenvolvimento das inteligências sociais e emocionais.

AM: O estudo on-line sempre existiu, apenas não dávamos a ele a importância devida. As vantagens são sempre a flexibilidade de horários e o desenvolvimento da autonomia. As desvantagens são a falta de interação com colegas e professores, além de que o acesso a determinadas ferramentas, em certas idades, deve sempre ser supervisionado, considerando os riscos oferecidos.

Você acha que haverá um déficit de aprendizado nas crianças e nos adolescentes nesses dois anos de pandemia? Se sim, como podemos minimizar esse dano e quais são os impactos que ele pode trazer no futuro do País?

EP: Do ponto de vista das cooperativas educacionais, entendo que houve evolução no desenvolvimento cognitivo dos alunos. Porém, o desenvolvimento social e emocional ficou deficitário. Devemos dispensar parte da nossa energia em trabalhos e projetos de estudos de meio que estimulem o desenvolvimento dessas habilidades de convivência social e o fortalecimento emocional dos educandos.

AM: O impacto de uma pandemia não poderá ser mensurado em tão curto espaço de tempo, pois em pouco mais de um ano ainda não conseguimos sair dela. No entanto, já existem pesquisas que apontam para possíveis danos em diversos aspectos na vida das crianças e dos adolescentes, e a falta da escola é um desses impactos. Inicialmente, a forma de minimizar esstes danos é por meio através do acolhimento socioemocional e da busca da recuperação da aprendizagem nesse período. Mas, apenas com o tempo, ao termos real conhecimento dos danos e de suas extensões, poderemos também traçar melhores estratégias de minimização desses impactos.

O que as cooperativas escolares têm feito para garantir a segurança dos colaboradores e dos alunos que estão optando pelo ensino presencial?

EP: As cooperativas aderiram aos planos de contingenciamento dos seus estados, obedecendo às especificidades dos protocolos de biossegurança.

AM: Os nossos colaboradores que estão atuando de maneira presencial seguem o nosso protocolo de biossegurança, estudado e aprovado pela Vigilância Sanitária do município. Nossa estrutura física passou por adaptações para adequação após a vistoria realizada por esse órgão. Além disso, promovemos oficinas de conhecimento e treinamento.

Não existem alunos no ensino presencial em nossa cooperativa. Todos estão em ensino remoto. No entanto, acreditamos que uma das formas de enfrentamento da pandemia é a conscientização e o conhecimento. Dessa forma, já estamos trabalhando com os nossos alunos, para que, quando estivermos autorizados a recebê-los presencialmente, estejamos todos mais adaptados ao que a realidade requer.

Você acha que a relação família/escola/professor vai mudar depois da pandemia?

EP: Percebo que a nossa sociedade, de forma geral, está se adequando a um novo modelo de comportamento social, revendo valores e posicionamentos. Nada como a adversidade para nos ensinar.

AM: Sim, e para melhor. A comunicação entre família e escola aumentou muito durante a pandemia, pois foi preciso estar mais próximo delas. A família se abriu mais para a escola, dividindo com ela seus medos, suas dificuldades e suas angústias.

Muitas famílias não estão conseguindo conciliar o ensino on-line com o home office. Que recado você daria para elas?

EP: O ensino remoto exige muita disciplina e precisa que os pais ou responsáveis criem uma rotina de estudos para seus filhos. Ressalto a importância de incentivar a autonomia dos seus filhos.

AA: Eu diria que é preciso ter calma e compreender que, on-line ou presencial, acompanhar os filhos sempre foi uma atribuição da família. A escola faz a parte dela, mas o acompanhamento de uma rotina eficaz de estudos depende da orientação e da parceria da família, sempre.

Quais são as suas expectativas para o futuro do cooperativismo na educação?

EP:  Todos os segmentos do cooperativismo estão radicados e em franco crescimento.

Considero algumas tendências no universo educacional. S, são elas: promoção do conhecimento através de metodologias que utilizam as tecnologias como cooperadora nesse processo; aprendizagem mais acessível, envolvente e personalizada; currículo mais flexível, que proponha o engajamento dos estudantes e, por fim, foco na educação inovadora, que leve em conta o contexto no qual os alunos estão inseridos e os prepare para os desafios do mundo.

AM: O cooperativismo, em todos os ramos, é um modelo de negócio em constante ascensão. Acredito que, no segmento da Eeducação, estamos enfrentando grandes desafios, pois ele foi muito impactado pela pandemia. Mas, como uma das características do cooperativismo é assumir o ônus e o bônus, estamos lidando com essas dificuldades. Esta realidade propõe aos cooperados aumentar o senso de pertencimento, lutar pelo seu negócio, e buscar a sua permanência e a conquista de mais espaço no mercado. Dessa forma, acredito que teremos uma nova realidade, ainda melhor, para o cooperativismo escolar quando essa crise sanitária for controlada.  


Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Pioneirismo desde a fundação

Há 23 anos, ela participava da criação de uma cooperativa de crédito em União (MT). Hoje, é a primeira e única mulher presidente das 16 Centrais do Sicoob. Há seis anos, a economista Aifa Naomi comanda o Sicoob Central Rondon, que abrange quase 84 mil cooperados com oito afiliadas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. 

Sou a única mulher na presidência de uma central, não só do Sicoob, mas acho que de todo o sistema cooperativista de crédito. Porque converso com outras entidades e nunca encontrei outra mulher em cargo desse nível”, conta Aifa. Concomitante ao Sicoob Central Rondon, ela também preside a cooperativa Sicoob União (MT), que ajudou a fundar. 

Na cooperativa, há mulheres na diretoria e nos conselhos, mas elas ainda ocupam cerca de 20% a 30% do corpo de gestão, segundo Aifa. “Não é uma ideia machista, mas em outras épocas havia menos interesse da mulher em ocupar esses espaços. Quando havia a oportunidade, às vezes, ela declinava porque queria priorizar a família e os filhos. Hoje a gente percebe em nossas funcionárias que elas são muito mais interessadas em participar e se preparar”, diz. 

Para Aifa, a chave para enfrentar o ambiente masculino é estar sempre preparada e ter domínio do tema. “Eu não dou nem a oportunidade de eles acharem que eu não estou preparada. Isso deixa a gente insegura. Tenho muita certeza, porque me preparo muito. Com certeza, não são todos que estão ali torcendo por você, porque nossa cultura é machista. Você tem que focar no que você quer, com certeza do está falando”, diz. 

Ela quer aproveitar sua posição hoje no sistema para criar iniciativas que possam apoiar a mulher a ir mais longe no cooperativismo. “Por exemplo, pensar em um programa em que a mulher que teve bebê possa automaticamente ficar em home office, desde que o setor em que ela esteja permita. Ações protetoras, porque não é fácil mesmo, a mulher tem mais funções”, diz. No Sicoob União, em cursos de formação de lideranças, já é obrigatório um percentual mínimo de participação de mulheres. 

O trabalho é duro, mas a motivação de Aifa vem de saber que, com o cooperativismo, ela consegue impactar — e transformar — pessoas e comunidades.

Quando a gente se instala em um local para montar uma agência, contrata pessoas da região. Se o município faz uma quermesse ou uma feira, o Sicoob está lá apoiando. Nós somos como se fôssemos da família do município. A cadeia econômica gira. Como economista, a gente sonha em fazer isso, sabe? A gente alcança isso no cooperativismo de uma forma muito tangível”, diz. 


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CONHEÇA OUTRAS PIONEIRAS DO COOPERATIVISMO

Eliza Brierly

A primeira mulher a ingressar em uma cooperativa de que se tem notícia foi a inglesa Eliza Brierly, que em 1846 fazia parte da Cooperativa dos Pioneiros de Rochdale, na Inglaterra. Ela era tecelã e a única mulher do grupo, formado por 28 membros. A famosa cooperativa de Rochdale, considerada líder do cooperativismo moderno, também foi pioneira ao permitir que mulheres e homens participassem juntos da organização. Naquele período, as mulheres não tinham direitos legais nem civis. 

Pauline Green

Primeira mulher a presidir a  Aliança Cooperativa Internacional (ACI), ela foi eleita em 2009, após 115 anos da fundação da organização. Inglesa, Pauline Green foi também presidente da ACI Europa e abriu espaço para outras mulheres na organização. Depois dela, a canadense Monique Leroux foi eleita em 2015. 

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Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Colhendo os frutos

Iniciativas de inclusão feminina são como um plantio: é preciso semear para colher os frutos lá na frente. Na década de 1980, a Cooperativa de Produção e Consumo de Concórdia (Copérdia), em Santa Catarina, deu início a uma ação pioneira ao criar os núcleos femininos, que existem até hoje. Na época, os grupos reuniam principalmente as esposas dos associados, líderes das suas comunidades, para discutir a gestão da cooperativa e o dia a dia dos produtores. 

Criadora de suínos e, na época, esposa de um dos cooperados, Idilse Mosel, 56 anos, se encantou pelo movimento a partir da participação nesses núcleos. Liderança feminina desde 1986, ela seguiu engajada nos trabalhos até ser eleita, em 2005, a primeira mulher a participar do conselho fiscal da cooperativa.  

Cooperada há 35 anos da Copérdia, Idilse lembra que as mulheres desse movimento pioneiro receberam alguns “olhares atravessados” quando começaram a ocupar os espaços, mas não sentiu dificuldade na missão porque sempre viu homens e mulheres com igualdade.

Eu me candidatei a uma vaga não para tirar espaço dos homens, mas para mostrar que nós, mulheres, também podíamos fazer esse trabalho, que era exclusivo dos homens. E a gente conseguiu provar que o trabalho andou do mesmo jeito”, lembra.

TEM MULHER NO CONSELHO

Atualmente, Idilse faz parte do Conselho de Administração, no seu segundo mandato. Ela avalia que hoje há muito mais oportunidades de crescimento para as mulheres no cooperativismo, mas ainda há muito a conquistar. “Nós temos espaço, mas, no Conselho de Administração, por exemplo, somos só duas mulheres entre 12 pessoas. Ainda temos muito caminho a percorrer, inclusive nas diretorias executivas”, compara. 

Os núcleos femininos continuam funcionando a pleno vapor, mesmo durante a pandemia. Atualmente, o projeto atende a cerca de 4,5 mil participantes em 93 núcleos que desenvolvem atividades periódicas com as mulheres em 24 municípios gaúchos e catarinenses em que a Copérdia atua. Idilse destaca a capacidade mobilizadora da mulher, que leva com ela o marido, os filhos e toda a comunidade para se envolver no trabalho. 

Tenho muito orgulho do sistema cooperativo e gratidão pela Copérdia ter criado esses núcleos femininos, porque daquela sementinha que foi plantada, lá em 1988, a gente está colhendo frutos até hoje. Através da inclusão das mulheres no seu quadro social, nos seus conselhos, ela conseguiu transformar não só a minha vida, mas a da minha família, da comunidade e dos municípios onde ela atua.” 


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


De estagiária a presidente

Apenas alguns passos separam a casa de Maria Nascimento da sede da OCB/Amapá, na capital, Macapá. Ela decidiu tornar-se vizinha da organização quando assumiu uma gerência da unidade estadual.

Eu acordo e durmo respirando cooperativismo. As pessoas já dizem que minha casa é um subnúcleo da OCB”, brinca. 

Tamanha dedicação trouxe frutos: aos 30 anos, Maria foi a primeira mulher eleita presidente de uma unidade estadual do Sistema OCB na Região Norte. E ela sonha com voos ainda mais altos, como assumir posições de liderança em âmbito nacional, como conselheira ou, quem sabe, diretora da Casa do Cooperativismo. 

O primeiro contato de Maria com o cooperativismo aconteceu há 11 anos, quando ela fez um curso de bombeira e passou a integrar uma coop de trabalho da capital amapaense. Nessa época, surgiu o nome de guerra — Nascimento, pelo qual é conhecida até hoje. Ao longo dos anos, passou por vários cargos dentro da cooperativa, desde a limpeza até a presidência. Depois, virou prestadora de serviços do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e, em 2015, conseguiu um estágio na OCB/AP. 

“Depois de apenas 23 dias no estágio, eu assumi uma gerência. Talvez porque nunca tenha me visto como uma simples estagiária. Eu aprendi na prática mesmo a palestrar, a redigir uma ata, a fazer um atendimento na área jurídica, na contábil. Esse conhecimento foi me dando muita experiência no trato com as pessoas”, lembra Maria. 

CORAGEM PARA VENCER

Mesmo com a experiência acumulada em uma década de trabalho no cooperativismo, ela enfrentou a desconfiança de alguns sobre sua capacidade de presidir a OCB/AP. 

Algumas pessoas me viam como muito jovem para ocupar o cargo. E eu ainda sou uma mulher negra; por isso, o desafio foi muito maior. O mais gratificante é, em menos de um ano de mandato, já ouvir de algumas pessoas frases como ‘eu queria me desculpar com você porque agora vi que você era alguém capaz’. Desabafos como esse, de quem um dia não acreditou no meu trabalho, são a minha maior recompensa”, afirma.  

Maria assumiu a presidência da OCB/AP em um ano difícil para todo o cooperativismo. Além da pandemia, em 2020 o estado sofreu com uma série de apagões elétricos que duraram dias, afetaram a economia e a qualidade de vida da população.

A estratégia foi mobilizar as cooperativas para apoiar quem estava em necessidade — especialmente os cooperados do ramo Transporte e Saúde, que foram mais prejudicados. Foram várias campanhas de arrecadação de alimentos para fazer o que ela chama de “equilíbrio da balança”, entre as cooperativas que conseguiram se manter e aquelas que passam por mais dificuldade. 

Tudo que faço, seja no trabalho, em casa ou na igreja, tem que ter um impacto na vida das pessoas. A minha maior razão de ser presidente do sistema OCB/AP é, com esse status, poder fazer a diferença na vida das pessoas”, diz.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O doce sabor do sucesso

O município pernambucano de Triunfo, localizado no alto da Serra da Baixa Verde, é conhecido como Oásis do Sertão. A altitude mais elevada e as temperaturas amenas fazem com que ali seja uma terra “onde tudo que se planta, colhe”, define Nadjanécia Guerra, presidente da Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar Orgânica Agroecológica (COOPCAFA). A organização, que reúne produtores de Triunfo e do município vizinho, Santa Cruz da Baixa Verde, completou 10 anos em março, todos eles sob a liderança dela. 

Nadjanécia tinha apenas 19 anos quando a antiga associação de produtores resolveu compor uma cooperativa.

Quando começou a se pensar nos grupos e diretorias, meu nome era um dos citados. Isso, para mim, foi uma surpresa grande, porque, até então, eu não entendia muito de cooperativa. Mas aceitei o desafio de ajudar o grupo. Eles pensaram que, por eu ser jovem, poderia correr atrás de muitas coisas. E foi o que aconteceu”, lembra. 

RAPADURA

O carro-chefe da COOPCAFA é a cana-de-açúcar orgânica e seus derivados: açúcar mascavo, melaço e rapadura. O principal mercado da cooperativa ainda é o local, no estado de Pernambuco. Mas, em 2020, mesmo diante das dificuldades econômicas impostas pela pandemia do novo coronavírus, a pequena cooperativa de apenas 40 associados rompeu fronteiras e levou seus sabores bem mais longe. Uma parceria garantiu a comercialização das rapaduras orgânicas em 20 lojas da rede de supermercados Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foram 7.200 unidades do produto vendidas à rede no ano passado.

“Em 2020, as vendas alavancaram bastante. A gente pensou que ia ficar dentro de casa, em quarentena, mas na realidade trabalhamos muito, geramos renda para os cooperados e para o município”, conta Nadjanécia. Além da cana, a cooperativa trabalha com produtos derivados de frutas como manga, acerola, goiaba e cajá. Também são matéria-prima inhame, batata-doce, cenoura, feijão, entre outros. 

Mais um braço importante da COOPCAFA são os contratos com o governo federal, relacionados a políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Desde sua fundação, a cooperativa fornece alimentos para a merenda escolar dos municípios da região e, com as escolas fechadas em razão da pandemia, pensaram que as vendas diminuiriam. Mas, junto com a prefeitura, os cooperados — liderados por Nadajnécia — tiveram a ideia de montar kits alimentares para serem entregues aos alunos. Garantiram, assim, o alimento na mesa de muitas famílias em um momento de tanta dificuldade. 

É uma sensação de orgulho, fico muito emocionada. Quando chegavam fotos das famílias recebendo a cesta de alimentos, com lágrimas nos olhos, foi muito gratificante. Saber que a gente está enviando para a casa delas uma alimentação saudável, produzida em uma região ainda pouco explorada, que é o sertão. Não é só pela venda, mas por saber que a gente estava na mesa dos pernambucanos em um momento tão difícil”, diz Nadajnécia.

Aos 29 anos, ela já acumula farta experiência à frente do negócio que transformou a vida dos produtores locais. Para os próximos anos, Nadjanécia tem como meta atrair mais jovens mulheres produtoras para o quadro de associados e concretizar um outro sonho: exportar a rapadura da COOPCAFA. 

“Nunca imaginei que a gente chegaria a tantos quilômetros daqui. No início, quando a gente começou, achava que não vai tão longe, não sabia se ia dar certo. Mas quando você começa a entender a cooperativa, a se apaixonar e se engajar mais, aí você consegue ver além”, diz. 


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O café delas

A história das mulheres da Cooperativa de Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam) combina com uma xícara de um bom café: forte e inspiradora. A presidente da cooperativa, Vânia Lúcia Silva, 48 anos, é um exemplo desse caminho feminino de conquistas. Sua história no cooperativismo começou quando a Coopfam ainda era uma associação de produtores de café orgânico. Assim como outras mulheres, ela acompanhava o marido nas reuniões, e o que era um grupo de amigas tornou-se uma rede de mobilização.

A gente ficava ali do lado de fora, aguardando os maridos, e formou-se um grupo. Começamos a buscar formações, cursos de pintura em tecido, de compotas, para buscar uma fonte de renda. E dessas conversas nos cursos foi despertando o interesse em participar ativamente dos trabalhos da associação”, lembra Vânia.

Com a formalização da cooperativa, em 2003, a vontade de participar cresceu e em 2006 foi oficialmente criado o grupo Mulheres Organizadas em Busca de Igualdade  (MOBI). 

“No período em que a cooperativa foi formalizada, uma das nossas colegas ficou viúva, e precisou assumir toda a responsabilidade da propriedade dela e entrar como cooperada. Quando teve a primeira assembleia, ela ficou bastante insegura, porque as mulheres não participavam. Então, algumas mulheres foram acompanhá-la, o grupo ganhou força e mais mulheres passaram a ser cooperadas a partir disso”, conta. 

A atuação do grupo cresceu em diversas frentes e, em 2016, Vânia foi indicada pelo MOBI para concorrer a uma vaga na diretoria, tornando-se vice-presidente da Coopfam. Em 2018, chegou a hora de disputar a presidência. 

Enfrentei muitos preconceitos, esse ainda é um mundo muito masculino. Porque são produtores rurais, a maneira como foram educados é aquela mentalidade de que a mulher não é capaz. A insegurança foi muito grande por parte de alguns cooperados, principalmente dos mais velhos, os pioneiros. Eles tinham medo de deixar a cooperativa nas mãos de uma mulher”, conta. 

NOTAS DE MEL

Mesmo com a resistência da "velha guarda", Vânia foi eleita e, com muita dedicação, mostrou que competência não tem gênero. 

“Temos que buscar nosso espaço, mas é mostrando resultados — eu ainda não vejo outra forma. Infelizmente, temos que ficar provando o tempo todo. Sempre tive consciência, quando entrei na presidência, de que eu teria que trabalhar muito mais do que os outros presidentes, que eram homens, para provar que eu era capaz”, compara. 

As mulheres seguem ocupando espaços nos conselhos da Coopfam e também no portfólio de produtos: uma das marcas da cooperativa é o Café Feminino, que busca valorizar o papel da mulher na produção do grão. “A cooperada e a esposa do cooperado participam de todo o processo da produção do café. Desde o manejo, mas principalmente no pós-colheita. Ela influencia muito na questão da qualidade do café, já que ela tem todo esse cuidado.” É um café especial, com notas que remetem a chocolate, leite e mel — traz sabor de conquista e renda às produtoras. 

Nós queremos caminhar lado a lado com os nossos maridos, com os nossos colegas de trabalho, de mãos dadas, nunca à frente, sempre somando forças. Contribuindo para que, juntos, a gente construa uma comunidade melhor, uma cooperativa mais fortalecida e mais qualidade de vida para as nossas famílias”, define Vânia. 

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ALGUNS NÚMEROS

A participação feminina na cooperação é diferente em cada parte do país: Ceará e Amazonas são os estados em que a presença delas é maior, inclusive superando a masculina: 55% e 61%, respectivamente. Entre os ramos, destacam-se os segmentos de Consumo e Saúde, em que elas já representam mais da metade (51%) dos cooperados. Os ramos Agro e Transporte são ainda majoritariamente masculinos: 85% e 89% dos participantes são homens, respectivamente. 

Fonte: Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2020.  

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Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Energia compartilhada

Se uma cooperativa sozinha consegue gerar energia suficiente para economizar centenas de milhares de reais,  imagine o que duas cooperativas juntas são capazes de fazer? Pois acaba de surgir, no Espírito Santo, a maior usina de energia compartilhada limpa do Brasil. Localizada no município de Ibiraçu, ela é encabeçada pelo Sicoob Espírito Santo e pela Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi).

Com 3,2 mil placas solares instaladas, o empreendimento é responsável pela produção de energia elétrica para 95 agências do Sicoob e para 87 cooperados — escolhidos levando em conta critérios como tempo de associação, proximidade e interesse pelo projeto.

Para viabilizar a execução do programa e o compartilhamento de energia, uma terceira cooperativa foi criada: a Ciclos, uma plataforma de serviços com soluções para simplificar a vida de seus associados nas áreas de energia, comunicação, saúde e negócios. É a Ciclos a responsável pela distribuição de energia aos cooperados.

A usina de Ibiraçu está dividida em 10 unidades geradoras, sendo uma destinada para a Coopeavi e nove para o Sicoob. Das unidades do Sicoob, sete direcionam energia para as agências e duas, para associados da Ciclos. 

RETORNO EM CURTO PRAZO
Arno Kerckhoff, vice-presidente do Sicoob-ES

O vice-presidente do Sicoob-ES, Arno Kerckhoff, ressalta que o investimento realizado na usina — de R$ 4,2 milhões — vai gerar uma economia de cerca de R$ 85 mil por mês, além de propiciar a preservação do meio ambiente.

A geração de energia limpa contribui para a redução de gastos e causa menos danos ambientais, evitando, por exemplo, a construção de barragens e a alteração do curso de rios e de nascentes”, destacou.

Para os próximos meses, a expectativa é de que a produção seja ampliada por meio da construção de outras usinas, o que vai propiciar a inclusão de novos associados no sistema de energia compartilhada.

O investimento total, nos próximos 12 meses, chegará a R$ 35 milhões. Assim, a capacidade de atendimento aumentará para 2,5 mil residências ou estabelecimentos comerciais de cooperados vinculados ao Sicoob-ES.

A Ciclos tem por objetivo levar energia limpa compartilhada para todo o Brasil e ajudar os cooperados a entenderem melhor o mercado de energia. Além de investir na ampliação do atendimento em solo capixaba, em 2020, vamos iniciar a nacionalização da cooperativa”, destacou Kerckhoff.

Geração compartilhada— A geração compartilhada é aquela em que um grupo de pessoas usufrui da energia gerada pelo mesmo sistema.

FIQUE POR DENTRO

Ciente do crescente interesse das cooperativas brasileiras pela geração de energia limpa, a OCB fará nove workshops neste segundo semestre para levar mais informações sobre o tema. O primeiro evento foi realizado em Rondônia, em agosto. Ainda devem receber o workshop: Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, Amazonas, Maranhão e São Paulo.

Desde 2012, a Aneelpermite que todo consumidor possa gerar sua própria energia, e tem algumas vantagens para fazer isso”, explicou Marco Morato, analista técnico-econômico da Gerência Técnica da Casa do Cooperativismo.

Ele [consumidor] gera energia, abate na conta de luz, porque não pode vender, mas pode fazer uso da rede de distribuição como se fosse uma bateria – gera energia fotovoltaica durante o dia, injeta na rede e consome na hora que quiser”, completou o analista.

Morato explica, ainda, que em 2015 houve uma reformulação da regra e a OCB conseguiu incluir o cooperativismo no rol de alternativas para geração de energia, ou seja, em vez de cada consumidor, sozinho, tentar criar uma forma de gerar energia, a resolução permitiu que eles se unissem em cooperativas  que produzissem energia a ser compensada nas casas ou unidades consumidoras dos cooperados (cooperativa de Geração Distribuída).

Um grupo de pelo menos 20 pessoas pode constituir uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos. Também no entendimento da ANEEL, é possível que cooperativas já constituídas, independentemente da atividade econômica principal, promovam a geração de energia e compensem nas unidades consumidoras de seus cooperados.

Resolução nº 482 da Aneel

Publicada em 17 de abril de 2012, a norma permitiu aos consumidores realizar a troca da energia gerada com a da rede elétrica. Com isso, consumidores que instalam placas solares em seus telhados ou terrenos (ou usam outra tecnologia de geração própria) podem entregar a energia excedente ao sistema elétrico pelas redes das distribuidoras durante o dia, quando o sol está a pino. Depois, durante a noite, recebem a energia das outras fontes de geração do sistema, por meio das mesmas redes elétricas.

Atualmente, a resolução encontra-se em revisão na ANEEL, com o desafio de alocar corretamente os custos do uso do sistema de distribuição ao modelo. 

Uma cooperativa de Geração Distribuída: Uma cooperativa de Geração Distribuída (GD) consiste na reunião de pessoas, físicas e/ou jurídicas, que têm em comum a vontade de produzir a própria energia, mas que, por alguma razão, não poderiam (ou não gostariam) de fazê-lo sozinhas.

Gostou da ideia?

Tem interesse em reduzir o valor da conta de luz e ainda agregar valor aos seus produtos? Já pensou em produzir a sua própria energia? Se você gostou da ideia e quer constituir uma cooperativa com esse intuito, baixe agora o Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica, documento produzido pela OCB em parceria com a DGRV (entidade de representação do cooperativismo alemão), a Aneel, o Ministério de Minas e Energia e a Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (Agiv).

Saiba onde buscar recursos para trazer energia solar para sua casa ou cooperativa

Sicredi

A cooperativa tem, desde 2015, uma linha de crédito específica para a aquisição de tecnologias (equipamentos, softwares e serviços) por associados (pessoa física ou jurídica) interessados em investir em energia renovável.

Somente em 2018, a linha de Financiamento para Energia Solar concedeu R$ 232 milhões em 2,7 mil operações – quase oito vezes mais operações que no ano anterior.

Atualmente, a carteira do Financiamento para Energia Solar do Sicredi é de R$ 586 milhões. As contratações têm um valor médio de R$ 69 mil e o prazo para pagamento é, em geral, de cinco anos. Apenas em julho deste ano, foram concedidos R$ 60 milhões em crédito nessa linha, em mais de mil operações

Sicoob

Os cooperados do Sicoob têm à disposição a linha BNDES Finame Energia Renovável, destinada a empresas, órgãos da administração pública, empresários individuais e microempreendedores, produtores rurais, transportadores autônomos de carga, fundações, associações e cooperativas, pessoas físicas e condomínios. O prazo de pagamento é de até 120 meses, com carência de até 24 meses.

Cooperativas agropecuárias — além de pequenos, médios e grandes produtores —podem ter acesso, ainda, aos programas de financiamento agropecuário do BNDES. As taxas variam de 3% a 8% ao ano, com prazo de pagamento de cinco anos e carência de até 36 meses. Nessa linha, apenas em 2019, foram financiados R$ 20 milhões, em 133 operações de crédito.


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cooperação é tendência

Considerado um dos principais pensadores da atualidade, o filósofo e historiador israelense Yuval Noah Harari é autor dos best-sellers Sapiens: uma breve história da humanidade e 21 Lições para o Século 21. Estudioso das principais tendências para o futuro, Harari falou sobre a importância da cooperação para vencer os desafios que estão pela frente. Confira:

COOPERAÇÃO GLOBAL


“Nenhuma nação pode vencer, sozinha, as três grandes ameaças do séculos XXI: o colapso ecológico, a mudança climática e o mau uso das tecnologias armamentistas. Os governos, com as corporações globais, é que terão esse papel.”


MERCADO DE TRABALHO


"Ninguém sabe como será o mercado de trabalho daqui a 50 anos. A inteligência artificial e a robótica vão mudar profissões, e muitos dos trabalhos que as pessoas fazem hoje vão desaparecer.”


“É certo que novas carreiras vão surgir, mas uma massa de pessoas que trabalham com funções operacionais (como caixa de supermercado e operadores de telemarketing) ficarão desempregadas. Países desenvolvidos e que investem em educação, como a Suécia, conseguirão cuidar desses antigos trabalhadores; já os países em desenvolvimento precisarão criar políticas públicas capazes de garantir uma vida digna para esses profissionais em extinção.”


O PODER DA TECNOLOGIA


"Bilhões de pessoas confiam nos algoritmos do Facebook para contar o que é notícia, no Google para dizer o que é verdade, na Amazon para definir o que irão comprar. Mas, por trás desses algoritmos existem grandes corporações com interesses próprios. Precisamos ter cuidado antes de confiar cegamento nesses sistemas.”


“Uma tecnologia não é, por si só, boa ou má. Tudo depende do uso que fazemos dela.”


“A estupidez é uma força poderosa. Nós passamos por duas guerras mundiais, nazismo e stalinismo. Se nós, humanos, não usarmos as tecnologias a nosso favor, poderemos desaparecer como espécie. Talvez os ratos que sobreviverem aprendam com nossos erros.”

CONSELHOS


“As pessoas sempre me perguntam o que precisam ensinar para as crianças, hoje, para torná-las aptas a sobreviver em 2040 ou 2050. Para mim, o mais importante é ensiná-las a terem uma mente flexível, capaz de se reinventar e encontrar novas saídas para si mesmas, independentemente do cenário no qual estejam vivendo”.


“Não existe colaboração sem escuta”

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Quer inovar e ainda conquistar novos clientes para sua cooperativa? Aprenda a escutar não apenas eles, mas os seus cooperados e até mesmo a concorrência. Essa é a visão de Thomas Brieu, especialista em escutatória e padrões de linguagens cooperativos. Confira:

  1. Quem conta uma estória tem o poder. Verbalize o que você pensa. Aquilo que sentimos e queremos precisa ser comunicado. Muitas vezes achamos óbvio, não falamos e acabamos criando mal-entendidos.
  2. Quanto mais digitais, aceleradas e virtuais forem as relações, melhor você deve se expressar. Em mensagens de WhatsApp ou e-mail, seja impecável na escrita, porque o outro lado não consegue ver sua expressão e pode entender de forma diferente o que você tentou dizer.
  3. Não há inovação se não há escuta. A produção do conhecimento é consequência de uma boa escuta. A inovação é uma síntese de pontos de vista diferentes.

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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e Guaíra Flor e está publicada na Edição 28 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Tecnologia sustentável

Até o sol trabalha a favor das cooperativas brasileiras. É ele quem fornece a luz necessária para gerar energia limpa e sustentável àquelas que já descobriram as muitas vantagens de abrir sua própria usina fotovoltaica . A ideia, aqui, não é ganhar dinheiro oferecendo serviços para terceiros, como no ramo produção. O objetivo principal é aliar a economia à sustentabilidade.

Existe um interesse muito forte das nossas cooperativas em relação às novas tecnologias de geração de energia limpa ”, constata o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. Segundo ele, além de reduzir sensivelmente o valor da conta de luz, essa tecnologia: a) ajuda a preservar o meio ambiente; b) protege a empresa contra o aumento das tarifas; c) reduz as chances de o Brasil viver uma nova crise de distribuição de energia; e d) é capaz de agregar valor aos produtos da cooperativa.

Consciente dessas vantagens, a Coopercitrus — cooperativa que atende pequenos, médios e grandes produtores agrícolas em São Paulo, Minas Gerais e Goiás  — inaugurou a maior usina fotovoltaica agro do estado de São Paulo, em abril deste ano. Localizada em seu complexo de grãos, em Bebedouro, a unidade consegue suprir as necessidades energéticas de 28 polos da cooperativa, gerando uma economia de cerca de R$ 100 mil por mês nas contas de luz do empreendimento.

O projeto começou a ser desenhado em 2017, por um grupo que estudava maneiras de reduzir os custos fixos do empreendimento. “Um dos gastos que mais oneravam a folha era justamente a energia. A cooperativa consultou especialistas de mercado, captou recursos e fez um projeto para não ficar mais refém dos custos e dos aumentos constantes nas contas de luz”, recordou o coordenador do departamento de energia fotovoltaica da Coopercitrus, Diego Branco.

Para tirar a ideia do papel, foram investidos R$ 5 milhões, captados em instituições financeiras. “Sabemos que, neste primeiro momento, deixamos de pagar a concessionária de energia para pagar o banco. Depois, no entanto, a Coopercitrus será autossustentável. Vai consumir o que ela mesma gerar de energia”, defendeu Diego.

Na avaliação do coordenador, o uso de fonte limpa e inesgotável de energia traz outras vantagens, além da economia de recursos.

Ter um selo verde, para um exportador de frutas, por exemplo, é imensurável. A Europa dá um valor tremendo para isso — se a laranja ou o limão, por exemplo, é proveniente de um beneficiamento que conta com energia fotovoltaica”, destacou Branco.

Existe, ainda, um retorno que ele diz ser praticamente impossível de mensurar: o percentual de vendas gerado pelo reconhecimento, por parte do consumidor, do cuidado da cooperativa com o meio ambiente.

Usina fotovoltaica —  conjunto de painéis solares capazes de gerar energia para abastecer casas, indústrias ou estabelecimentos comerciais

Energia limpa — aquela que não libera, durante seu processo de produção ou consumo, resíduos ou gases poluentes geradores do efeito estufa e do aquecimento global. 

MARCO SUSTENTÁVEL
José Vicente da Silva, presidente do conselho de administração da Coopercitrus

Para o presidente do conselho de administração da Coopercitrus, José Vicente da Silva, a inauguração do complexo de energia fotovoltaica foi um importante marco para a cooperativa, que dá o primeiro passo em direção à sustentabilidade energética de todas as suas estruturas e futuramente das atividades agropecuárias de seus cooperados e comunidade. A caminhada já começou.

A cooperativa está ajudando os cooperados a abrirem suas próprias usinas fotovoltaicas. A proposta é auxiliá-los nos processos de captação de recursos e no cumprimento das burocracias relacionadas à concessionária de energia. Implantada a usina, a Coopercitrus acompanhará a produção de energia do cooperado pelo prazo de cinco anos.

De acordo com Diego Branco, até o momento, cerca de 80 projetos de produção de energia solar foram analisados pela Coopercitrus. Desse total, 50 já estão instalados e funcionando.

Os produtores que desejam instalar um projeto ou sanar as dúvidas devem procurar o departamento [de energia fotovoltaica] para receber todas as informações, desde o projeto adequado baseado nas contas [de energia] até as linhas de financiamentos disponíveis”, afirmou o coordenador.

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Como funciona a compensação de energia

As cooperativas que têm usina fotovoltaica produzem energia para consumo próprio e mandam o que sobra para a rede de distribuição da concessionária. Esse excedente pode ficar como crédito para cooperativa – que consome depois, quando for necessário – ou pode ser usado por outras unidades. Pelo uso da rede da concessionária, as cooperativas têm de pagar uma taxa obrigatória conhecida como “custo do uso do sistema de distribuição”. Com apenas esse custo – já que a energia é produzida pela própria cooperativa —, a conta de luz tem uma redução sensível.

R$ 5 milhões investidos

3,6 mil placas solares instaladas
1,17MWp como potência total
1.987MWh/ano como produção anual

O que poderia abastecer:

300 residências por mês*

3.600 residências no ano*

*Consumo médio de 500kWh/mês

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Novidade em tempo real

Uma das inovações da usina fotovoltaica da Coopercitrus é oferecer aos cooperados a gestão das atividades realizadas em suas propriedades na palma da mão. Dados e informações relacionados ao consumo e à produção de energia elétrica são descritos em tempo real. No sistema, é possível acompanhar on-line a economia em reais, de acordo com o tempo de funcionamento, a potência produzida, a previsão meteorológica, quantas toneladas de CO2 deixaram de ser jogadas na camada de ozônio e outras informações referentes ao funcionamento da usina.

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POTENCIAL ALTERNATIVO

Na última década, a evolução da tecnologia fotovoltaica tem mostrado potencial e viabilidade econômica para se tornar uma forte alternativa às formas convencionais de geração de energia elétrica, como hidrelétricas e termoelétricas, que trazem grandes impactos ambientais.

A produção de energia limpa, de acesso universal e a preço justo até 2030 é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. Para alcançar essa meta, é necessário ampliar o investimento em energias limpas.

Segundo a ONU, esforços para promover o uso de energias sustentáveis garantiram, até 2011, que 20% da energia consumida do planeta viesse de fontes renováveis. Entretanto, uma em cada sete pessoas no planeta ainda não tem acesso à eletricidade, e a demanda continua aumentando. O futuro do planeta depende do investimento em energia limpa, que provoque impactos ambientais mínimos, como a energia solar, a eólica e a térmica.

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ENERGIA COMPARTILHADA

Se uma cooperativa sozinha consegue gerar energia suficiente para economizar centenas de milhares de reais,  imagine o que duas cooperativas juntas são capazes de fazer? Pois acaba de surgir, no Espírito Santo, a maior usina de energia compartilhada limpa do Brasil. Localizada no município de Ibiraçu, ela é encabeçada pelo Sicoob Espírito Santo e pela Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi).

Com 3,2 mil placas solares instaladas, o empreendimento é responsável pela produção de energia elétrica para 95 agências do Sicoob e para 87 cooperados — escolhidos levando em conta critérios como tempo de associação, proximidade e interesse pelo projeto.

Para viabilizar a execução do programa e o compartilhamento de energia, uma terceira cooperativa foi criada: a Ciclos, uma plataforma de serviços com soluções para simplificar a vida de seus associados nas áreas de energia, comunicação, saúde e negócios. É a Ciclos a responsável pela distribuição de energia aos cooperados.

A usina de Ibiraçu está dividida em 10 unidades geradoras, sendo uma destinada para a Coopeavi e nove para o Sicoob. Das unidades do Sicoob, sete direcionam energia para as agências e duas, para associados da Ciclos. 

RETORNO EM CURTO PRAZO

Arno Kerckhoff, vice-presidente do Sicoob-ES

O vice-presidente do Sicoob-ES, Arno Kerckhoff, ressalta que o investimento realizado na usina — de R$ 4,2 milhões — vai gerar uma economia de cerca de R$ 85 mil por mês, além de propiciar a preservação do meio ambiente.

A geração de energia limpa contribui para a redução de gastos e causa menos danos ambientais, evitando, por exemplo, a construção de barragens e a alteração do curso de rios e de nascentes”, destacou.

Para os próximos meses, a expectativa é de que a produção seja ampliada por meio da construção de outras usinas, o que vai propiciar a inclusão de novos associados no sistema de energia compartilhada.

O investimento total, nos próximos 12 meses, chegará a R$ 35 milhões. Assim, a capacidade de atendimento aumentará para 2,5 mil residências ou estabelecimentos comerciais de cooperados vinculados ao Sicoob-ES.

A Ciclos tem por objetivo levar energia limpa compartilhada para todo o Brasil e ajudar os cooperados a entenderem melhor o mercado de energia. Além de investir na ampliação do atendimento em solo capixaba, em 2020, vamos iniciar a nacionalização da cooperativa”, destacou Kerckhoff.

Geração compartilhada— A geração compartilhada é aquela em que um grupo de pessoas usufrui da energia gerada pelo mesmo sistema.

FIQUE POR DENTRO

Ciente do crescente interesse das cooperativas brasileiras pela geração de energia limpa, a OCB fará nove workshops neste segundo semestre para levar mais informações sobre o tema. O primeiro evento foi realizado em Rondônia, em agosto. Ainda devem receber o workshop: Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, Amazonas, Maranhão e São Paulo.

Desde 2012, a Aneel permite que todo consumidor possa gerar sua própria energia, e tem algumas vantagens para fazer isso”, explicou Marco Morato, analista técnico-econômico da Gerência Técnica da Casa do Cooperativismo.

Ele [consumidor] gera energia, abate na conta de luz, porque não pode vender, mas pode fazer uso da rede de distribuição como se fosse uma bateria – gera energia fotovoltaica durante o dia, injeta na rede e consome na hora que quiser”, completou o analista.

Morato explica, ainda, que em 2015 houve uma reformulação da regra e a OCB conseguiu incluir o cooperativismo no rol de alternativas para geração de energia, ou seja, em vez de cada consumidor, sozinho, tentar criar uma forma de gerar energia, a resolução permitiu que eles se unissem em cooperativas  que produzissem energia a ser compensada nas casas ou unidades consumidoras dos cooperados (cooperativa de Geração Distribuída).

Um grupo de pelo menos 20 pessoas pode constituir uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos. Também no entendimento da ANEEL, é possível que cooperativas já constituídas, independentemente da atividade econômica principal, promovam a geração de energia e compensem nas unidades consumidoras de seus cooperados.

Resolução nº 482 da Aneel

Publicada em 17 de abril de 2012, a norma permitiu aos consumidores realizar a troca da energia gerada com a da rede elétrica. Com isso, consumidores que instalam placas solares em seus telhados ou terrenos (ou usam outra tecnologia de geração própria) podem entregar a energia excedente ao sistema elétrico pelas redes das distribuidoras durante o dia, quando o sol está a pino. Depois, durante a noite, recebem a energia das outras fontes de geração do sistema, por meio das mesmas redes elétricas.

Atualmente, a resolução encontra-se em revisão na ANEEL, com o desafio de alocar corretamente os custos do uso do sistema de distribuição ao modelo. 

Uma cooperativa de Geração Distribuída: Uma cooperativa de Geração Distribuída (GD) consiste na reunião de pessoas, físicas e/ou jurídicas, que têm em comum a vontade de produzir a própria energia, mas que, por alguma razão, não poderiam (ou não gostariam) de fazê-lo sozinhas.

SERVIÇO: Gostou da ideia?

Tem interesse em reduzir o valor da conta de luz e ainda agregar valor aos seus produtos? Já pensou em produzir a sua própria energia? Se você gostou da ideia e quer constituir uma cooperativa com esse intuito, baixe agora o Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica, documento produzido pela OCB em parceria com a DGRV (entidade de representação do cooperativismo alemão), a Aneel, o Ministério de Minas e Energia e a Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (Agiv).

SERVIÇO 2: Saiba onde buscar recursos para trazer energia solar para sua casa ou cooperativa

Sicredi

A cooperativa tem, desde 2015, uma linha de crédito específica para a aquisição de tecnologias (equipamentos, softwares e serviços) por associados (pessoa física ou jurídica) interessados em investir em energia renovável.

Somente em 2018, a linha de Financiamento para Energia Solar concedeu R$ 232 milhões em 2,7 mil operações – quase oito vezes mais operações que no ano anterior.

Atualmente, a carteira do Financiamento para Energia Solar do Sicredi é de R$ 586 milhões. As contratações têm um valor médio de R$ 69 mil e o prazo para pagamento é, em geral, de cinco anos. Apenas em julho deste ano, foram concedidos R$ 60 milhões em crédito nessa linha, em mais de mil operações

Sicoob

Os cooperados do Sicoob têm à disposição a linha BNDES Finame Energia Renovável, destinada a empresas, órgãos da administração pública, empresários individuais e microempreendedores, produtores rurais, transportadores autônomos de carga, fundações, associações e cooperativas, pessoas físicas e condomínios. O prazo de pagamento é de até 120 meses, com carência de até 24 meses.

Cooperativas agropecuárias — além de pequenos, médios e grandes produtores —podem ter acesso, ainda, aos programas de financiamento agropecuário do BNDES. As taxas variam de 3% a 8% ao ano, com prazo de pagamento de cinco anos e carência de até 36 meses. Nessa linha, apenas em 2019, foram financiados R$ 20 milhões, em 133 operações de crédito.



Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Semeando eletricidade

A vida no escuro pode ser assustadora. Viver, hoje, sem energia é algo que está fora de cogitação nas grandes cidades, mas ainda é a realidade em algumas regiões do Brasil. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019 estimam que 99,8% dos domicílios têm energia elétrica, seja fornecida pela rede geral ou por fonte alternativa. Apesar da estimativa, o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 2,5 milhões de domicílios brasileiros não têm acesso a energia elétrica.

Para mudar esse cenário e levar energia a todo o território nacional, diversas cooperativas de infraestrutura têm procurado investir nesses serviços e fazer parcerias para atender cada vez mais pessoas, principalmente as que moram em áreas mais afastadas dos grandes centros.

Não é à toa que das dez melhores empresas do Brasil no ranking feito, em 2019, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), nove são cooperativas. E isso não é só de agora. Nos últimos dez anos, as cooperativas marcam presença no ranking geral do Índice ANEEL de Satisfação do Consumidor mostrando que o cooperativismo só tende a melhorar com o passar do tempo.

A pesquisa aponta como o cooperativismo tem dado espaço às melhorias, para um melhor resultado. As cooperativas buscam o equilíbrio, sempre com o objetivo de fazer a diferença na vida das pessoas”, explica o presidente da Confederação Nacional das Cooperativas de Infraestrutura (Infracoop) e da Coprel Cooperativa de Energia (RS), Jânio Vital Stefanello.

Para o presidente da cooperativa Ceriluz (RS), Iloir de Pauli, as notas das cooperativas nas pesquisas de satisfação do consumidor valorizam o trabalho prestado por cada uma e são a prova da excelência do serviço.

Mais difícil do que alcançar uma boa nota, é mantê-la e evitar acomodação. Isso nos mobiliza a fazer sempre o melhor trabalho e manter a qualidade se faz com investimentos, principalmente, valorizando o colaborador, pois é ele quem realmente faz acontecer. É ele quem planeja, define e coloca a infraestrutura de pé. É ele que está mais próximo do nosso associado”, pondera Iloir.

Das dez melhores empresas do Brasil, cinco são cooperativas gaúchas.

INVESTIMENTO NA INFRAESTRUTURA

Investir para continuar entregando um serviço de qualidade à população é o lema das cooperativas gaúchas, que hoje atendem centenas de municípios. Uma delas, a Coprel, atende áreas urbanas, distritos industriais, loteamentos residenciais e turísticos, mas tem um olhar mais cuidadoso com as regiões do interior, principalmente, a área rural, onde o acesso a energia é mais difícil.

Com mais de 17 mil quilômetros de rede e 180 mil postes instalados, a cooperativa conta com Centrais Hidrelétricas próprias e tem planos para instalação de novas usinas para continuar levando energia limpa aos cooperados. Uma das metas é a criação de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), em conjunto com a Ceriluz.

Para Jânio, além do investimento na parte de infraestrutura, o trabalho de intercooperação é essencial para que o serviço prestado esteja de acordo com os anseios dos cooperados. Já Iloir de Pauli defende que as parcerias “ampliam significativamente a capacidade de investimentos”, fazendo com que muitos projetos não fiquem apenas no papel.

Das mais de 56 mil famílias que a Coprel atende, a dos irmãos Francisco e Dorvalino Longaretti é umas das beneficiadas. No interior do estado, no município de Muliterno, cidadezinha com quase 2 mil habitantes, os Longaretti fizeram questão de seguir o trabalho rural do pai, que atua na área leiteira e no plantio de grãos.

Com o sucesso do negócio e as novas tecnologias do campo, os irmãos decidiram fazer mudanças na propriedade para promover o bem-estar dos animais, aumentar a produção do leite e facilitar o trabalho, investindo na instalação de um compost barn e na troca da ordenhadeira elétrica. Para que tudo isso desse certo, era preciso ter certeza de que a energia chegaria com sucesso à área rural

“O trabalho de energia que vem sendo feito às famílias do meio rural é o nosso braço direito e oferece qualidade de vida, além do conforto”, comenta Francisco.

PLANO CONJUNTO

Berço do trabalho em equipe, a intercooperação reacende o espírito cooperativo e traz à tona a solidariedade e o comprometimento para melhorar o desempenho de atividades em comum de cooperados e cooperativas.

No Rio Grande do Sul, 15 cooperativas de energia se uniram para melhorar os serviços prestados e atuar em conjunto semeando os bons frutos. Em uma extensão de 281.748 km², a região gaúcha é uma área afetada por vendavais, que acabam resultando em constantes picos de energia, principalmente em zonas isoladas.

Na tentativa de amenizar o problema da falta de eletricidade em situações chuvosas, foi criado o Plano de Operação e Manutenção para Dias de Contingência . De acordo com o presidente da Fecoergs, os resultados do plano têm sido positivos, principalmente aos associados, que ganham agilidade no retorno da luz.

“Graças a esse trabalho de anos entre as cooperativas, a relação entre diretores, engenheiros e técnicos é muito próxima, o que facilita a comunicação. Havendo necessidade, as cooperativas trocam informações e aquela que tiver a possibilidade auxilia a outra que foi mais duramente atingida pelos temporais”, explica Iloir de Pauli.

Em 2018, segundo Jânio Stefanelli, houve um grande temporal na região que levou à   destruição de muitas casas em pequenas cidades do estado. À época, a Coprel registrou a queda de 1.400 postes de concreto. Para solucionar o problema de forma ágil, a cooperativa acionou o plano de contingenciamento e contou com a ajuda de oito cooperativas para reconstrução da rede. Em um dia e meio, cerca de 70 quilômetros de linhas de transmissão foram reconectadas.

As cooperativas que não foram afetadas pela tempestade conseguiram mandar as equipes para a reconstrução. Foi terrível! Mas, até o outro dia, conseguimos restabelecer a energia. Escutamos muito dos cooperantes que a água ainda não havia voltado, mas a energia sim. Nós conseguimos fazer antes dos outros serviços essenciais, mas porque as outras cooperativas nos ajudaram. Então eu fico muito feliz, porque o plano dá certo, ainda mais em momentos emergenciais, que é onde os nossos associados mais precisam”, relembra o presidente da Coprel.

Atualmente, 400 mil famílias são beneficiadas pelas cooperativas de energia do Rio Grande do Sul. E o plano de contingência beneficia as 15 cooperativas!

DIFERENCIAL

Para Iloir de Pauli, o grande diferencial das cooperativas em relação às concessionárias está na proximidade com o associado. Como a área de ação é menor e os gestores fazem parte do grupo de associados, isso facilita a troca de informações, aumentando o compromisso de atender da melhor maneira.

A aproximação facilita a conhecermos melhor a nossa área de ação, as características de demandas de cada município, facilitando o nosso planejamento”, defende.

E não é só Iloir a defender o planejamento. Stefanelli também ressalta a importância de metas para lidar com momentos assim.

“Tem concessionárias muito bem geridas e outras que têm dificuldades. Para as que têm dificuldade, eu acho que deveria haver o planejamento de redundância . Aqui, no interior, a gente faz isso. Quando estamos em uma subestação, a gente já coloca um outro transformador ao lado para o caso de um parar de funcionar” comenta. 

COMUNICAÇÃO É TUDO!

Um dos pontos mais defendidos pelas cooperativas é a relação entre cooperado e cooperativa. Na Coprel, pesquisas de satisfação são feitas constantemente para saber como os cooperados  avaliam o serviço recebido. Devido à pandemia, a cooperativa também reforçou os canais de atendimento online para facilitar o acesso à informação e comunicação.

Para a Creluz - Cooperativa de Distribuição de Energia, agir com compromisso e optar, sempre que possível, pelas ações que mais beneficiam a população são as ferramentas ideias para garantir a satisfação e o bom atendimento ao cooperado.

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Compost Barn  Sistema de instalação que consiste em um grande espaço físico coberto para descanso das vacas, revestido com serragem, sobras de corte de madeira e esterco compostado. O principal objetivo é garantir aos animais conforto e um local seco para ficarem e a compostagem do material da cama.

Plano de Operação e Manutenção para Dias de Contingência: Documento que une 15 cooperativas do Rio Grande do Sul para a atuação em casos de emergência. Como os temporais não acontecem em todas as localidades do estado gaúcho ao mesmo tempo, a cooperativa que não é afetada por um temporal se compromete a auxiliar a outra.

Planejamento de Redundância: Termo que se refere à duplicação dos elementos que compõem a infraestrutura. É o caso de ter um aparelho para substituição quando o que está sendo utilizado apresentar algum problema.

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Esta matéria foi escrita por Rita Frazão e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Em busca da autonomia

Seja a partir do sol, do vento, da água da chuva e de rios ou de matéria orgânica, o cooperativismo brasileiro tem encontrado maneiras inovadoras de  gerar de energia limpa, com sustentabilidade e eficiência.

A crescente demanda pelo insumo — devido à intensa produção cooperativista e à melhoria da qualidade de vida dos cooperados — levou centenas de cooperativas a buscarem produzir a própria energia. Objetivo inicial? Reduzir despesas. Ganhos adicionais: autonomia energética, geração de empregos e muito aprendizado sobre como aproveitar melhor (de forma racional e sustentável) todos os recursos disponíveis em cada propriedade.

 Esse movimento começou mais ou menos em 2014, quando identificamos que a energia era um insumo fundamental para a nossa produção e qualidade de vida. O cooperativismo produz muito, o que demanda muita energia. Visando o princípio da autogestão do cooperativismo, então, por que não criar mecanismos para gerar a própria energia?”, relembra Marco Morato, analista técnico e econômico do Sistema OCB.

Na época, o país enfrentava problemas de escassez de energia elétrica, com blecautes em vários estados e risco de apagão geral. A crise impulsionou algumas cooperativas a empreender na geração de energia para autoconsumo ou distribuição para outras entidades.

 “Voltamos os olhos para essas políticas públicas que viabilizassem a autonomia do cooperativismo na geração de energia”, completa Morato.

E não são apenas as cooperativas de infraestrutura e energia que estão engajadas na expansão do setor energético. Os ramos de saúde, crédito, agro, transporte também têm impulsionado projetos de geração de energia de forma integrada e sustentável.

A partir do momento em que eu gero minha própria energia ou formo uma cooperativa de consumidores, eu estou gerando emprego e renda na minha região. Dependendo do arranjo, estou contribuindo para a manutenção da nossa matriz energética. A produção de energia renovável pode contribuir para que o Brasil reduza o consumo de combustíveis fósseis e mantenha seus recursos naturais”, destacou Morato.

INOVAÇÃO E RESPONSABILIDADE

Em Minas Gerais, uma parceria firmada no finalzinho de 2020 entre a Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg) e o governo estadual reflete a nova tendência de autossubsistência energética, mas com um diferencial que só o sistema cooperativo têm: o olhar para as necessidades da comunidade. Dessa forma, as usinas solares que estão sendo construídas para fornecer energia às cooperativas doarão o excedente aos hospitais públicos e entidades filantrópicas de assistência à saúde.


A iniciativa faz parte do Projeto de Energia Fotovoltaica do Cooperativismo Mineiro e foi construído com base em três pilares:

  • o econômico, com redução de gastos e economia de recursos;
  • o ambiental, com a geração de energia limpa;
  • e o social, suprindo as necessidades das entidades de saúde pública de Minas Gerais.

“Devido ao alto custo da energia elétrica, nós constituímos um comitê interno com representantes de diferentes áreas e começamos a desenhar um projeto que atendesse às cooperativas mineiras na área de energia. E o projeto foi ganhando corpo com esse teor social. Surgiu da necessidade de atender à crescente demanda por energia limpa. Quando entrou o social, o projeto ganhou um fôlego grande”, explicou Alexandre Gatti, superintendente da Ocemg.

Pioneiro no país, o projeto foi aprovado pelos conselhos do Sescoop e da Ocemg em dezembro e já conta com a participação ou solicitação de adesão de pelo menos 19 cooperativas. A iniciativa, entretanto, está aberta a todas as 800 cooperativas do estado, independentemente do ramo de atuação. “Com essa parceria com o governo, esperamos que o projeto fique mais robusto e atinja um número grande de cooperativas no estado”, afirma Gatti.

INVESTIMENTO NA SAÚDE PÚBLICA

Em Belo Horizonte, o convênio com o governo estadual permitirá que o excedente de energia gerado pelas usinas a serem construídas por quatro cooperativas – Coopmetro, Credicom, Crediminas e a Cooperativa Central dos Produtores Rurais (CCPR), além da Ocemg – seja doado para suprir as contas de luz da Santa Casa de Misericórdia, o maior hospital da rede SUS de Minas Gerais, com 1086 leitos, sendo 170 de UTI. É um hospital imenso que presta um serviço importante para a sociedade”, destacou Gatti.

O custo mensal da Santa Casa com energia gira em torno de R$ 105 mil.

Em 12 meses, é mais de R$ 1 milhão que vai deixar de ser gasto e poderá ser  investido em novos leitos de UTI, na aquisição de respiradores, na ampliação da rede de atendimento. Em um momento de pandemia, em que os hospitais estão sobrecarregados com estrutura precária, a Santa Casa passará a ter uma renda extra para investir na sua estrutura”, comenta o superintendente da Ocemg.

Para as cooperativas, a economia varia dependendo do porte. Na sede do Sistema Ocemg, por exemplo, o custo mensal de energia é de R$ 22 mil, mas tem cooperativa que gasta R$ 100 mil, outras R$ 5 mil. A expectativa é que em cinco anos depois do início das operações as cooperativas não paguem mais tarifa de energia.

Não haverá contrapartida financeira do governo estadual, que auxiliará na construção das usinas viabilizando a parte burocrática, de legislação, com questões técnicas de licenciamento. Ainda não há previsão de quando as usinas começam a operar.

A CCPR abraçou imediatamente essa causa devido à sua magnitude em vários aspectos: social, sustentável e cooperativista. Vimos na iniciativa uma oportunidade de unir cooperativas e contribuir com o desenvolvimento das comunidades. É uma ação de sustentabilidade, de preservação do meio ambiente, uma iniciativa que deve ser seguida por outras cooperativas brasileiras porque temos esse compromisso com a sociedade”, destacou Marcelo Candiotto, produtor rural e engenheiro civil que preside a CCPR.

A parcela energética da CCPR será direcionada à Santa Casa de Belo Horizonte por meio de um convênio a ser firmado com a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). E a energia será produzida na usina que será implantada em breve na Fazenda da CCPR em Sete Lagoas (MG).

Mais que os benefícios sociais, o projeto contribuirá para minimizar o fluxo da demanda na rede pública de energia, segundo Candiotto. “Temos alta demanda elétrica. Ao produzirmos nossa própria energia, vamos desafogar também a rede de distribuição da CEMIG.”, ressalta.

Dividido em etapas, o projeto de energia fotovoltaica também atuará nas cidades do interior que sediam ou recebem serviços de outras cooperativas do Sistema Ocemg.

METAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A geração de energia de forma sustentável e eficiente pelo cooperativismo está alinhada aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) – um plano de ação, com metas a serem cumpridas até 2030, para transformar o mundo em um lugar melhor para todos.

Entre as metas estabelecidas pela ONU, o projeto mineiro abarca o incentivo à energia limpa e acessível; a preocupação com a saúde e o bem-estar da comunidade; além do acesso a emprego digno e desenvolvimento econômico.

A diferença do cooperativismo é devolver os bons resultados à comunidade onde a cooperativa está inserida. Quando a cooperativa gera energia, vai gerar empregos, impostos para o município, ao doar para o hospital, a sociedade está sendo diretamente impactada”, reiterou o superintendente da Ocemg, Alexandre Gatti.

Inicialmente, o foco do projeto será a geração de energia solar, mas o sistema cooperativo mineiro já está de olho no potencial do estado para energia eólica e outros tipos de fontes energéticas.

O cooperativismo vem fazendo história e a diferença, principalmente nesse momento de crise. Aqui em Minas, o cooperativismo cresceu muito, principalmente crédito, saúde, agro e transporte de carga. Então, acreditamos que o cooperativismo pode inspirar outros sistemas a fazer iniciativas semelhantes. Sem contar a questão da intercooperação, estimulando a geração de energia de forma conjunta”, completou Gatti.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Virada cooperativista

Essa história começa no Rio de Janeiro, com um menino de oito anos que descobre ter um raro problema de visão: a retinose pigmentar. Talvez por não enxergar bem, ele aguçou todos os seus outros sentidos e, muito cedo, começou a perceber oportunidades onde ninguém mais via.

De família humilde, Abdul Nasser perdeu a mãe aos 4 anos e foi criado pela avó, costureira, com muita dificuldade. O pai, com quem tinha uma relação distante, o convidou a trabalhar em uma cooperativa de vans sem receber salário.  Apesar de ainda ser um menino, ele  enxergou ali uma oportunidade de traçar um novo caminho para sua vida.

 Dos 11 aos 14 anos, eu vendia bala no ônibus, água no sinal, carregava caminhão de tijolo. Eu odiava essas coisas e sabia que isso não era para mim”, lembra Abdul, hoje superintendente do Sescoop/RJ.

Seu sonho era trabalhar em um escritório, por isso ele logo se apaixou pela cooperativa.  “Eu era como um secretário, porque a cooperativa era pequena. Comecei a estudar o estatuto, a lei, a cooperativa cresceu e passei a ganhar um salário”, lembra.

OLHOS ABERTOS

Com o conhecimento adquirido sobre o nosso modelo de negócios, Abdul começou a ajudar cooperativas de vários municípios do estado a se constituírem. A partir dessa experiência, decidiu cursar direito porque não encontrava, na época, advogados especializados em cooperativismo.

 Eu fiz faculdade por meio do financiamento estudantil e meu fiador foi um cooperado da nossa cooperativa. Como eu ganhava só o suficiente para pagar a mensalidade, o pessoal das vans me levava de graça para a faculdade. Se não fosse o cooperativismo, eu nem teria conseguido estudar”, conta.

Abdul foi estagiário do Sescoop/RJ e, ao concluir a graduação, montou um escritório com foco na área. A trajetória no cooperativismo o levou a voos mais longos: foi indicado para ocupar uma vaga no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (CARF), órgão colegiado responsável por julgar processos relativos à cobrança de impostos pela Receita Federal. Ali, teve a oportunidade de trabalhar em casos bilionários e emblemáticos de fusões de bancos e até mesmo da dívida do jogador de futebol Neymar. Ao sair do órgão, preferiu retornar para o Sistema OCB/RJ para apoiar o desenvolvimento do cooperativismo fluminense. 

Minha primeira viagem internacional foi pelo cooperativismo, tive a oportunidade de conhecer vários lugares do mundo. Em 2019 fui a Nova York para falar de cooperativismo de plataforma, fui ao púlpito do Senado defender as cooperativas na questão dos aplicativos de transporte. Tudo que eu tenho é cooperativo, até meu casamento, porque eu conheci minha mulher no Sescoop. Desde que nasceu, minha filha tem uma conta numa cooperativa de crédito, ela foi a cooperada mais jovem porque tinha meses de vida”, conta.

Apesar das dificuldades que 2020 trouxe a todos, Abdul acredita que a pandemia acelerou a digitalização dos atendimentos e serviços oferecidos aos cooperados, que antes tinham resistência aos formatos não presenciais. Para 2021, o objetivo é ampliar a força do cooperativismo no estado, inclusive por meio de campanhas e pela aproximação com o setor público.

“Com a pandemia, todos os processos de digitalização que podiam ser adiantados no setor produtivo, foram. Com isso, as empresas reduziram equipes e esses postos de trabalhos foram perdidos para sempre, não voltam. A alternativa para o emprego é empreender e tem gente que não tem perfil para fazer isso sozinho, mas coletivamente consegue”, analisa.

“A retomada para a economia do Rio de Janeiro é o empreendedorismo cooperativo. A gente quer colocar o cooperativismo na moda e mudar a vida de mais gente, como eu mudei a minha”, torce.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Referência na comunidade

Quando a Cooperativa Pradense (Cooprado) foi fundada na cidade de Antônio Prado (RS), em 1974, o jovem Osvaldo Conte compareceu à assembleia de fundação para representar seu pai, que era o primeiro associado, mas estava doente. Ele tinha apenas 14 anos e mal sabia que ali começava a sua história com o cooperativismo, que já dura mais de 40 anos.

Osvaldo, hoje com 61 anos, começou na cooperativa como balconista. Foi gerente de loja, diretor e em 2001 assumiu a presidência pela primeira vez.

São 44 anos na cooperativa. Ali, no dia da fundação, eu entendi o espírito, mas ainda de forma superficial. Depois, comecei a gostar do cooperativismo e entender que o associativismo seria muito importante para a agricultura familiar e da nossa região, que é de pequenas propriedades”, explica.

A Cooprado trabalha com diferentes produtos agropecuários: insumos agrícolas, hortifrutigranjeiros, laticínios, grãos e vinho, frutos do trabalho de cerca de 1.200 famílias cooperadas. Na cidade de colonização italiana, o cultivo da uva tem grande importância na região. A maior parte da receita da Cooprado vem da venda dos vinhos. Em meio à pandemia, o consumo da bebida aumentou e o faturamento cresceu mais do que o dobro do previsto para 2020.  “O nosso papel é fundamental para a sobrevivência dessas famílias e o resultado do ano foi excepcional”, pontua Conte. 

CARTEIRA ASSINADA

A cooperativa foi a primeira (e única) assinatura na carteira de trabalho de Conte, feito que o orgulha.

Eu não sei como é ali fora, mas me apaixonei pelo cooperativismo e é o sistema que mais me fascina. Mas tem que gostar e saber muitas vezes suportar críticas, no meu cargo como presidente”, pondera.

Para vencer os desafios da gestão, Conte criou 24 núcleos para democratizar e envolver os cooperados na administração da empresa. Todos os grupos compõem o conselho consultivo e participam das decisões da empresa, “distribuindo o poder”, como define.

O trabalho e a dedicação de tantos anos o tornaram referência na comunidade de pouco mais de 13 mil habitantes. “A cooperativa me deu tudo na vida. Para ser presidente, você tem que ser um pouco padre, um pouco advogado, um pouco conselheiro, para poder se sustentar e ter credibilidade com o associado.  Meu maior papel é fazer com que o cooperado entenda que ele é o dono, a cooperativa é o agronegócio dele”, diz.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cooperada de ouro

Foi o esporte que “consertou” o seu coração, ainda menina, e a fez subir em vários pódios ao longo da vida. Ana Sátila, 24 anos, é atleta da canoagem slalom e conquistou o título de brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada. Com um diagnóstico de problema cardíaco na infância, o pai dela, também atleta, apostou no esporte como tratamento. O começo dessa história foi na natação, ainda aos 5 anos.

“Eu tinha uma má formação no coração, ele não era totalmente fechado, então sempre tinha desmaios e ninguém conseguia saber exatamente o que era. Eu morava em uma cidade pequena [Primavera do Leste, em Mato Grosso], e não tínhamos condições na época de ir a um hospital particular”, conta.

Os médicos chegaram a dar um prazo de vida para Ana, o que era muito difícil para a sua família.

Minha mãe dormia com a mão no meu nariz para ter certeza de que eu estava respirando. Meu pai decidiu então começar a me treinar muito cedo. Ele apostou no esporte porque nenhum medicamento resolvia. E deu certo”, conta Ana.

O pai-treinador não dava moleza. Entre escola, treinos da modalidade e de força, Ana começava a rotina de madrugada e já estava na água às 5h. O início precoce e a dedicação levaram à conquista de uma vaga olímpica ainda aos 15 anos, poucos meses após deixar a cidade natal para integrar a Seleção Brasileira de Canoagem. Assim, Ana se tornou a atleta brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada, em 2012, nos Jogos de Londres.

O caminho da jovem atleta cruzou com o cooperativismo há dois anos, quando o Sicoob Rondon (MT) passou a patrociná-la e investir no seu treinamento. Depois de duas participações nos Jogos — 2012 e 2016 —, ela dedicou os últimos quatro anos a treinos pesados para alcançar a tão sonhada medalha olímpica em 2020. Mas o vírus se espalhou e o improvável aconteceu: no fim de março, os Jogos de Tóquio foram oficialmente cancelados.

“Quando a confederação nos dispensou e mandou voltar para casa foi que eu tive a real noção da pandemia. Eu estava realmente assustada porque, por ser atleta, se eu pegasse covid seria um regresso muito grande, sem contar que existem problemas decorrentes da doença que são irreversíveis”, pondera.

INSPIRAÇÃO QUE FALTAVA

Além do medo da doença, o adiamento das competições e a falta de perspectiva levaram embora a motivação. “Eu fiquei muito para baixo porque me sentia muito bem preparada para Tóquio, estava numa fase muito boa. Fiquei muito desmotivada porque não tinha nenhuma programação de competição para o ano inteiro”. Mas a irmã e o namorado, também atletas, trouxeram a inspiração que faltava. Junto com eles, Ana montou uma academia em casa e conseguiu remar em uma área afastada da cidade.

No final eu consegui sair desse confinamento mais forte do que cheguei, com uma parte física boa e muito feliz. Tenho certeza que poderia ter terminado muito pior, eu sou uma atleta que precisa ter tudo muito bem programado para dar o meu melhor a cada dia, estar junto do meu técnico. Mas eu consegui superar tudo”.

O resultado veio logo em novembro: Ana ganhou a medalha de ouro na Copa do Mundo de canoagem e está focada em alcançar o pódio em Tóquio neste ano.

Em 2020, depois de 4 meses de confinamento, Ana, que também é cooperada, foi até a sede conhecer o Sicoob Rondon e ganhou uma injeção de ânimo para seguir. “Fiquei muito maravilhada quando consegui visitar o Sicoob, foi emocionante porque eu vi que fazia parte de uma família muito grande, tive o carinho de muitas pessoas que eu nem conhecia e que estavam torcendo por mim. Vai muito além do patrocínio em si”, comemora.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Doando fôlego

Em 2020, por várias vezes, nos sentimos sem ar diante das dificuldades. A Covid-19, que afeta principalmente as vias aéreas, provocou uma corrida mundial por respiradores. Com isso, um procedimento complexo passou a fazer parte do nosso vocabulário: a intubação. Até mesmo médicos que não estavam habituados a realizar o procedimento tiveram de se adaptar às novas rotinas.

“Para nós, anestesiologistas, é algo comum. Eu intubo, em média, de dois a três pacientes por dia. Mas o meu colega médico na emergência provavelmente fazia isso uma vez por mês, antes da pandemia. O grau de tensão desse profissional que precisou, de repente, intubar quatro ou cinco pacientes por plantão, foi enorme”, compara a médica Simone Almeida, presidente da Cooperativa dos Anestesistas de Recife (Coopanest-PE).

Ela explica que, durante a formação médica, o anestesiologista faz o treinamento em vias aéreas durante os três anos de residência, mas, em outras especialidades, a prática da intubação é menos comum. Diante do quadro dramático nos hospitais, a cooperativa decidiu oferecer cursos de capacitação para o procedimento.

Esse é um momento de extremo risco de contaminação. Porque o médico manipula a via aérea do paciente, então a chance de se contaminar é muito grande. O treinamento foi nesse sentido, para proteger o profissional e melhorar a qualidade do serviço”, explica a presidente da cooperativa.

Mais de mil médicos participaram da formação, em parceria com sociedades médicas e a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco.

ALTO RISCO

Dos 640 médicos cooperados da Coopanest, muitos se contaminaram e ficaram em estado grave. Dois, faleceram vítimas da Covid-19.

A perda de um colega nunca é um momento fácil, fragiliza todo mundo. A gente começa a colocar muitas coisas em xeque e o treinamento serviu também para ajudar nesse sentido, garantir mais segurança”, diz Simone.

A cooperativa também ofereceu treinamento a distância a profissionais da saúde de Fernando de Noronha que não podiam sair da ilha durante o confinamento e receberam toda a formação por videoconferência.

O curso foi gratuito, para cooperados e não cooperados, e, em troca, os alunos doaram alimentos para uma ação solidária. A Coopanest conseguiu arrecadar 400 cestas básicas que foram entregues a uma cooperativa de transporte, ramo duramente afetado pelas medidas de isolamento social. “Dois mil e vinte foi um ano em que o sentido do cooperativismo se sobressaiu. O que fica é isso, a união. A gente juntou forças com a sociedade e pensou na proteção individual de cada um e naqueles que estavam com dificuldades maiores do que as nossas”, diz Simone.



Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação