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Autora de uma série de livros sobre meditação, a paulistana de 72 anos acumula milhões de seguidores nas redes sociais, onde seus vídeos têm sido ferramenta no desenvolvimento do autoconhecimento e da transformação de hábitos. Monja Coen conversou com a Revista Saber Cooperar sobre as lições que 2020 deixaram e defende que a cooperação é um valor fundamental para a evolução da sociedade.
Saber Cooperar: Qual é a lição mais importante que 2020 deixou?
Monja Coen: Nas crises e dificuldades, nós temos de nos recriar. E temos que perceber em qual direção devemos ir. Nós não podemos ficar parados pensando que tudo deveria ser como antes. A vida é movimento e transformação. Como eu me transformo com as necessidades que surgem? Como a minha empresa, meus colaboradores e as pessoas com quem eu convivo podem, juntos, criar novas possibilidades? Então, em vez de achar que uma coisa está acabando comigo, posso ver como uma oportunidade que veio para eu rever a forma como estou vivendo e, inclusive, como e com o que eu estou trabalhando. A palavra crise, em chinês, tem essas duas possibilidades: de uma dificuldade, mas que leva a uma oportunidade.
A pandemia não termina com a chegada de 2021, mas muitas pessoas nutrem a expectativa de um ano melhor. Há motivos para ter mais esperança?
Monja Coen: Nós, seres humanos, gostamos de rituais de começo, meio e fim… de marcar o tempo. Algumas tradições e países têm essa mudança de fim de ano em outra época. Mesmo a distância, é importante que a gente possa dizer “Feliz Ano Novo”, que seja uma renovação. Que 2020 tenha sido uma experiência que nos leva transformados para 2021, quer seja porque minha empresa ou minhas atividades se tornaram online, quer seja pelas mudanças interiores que se passaram comigo. Acho que 2021 vai ser diferente de 2020, mas não muito. Nós vamos continuar com máscaras, com distanciamento social, vamos continuar lavando muito bem as mãos porque o vírus ainda estará por aí. O início da vacinação não é o fim da pandemia. É o início de um projeto de cura, de menos contaminação e menos mortes.
Saber Cooperar: O que esperar de mudança em 2021?
Monja Coen: Segundo o Horóscopo Chinês, 2021 é o ano do Touro, ou do Boi, que é chamado Touro de Ferro, aquele que tem muita força e poder. Mas, ao mesmo tempo, vai precisar de muito esforço para conseguir as coisas. Então, vamos nos preparar para um ano em que teremos de nos esforçar para manter tudo aquilo que é necessário para a saúde de todos e para os negócios em cooperação. Você veja, na cooperativa, eu coopero, eu trabalho junto, a minha operação é com o outro, não é separada do outro. E é por isso que nós vamos continuar para o bem coletivo, e não para o bem individual. Eu acho que é uma oportunidade para muitas pessoas pensarem nisso, porque há muitos que pensam só em si, como se não precisassem de ninguém. Eu acho que a pandemia nos fez perceber isso: estamos ligados, precisamos uns dos outros e temos que fazer parceiros. Temos que cooperar, é a única maneira. Competir vai levar à falência, a cooperação vai levar ao sucesso. E quem sabe, nesse ano de 2021, muitas pessoas percebam isso e sejam mais cooperativas.
Saber Cooperar: Depois da pandemia, você acha que a nossa sociedade vai sair transformada?
Monja Coen: Eu não sou nem otimista nem pessimista. A humanidade é feita de seres humanos que são semelhantes, mas não iguais. E cada um de nós está em uma fase diferente. Nós tivemos um momento em que ficamos todos em casa e ficamos tão bonzinhos. Solidários, admiramos o pôr do sol, os pássaros, ficamos felizes que Veneza tinha peixes e estava limpa, né? E agora já está suja de novo. E de repente a pandemia foi se alastrando, os casais começaram a brigar, feminicídios, separações. Parece que as coisas foram esquecidas e tem muita gente andando sem máscara ou usando do jeito incorreto. Quer dizer, esqueceram-se? Esqueceram-se de quantas pessoas morreram, de que esse vírus pode nos levar à morte ou a um grande sofrimento? Nós esquecemos. A história da humanidade mostra que a gente esquece, a gente aprende a lição, mas ela é muito momentânea. Alguns de nós entraram num processo de autoconhecimento e mudança, interior e exterior, mas talvez não seja a grande maioria. Mas nós vamos ver, em algumas minorias, mudanças importantes e essas minorias vão se transformando, aos poucos, em maioria. Essa é a minha esperança.
Saber Cooperar: Muito obrigada, Monja, por falar com os nossos milhares de cooperados.
Monja Coen: Cuidem-se porque quando você cuida da parte, você cuida do todo. Fiquem bem e continuem cooperando porque a cooperação é a transformação da sociedade de uma cultura de violência para uma cultura de paz e de respeito à vida.
Os benefícios da exportação são imensuráveis para o nosso movimento. Irineo da Costa Rodrigues, diretor-presidente de uma das maiores cooperativas do país, a Lar, destaca a proteção cambial como uma das vantagens de conquistar o mercado internacional. “Importamos em uma moeda estrangeira, em uma moeda forte. E quando exportamos, também nesta moeda, estamos nos protegendo, afirma.
Como cada cliente estrangeiro tem as suas características específicas, as equipes das cooperativas precisam se dedicar para aprenderem mais, conhecerem culturas, costumes e, sobretudo, as exigências dos clientes, estimulando as cooperativas a alcançarem um patamar mais elevado. “Não que os clientes internos não sejam importantes. Sim, são importantes, exigentes, mas à medida que exportamos para cinco continentes, isso nos traz uma realidade nova e que efetivamente faz com que a cooperativa tenha que pensar muito”, analisa o representante da Lar.
E claro, sem faltar o entendimento técnico para atender às demandas do mercado externo, que são muitas, com barreiras, de ordem sanitária e econômica, com os países se protegendo muitas vezes em bloco para não permitir concorrência de produtores, de cooperativas brasileiras com produtores locais e de outros países. Por isso, ser competitivo, estar atualizado, aprendendo constantemente, e ter o conhecimento como palavra de ordem, praticada no dia a dia, foram os principais desafios enfrentados pela Lar, mas que já fazem parte da rotina da cooperativa.
INOVAÇÃO É PONTO DE PARTIDA
Uma das ferramentas encontradas pela Lar, que tem sede em Medianeira, no interior do Paraná, foi investir na área de inovação. A cooperativa entendeu que seria necessário investir em estudo, tanto que lançou em setembro a Lar Universidade Corporativa.
A educação faz parte do 5º princípio do cooperativismo e está na nossa essência. Temos muitos talentos dentro de casa, verdadeiras joias que precisam ser lapidadas”, afirmou o diretor-presidente da Lar.
A Universidade é um grande guarda-chuva com cursos de terceiro grau focados nas necessidades da cooperativa, além dos cursos já ministrados de nível médio, mais os cursos de curta, média e longa duração. “A inovação é o que precisamos estar sempre buscando”, frisa o vice-presidente. A Lar possui um programa de inovação estruturado há diversos anos, com comitês internos, específicos, inclusive com comitê de inovação envolvendo associados, agricultores, produtores e também técnicos da cooperativa.
Aliás, a inovação é um dos grandes instrumentos que permitiram que a Lar se consolidasse como uma das principais cooperativas exportadoras do Brasil. Ela, que detém suas principais operações no oeste do Paraná, além de unidades no Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraguai, vende seus produtos para 76 países. A Lar tem foco na produção de grãos e industrialização de aves, cujo abate em 730 mil por dia, sendo 55% exportadas para a China, Japão e Europa.
Não tenho dúvidas de que por estarmos exportando para o resto do continente americano, Europa, Ásia e países árabes, nós precisamos estar muito atualizados”, avalia Rodrigues.
As exportações também são uma excelente oportunidade para as cooperativas darem vazão à produção brasileira. De acordo com o Mapa, o agronegócio representa mais da metade do total da pauta de exportações brasileiras, por isso, a importância de as cooperativas fazerem um esforço para participarem dessas oportunidades. “As cooperativas não podem ficar de fora, muito pelo contrário. Elas devem assumir o papel de protagonismo, ou seja, estar à frente em alguns mercados, porque produção nós temos, sabemos fazer, nós temos qualidade e podemos garantir essa qualidade aos nossos clientes”, conclui o diretor da Lar, que possui 11.700 associados e 18.300 trabalhadores, sendo a cooperativa singular que mais emprega no Brasil. A Lar encerrou 2019 com faturamento de quase R$ 7 bilhões.
Esta matéria foi escrita por Luciana Vieira e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O ano de 2020 encerrou com uma boa notícia para milhares de cooperativas brasileiras que planejam alcançar o mercado internacional. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) firmaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para incrementar ainda mais as vendas de produtos brasileiros no exterior.
O documento prevê o intercâmbio de informações e o desenvolvimento de inteligência comercial para apoiar o segmento, promovendo a qualificação para exportação, além da difusão da cultura exportadora no setor. A promoção das cooperativas nos mercados estrangeiros inclui o apoio na participação em eventos presenciais e virtuais, rodadas de negócios, feiras e missões. Além disso, amplia recursos e estruturas para expandir a visibilidade no exterior.
Como as exportações de produtos oriundos das cooperativas não dependem apenas da capacidade de produção, é necessário atender a requisitos internacionais para alcançar resultados, como conhecer as regras para rotulagem, padronização de produtos e questões sanitárias, por exemplo. Na prática, o acordo representa a abertura de uma fronteira gigante com a preparação das cooperativas para chegarem a mercados de qualquer país do mundo.
Na avaliação do presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, a assinatura do acordo significa uma nova fase do movimento cooperativista.
Já temos uma certa tradição, entre as cooperativas, no que diz respeito ao processo de exportação de algumas grandes commodities, mas queremos ampliar essa base, e o cooperativismo necessita desta alavanca, desta ajuda para continuar crescendo e aumentando o seu espaço no mercado internacional. Por isso, fomos buscar essa aliança com quem entende do assunto’, disse Lopes de Freitas.
Na opinião do presidente, a parceria já nasce com projetos sólidos para a construção de espaços para as cooperativas, não só as grandes, mas também as de menor porte. “Queremos atuar com frutas e produtos da Amazônia, produzidos nas agro florestas, frutas do nordeste e do cerrado, produtos com valor agregado diferente. Vamos dar canal de vazão aos produtos agropecuários brasileiros, que são muito importantes para rentabilizar e manter uma qualidade de vida cada vez maior, sem falar na capacidade de aumentar a geração de empregos que podemos dar na base”, explica.
SINERGIA
Durante o evento da assinatura do acordo, realizado online e transmitido ao vivo pela internet, o presidente da Apex-Brasil, Sérgio Segóvia, fez questão de destacar a importância do cooperativismo para o País. Para ele, o movimento remete ao pensamento coletivo de união para enfrentar os desafios e facilitar o desenvolvimento, permitindo mais integração entre produtores e empresários por meio dos seus mais diversos arranjos.
“São 450 mil empregos diretos, R$ 350 bilhões em ativos e R$ 260 bilhões em receitas geradas. Estimo que de tudo o que consumimos no Brasil, metade é originado no ambiente cooperativista. Esses números apenas ratificam o potencial desse segmento”. Na ocasião, Segóvia salientou as ações da Organização das Cooperativas Brasileiras.
Muito do que somos hoje, em termos de cooperativismo, deve-se ao exemplar trabalho de fomento e representação que a OCB vem empreendendo ao longo dos últimos 50 anos. A OCB não representa apenas números expressivos, mas também valores intangíveis que as cooperativas produzem em benefício do desenvolvimento nacional, como a igualdade e as oportunidades e suas entregas voltadas para a sustentabilidade econômica, social e ambiental”, concluiu o presidente da Apex.
Apesar da sinergia que já existia entre as duas instituições, sobretudo em relação às cooperativas do agronegócio, o acordo permitirá a customização das ações da Apex para o setor, por conta das diferenças que existem entre a estrutura das cooperativas e das empresas convencionais, que já fazem parte da rotina da Apex.
FOCO NO AGRO
Neste fortalecimento da integração da cadeia produtiva do agronegócio com foco nas ações voltadas ao mercado internacional, o acordo vai promover o intercâmbio de informações entre as partes. A inteligência de mercado vai apoiar as cooperativas brasileiras inicialmente na sua qualificação para exportação e fundamentalmente para consolidar a cultura exportadora no setor. Segundo a Apex-Brasil, existem cerca de 120 cooperativas que já exportam, mas ainda há um espaço enorme para ampliar essa participação.
Para isso, serão desenvolvidas ações no Brasil e no exterior, com feiras, rodadas de negócios, qualificação, estudos sobre competitividade, entre outras atividades.
A Apex tem interesse em que o setor cooperativo brasileiro seja reconhecido no mundo inteiro pela sustentabilidade e responsabilidade social, que é a marca, é a cara do cooperativismo brasileiro”, mostra o gerente de Agronegócio na Apex-Brasil, Márcio Rodrigues.
A cooperação ainda contará com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE). A expectativa é promover oportunidades de negócios internacionais com uma gama de serviços ofertadas pela Apex- Brasil por meio dos seus escritórios no exterior a partir da relação direta com as embaixadas brasileiras, o que vai permitir uma atuação mais robusta do cooperativismo nacional no mundo.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também participou do evento. Ela acredita que a internacionalização trará uma expertise maior para as cooperativas, sobretudo para as médias e pequenas. “Esse projeto já nasce com muito sucesso.A minha certeza do nosso sucesso é com base na qualidade das cooperativas brasileiras, com o que podemos levar para fora, com o que iremos trazer de volta, com a competência comprovada da Apex e da OCB, além da vontade de todos do Mapa”, disse confiante.
Esta matéria foi escrita por Luciana Vieira e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
É da floresta que ela tira o sustento, ajuda a curar doenças e constrói sonhos. Ana Paula Ferreira, 26 anos, chegou na Cooperativa dos Extrativistas da Floresta Nacional de Carajás (COEX Carajás) como estagiária, aos 18 anos. Há sete, preside a cooperativa que fica em Paraupebas (PA) e é responsável por extrair da floresta folhas utilizadas na produção de remédios para o tratamento do câncer de esôfago e do glaucoma. Única mulher entre os 37 membros da associação, ela conta que o cooperativismo e o extrativismo transformaram a sua vida.
A cooperativa fez parte de muitas ‘primeiras vezes’ na minha vida. Foi lá que assinei minha carteira [de trabalho] pela primeira vez; foi lá que dirigi um carro pela primeira vez; foi lá que eu viajei de avião pela primeira vez. Foi através da cooperativa que eu participei de grandes eventos, cursos. Eu tive muitas oportunidades e aprendi coisas que universidade nenhuma poderia me ensinar”, diz Ana Paula.
Ela e os irmãos começaram a trabalhar muito cedo, vendendo alimentos na rua para ajudar financeiramente em casa. A mãe, que criou os filhos sozinha, sacrificou-se para que eles não parassem de estudar. “Minha mãe sempre valorizou a educação. Eu falo que ela foi um Paulo Freire [pedagogo brasileiro reconhecido internacionalmente] na nossa vida”, diz. Quando terminou o ensino médio, sonhava com muitas profissões: médica, veterinária e até policial.
Eu sempre tive na cabeça que a mulher tinha que ter seu espaço. Eu achava chique mulher no tribunal, como advogada ou juíza, sempre quis ser uma mulher dessas, uma mulher porreta realmente, mas nunca tinha me passado pela cabeça que eu poderia fazer isso dentro do cooperativismo”, comemora.
Ana Paula virou uma dessas mulheres de fibra, capazes de mudar o mundo com as próprias mãos. E é com a ajuda delas que jovem e os colegas cooperados colhem a folha do jaborandi, usada na fabricação de remédios, e as sementes nativas, que são utilizadas em projetos de reflorestamento. Tudo isso, sem afetar a floresta, uma vez que o extrativismo usa as técnicas de manejo florestal para evitar a degradação do meio ambiente.
TRABALHO PESADO
A extração de riquezas naturais é um trabalho pesado, que exige muito esforço físico e comprometimento dos cooperados da COEX. Eles se dividem em grupos e passam semanas acampados, isolados na floresta, colhendo as folhas e sementes. Depois, carregam quilos desse material a pé, por meio da mata, até o transporte. Então, os produtos passam por secagem e são armazenados para a venda.
Hoje, somos a única cooperativa de extrativismo vegetal da região de Paraupebas, o que é uma grande responsabilidade. Quando você entende esse trabalho, vê a importância da cooperativa em garantir o tratamento de saúde de quem precisa do remédio, tendo o cuidado de manter a floresta em pé”, explica Ana Paula.
Ainda de acordo com ela, tudo na natureza tem seu ciclo e importância. “Nada está ali por acaso. Nós, seres humanos, somos o meio ambiente, estamos inseridos dentro dele, e quando se destrói a floresta, automaticamente estamos nos destruindo.”
A pandemia não afetou a produção e a renda dos cooperados. Apenas aqueles que eram do grupo de risco passaram algum tempo sem poder trabalhar e a COEX buscou doações para poder mantê-los em isolamento durante o período mais crítico da Covid-19.
Para 2021, Ana espera mais contratos e um retorno às rotinas de antes. “Espero que a gente possa voltar a abraçar, estar perto, aquele contato físico, participar dos eventos e feiras. Espero que em 2021 a gente se encontre, mais forte e mais unido”, conta a maranhense do riso fácil, saudosa dos abraços.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A pandemia da Covid-19 trouxe grandes desafios para o Brasil e o mundo em 2020. Desde o início, o Sistema OCB esteve ao lado das cooperativas, buscando soluções para superar as dificuldades impostas pelo novo cenário e seguir em frente. No âmbito político, com a Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), a instituição teve participação ativa na obtenção de uma série de conquistas legislativas e regulatórias voltadas para a diminuição de impactos da crise e o fortalecimento do cooperativismo.
Em 2020, foram apresentados no Congresso Nacional mais de 2,2 mil projetos sobre a Covid-19 com impacto direto ou indireto para o cooperativismo. Pelo Poder Executivo, foram 354 normativos publicados ao longo do ano. Dessas propostas, o Sistema OCB priorizou 82 para serem acompanhadas mais de perto. Delas, 46 já foram atendidas e transformadas em políticas públicas – uma taxa de sucesso de 56,1%, até o momento.
Entre as principais conquistas obtidas em 2020 pelo cooperativismo em relação ao combate aos efeitos da crise está a inclusão das cooperativas nas políticas de acesso a crédito, de desburocratização e de simplificação tributária, que aliviaram as contas e promoveram maior liquidez e segurança para o nosso segmento. Também foi garantido tratamento diferenciado para cooperativas de pequeno porte nas políticas voltadas para os pequenos negócios e, também, na inclusão das cooperativas nas políticas de incentivo a compras públicas.
Outras conquistas foram a prorrogação de mandatos de dirigentes cooperativistas, a modernização das assembleias de cooperativas, abrindo a possibilidade de encontros virtuais, e a manutenção de recursos do Sescoop na promoção da cultura cooperativista e no desenvolvimento da gestão e governança das cooperativas.
Com as medidas de combate aos efeitos da pandemia, a atuação do Sistema OCB também foi importante para reverter os vetos da desoneração da folha para o setor de proteína animal, garantindo a medida até o fim de 2021, e de consulta da Receita Federal (Cosit nº 11/2017) que faria com que milhares de pequenos e médios produtores cooperados pagassem um valor dez vezes maior de contribuição previdenciária operando em suas cooperativas do que se entregassem a produção a uma multinacional.
PRIORIDADES DO ANO
Para 2021, entre os temas que estão em discussão no Congresso, vão merecer atenção especial do Sistema OCB a Reforma Tributária, a prestação de serviços de telecomunicações e de seguros por cooperativas, e as modernizações da Lei Complementar nº 130/2009, que criou o Sistema Nacional das Cooperativas de Crédito, e da Lei Geral das Cooperativas, que completa 50 anos em 2021.
Senado Federal e Câmara dos Deputados vêm trabalhando em uma legislação que simplifique o sistema tributário brasileiro. Duas Propostas de Emenda à Constituição – uma na Câmara, a PEC nº 45/2019, e outra no Senado, a PEC nº 110/2019 – e um Projeto de Lei do Executivo (PL nº 3.887/2020) tratam desse assunto, com ideias nem sempre convergentes.
Para unificar as propostas, foi criada, em fevereiro, a Comissão Mista da Reforma Tributária. O colegiado tem o objetivo de ouvir especialistas, promover debates e elaborar a proposta conjunta que será levada à votação. Mas, com a pandemia, os trabalhos foram suspensos em março e só retornaram em agosto. No total, 10 audiências foram realizadas após a volta, e o relatório final não chegou a ser apresentado.
Desde o início da tramitação da proposta, o Sistema OCB vem atuando para que a reforma garanta o adequado tratamento tributário do ato cooperativo (realizado entre cooperado e cooperativa, ou entre cooperativas), previsto no artigo 146 da Constituição Federal, e para que também sejam protegidas as conquistas já alcançadas até o momento pelo cooperativismo.
Entre essas conquistas tributárias estão o reconhecimento da não incidência de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os atos cooperativos e as exclusões de base de cálculo da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) concedidas a alguns segmentos, como táxi, agropecuária, crédito e eletrificação, por leis ordinárias ou normas internas da Receita Federal.
“Por expressa definição legal, o ato cooperativo não é ato comercial e, portanto, não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”, explica o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. “O adequado tratamento tributário às cooperativas não é sinônimo de privilégio, não configura benefício ou isenção tributária. É um redirecionamento da incidência tributária da pessoa jurídica da cooperativa para a pessoa física ou jurídica do cooperado, visto que a fixação da riqueza se dá no cooperado. Na cooperativa há apenas o abatimento dos custos para a prestação do serviço ao cooperado”, completa.
Freitas destaca que a aprovação da reforma, desde que focada em simplificação e desburocratização, sem aumento de carga tributária, terá um impacto positivo para o desenvolvimento do Brasil. “Nós, as cooperativas, contribuímos com o crescimento do País, recolhendo impostos e taxas. Esse é o nosso dever enquanto cidadãos. O que queremos com essas emendas não é deixar de pagar, mas garantir a adequação tributária ao nosso modelo societário”, enfatiza.
FORÇA PARA OS PEQUENOS
“Na produção econômica, o cooperativismo é a única forma que permite aos menores produzirem e competirem no mercado. Assim, temos que preservar as conquistas do sistema cooperativo”, destaca o deputado federal Hildo Rocha, vice-presidente da Comissão Mista da Reforma Tributária.
As cooperativas, ao longo das últimas décadas, têm conseguido provar que é possível, com a união de pequenos empreendedores, concorrer, gerar empregos e diminuir a concentração de riquezas.”
Além de manter nas novas regras a não incidência de tributos sobre operações e resultados decorrentes do ato cooperativo, o Sistema OCB vem atuando para que empresas que utilizam matéria-prima de cooperativas continuem recebendo créditos tributários em suas compras, os quais podem ser abatidos durante o pagamento do imposto de renda.
Hoje, esse benefício existe tanto para quem compra de empresas quanto de cooperativas. Isso permite que o setor seja competitivo. É importante que essa conquista seja mantida”, explica a gerente jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Rodrigues. Além dos compradores, o setor defende que sejam mantidos os créditos de operações realizadas entre cooperado e cooperativa, e entre cooperativas.
Em relação ao ato cooperativo, o Sistema OCB também vem atuando para que o artigo 146 da Constituição Federal, que reconhece o adequado tratamento tributário, seja regulamentado. Com esse objetivo, tramita há 16 anos na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 271/2005. “Essa omissão legislativa tem feito com que, em alguns casos, nós tenhamos, tanto no Judiciário quanto na Receita Federal, decisões contrárias ao cooperativismo”, informa a gerente jurídica Ana Paula Rodrigues.
A expectativa do Sistema OCB – informa a gerente de Relações Institucionais, Fabíola Nader Motta – é que a votação da Reforma Tributária possa ser acelerada devido à necessidade de o governo federal ajustar as contas públicas, impactadas com os mais de R$ 500 bilhões investidos nas medidas para combater os reflexos da pandemia. “Este é um tema que, nesse contexto, se torna ainda mais prioritário”, avalia.
Esta matéria foi escrita por Por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O ano de 2020 passou como um verdadeiro tsunami mundial. Varreu economias, empregos e até a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. As expectativas para 2021 são grandes: vacinas, reorganização, reconstrução. Porém, ainda haverá muita ressaca para ser curada e dificilmente a vida em sociedade será como era antes.
Grandes mudanças vieram como o teletrabalho, a digitalização dos processos e os novos hábitos de convivência social. O universo virtual chegou para ficar em todos os setores da vida em sociedade. Será que as cooperativas estão preparadas? O Brasil está preparado? O que podemos esperar?
Para responder essas e outras perguntas, convidamos dois expoentes do sistema cooperativo: o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, e o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (OCEMG), Ronaldo Scucato. Confira:
Qual é a sua expectativa para 2021, em termos econômicos e políticos, tanto para o País como para as cooperativas?
Márcio Lopes de Freitas: Eu não tenho dúvidas de que o ano que vem será de grandes oportunidades. Não vamos nos iludir que teremos uma volta para a humanidade antiga, porque o que está acontecendo é uma transformação nos tecidos fundamentais da sociedade. Ocorreram mudanças de valores, de princípios, instituições perderam força e houve um fortalecimento da economia participativa. Eu antevejo o surgimento de uma nova humanidade, com novos interesses e novas oportunidades. E acho que o cooperativismo tem tudo a ver com essa nova humanidade, com essas novas gerações. Eu acredito muito nisso e acredito que nós — sabendo nos organizar e trabalhar com integridade, inovação e sustentabilidade — vamos continuar avançando no pós pandemia.
Ronaldo Scucato: As expectativas são sempre as melhores. Como sempre digo, sou um incorrigível otimista. 2020 foi um ano desafiador, com dificuldades no ambiente político, queda no PIB e uma pandemia mundial. Apesar do agronegócio ter sobressaído, muitos empreendimentos sofreram demais com a crise. Contudo, a economia já começa a dar sinais de recuperação. Acreditamos que a tendência é de que tenhamos um pouco mais de estabilidade em 2021, na certeza de que o país voltará a crescer, apoiado pelo desenvolvimento das cooperativas. Esse é um setor que tem mantido crescimento mesmo diante de cenários improváveis, como os que estamos vivenciando. De nossa parte, continuaremos atuando incansavelmente em prol do desenvolvimento do setor, sabendo que com isso milhares de pessoas e a própria economia serão beneficiadas. Afinal, o cooperativismo é, de fato, a suprema esperança daqueles que sabem que há uma questão social a resolver e uma revolução a evitar.
Quais deveriam ser as prioridades das cooperativas em 2021?
MLF: A principal prioridade é continuar trabalhando bem, como as cooperativas fizeram em 2020, sendo capazes de liderar com confiança e superação, fatores que ajudaram a mitigar os efeitos da pandemia. Então, acho que o primeiro esforço é no sentido de continuar com a cabeça erguida, com a certeza de que somos capazes de superar desafios, e encarar o ano de 2021 como o ano de superar os desafios. Tem muita coisa para ser feita. Não será um ano fácil, mas se as cooperativas permanecerem organizadas, unidas, vamos conseguir superar esses desafios e atravessar 2021 melhor do que como atravessamos 2020.
RS: As prioridades continuam sendo atuar pelo crescimento e desenvolvimento. Cada ramo tem suas peculiaridades, mas todos estão se organizando para continuar avançando também em 2021. De maneira geral, todas as cooperativas estão atentas às oportunidades advindas da profissionalização da gestão e adaptabilidade em relação às adversidades de mercado.
Quais desafios as cooperativas podem esperar para 2021?
MF: Eu acho que as ressacas da pandemia terão um efeito muito forte. Talvez a questão sanitária seja parcialmente resolvida, com as vacinas e com os erros e acertos das politicas públicas. Mas vai ficar para nós uma ressaca de um país que já vinha com uma dificuldade econômica e teve de gastar algumas centenas de bilhões de reais para se manter em pé durante 2020. Essa conta vai chegar e, não tenha dúvidas, de que ela será despejada na sociedade. Temos de estar preparados para isso. Temos de estar confiantes, mas preparados para um ano duro. Devemos ter menos crédito rural na praça, teremos que criar novos mecanismos para financiar a agricultura. Precisaremos ter uma operação mais criativa e inovadora nas cooperativas de crédito para superar essa nova geração de startups e fintechs que estão surgindo. O cooperativismo terá de estar muito pronto e preparado técnica e profissionalmente para superar isso.
RS: As cooperativas conseguiram enfrentar as incertezas de 2020 e vencer grandes obstáculos. No caso dos ramos Agropecuário e Transporte, especialmente o de carga, registramos crescimento acentuado. Outros ramos como o Crédito e a Saúde conseguiram se manter estáveis, fruto de gestões austeras e cautelosas. Já o ramo Trabalho, Produção de Bens e Serviços talvez tenha sido o que mais foi impactado pela pandemia, em virtude do ambiente do mercado de trabalho desfavorável. Por isso, creio que os obstáculos para 2021 tendem a ser menores, pois a estimativa para o PIB é positiva e a inflação, que cresceu em 2020, deve cair para a casa dos 3%. Somado a um maior controle das contas públicas, acredito que o ambiente de negócios tende a ser mais favorável para todos os segmentos da economia, considerando a possibilidade da implementação do plano de vacinação em todo o país. O grande desafio das cooperativas será exatamente se ajustar à nova ordem econômica e social, decorrente da pandemia.
Podemos esperar algum avanço em termos de políticas públicas para as cooperativas em 2021 ou ainda estaremos sofrendo com a ressaca econômica de 2020?
MF: Eu gostaria de falar que vamos ter progressos nas políticas públicas, mas vai ser um ano de jogar muito mais na retranca do que no ataque. Não que os avanços estejam descartados. Estamos prontos para as oportunidades e o Sistema OCB está muito organizado institucionalmente para defender a pauta cooperativista.
RS: Este ano teve um papel importante no tocante à percepção e constatação por parte do poder público e da sociedade brasileira em relação à importância do cooperativismo para o nosso país. É inegável a contribuição do ramo Agropecuário, responsável por mais de 50% da produção do país; o ramo Crédito socorreu as pequenas e microempresas com muito mais intensidade e agilidade do que os bancos. Acredito que esse contexto contribuirá para reforçar a inserção e ampliação do cooperativismo nas políticas públicas, com maior atenção aos agricultores familiares no setor agropecuário. O próprio ambiente político ficará, na minha opinião, mais favorável ao cooperativismo, por se tratar de um setor estratégico para o desenvolvimento econômico sustentável do país.
Em quais projetos tramitando no legislativo vocês estarão de olho em 2021?
MF: Teremos uma conta econômica a pagar em 2021 e quem primeiro vai querer recompor o seu caixa será o governo, o Executivo Federal. Então me preocupa, em primeiro lugar, a Reforma Tributária. Temos que fazer um esforço muito grande, não para que a gente tenha um tratamento diferenciado, mas para que o ato cooperativo, a relação entre a cooperativa e o cooperado, tenha o adequado tratamento tributário, com justiça. Muitas vezes o poder público não reconhece o fato de a cooperativa ser parte do cooperado, então ele tributa duas vezes. Por isso, a preocupação pontual seria a Reforma Tributária e tudo que advém disso.
Além dessa, hoje acompanhamos pelo menos 800 projetos em tramitação no legislativo que influenciam a vida das cooperativas. Desses, nós elencamos na nossa agenda prioritária em torno de 60 projetos, em que o principal é a Reforma Tributária, mas que tem outros como a Reforma Administrativa, a possibilidade de as cooperativas participarem um pouco mais da força de trabalho nos processos de privatização, nos processos de “desinchaço” do Estado. Estamos acompanhando e preparados para esse jogo.
RS: A atenção especial deverá ser dada à Reforma Tributária, uma vez que ela terá impacto em todo o setor produtivo, e não será diferente com o cooperativismo. Neste sentido, temos que estar atentos para que o previsto na Constituição Federal, ou seja, o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo seja de fato implementado. Os projetos de lei que compõem e/ou comporão todo o processo da reforma tributária merecem não só nossa atenção, mas nossa atuação através da interlocução com o parlamento apoiada sempre pela Frencoop. Aqui em Minas Gerais, estamos em permanente diálogo com os parlamentares, em todos os níveis, pois ainda que a legislação federal seja preponderante, ela influencia e impacta as legislações dos estados e dos municípios.
Dentre os segmentos das cooperativas, quais setores terão mais espaço para avançar em 2021 e por quê?
MF: Acho que todos os setores continuarão se desenvolvendo, com destaque para três ramos: Agropecuário, Crédito e Saúde. As cooperativas, hoje, são responsáveis por cerca de 54% da produção agropecuária brasileira. Outro setor com desempenho consagrado é o Crédito, que em 2020 cresceu acima dos bancos comerciais, e deve continuar assim em 2021. Afinal, as cooperativas continuam inspirando confiança, tratando o cooperado como pessoa e não como número, e isso é um diferencial incrível nesse momento de crise.
Mais um segmento que já está se destacando é o da Saúde. Essas cooperativas estão no olho do furacão, passaram por problemas econômicos, por conta da pandemia e do cancelamento de contratos, já que muitos trabalhadores perderam sua fonte de renda. Só que, durante todo o ano de 2020, nunca se ouviu uma queixa dos usuários desses sistemas. O profissionalismo com o qual nossas cooperativas de saúde lidaram com a pandemia superou todas as dificuldades econômicas e elas acabaram se fortalecendo.
RS: Acredito que os setores mais organizados e verticalizados, como é o caso de Crédito e Saúde, seguirão despontando na oferta de produtos e serviços de qualidade que trarão ainda mais segurança à população. O ramo agropecuário deve ter um bom ano, mas os resultados não devem alcançar as margens de crescimento históricas de 2020. Some-se a isso o fator seca, que pode impactar em até 30% os resultados da safra do café em 2021. Já as cooperativas de transporte de carga continuarão firmes, viabilizando as entregas e a logística em nosso país. Para os demais segmentos, será um ano de retomada, mas também considero que de boas perspectivas de modo geral.
Enquanto milhares de empresas fecharam suas portas, por conta da pandemia, as cooperativas continuam sendo constituídas e gerando emprego. Por que isso aconteceu?
MF: Na verdade, as cooperativas precisaram se manter muito ativas porque nossa principal responsabilidade é cuidar bem do nosso cooperado. Enquanto um banco comercial se preocupa em garantir o seu capital, uma cooperativa coloca como prioridade as pessoas. Por isso, elas continuam emprestando e criam produtos para ajudar seus cooperados a superar esse momento de crise. Outro exemplo do cuidado das cooperativas com as pessoas é o setor agrícola. Em um frigorífico comercial, se o consumidor para de comprar frango, ele simplesmente para de comprar esse produto. Na cooperativa não. Afinal, o frango vem do cooperado e, se ela parar de comprar o produto, o cooperado ficará sem renda, e ele é o dono do negócio. Por isso, as cooperativas fazem tudo o que está ao seu alcance para arrumar mercado para esse frango e manter a renda dos cooperados. Esse compromisso do cooperativismo com as pessoas é que torna o nosso modelo de negócios tão humano e sustentável.
RS: As cooperativas são empreendimentos sólidos, bem geridos e administrados de maneira coletiva e cautelosa. Nossas cooperativas seguiram se profissionalizando, buscando oportunidades em meio à crise e se destacando especialmente em função de sua proximidade com as comunidades locais. As cooperativas de crédito, por exemplo, em muitos municípios, sustentaram os comerciantes locais viabilizando linhas de crédito especiais para amenizar a crise econômica. O trabalho não parou, pelo contrário, tivemos que nos reinventar para seguir dando resultados. Por isso, em vez de demitir, seguimos admitindo e dando exemplo para o país.
Como as cooperativas podem ajudar na recuperação da economia do Brasil em 2021?
MF: As cooperativas têm um papel fundamental na economia e hoje já respondem por aproximadamente 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, elas têm um papel fundamental na disseminação de uma economia mais justa, por conta do seu compromisso com o desenvolvimento das comunidades onde estão localizadas. Onde existe uma cooperativa, o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] é maior. Afinal, a renda gerada por ela é utilizada na própria comunidade, realimentando a economia local de uma forma mais justa e sustentável.
RS: Fazendo o que elas sempre fizeram: seguir produzindo, atuando junto às comunidades, promovendo a distribuição de riquezas, a inclusão e o desenvolvimento de forma participativa. Dessa forma os resultados acontecem e são compartilhados com todos os membros que fazem parte do cooperativismo, beneficiando ainda todo o seu entorno.
Na sua opinião, o cooperativismo soube administrar bem os obstáculos e mudanças impostas a todos em 2020?
MF: O ano foi complicadíssimo, mas as cooperativas deram conta do recado. É claro que muitas pessoas do nosso movimento estão com a asa quebrada, com feridas que ficaram da pandemia, mas não tenho dúvidas de que elas tiveram uma capacidade de superação muito forte. E isso foi motivado, em grande parte, nos princípios e nos valores do cooperativismo.
RS: Sim, tanto que os resultados foram favoráveis. Obtivemos destaque em diversos setores, inclusive segurando a balança comercial do país para que a queda na economia não fosse ainda maior.
O que levaremos de legado positivo de 2020 para 2021?
MF: Nossos legados serão união e organização. A cooperativa que soube cativar e unir os seus cooperados teve mais sucesso. E organização, ter processos, estratégia, ter planejamento. Esses dois fatores ficam como legados importantes nas cooperativas para o ano que vai chegar.
RS: Nosso legado é (e sempre será) o de colocar as pessoas sempre em primeiro lugar. Outro legado é o da adaptabilidade em qualquer contexto, graças a nossa capacidade de aprender, desaprender e reaprender, aprimorando e contribuindo para o desenvolvimento do país por meio da união e da cooperação.
Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Dinheiro, finanças e poupança são assuntos de adulto, certo? Errado! Aos 7 anos, o garoto José Adolfo Quisocala Condori mostrou a todos que também há espaço para crianças no mundo dos negócios ao fundar o Banco Cooperativo Estudantil Bartselana, em 2012, no Peru.
Mais do que “fazer dinheiro”, a intenção de José Adolfo sempre foi ajudar outras crianças, além de diminuir os problemas sociais enfrentados pela população infantil de sua cidade, Arequipa.
Eu tinha 6 anos e cursava o 1o ano do ensino fundamental quando comecei a ver crianças nas ruas da minha cidade trabalhando, vendendo balinhas e limpando o para-brisa dos carros. Eu não entendia o porquê de eles trabalharem. Sempre me ensinaram que nós, crianças, não deveríamos trabalhar. Nossa maior responsabilidade eram as tarefas do colégio e, às vezes, ajudar em casa e nada mais”, relembra o jovem em entrevista exclusiva à revista Saber Cooperar.
Adolfo não entendia porque esses meninos e meninas trabalhavam, até conversar com uma dessas crianças. “Perguntei por que ele trabalhava, e ele me contou que tinha tomado a decisão de deixar o colégio e começar a trabalhar por causa dos problemas econômicos dos pais. Ele tinha irmãos pequenos e não queria que eles passassem fome. Então, decidiu deixar o colégio e começar a trabalhar até que seus pais conseguissem algum trabalho. Ele tinha 13 anos. Não era um adulto. Era uma criança”, recorda.
A preocupação genuína com a situação de outras crianças foi a motivação de José para abrir um banco voltado às necessidades dos pequenos. O objetivo era ajudá-los a poupar para a vida adulta.
Ao ver essas realidades e esses problemas, fiquei preocupado porque as autoridades não faziam nada para evitar que os meninos trabalhassem e abandonassem seus estudos. Até que decidi, em 2012, aos 7 anos, fundar o Banco Cooperativo Estudantil Bartselana para meninas e meninos.”
MONETIZAÇÃO
Você deve estar se perguntando: como um garoto de 7 anos conseguiu dinheiro para montar um banco? Pois bem, com criatividade! Ele começou a procurar um jeito de ajudar as crianças mais necessitadas a juntar dinheiro. Foi então que decidiu transformar lixo (material reciclável) em renda. Com a ajuda dos pais — que sempre acreditaram na ideia do menino—, José Afonso fez um acordo com indústrias e empresas de reciclagem locais. Elas compram, até hoje, os resíduos sólidos coletados pelos pequenos associados da cooperativa, transformando o que antes era sucata em dinheiro na conta de meninos e meninas.
“No banco, a gente converte os materiais recicláveis em ecomoeda, contribuindo para redução da contaminação ambiental por resíduos sólidos”, explica o jovem fundador.
A instituição teve início com apenas 20 cooperados. Depois de 8 anos de intenso trabalho, o Banco Cooperativo Estudantil Bartselana tem 5.830 sócios: 60% são meninas e 40% meninos. Crianças de zero a 16 anos e jovens de 17 a 29 anos podem abrir uma conta na instituição financeira cooperativa. Para 2021, eles pretendem abrir a cooperativa para entrada de adultos – o que ainda está em estudo.
Para ser um cooperado, é preciso fazer um curso virtual gratuito, de 6 horas, que aborda questões ligadas a educação financeira e a educação ambiental (gestão de resíduos). Também é preciso depositar 10 soles (cerca de R$ 14) na poupança.
Desde a abertura, o banco cooperativo tem ampliado sua carteira de produtos. Hoje, além da poupança, oferece microcrédito para compra de alimentos e materiais escolares, e oportunidades de investimentos.
Os cooperados contam, ainda, com um cartão de débito — como nos bancos tradicionais — e podem fazer saques em caixas eletrônicos em todo o Peru. Além disso, também podem fazer compras em estabelecimentos comerciais, compras online, transferências de recursos e pagamento de serviços.
Atualmente, todos os mais de 5 mil pequenos clientes abastecem o banco com materiais recicláveis e recebem em troca dinheiro creditado em sua conta. Um mecanismo virtuoso em prol da infância e da sustentabilidade do planeta. Tudo isso regado pelos princípios do cooperativismo de inclusão financeira, combate à pobreza e capacitação de jovens.
AJUDA DA FAMÍLIA
Nessa corajosa empreitada, José Adolfo contou com o suporte, o apoio e o exemplo da família. Foi da vivência com os pais que aprendeu a importância de poupar. E eles não mediram esforços para apoiá-lo na ideia de criar um banco.
No início, contribuímos ao crer na possibilidade de abrir um banco. A partir de 2018, passei a acompanhá-lo em suas atividades e buscando apoio com profissionais que entendessem do manejo de um banco. No início, chegamos a financiar algumas atividades. Hoje, sou um suporte emocional de José Adolfo”, conta, orgulhoso, o pai Herbert Quisocala.
NOVOS PROJETOS
Hoje com 16 anos, José Adolfo é considerado o mais jovem gerente de banco do mundo e tem mostrado que iniciativas locais geram importantes impactos na vida das pessoas. Desde a criação da instituição financeira, ele já recebeu uma dezena de prêmios e reconhecimentos pelo trabalho de inclusão financeira de jovens – entre eles, o Prêmio Internacional Finanças para Jovens, Prêmio Nacional de Voluntariado, em 2014, o Prêmio Internacional Escola Empreendedora e o Prêmio Climático Infantil 2018.
Meu trabalho [como gerente-geral], além de mostrar os nossos produtos financeiros para nossos cooperados, é inspirar, no Peru e em outros países do mundo, a promoção e o investimento em nosso modelo de negócios. Também promovo o banco cooperativo junto ao Estado peruano, através do Ministério da Educação”, explica.
Os planos para o futuro são muitos e são audaciosos. José Adolfo pretende instalar agências em todas as principais cidades do Peru, com o objetivo de atender a 20 mil crianças. O banco cooperativo conta hoje com 7 agências, mas, a partir de janeiro de 2021, mais 30 pontos de atendimento serão abertos nas casas de 30 adolescentes que, junto com seus pais, decidiram abraçar o negócio e administrar uma agência.
Além disso, o jovem deseja instalar bombas de coleta solidária (de materiais recicláveis) em cinco dessas cidades.
José Afonso também quer empreender um programa de financiamento coletivo – em que possam ser usados tanto resíduos sólidos quanto dinheiro – no Peru e no exterior.
Outro projeto do jovem empreendedor é tirar do papel e implementar a Fundação Bartselana, com a qual ele pretende ajudar a resolver os principais problemas das crianças nos quesitos educação, evasão escolar, saúde e fome.
“Esperamos que 2021 seja um bom ano para que possamos continuar desenvolvendo projetos e seguir ajudando crianças, tanto no Peru como no exterior”, diz.
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Pequenos grandes cooperados
Um dos pequenos sócios do Banco Cooperativo Estudantil Bartselana é o jovem Lucas Bustamente Mena, 11 anos, que tem uma conta de poupança e um cartão de débito no próprio nome desde julho de 2019.
Morador de Arequipa, ele conta que, em princípio, não acreditou na mãe ao ouvir a história de um “menino banqueiro”.
“Minha história com o banco começa quando minha mãe me disse que existia um menino que era banqueiro. Eu não consegui acreditar porque uma criança não podia ser banqueira. Era impossível! Mas bem, fomos ao banco e era verdade! Era um menino que era banqueiro e tinha o seu banco. Eu me surpreendi porque é muito raro”, disse Lucas em entrevista à Saber Cooperar.
A vontade de juntar o próprio dinheiro e ajudar a melhorar o planeta logo encantaram o pequeno, que resolveu se associar.
“Para virar cooperado, tive de fazer dois cursos: um sobre meio ambiente e outro sobre poupança. Me ensinaram a reciclar em casa e a pensar no que fazer com o dinheiro, a ter uma meta. Meu objetivo, na época, era ter uma capinha para celular. Consegui alcançar essa meta juntando e levando os resíduos sólidos ao banco para conseguir meu dinheirinho”, diz o jovem.
A mãe de Lucas, Johana Mena Castro, calcula que, para chegar aos 45 soles (cerca de R$ 64) necessários para a capa de celular, o menino tenha levado 80 quilos de resíduos sólidos – entre papeis, garrafas plásticas, tetrapack e jornais – ao banco cooperativo estudantil, no período de um mês e meio. Para isso, ele se empenhou em coletar o que antes era considerado lixo não só na própria casa, mas também na de tios e de vizinhos.
Também com o aprendizado sobre reutilização de materiais, Lucas fez uma jardineira na janela de casa, na qual usa latas para abrigar plantas.
A nova meta financeira do jovem é bem maior e mais ambiciosa: ele quer poupar para comprar um laptop.
“Como no banco também é possível poupar seu próprio dinheiro, eu calculo que entre abril e maio do próximo ano, ele poderá alcançar a meta de 1600 soles (cerca de R$ 2,3 mil)”, afirma, orgulhosa, a mãe.
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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Fábiola Nader Motta
Gerente de Relações Internacionais do Sistema OCB
Que 2020 foi um ano, no mínimo, desafiador tanto para as pessoas quanto para as organizações, todo mundo sabe. Em meio a uma pandemia sanitária, tivemos que lidar com dificuldades econômicas, com o isolamento social e muitos, de um dia para o outro, precisaram inovar nos processos, produtos e serviços.
Com tantas vidas perdidas, negócios fechando e preocupações com o futuro, muitas vezes parece errado fazer qualquer comemoração pública de resultados em 2020. Nossa equipe passou por essa dúvida. Tínhamos previsto para novembro a 12ª edição do nosso prêmio para as melhores cooperativas do ano.
E nos perguntamos: tem clima para isso?! Não sabíamos se a premiação seria bem recebida, se teria inscrições suficientes ou se as pessoas iam querer comemorar qualquer coisa que seja nesse ano tão diferente...
Resolvemos arriscar. Porque precisamos identificar e celebrar o que está dando certo, as iniciativas que foram colocadas em prática e como as cooperativas se organizaram para ter resultados mesmo em um cenário de dificuldades. E, principalmente, porque assim também reconhecemos cada pessoa que está por trás dessas conquistas, inovando, superando adversidades e se esforçando para rapidamente rever prioridades e caminhos.
E como a nossa aposta valeu a pena! O retorno foi o melhor possível. 2020, acreditem, foi nosso recorde no número de cases apresentados no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano - 595, de 320 cooperativas, em 22 estados. Antes, no formato presencial, em torno de 300 pessoas participavam da cerimônia de premiação. Nesta semana, no formato virtual, mais de 3.800 pessoas assistiram ao evento no nosso canal do YouTube! Fora a emoção de ler as iniciativas apresentadas: pscicólogos que criaram uma plataforma de baixo custo para atender virtualmente mantendo a qualidade do serviço; construção de lavatórios sustentáveis nas comunidades; teleatendimento gratuito para tirar dúvidas sobre a Covid-19; marketplace para divulgação de produtos e serviços da comunidade.
Então a lição que ficou é: vale a pena comemorar! Somos seres humanos que precisamos de conexão, reconhecimento e celebração. Mesmo nos momentos mais difíceis - talvez especialmente deles - precisamos celebrar nossos resultados positivos e conhecer exemplos para nos inspirar.
Tire um tempo para identificar quais foram suas conquistas e não esqueça de reconhecer, agradecer e dividir com quem esteve junto com você. Isso motiva todos a continuar, ainda que navegando em um cenário de incertezas.
“Quero mudar a vida de alguém assim como a minha foi transformada pelo cooperativismo”. É assim — com os olhos transbordando de esperança — que a jovem Joice Rodrigues Nunes, 18 anos, fala dos seus sonhos para o futuro.
Quero chegar na vida de uma pessoa que tenha pouca perspectiva, que não pensa alto e, por meio da minha história, fazê-la pensar de forma diferente”, planeja.
Para entender a ligação de Joice com o cooperativismo, precisamos voltar no tempo, em direção ao município de São Francisco, na zona rural de Minas Gerais. Lá, a menina Joice, então com 13 anos, teve uma aula muito diferente das demais: cultura empreendedora e cooperativista. Dessa matéria, surgiu a ideia de montar uma cooperativa de alunos, a Unicoop (fusão das palavras União e Cooperativa, da qual Joice foi a primeira presidente. “Foi transformador na minha vida”, relembra.
A cooperativa de alunos desenvolvia produtos para vender para a própria comunidade. Na época, eram produzidos biscoitos e comercializados hortaliças, dindin, frutas e polpa de frutas. Os pais eram muito presentes e exerciam tanto o papel de incentivadores quanto de compradores da Unicoop.
Durante esse período, Joice estreitou os laços com a cooperativa que tinha levado as aulas de cooperação para sua escola: o Sicoob Credichapada de onde virou cooperada em dezembro de 2016, após ganhar R$ 100 em um concurso de redação sobre cooperativismo.
Quem assinava os documentos era o meu pai, mas quem movimentava a conta sempre fui eu. Com isso, aprendi a poupar, a economizar, a guardar um dinheiro. Até troquei de celular. Foi a partir de uma conta que eu comecei a economizar e a realizar pequenos sonhos. Foi uma sensação muito gratificante e feliz”, recorda a moça.
O contato com o Sicoob Credichapada também deu a Joice um novo propósito de vida. “Eu não tinha perspectiva de crescer, de poder ajudar as pessoas, de fazer meu próprio negócio. Eu não tinha esse pensamento. Foi a partir do contato com eles que eu pude entender: eu posso mais. Eu sou capaz de mais.”
NOVOS PASSOS
Foi em uma viagem para Belo Horizonte, a convite do Sebrae e do Sicoob Credichapada, que Joice, aos 14 anos, conheceu o Instituto Federal do Norte de Minas — instituição na qual viria a estudar logo depois.
Impressionada com a infraestrutura, ela chegou a perguntar para o presidente da cooperativa, Marcos Maion, “o que era” aquela escola. “Eles me falaram que era uma escola técnica e tudo o que acontecia lá. Eu pesquisei mais sobre o assunto e fiz o processo seletivo. Não imaginava que ia conseguir passar em um processo seletivo, com 14 anos. Mas me senti uma vitoriosa só de fazer a prova”, relembra.
Com o resultado na mão e a vaga garantida, veio a dúvida: “vou largar a cooperativa, minha cidade e minha família? Vou atrás de melhorias para minha vida?”. A resposta não demorou a chegar.
Eu morava na roça. Pensava em casar e ter filhos. Depois de ter contato com o Sicoob, percebi que o ensino médio era apenas uma etapa de um pequeno muro que ainda tinha muito a crescer. Foi assim que eu fui despertando para querer saber mais sobre empreendedorismo e cooperativismo”, diz a jovem.
Ela saiu da casa dos pais, na comunidade de Acari (São Francisco-MG), e foi morar com uma tia no município de Chapada Gaúcha, a 100 quilômetros de Arinos, onde ficava o campus do instituto. Durante três anos, ela saía de casa às 5h30 da manhã, estudava o dia todo e retornava para casa às 18h. Nesse período, concluiu o ensino médio e o ensino técnico em meio ambiente.
VESTIBULAR
No fim de 2019, Joice prestou vestibular e conseguiu uma vaga para o curso de pedagogia em uma faculdade em Brasília de Minas. Ela se mudou para São Francisco, município a 60 km da faculdade, e deu início ao primeiro semestre do curso este ano – quando, em março, as atividades foram paralisadas por conta da pandemia de covid-19.
Foi também este ano que recebeu um convite muito especial: entrar como estagiária no Sicoob Credichapada. “Foi algo com que eu sempre sonhei, porque foi o cooperativismo que despertou tudo isso em mim. Pra mim, foi extraordinário, incrível essa proposta de trabalhar na cooperativa que me abriu o mundo”, afirma.
Joice conta que apesar de estar trabalhando há pouco tempo na cooperativa, já sente estar começando a transformar vidas. “Quando encontro um velho amigo de escola e digo o que fiz até agora, vejo que ele fica motivado a tentar fazer algo por si mesmo. Passei por momentos difíceis, mas não tive medo, porque eu sabia que eu queria mais. Já me sinto vitoriosa de vestir aquele uniforme e dizer: eu sou estagiária do Sicoob”, diz, com orgulho. E alguém tem dúvidas que essa menina ainda vai muito longe?
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e você lê, na íntegra, na próxima edição da revista Saber Cooperar, que estará disponível em nosso site nos próximos dias
1) Coração tecnológico
As cooperativas de plataforma não vieram para rejeitar tudo o que compõe a economia de compartilhamento. Pelo contrário. É possível aproveitar o caráter tecnológico desses negócios on-line e as possibilidades de partilha de informações e comunicação oferecidas pela internet, promovendo uma mentalidade de propriedade coletiva.
2) Solidariedade
No lugar de uma economia baseada no trabalho com funções designadas anonimamente, por meio de um aplicativo, as plataformas podem ser operadas com relações humanas, baseadas na solidariedade, no cuidado com as pessoas, no mutualismo, na cooperação e na agregação por trabalhadores, usuários, sindicatos ou até cidades.
3) Igualdade de ganhos para todos
A ideia é ressignificar o que é inovação e eficiência quando falamos de uma economia solidária, prevendo uma mudança de propriedade: da que explora o trabalhador a fim de concentrar riquezas para poucos para a que distribui democraticamente os benefícios a todos.
10 princípios do cooperativismo de plataforma, segundo Trebor Schotz
1 – Resgate à mentalidade inicial da internet de propriedade pública, coletiva e compartilhada, centrada nas pessoas que geram valor nas plataformas;
2 – Pagamentos decentes e seguridade de renda;
3 – Transparência dos dados, principalmente aos dos consumidores sobre como são coletados, analisados, estudados e para quem são vendidos;
4 – Valorização, apreciação e reconhecimento dos trabalhadores;
5 - Envolvimento dos funcionários desde a programação até o uso das plataformas;
6 – Moldura jurídica que proteja as plataformas cooperativas;
7 – Proteções sociais e benefícios aos trabalhadores;
8 – Garantias aos colaboradores associados contra comportamentos arbitrários, como demissões repentinas e sem explicações;
9 – Rejeição de vigilância excessiva do ambiente de trabalho que violem a dignidade dos funcionários;
10 – Tarefas digitais com fronteiras claras que dêem ao trabalhador o direito de se desconectar da internet.
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Exemplos para acreditar e se inspirar
• Stocksy United (stocksy.com): plataforma canadense que abriga uma coleção exclusiva de fotografias e filmes selecionados manualmente para os clientes. Formada por profissionais de 63 países entre fotógrafos, líderes em curadoria, design, negócios, atendimento ao cliente e TI, a cooperativa afirma acreditar na integridade criativa, no compartilhamento justo de lucros e na co-propriedade. Os artistas associados recebem de 50% a 75% das compras de licenças. Em 2016, o site forneceu imagens para 124 das 500 empresas da lista da revista Fortune.
• Up and Go (upandgo.coop): cooperativa de trabalhadoras domésticas que nasceu da vontade de eliminar os custos cobrados por agências intermediadoras do serviço. Objetivo? Oferecer serviços a preços honestos, deixando as pessoas mais felizes. As cooperadas atuam em Nova Iorque e disponibilizam em um site serviços de limpeza “amigáveis e confiáveis”, por meio de práticas de trabalho justas.
• FairBnB (fairbnb.coop/): o nome da empresa inglesa faz referência à gigante da economia de compartilhamento AirBnB, mas sugere uma mudança no “mundo dos aluguéis de curta temporada”. Hóspedes, anfitriões e vizinhos, juntamente com os municípios, decidem coletivamente como tornar o processo de aluguel mais justo, sustentável e recompensador para toda a comunidade. Os lucros da plataforma são investidos de volta nas comunidades onde a plataforma opera.
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Foi da produção dos pequenos grãos de arroz e soja que saiu o sustento de Jessyca Leon ao longo dos seus vinte e poucos anos. Nascida em São Sepé, no interior do Rio Grande do Sul, essa jovem de riso fácil é filha de uma produtora da Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel). O cooperativismo está na vida de Jessyca desde que puxa na memória as recordações da infância, mas ganhou um novo sabor há quatro anos, quando ela também se tornou cooperativista. O gosto é, precisamente, de uva. Hoje, ela trabalha na Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul, a Fecovinho, localizada em Farroupilha, na Serra Gaúcha.
A gente luta pelas cooperativas, está do lado dos produtores”, afirma a moça, também cooperada da Sicredi Serrana.
Assim como Jessyca, o jovem Neuryson Santana é um entusiasta do nosso movimento. Natural de Porto Nacional, em Tocantins, ele trabalha no Sicredi União MS/TO e foi na cooperativa que aprendeu a importância de buscar o melhor não apenas para si, mas para todo o grupo.
Por fim, chegamos a Minas Gerais e, aqui, mais duas histórias, separadas por 218 quilômetros: Adriana dos Santos, de Belo Horizonte, e Amanda Luiza, moradora de Arcos. A primeira é administradora e cooperada da Unicred Aliança há quatro anos, quando se apaixonou pela causa. Já Amanda é advogada e associada ao Sicoob União Centro-Oeste, com sete anos de vivência no cooperativismo.
O que essas vidas têm em comum? Jessyca, Neuryson, Adriana e Amanda fazem parte do time de 20 mulheres e 20 jovens eleitos como Embaixadoras e Jovens Embaixadores Coop, durante o 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), realizado em Brasília em 2018. Juntos, eles tentam responder uma pergunta importante: “Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?”.
NOVOS RUMOS
“Como eu, Jessyca, posso contribuir para a construção do cooperativismo do futuro?” Foi com a resposta a essa pergunta que a colaboradora da Fecovinho garantiu o título de embaixadora jovem do cooperativismo. Ela produziu um vídeo caseiro que trouxe a resposta em fórmulas matemáticas: “Dividindo conhecimento, multiplicando o número de cooperativistas e somando para o time”.
Para ela, ninguém melhor que os cooperativistas mais novos para fazer isso.
Está na juventude o espírito revolucionário, o caráter coletivo e o sinônimo para cooperação de quem é, naturalmente, agente de transformação social”, ensina.
A reivindicação de Jessyca é por espaço, oportunidades e investimento nos jovens cooperativistas: “O jovem é um investimento a longo prazo. É ele que queremos ver lá na frente como um dirigente. Vamos prepará-los! Entre os nossos princípios estão a educação, a formação e a comunicação. Temos tudo isso para ensinar sobre o cooperativismo. Basta fazer, estudar e investir”.
A gaúcha acredita que o futuro das cooperativas não depende de medidas mirabolantes, mas de dois passos simples: vestir a camisa e consumir produtos de cooperativas. “Quando você compra um vinho de cooperativa, por exemplo, não está comprando de uma pessoa, mas de mil cooperados. É o trabalho de todas as pessoas e das famílias associadas. Vinho, iogurte, leite, grãos… tudo produzido em uma cooperativa é mais rico de conteúdo e de vida!”.
DIVERSIDADE TRAZ RESULTADOS
Já no time das Embaixadoras Coop, fala-se em temas da atualidade como chave para o futuro. Adriana dos Santos defende a necessidade de se adaptar às mudanças tecnológicas. “O cooperativismo pode ser um modelo de negócios do futuro! Para isso, é necessário acompanhar tendências que movem o mercado, como as novas tecnologias e a economia de compartilhamento. Tudo isso, levando em conta os princípios cooperativistas de ajuda mútua, compartilhamento e democratização de ganhos de forma justa”, alerta.
A mineira também defende a necessidade de trazer todos os públicos para o cooperativismo.
Precisamos de mais diversidade, incluir jovens, mulheres e negros. Em um congresso como esse, por exemplo, temos pessoas de várias regionalidades, culturas e percepções que nos fazem entender mais como funciona cada cooperativa nos diferentes lugares do país”, argumenta.
Uma pesquisa da Harvard Business Review reforça a sugestão da moça: empresas com maior diversidade entre os colaboradores têm 45% mais chance de aumentar a participação no mercado. As instituições que investem nesse fator podem ter resultado 35% melhor que as concorrentes, segundo pesquisa da consultoria McKinsey and Company, em 12 países. Outro dado da Hay Group mostra que os funcionários de organizações diversas têm 17% mais engajamento e 75% sentem liberdade para inovar no trabalho.
Quem também aposta na diversidade como caminho para o cooperativismo é Amanda Luiza, adotando uma perspectiva de gênero: “O cooperativismo do futuro deve ser construído com a união e o empoderamento feminino. Este é o momento de o cooperativismo ouvir suas associadas, colaboradoras e guerreiras”. A advogada defende que não faltam boas ideias nas mentes femininas, mas oportunidades para apresentá-las. Como medida prática para isso, ela sugere a inserção obrigatória de mulheres e jovens em órgãos estatutários.
HIGHLIGHT: NÚMEROS
493 mulheres e 171 jovens de todo o Brasil se candidataram às vagas de embaixadores cooperativistas. Eles participaram de um concurso cultural no qual responderam à pergunta: “Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?” Os autores dos melhores vídeos e textos foram convidados a participar do CBC com tudo pago pelo Sistema OCB.
Assista aos vídeos dos 20 jovens embaixadores do cooperativismo
POVO-FALA
Jovens embaixadores
Como posso ajudar a construir o cooperativismo do futuro?
“O Cooperativismo do futuro deve ser construído com a União e o Empoderamento feminino; a mulher atual não quer elogios, quer respeito e possui grandes ideias, estando disposta a lutar por elas e pela mudança no rumo do Cooperativismo no mundo”
Amanda Luiza de Sousa - Sicoob União Centro Oeste (MG)
Sendo cooperados ativos e atuantes da cooperativa, mostrando ao mundo a importância do trabalho coletivo em prol de um objetivo comum. Para isso, é preciso cada um conquistar seu espaço querendo o melhor para as gerações futuras.
Elisetei Bellettini - Cooperativa Agroindustrial Coopeja (SC)
“Disponibilizar mais espaço para que lideranças femininas possam demonstrar seu potencial com muita garra e determinação no desenvolvimento da comunidade por meio da cooperação.
Isabela Albuquerque - Lar Cooperativa Agroindustrial (PR)
“Tendo interesse genuíno no ser humano, com foco no coletivo e não no individual, cada cooperativista assumindo a missão de viver este propósito fará do mundo, um lugar melhor, mais justo e mais cooperativo.
Marlian Catarina - Credicomin (SC)
“Disseminando e incentivando a cultura do cooperativismo para as crianças e adolescentes, pois quando se entende o que é cooperar, é impossível não se apaixonar por essa ideologia. Assim podemos garantir os representantes do futuro do cooperativismo.
Michele Moura da Silva - Unicred (MT)
“Incluindo as mulheres e jovens com iguais condições de participação na cooperativa, principalmente na governança”.
Vera Lucia Ventura - Sicoob Norte Sul (BA)
Confira todas as ideias dadas por nossas embaixadoras do cooperativismo na página do Sistema OCB no facebook
Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Atenção gestores: a sustentabilidade do seu negócio depende de como você lida com as mudanças trazidas pela internet e pelas novas tecnologias. Marcas consagradas desapareceram, profissões estão sendo extintas, alguns e serviços estão ficando obsoletos. Parece o apocalipse, mas não é. No universo cooperativista temos plenas condições de fazer os ventos da mudança soprarem a nosso favor. Sabe por que? “O caminho para o sucesso não é pavimentado por tecnologias, mas por pessoas”. A frase é de Sandro Magaldi, autor do livro Gestão do Amanhã e fundador de uma startup com foco em gestão e empreendedorismo. E até ele — que vive da inovação — reconhece: a tecnologia é apenas uma ferramenta de mudança. As boas ideias surgem de pessoas.
Segundo Magaldi, entender como a tecnologia muda o comportamento da sociedade é o primeiro passo para saber como lidar com as transformações causadas por ela.
Não adianta pensar com a nossa cabeça. O primeiro passo é entender que o mundo mudou. O maior desejo dos jovens da minha geração, por exemplo, era ter um carro. Hoje, já não há mais tanto interesse porque existem aplicativos que resolvem o problema da locomoção para eles. Tanto, que houve uma redução de 21% na emissão de carteiras de habilitação no Brasil nos últimos três anos”, explica.
Justamente por isso, o desafio dos gestores das montadoras e dos taxistas não é quebrar a cabeça para desenvolver novas tecnologias para brigar com essa realidade. O desafio é entender o que as pessoas querem e oferecer soluções diferenciadas para elas. "A gente precisa aprender a desaprender e reaprender”, acrescenta André Bello, professor do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Bello chama atenção para o fato de que as novas tecnologias estão apenas começando a aparecer. “Ainda vamos ter um salto tecnológico gigantesco nos próximos anos. E precisamos saber usar a tecnologia a nosso favor, para sanar as nossas necessidades, ao invés de competir com ela. Acredito que futuro será totalmente diferente de tudo que já foi vivido. E nesse futuro, não serão os mais fortes que sobreviverão, e sim os mais rápidos”.
Outro ponto importante: existe uma falsa percepção de que a inovação só é feita por pessoas jovens. "Inovação tem a ver com a forma de pensar, e não com idade”, garante o fundador da plataforma Meu Sucesso. Para ele, a empresa que possuir profissionais com conhecimento de mercado e capacidade para inovar tem seu futuro garantido. "O importante é não ter medo de mudar. Algumas marcas estão quebrando por fazer a mesma coisa muito bem feita por muito tempo. E nos dias de hoje precisamos de mais: é necessário fazer diferente", conclui Magaldi.
GOVERNANÇA COOPERATIVA
Se as pessoas são o principal ingrediente para o crescimento de um empreendimento, a implantação de um modelo de governança é similar a uma receita, capaz de fazer todos os profissionais da empresa atuarem de forma conjunta e sinérgica, gerando resultados melhores e mais sustentáveis.
Na prática, a governança cooperativa é um modelo de gestão fundamentado nos valores e princípios cooperativistas, que estabelece as políticas internas e os órgãos necessários para garantir a transparência, a ética e a perenidade dos negócios. Desde 2016, as melhores práticas relacionadas ao tema formam sistematizadas no Manual de Boas Práticas de Governança Cooperativista , elaborado pelo Sistema OCB.
"Esse modelo de referência de governança tem auxiliado nossas cooperativas a melhorar suas estruturas de gestão e, consequentemente, a melhorar sua performance e competitividade”, explica Luciana Mattos, uma das consultoras responsáveis pelo lançamento da publicação. Ela esclarece que todas as políticas e estruturas sugeridas pelo manual levam em consideração os princípios e as particularidades do modelo de negócios cooperativista. Afinal, somos diferentes, com orgulho, já que nossas decisões são sempre pautados por nosso compromisso com as pessoas e com o desenvolvimento sustentável das comunidades nas quais atuamos.
Dentro desse nosso modelo referencial, gestão e governança são duas engrenagens que devem estar funcionando sempre; e devem estar bem alinhadas porque se uma travar, a outra pode até demorar, mas trava também", disse.
Governança Cooperativista foi elaborado por um grupo técnico constituído por profissionais do Sistema OCB, representando as cinco regiões do país. A publicação aborda conceitos e princípios importantes sobre governança aplicada a sociedades cooperativas e trata de outras questões fundamentais, como o papel de cada agente, além da função dos órgãos de administração e fiscalização. Também são ressaltados os trabalhos e a relevância dos comitês de assessoramento e das auditorias, assim como da ouvidoria e do relacionamento constante e estreito com o cooperado.
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5 Princípios da Boa Governança Cooperativa
- Autogestão
É o processo pelo qual os próprios cooperados, de forma democrática e por meio de organismos de representatividade e autoridade legítimos, assumem a responsabilidade pela direção da cooperativa e pela prestação de contas da gestão. Os agentes de governança são responsáveis pelas consequências de suas ações e omissões. - Senso de Justiça
É o tratamento dado a todos os cooperados com igualdade e equidade em suas relações com a cooperativa e nas relações desta com suas demais partes interessadas. - Transparência
É facilitar voluntariamente o acesso das partes interessadas às informações que vão além daquelas determinadas por dispositivos legais, visando à criação de um ambiente de relacionamento confiável e seguro. - Educação
É investir no desenvolvimento do quadro social visando à formação de lideranças, para que estas tragam em seus conhecimentos de gestão e administração a essência da identidade cooperativa, base de sucesso e perpetuidade de sua doutrina. - Sustentabilidade
É a busca por uma gestão ética nas relações internas e externas para geração e manutenção de valor a todas as partes interessadas, visando à perenidade da cooperativa, considerando os aspectos culturais, ambientais, sociais e econômicos.
Esta matéria foi escrita por Sabrine Meneses e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Somos muitos. Somos mais de 15,5 milhões de cooperados no Brasil. E, hoje, nossas cerca de cinco mil cooperativas geram 427,5 mil empregos diretos no país, ajudando a movimentar a roda da economia. São números e impactos inquestionáveis, mas ainda assim temos muitos desafios pela frente. E ecoar esses resultados para a sociedade é um deles.
“Cooperativismo é algo sério, que traz resultado concretos para a vida das pessoas, como o desenvolvimento social. E é isso o que a gente precisa falar”, explica Daniela Lemke, gerente de comunicação do Sistema OCB. “Hoje, a gente percebe que ganha o coração das pessoas quando elas entendem o que é uma cooperativa e o bem que ela faz para seus cooperados”.
Os caminhos para potencializar a divulgação do cooperativismo no Brasil são constantemente debatidos, aqui, no Sistema OCB. E como bons cooperativistas, nós já começamos a desbravá-los. Confira:
CAMINHO 01 — PENSAMENTO DIGITAL
Somos todos testemunhas da maior revolução tecnológica já ocorrida na humanidade. Desde a abertura da internet ao público, em 1995, a forma como nos relacionamos com o mundo e com as outras pessoas mudou completamente. Quase 70% da população mundial está conectada à internet 24 horas por dia, sete dias por semana, por meio do celular. Pagamos nossas contas sem sair de casa e basta um toque na telinha do smartphone para resolver nossos problemas. Abrindo um aplicativo, conseguimos um carro para ir aonde quisermos. Clicando em outro quadradinho, a gente encontra resposta para qualquer pergunta.
As novas tecnologias da informação estão mudando a sociedade, a forma de comercializar produtos e a relação entre as organizações e os clientes. É uma transformação cultural, comportamental e tecnológica”, explicou Arthur Igreja, especialista em tecnologia e informação, durante um dos eventos realizados pelo Sistema OCB, antes da pandemia.
Justamente por isso, é essencial avaliar a forma como as cooperativas estão falando digitalmente os seus cooperados e clientes. “A pergunta que deve ser feita é simples: qual o grau de burocracia para as pessoas chegarem nos produtos e serviços de uma cooperativa”, argumentou Igreja. Segundo ele, para ganhar mercado na nova economia digital, é preciso entender o problema que as pessoas querem resolver e qual o caminho mais conveniente para fazer isso. “E pode ter certeza: as pessoas encontrarão a informação que precisam, com a sua ajuda ou apesar de você”, enfatiza.
De fato, os clientes da atualidade também não querem ser tratadas como os do passado. “Você não vai conseguir tocar as pessoas ‘bombardeando’ elas [de informações]. Todo mundo está impulsionando postagens. O usuário está recebendo isso de todo mundo. Ele quer se relacionar. Está todo mundo gritando na internet. Não é assim que você vai engajar as pessoas. Você vai engajar as pessoas com conteúdo de qualidade, capaz de agregar valor as suas vidas”, destacou.
Está todo mundo gritando na internet. Não é assim que você vai engajar as pessoas. Você vai engajar as pessoas com conteúdo de qualidade, capaz de agregar valor as suas vidas. Arthur Igreja, especialista em inovação e tecnologia
CAMINHO 2 — FOCO NAS PESSOAS
Em um mundo conectado em rede, tem mais chances de vencer quem percebe algo simples: na era da inovação digital, quem mandam são as pessoas. E elas querem ser ouvidas, levadas em consideração e, principalmente, querem ter seus desejos atendidos de forma rápida e eficiente.
“Para ganhar espaço, toda empresa ou cooperativa precisa se adaptar e colocar as pessoas — sejam elas clientes ou cooperados — em primeiro lugar”, analisou Arthur Igreja. Não dá para criar um produto ou vender um serviço sem antes ouvir a opinião de quem consome. A era do executivo brilhante, que tomava decisões sozinhos sem precisar sair do escritório, acabou. Quem não ouvir o que o cliente tem a dizer está fadado ao fracasso.
De acordo com o especialista em marketing, Romeo Busarello, é fundamental estar atento ao público e aos seus desejos. Mais que isso! É fundamental construir uma relação de proximidade com cada pessoa da nossa rede. Mas isso nem sempre é fácil.
“Acompanhar as mudanças trazidas pelas novas tecnologias da informação exige dedicação”, alerta Busarello. “Estudar e buscar conhecimento são fundamentais para qualquer profissional. É preciso ir atrás de educação. E não digo somente sobre MBA, pós-graduação ou doutorado, falo cada vez mais de cursos de uma semana ou 15 dias, participar de eventos e congressos com profissionais de mercado. O importante é fazer conexões e ter uma alma digital”.
O importante é fazer conexões e ter uma alma digital" Romeo Busarello, especialista em marketing
CAMINHO 3 — UNIR PARA CONQUISTAR
A Casa do Cooperativismo já deu o primeiro passo para aumentar o reconhecimento do cooperativismo em todo o Brasil. Em 2020, lançamos uma campanha nacional de divulgação do nosso movimento, que contou com a participação do ídolo Gustavo Kuertener. Além disso, lançamos, em 2017, o Movimento SomosCoop — criado para fortalecer a imagem do nosso modelo de negócios no Brasil e o orgulho de fazer parte de uma cooperativa. A iniciativa seguirá como a peça central da nossa divulgação nos próximos anos, já que vem trazendo ótimos resultados.
Estou há mais de 30 anos no cooperativismo e confesso que ainda não tinha visto um projeto tão diferenciado e capaz de dar uma projeção tão grande aos nossos produtos e às nossas cooperativas quanto o SomosCoop”, elogiou Samuel Zanello Filho, coordenador de comunicação do Sistema Ocepar, durante o Congresso Brasileiro do Cooperativismo, realizado em Brasília, há dois anos.
Na avaliação do jornalista, só é preciso ter um cuidado: o SomosCoop só tem significado se todos nós, cooperativistas, nos engajarmos. “Quanto mais pessoas e mais cooperativas aderirem ao SomosCoop, maior será a receptividade por parte do cidadão comum”, garante.
Justamente por isso a Ocepar abraçou o movimento SomosCoop desde o seu lançamento, estimulando as cooperativas do estado a utilizarem essa marca em seus produtos. “Precisamos educar o consumidor a dar preferência aos produtos das cooperativas, destacando que eles são mais sustentáveis e têm impacto direto na melhora de vida de toda a comunidade”, defendeu Zanello.
Tal percepção é endossada por uma pesquisa realizada com 1.023 consumidores do Paraná. O estudo, realizado em 2017, revelou que os entrevistados dariam prioridade aos produtos cooperativistas se tivessem conhecimento do impacto que causam na sociedade e na economia. Além disso, constatou que 96% dos entrevistados aprovam os produtos de cooperativas, destacando o bom preço e a qualidade dos mesmos. Outros 33% afirmaram que desconhecem quais produtos são de cooperativas.
Para deixar bem claro quais produtos têm DNA cooperativista, o Sistema COB lançou, ainda, o Carimbo SomosCoop, disponível para uso gratuito por qualquer cooperativa brasileira.
Precisamos educar o consumidor a dar preferência aos produtos das cooperativas, destacando que eles são mais sustentáveis e têm impacto direto na melhora de vida de toda a comunidade” Samuel Zanello Filho, coordenador de comunicação do Sistema Ocepar
CAMINHO 4 — FALAR UMA MESMA LÍNGUA
Um dos principais desafios da comunicação, nesse sentido, é alinhar o discurso institucional do cooperativismo. A forma de falar sobre o nosso movimento difere muito de Norte a Sul do país”, constata Daniela Lemke, gerente de comunicação do Sistema OCB.
Dispostos a reverter esse quadro, os comunicadores da Casa do Cooperativismo e das unidades estaduais do Sistema OCB estão produzindo um guia de discurso institucional sobre o cooperativismo.
Outra estratégia em andamento é a avaliação de qual formato de divulgação do cooperativismo traz maior impacto para o nosso movimento. “No momento, estamos seguindo esse caminho nas redes sociais com a técnica de storytelling [contação de história]. Afinal, contar histórias tem tudo a ver com o cooperativismo; e cooperativismo tem tudo a ver com pessoas. Outra aposta são vídeos curtinhos com um resumo jornalístico do que está acontecendo de mais importante no cooperativismo, o Minuto Coop.”, exemplifica Daniela.
Contar histórias tem tudo a ver com o cooperativismo; e cooperativismo tem tudo a ver com pessoas” Daniela Lemke, gerente de comunicação do Sistema OCB
Esta matéria foi escrita por Tcérena Guimarães e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Nossos ancestrais sobreviveram e perpetuaram a espécie graças à cooperação entre os membros do grupo a que pertenciam. Quem sustenta isto é o escritor israelense Yuval Noah Harari em seu best-seller, o livro Sapiens – Uma breve história da humanidade. E não só. Especialistas de todo o mundo apontam a capacidade colaborativa como um dos principais atributos para a humanidade enfrentar os efeitos do novo coronavírus. Nesse cenário, as cooperativas largam na frente. Afinal, cooperar é o nosso negócio.
O Brasil conta, hoje, mais de 15 milhões de cooperados distribuídos em 6.680 cooperativas de diversos ramos. Diante de tamanha pluralidade de pessoas, produtos, serviços e ideias, é perfeitamente possível encontrar — dentro do próprio setor— soluções para superar este momento. Para ajudar todo este pessoal a se encontrar no mundo virtual, o Sistema OCB lançou, em abril, a plataforma Coopera Brasil. A vitrine virtual reúne cooperativas, produtos e serviços em um único espaço na internet. O objetivo é incentivar a intercooperação, ou seja, realização de negócios entre as cooperativas.
Até meados de junho, quase 240 cooperativas de todo o Brasil já estavam divulgando seus produtos e serviços na plataforma. Na ferramenta, o usuário pode buscar aquilo de que precisa, pesquisando por estado e município. Produtos como chocolates, carnes, verduras, grãos e até energia eólica são oferecidos por meio da plataforma. E não para por aí. Também há oferta de serviços de crédito, transporte de mercadorias e assistência em saúde.
Sempre incentivamos as pessoas a comprarem do cooperativismo. Elas pensam: ‘Ok. Eu quero comprar de uma cooperativa da minha cidade, mas não sei quais atuam aqui’. Por isso, apesar de o foco serem as cooperativas, o site está disponível para todas as pessoas que queiram buscar produtos e serviços do cooperativismo. Ali elas saberão onde encontrá-los”, explica a gerente-geral da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Tânia Zanella.
Segundo Tânia, a Coopera Brasil surgiu como uma resposta rápida da OCB à pandemia. “Perguntamos aos dirigentes de cooperativas quais eram as dificuldades para fechar negócios no contexto atual e do que eles precisavam. A principal demanda foi por divulgação de produtos e serviços”.
A iniciativa se soma a outras ações do Sistema OCB para amenizar os efeitos negativos do novo coronavírus e ajudar as cooperativas a encontrar novas estratégias de vendas. Nos últimos meses, por exemplo, a organização lançou diversos materiais para contribuir com a inserção do cooperativismo no mercado digital. Entre eles, os e-books Como vender na internet, Marketing Digital em Tempos de Crise e Como criar aulas on-line . De acordo com a gerente-geral da OCB, um dos efeitos da pandemia é o crescimento dos negócios no ambiente virtual, uma realidade que veio para ficar e que traz muitos desafios, e também oportunidades para o setor.
A Coopera Brasil é aberta a qualquer cooperativa, mesmo as que não integram o Sistema OCB. Para participar, os interessados precisam acessar o site (https://www.cooperabrasil.coop.br/) e preencher o formulário de adesão. É possível indicar informações de contato da cooperativa, produtos e serviços oferecidos, além de canais de vendas e mídias sociais.
Entre as cooperativas que já se cadastraram, a maioria é do ramo agropecuário, seguido pelo ramo de transporte. O setor de trabalho, produção de bens e serviços vem em terceiro lugar. Na sequência aparecem saúde, crédito e infraestrutura. Rio Grande do Sul é o estado com mais cooperativas inscritas, mas houve adesões de Norte a Sul, totalizando 21 estados representados e mais de 150 municípios.
JUNTOS VAMOS MAIS LONGE
Para a gerente de negócios da Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior, Caroline Ferreira, a Coopera Brasil é uma oportunidade de alcançar outros mercados em nível nacional.
É mais uma forma de divulgar a existência da cooperativa, os produtos que oferecemos para todo o Brasil. Em razão da pandemia, tivemos queda na comercialização, em alguns segmentos. Uma plataforma específica para as cooperativas agrega, pois as pessoas que vão acessá-la têm objetivo de conhecer e comprar de cooperativas.”
Localizada no município de Harmonia (RS), a Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior atende, além da Região Sul, estados das regiões Sudeste e Nordeste. Recentemente, começou a exportar seus produtos para outros países. Para chegar até aqui, houve um longo caminho de cooperação. Essa história começou em 1935, quando um grupo de produtores de suínos se juntou para conseguir transportar seus animais até o frigorífico mais próximo, a cerca de 25 quilômetros de distância. Hoje, os cooperados contam com um catálogo de mais de 200 produtos, frigorífico próprio, fábrica de ração para alimentar os animais e três supermercados onde oferecem a carne suína diretamente ao consumidor final.
Vendas para governos (incluindo hospitais e escolas) e para empresas de atacado e indústria representam a maior parte dos negócios da Cooperativa de Suinocultores do Caí Superior. E, mesmo com a pandemia, o faturamento da entidade não caiu. Apesar da queda das vendas para escolas cujas aulas foram suspensas e para restaurantes e hotéis, o bom desempenho junto ao varejo ajudou a manter os resultados positivos.
A intercooperação é outra estratégia importante. Os negócios da Cooperativa de Suinocultores do Caí Superior incluem relação de compra e venda com outras cinco cooperativas gaúchas: Cooperativa Piá, Santa Clara, Languiru, Cosuel e Cooperativa Tritícola Sepeense. Um dos produtos comprados de outras cooperativas, segundo Caroline, é a carne de frango utilizada na fabricação de salsichas.
CUIDANDO DO OUTRO
A Cooperativa de Enfermeiros do Amazonas é uma das mais de 40 cadastradas no segmento de trabalho, produção de bens e serviços na Coopera Brasil. Criada há mais de 20 anos, a entidade, formada por auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros, atua principalmente em hospitais públicos do estado, sempre selecionada por meio de licitação pública.
Fiel à essência da enfermagem e do cooperativismo, ou seja, à preocupação no cuidado do outro, a Cooperativa de Enfermeiros do Amazonas redobrou a atenção após a chegada do novo coronavírus ao país. Para proteger a todos os profissionais associados, a entidade comprou máscaras, protetores faciais e aventais. “Sabíamos que havia falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos hospitais, então agimos para garantir a segurança da saúde dos nossos cooperados”, explica o presidente da entidade, Wilson Borges. O dirigente espera que a presença na Coopera Brasil ajude esse cuidado a chegar ainda mais longe.
Esperamos galgar outros horizontes e levar nossos serviços a outros estados com a mesma qualidade técnica e atenção ao paciente”, acrescentou Borges.
O CAMPO TAMBÉM É DIGITAL
Alcançar novos mercados está entre os objetivos da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Centro Nordeste Mineiro (Sicoob Credicenm). Para a presidente da cooperativa, Carla Generoso, a plataforma Coopera Brasil, por sua abrangência nacional, pode auxiliar o Sicoob Credicenm a conquistar novos correntistas e oferecer serviços financeiros para mais cooperativas.
Com sede em Guanhães (MG), o Sicoob Credicenm atende 14 municípios do nordeste mineiro, oferecendo serviços bancários com taxas e juros baixos a pequenos produtores rurais. Segundo Carla, a presença digital tem sido uma estratégia importante para vencer os desafios impostos pela Covid-19. Para que ninguém fique de fora, a cooperativa se preocupou em orientar os cooperados no uso das ferramentas. Uma das soluções tecnológicas utilizadas pela entidade é o Sicoob Faça Parte. Desenvolvido pelo Sicoob Nacional e disponível para todas as cooperativas de crédito do sistema, o aplicativo permite a adesão de novos correntistas pela internet.
Hoje já temos 200 novos cooperados que aderiram exclusivamente por meio do banco digital”, comemora Carla.
Para ajudar as cooperativas de produtores da região a vencer os impactos financeiros da Covid, o Sicoob Credicenm renegociou empréstimos tomados por seus clientes e concedeu-lhes novos prazos de pagamento. Em uma ação de intercooperação com outras três cooperativas de Governador Valadares (MG), o Sicoob Credicenm passou a oferecer linhas de créditos com juros mais baixos do que os já praticados no mercado. Juntas, as quatro cooperativas atuam em 35 municípios mineiros. Só o Sicoob Credicenm destinou R$ 20 milhões para essas operações.
Carla espera que o Coopera Brasil intensifique ainda mais a colaboração entre cooperativas.
Nosso papel de cooperativa é conseguir prosperar com a comunidade da nossa região. Sozinhos, a gente não faz nada. Quando nos juntamos a um outro negócio, à outra expertise, conseguimos ampliar o olhar e trazer resultados efetivos para nossas estratégias. A cooperação é essencial para superarmos este momento de crise, e para que a comunidade se fortaleça e acredite que há pessoas e entidades pensando nelas, dispostas a ajudá-las”, concluiu.
NÚMEROS
239
Cooperativas cadastradas
7
Ramos do cooperativismo presentes
21
Estados representados
36
Categorias de produtos e serviços cadastrados
Esta matéria foi escrita por Adriana Araújo e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A Cooperativa de Egressos e Familiares de Egressos (Coopereso) de Sorocaba (SP) surgiu em 2004 com o objetivo de ajudar ex-presidiários, chamados egressos porque deixaram o sistema prisional, a conseguirem trabalho. “A cidade era preconceituosa em relação a essas pessoas e não oferecia possibilidades de emprego”, lembra a presidente Miraci Cugler.
A ideia de criar uma cooperativa surgiu em reuniões de egressos com a equipe da Fundação de Amparo ao Preso (Funap). No entanto, os primeiros anos de trabalho mostraram que vencer o desafio do preconceito não seria fácil. A proposta de uma cooperativa de reciclagem não vingou porque muitos comerciantes temiam furtos e não queriam os egressos circulando por seus estabelecimentos.
Foram três anos difíceis, até que em 2007 a Coopereso firmou convênio com o município para realizar a manutenção de praças e espaços públicos – com podas, jardinagem e pequenos reparos. A partir dessa chance, os egressos puderam mudar o olhar da população sobre sua categoria.
Há dez anos, quando se formaram as equipes nas praças públicas para fazer as atividades, os moradores chamavam a viatura para saber o porquê daquelas pessoas estarem ali pois temiam que se juntassem para furtar as casas ao redor. Hoje é o contrário. Quando a comunidade têm problema em uma praça, ligam e perguntam onde está a nossa equipe para resolver aquele problema.”
Atualmente, há 110 cooperados na Coopereso, mas o número já chegou a 190. Segundo Miraci, o modelo cooperativo funciona bem porque “cada componente, cada pessoa é importante tanto para o projeto coletivo quanto para construir nova perspectiva de vida”. O índice de reincidência entre os que passaram pela cooperativa é de apenas 1%.
“Tentamos passar para o egresso que há uma oportunidade de vida dentro da legalidade. Nos seis primeiros meses, a pessoa sai do sistema prisional revoltada contra o Estado, sentindo que não fizeram nada por ela. Quando encontra essa oportunidade, ela tem uma mudança de mentalidade, um resultado positivo e sai abraçando a causa”, diz.
Além do emprego, a Coopereso também oferece apoio psicológico e assistência social.
Trabalhamos com núcleo familiar, tentamos decifrar se a pessoa tem problema com os filhos, com os pais e buscamos dar uma assistência completa”.
Com o tempo, alguns encontram emprego noutras empresas, outros tornaram-se empresários e os que deixam a cooperativa a indicam para novas pessoas e vão renovando as oportunidades. Há ainda aqueles que seguem na cooperativa e se envolvem com sua gestão, tornando-se também diretores, conselheiros e gestores. “Numa cooperativa o que se prega é que todos somos iguais. Quem vem demonstrando interesse, acaba por encabeçar funções e assim temos crescido para nos sentirmos parte da sociedade e integrarmos mais pessoas”, resume a presidente.
Cada componente, cada pessoa é importante tanto para o projeto coletivo quanto para construir nova perspectiva de vida.”
Miraci Cugler. Presidente da Coopereso
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS E AGENDA 2030
A inclusão econômica e comunitária de grupos em situação de vulnerabilidade social atende ao 7º princípio cooperativista, o “interesse pela comunidade”. Além disso, ao estimular o aperfeiçoamento contínuo de seus cooperados ou funcionários atende também ao 5º princípio, que se refere à promoção de “Educação, Formação e Informação”.
Mas não é só isso. O trabalho com grupos socialmente ou economicamente marginalizados também tem tudo a ver com os objetivos da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que têm sido incentivados por entidades cooperativas internacionais por proporem metas muito similares às que as cooperativas já vêm realizando há anos.
FIQUE LIGADO
As cooperativas apresentadas nessa matéria ajuda a cumprir os seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A Unimed Londrina, no Paraná, sempre teve colaboradores com limitações físicas, mas em 2016 implantou um programa específico para ampliar o quadro com a inclusão de pessoas com deficiência intelectual e deficiência auditiva severa e profunda. Atualmente, cerca de 5% dos seus mais de 600 colaboradores possuem alguma deficiência. Eles estão alocados em áreas diversas, como apoio operacional, financeiro, gestão de contas, atendimento, SAC, farmácia e controladoria.
Conforme explica a gerente de Responsabilidade Social, Fabianne Piojetti, o Projeto Unir é focado em duas etapas: a seleção e, em seguida, a adaptação da pessoa com deficiência. Durante a seleção, a assessoria de desenvolvimento humano, o setor de responsabilidade social, um psicólogo ou assistente social e, em muitos casos, um familiar do candidato discutem suas habilidades e restrições para checar se ele está apto para determinada vaga. Se necessário, contam também com intérprete de língua de sinais.
Temos um trabalho detalhado para que eles consigam ter uma função adaptada às suas limitações, mas também sintam-se desafiados”, explica.
Além disso, o candidato é encaminhado para conhecer sua potencial área de trabalho. “Ele é levado na área para fazer um reconhecimento, ver se sente-se bem ali. Afinal, ele também tem de aceitar a Unimed, não é só a Unimed aceitá-lo”, diz.
Uma vez contratados, esses novos profissionais passam por um período de adaptação acompanhado de perto pelo chefe direto. Houve funcionária com deficiência intelectual, por exemplo, que apresentou dificuldade de leitura, habilidade necessária para sua função. A Unimed, então, contatou a instituição social que ela frequenta e pediu para reforçarem o ensino. Em pouco tempo, ela estava adaptada.
Em outro caso, uma funcionária com deficiência inicialmente designada para a recepção mostrou-se tímida e foi realocada para uma função administrativa. “Agora ela está dando show, a gerente está adorando o trabalho dela. É só questão de adaptação”, conta Fabianne.
A primeira colaboradora do projeto que chegou à Unimed Londrina, em 2016, foi Gracielle Nicolino, que tem deficiência intelectual e atua na farmácia. Sua colaboração deu tão certo que, recentemente, o setor pediu por mais uma contratação.
Ela é uma querida, abriu portas para outras pessoas e agora é ela quem ensina e dá direcionamento à nova funcionária”, diz Fabianne.
A gerente destaca, ainda, como as contratações são benéficas não só para os contratados, mas para os demais funcionários e até para as instituições sociais da cidade. “Os funcionários só se surpreendem positivamente. Mesmo quando alguém tem dificuldade, eles apoiam a adaptação e isso muda o olhar deles para serem mais pacientes e trabalharem em equipe. É motivador”. Ela conta, ainda, que no início da contratação de deficientes auditivos foi preciso contar com intérpretes de libras, mas que agora muitos funcionários decidiram fazer o curso disponibilizado pela cooperativa para se comunicarem com os colegas surdos.
Para ela, a iniciativa mostra o compromisso da Unimed com um dos sete princípios cooperativistas: o interesse pela comunidade. “Muitas empresas buscam só preencher a cota exigida por lei, mas o que elas têm feito pelo aprendizado e permanência desses colaboradores? Aqui temos um interesse genuíno pela comunidade”, diz.
Além do Projeto Unir, a Unimed Londrina também participa da campanha da Unimed Nacional Eu ajudo na lata desde 2013, e já doou mais de cem cadeiras de rodas a maio de 30 instituições.
Para nós, trabalhar com pessoas com deficiências é um ganho porque as dificuldades são resolvidas por todos e nos tornam mais unidos.”
Fabianne Piojetti, gerente de Responsabilidade Social da Unimed Londrina
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
As novas tecnologias do campo podem atrair mais profissionais jovens para o campo. Essa é uma das apostas dos especialistas do Agro 4.0 e talvez seja a que mais precisa virar realidade nos próximos anos. Afinal, o censo agropecuário mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que os jovens com menos de 30 anos representam apenas 5% dos produtores ocupados no campo — um número que precisa aumentar urgentemente para garantir a sustentabilidade do agronegócio.
O consultor Fábio Camargo, 32 anos, é um dos profissionais da nova geração que se aproximaram do mundo agro por causa da tecnologia. Natural de São Paulo, onde ficou até os 17 anos, Fábio se formou em agronomia pela Universidade Federal de Lavras e se especializou durante a graduação em análise de dados de satélite.
Como sempre gostou de tecnologia, chegou a fazer um intercâmbio em uma universidade agrária no Canadá, experiência que ampliou horizontes sobre relação dos mundos agropecuário e digital.
De volta ao Brasil, ele fez estágio em uma fazenda de Mato Grosso do Sul que produz soja, milho e gado de corte. O ótimo desempenho levou à contratação pela empresa onde ainda trabalha. “Fui contratado em fevereiro de 2016 para cuidar das imagens de satélite e dos drones dos clientes. Trabalho num escritório, fazendo projetos para o campo”, relata Fábio.
O agrônomo também é responsável pelo Projeto Preá, que recruta profissionais jovens com habilidade nas novas tecnologias aplicadas ao agro. Além disso, Fábio se engajou no grupo jovem da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), que promove encontros e discussões sobre a participação de profissionais mais jovens no trabalho do campo.
“A maioria dos participantes do Famasul ainda tem ensino técnico ou superior na área agropecuária, mas queremos falar também com o jovem advogado, médico e administrador, porque o agro demanda profissionais de todas as áreas”, ressalta. Ainda segundo ele, a cada evento promovido, sempre aparecem novas pessoas, que não tem nada a ver com o mundo agro e nem são herdeiros de produtores rurais. “Com certeza a tecnologia está contribuindo para isso”, conclui Fábio.
DESAFIOS
Um dos problemas que hoje afastam o jovem do campo é a baixa conectividade (acesso à internet) na área rural.
“A conectividade é um problema na nossa região. Não sabemos ainda ao certo o caminho que devemos seguir. Hoje temos a possibilidade de 4G da área privada; tem a possibilidade no ano que vem do leilão da internet 5G, mas, quando vamos ter acesso? Precisamos nos preocupar com essa questão, porque não temos como avançar sem a internet”, reforça Rudinei Borgoni, da Castrolanda.
Ciente desse desafio, a OCB já está trabalhando na construção de uma politica pública de fomento a conectividade no campo. “Acreditamos que o cooperativismo é uma ferramenta eficiente para levar as novas tecnologias, a internet e o Agro 4.0 ao campo brasileiro. As cooperativas, aliás, serão fundamentais para a universalização do acesso à internet, principalmente entre os pequenos produtores rurais”, afirma Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.
Além da falta de conexão à internet, os produtores indicam outros problemas para a implementação da agricultura de precisão, como o alto valor do investimento para a aquisição de máquinas, equipamentos ou aplicativos (67%), considerando que boa parte dessas ferramentas ainda é importada.
Outros gargalos mencionados na pesquisa da Embrapa são: o valor para a contratação de prestadores de serviços especializados (44%); a falta de conhecimento sobre quais são as tecnologias mais apropriadas para o uso na sua propriedade (41%); custos operacionais (36%); falta de capacitação própria (35%); e acesso a créditos (35%).
O consultor Fábio Camargo acrescenta que a área demanda atualização constante do conhecimento e qualificação especializada. Outro desafio citado pelo profissional, e que já vem sendo tratado pela Associação Brasileira de Agricultura de Precisão, é o formato dos arquivos das informações.
“Hoje não tem um padrão, tem vários maquinários e cada um lê só um tipo de arquivo. Às vezes o produtor tem mais de um tipo de máquina e dá um pouco de trabalho para fazer os dados conversarem”, explica Fábio.
SOLUÇÕES
Fábio Camargo, da Famasul, acredita que a conexão permitida pelo cooperativismo pode contribuir para sanar esses desafios entre os cooperados e impulsionar a digitalização no campo, apesar dos gargalos ainda presentes.
Por aumentar a proximidade entre os cooperados, a favorece o intercâmbio de informações de produção e impulsiona o serviço. O cooperativismo traz um ganho muito grande para o produtor, porque une as pessoas, aumenta o grau e a qualidade da informação que os produtores recebem, e isso faz diferença na adoção da tecnologia”, declara.
A coordenação de cooperativismo do Ministério da Agricultura informa que a pasta, por meio da Secretaria de Inovação, tem trabalhado diretamente com esses desafios, principalmente a questão da conectividade. A aposta é que as cooperativas, principalmente as de crédito, contribuam com o avanço da internet e o acesso dos produtores às novas tecnologias.
“Temos observado que isso vai avançar e sabemos que quem está interiorizado, quem tem capilaridade no país em termos de produção rural, são as cooperativas. Hoje elas já apoiam a comercialização dos produtos e impactam o giro da economia, então, para o avanço da conectividade, o papel delas será muito parecido”, afirma Madalena.
“Os desafios já estavam postos antes e foram acentuados pela pandemia. Mas, observamos que o setor produtivo de alimentos se manteve resiliente. O agro brasileiro, em qualquer crise, tem deixado sua força impressa no PIB. É um setor que tem muito a crescer”, ressaltou Madalena.
Lopes de Freitas acrescenta: a intercooperação é um caminho seguro para o fortalecimento do Agro 4.0. “Existem muitas oportunidades de crescermos juntos, fazendo alianças entre as cooperativas agropecuárias (usuárias da tecnologia), as cooperativas de infraestrutura (fornecedoras do serviço de telecomunicação) e as cooperativas de crédito (financiadoras da inovação)”, defende. Já existem algumas iniciativas surgindo nesse sentido e o Sistema OCB está buscando divulgar e fomentar ações nesse sentido. Para saber mais sobre o assunto, entre em contato com a unidade estadual mais próxima de sua cooperativa.
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ECOSSISTEMA ATIVO
De acordo com o Radar AgTech 2019, o Brasil já possui mais de 1.100 startups voltadas para o agronegócio. Várias delas fazendo parcerias com grandes empresas e cooperativas. Essas agritechs florescem em meio a um ecossistema de inovação que não para de crescer no Brasil e envolve: universidades, aceleradoras, empresas de consultorias, investidores, órgãos do governo federal e estadual, além das próprias cooperativas.
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Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
As cooperativas brasileiras estão cada vez mais precisas e eficientes quando o assunto é agronegócio. E uma das tendências mais fortes do momento é a agricultura de precisão, caracterizada pela tomada de decisões a partir de uma análise detalhada das características do solo, do clima e das culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.
Para o Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as cooperativas agropecuárias têm maiores condições de fazer a ponte entre o desenvolvimento da agricultura digital no Brasil e as pequenas e médias propriedades.
Quando falamos em agricultura de precisão, temos a impressão de que ela vai chegar somente nos grandes produtores rurais. Mas, é importante lembrar que, por meio de um cooperativismo sólido, as pequenas e médias propriedades terão acesso a essa inovação também. As cooperativas têm um papel muito importante. O sistema cooperativo vai ser o grande elo entre a agricultura de precisão e os agricultores familiares”, ressalta Márcio Madalena, médico veterinário e coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.
O Ministério iniciou, em parceria com a OCB, um trabalho de intercâmbio de boas práticas produtivas entre as cooperativas de todo o país. “Sabemos que algumas cooperativas têm utilizado essas ferramentas de tecnologia e o objetivo é que essa tendência de inovação possa se tornar rotina nas cooperativas”, afirmou Madalena.
A cooperação ocorrerá por meio de eventos regionais para trocas de experiências entre cooperativas mais adiantadas no processo de digitalização e outras que apresentam mais dificuldades. A estratégia ainda não teve início plenamente em razão da pandemia, mas a ideia é começar virtualmente e expandir para encontros e visitas entre os cooperados.
“Todas as regiões do país tem experiências interessantes. Identificamos que o Nordeste tem um potencial muito grande e o Norte do país, por conta da sociobiodiversidade, da bioeconomia, já tem alcançado alguns mercados interessantes, e tem um potencial de crescimento muito grande, não só na área de gêneros alimentícios, mas no setor de cosméticos, seguindo todo um arcabouço de responsabilidade social e ambiental, que o cooperativismo carrega na sua essência”, destacou o coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.
FOCO NA PRECISÃO
Uma das cooperativas que oferecem serviços de agricultura de precisão no país é a Castrolanda — cooperativa agroindustrial situada em Castro, Paraná. A assistência técnica especializada na agricultura de base tecnológica é oferecida pela cooperativa desde 2014 e já presta o serviço para 81 cooperados, de um total de 464.
Começamos com o propósito de levar essa oportunidade e esse acesso aos produtores que não tinham a condição de comprar equipamento, máquina para fazer as operações na propriedade. E essa demanda aumentou. Hoje temos uma estrutura bem robusta e oferecemos desde levantamento de dados até corretivo com fertilizantes”, explica o engenheiro agrônomo Rudinei Borgoni, coordenador de Assistência Técnica e Agricultura de Precisão da Castrolanda.
Segundo Borgoni, todos os tipos de produtores têm utilizado os serviços de agricultura de precisão, mas os produtores que apresentam maior demandas têm propriedades com área superior a 300 hectares.
Entre os serviços oferecidos pela cooperativa, está a leitura de condutividade elétrica do solo, para analisar a qualidade do solo e definir as técnicas de manejo. Também é feita coleta de amostras de solo para permitir a aplicação exata de corretivo com taxa variável pelas zonas de manejo, conforme a demanda.
Culturas como soja, milho e trigo estão entre as que mais demandam aplicação de fertilizantes, e o serviço mais utilizado é a aplicação de corretivo no solo, com gesso e calcário.
Temos também a possibilidade de fazer a leitura por NDVI (Índice de Diferença Normalizada de Vegetação, tradução livre) da cultura, para ter essa visibilidade diferenciada sobre o que a cultura está precisando em cada ponto, em termos de aplicação nitrogenada. É a leitura da biomassa que tem no solo e através dos dados a gente consegue ver onde tem maior demanda de nitrogênio ou onde não precisa de nitrogênio”, explicou o agrônomo.
A cooperativa está se preparando para usar novas tecnologias de leitura e interpretação de satélite com o objetivo de começar a oferecer o serviço de recomendação técnica de plantio e semeadura a taxas variáveis, que permitem a aplicação correta de insumo, conforme a característica de cada talhão.
“Todo ano, nossa área de produção vem aumentando. Os produtores e a área técnica veem esse processo como um caminho sem volta. A agricultura de precisão é uma área que deve ter um crescimento bastante grande, em decorrência dos resultados obtidos”, destaca Borgoni.
A base de dados para essa nova etapa está sendo feita pela Fundação ABC, que realiza pesquisas sobre soluções tecnológicas para a agricultura, a pecuária, zootecnia, insumos e outros, para a Castrolanda e outras cooperativas.
A mais nova ferramenta em desenvolvimento na Fundação é a plataforma Sigma, que irá integrar na web todos os dados sobre solos, cultivos, épocas de plantio, tipos de manejo, colheita, produtividade, fatores ambientais, clima e precipitação de todas as cooperativas.
“Essa ferramenta vai nos auxiliar e dar uma segurança muito grande no momento da recomendação técnica e facilitar a vida do produtor, porque ele vai conseguir talhão a talhão fazer a gestão do negócio dele de forma muito assertiva”, completou Borgoni.
Aliado ao trabalho da agricultura de precisão, a cooperativa também tem estimulado os produtores a seguir as boas práticas de produção para conquistar certificações ambientais, como a Certificação RTRS, que assegura a sustentabilidade do processo produtivo, além da saúde e da segurança do trabalhador em campo.
SEGURANÇA ALIMENTAR
O pesquisador da Embrapa Ricardo Inamasu acredita que a revolução digital certamente irá fortalecer o Brasil em sua posição como grande produtor mundial de alimentos e ainda melhorar a imagem do país sobre a qualidade e sustentabilidade dos produtos.
A agricultura de precisão pode favorecer a segurança alimentar mundial, fazendo um sistema mais confiável. É o valor agregado, nesse novo mundo com mais informação. As pessoas tendem até a querer pagar mais por um alimento que promova a sustentabilidade”, destaca Inamasu.
O Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura também aposta que o incremento da tecnologia nos sistemas produtivos levará os produtos brasileiros a outro patamar de qualidade e confiabilidade no mercado internacional.
“Com essa revolução digital, o consumidor tende a exigir um arcabouço de responsabilidades dos setores produtivos. O Brasil tem sentido isso na pele e o cooperativismo carrega na sua essência a responsabilidade social e a ambiental. Então, acreditamos que, dentro dessa questão da inovação e da agricultura 4.0 – já tem gente falando em 5.0 –, o cooperativismo vai ser esse elo forte do avanço tecnológico com pequenos, médios produtores e com a sustentabilidade”, reitera Márcio Madalena, que coordena do Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A vida no campo já não é a mesma. Uma revolução silenciosa tem transformado o modo de produzir alimentos e outros produtos no Brasil. Ciência de dados, inteligência artificial, sistemas robotizados, satélites, tratores inteligentes, tudo isso da porteira para dentro da propriedade rural. E tudo isso com impacto para muito além das fronteiras da fazenda. É o chamado Agro 4.0 — caracterizado pelo uso intensivo de novas tecnologias pelos pequenos, médios e grandes produtores rurais.
No Brasil de 2020, 84% dos produtores rurais usam pelo menos um tipo de tecnologia no campo, segundo pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 556 municípios.
O estudo também revela algumas das motivações dos produtores para o uso das tecnologias. A obtenção de informações para o planejamento das atividades de produção é o principal objetivo de 65% dos produtores entrevistados. Em seguida, estão a gestão da propriedade rural (43% dos agricultores), compra e venda de insumos (40%) e previsão de riscos climáticos, como geadas, granizo, veranico e chuvas intensas (30%).
Desde a preparação do solo até a colheita, tem vários elementos que reduzem o potencial de crescimento das plantas, falta de nutrientes, pragas, enfermidades, falta de água. E a informação pode favorecer o seu crescimento. É aí que a agricultura de precisão – ou Agro 4.0 – vai ajudar o produtor a colocar a semente no local certo”, explica Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação.
A principal característica da agricultura de precisão é a utilização de sistemas sustentáveis de produção e coleta de informações relacionadas às características detalhadas do solo, clima e culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.
“Ao utilizar os insumos de forma precisa, o produtor rural também economiza e pode transferir os custos para o beneficiamento ou outra etapa da produção, ganhando mais rentabilidade e competitividade”, explica o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, um entusiasta do Agro 4.0.
COOPERAÇÃO NO CAMPO
A inovação digital invadiu a agropecuária brasileira, que viu na última década um crescimento exponencial do emprego das novas tecnologias em campo. Ainda de acordo com a pesquisa da Embrapa, os ganhos percebidos pelos produtores são vários, desde aumento da produtividade, maior eficiência da mão de obra até a melhoria da qualidade da produção, redução do impacto ambiental, melhor planejamento, aumento do lucro e das vendas diretas aos consumidores.
Outro dado relevante que a pesquisa traz é sobre o meio pelo qual o produtor teve contato com as tecnologias digitais. A maior parte dos entrevistados teve acesso às soluções tecnológicas por meio de consultoria ou serviços oferecidos por associações, cooperativas, sindicatos e Organizações Não Governamentais (ONGs).
Segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2017), aproximadamente 11% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil estão vinculados a uma cooperativa. Se levar em consideração a área das propriedades, a porcentagem sobe para 20%. Entre os cooperados, quase 64% recebem algum tipo de orientação técnica do cooperativismo, aponta o censo do IBGE.
“A cooperativa traz algo muito favorável para os pequenos produtores. Eles não conseguem investir em grandes máquinas e talvez a cooperativa, por disponibilizar, consiga trabalhar com produtos diferenciados com maior valor agregado. Nesse sentido, eu acho que o produtor cooperado tem uma vantagem tremenda”, comenta Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação.
“A cooperativa tem um potencial enorme para fornecer informação, principalmente para os pequenos produtores, permitindo que eles possam negociar de igual pra igual”, acrescenta o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A C.Vale hoje conta com 526 estrangeiros no seu corpo de funcionários, de diversas nacionalidades - o maior grupo, cerca de 80%, é de haitianos.
Foi a qualificação que garantiu ao tunisiano Yousseff Arendt Ben Nessib uma vaga na área de comércio exterior da C.Vale, cooperativa agroindustrial com sede no Paraná. Há 7 anos no Brasil, Youssef fala seis idiomas e trabalha justamente com mercados do Oriente Médio e África.
O grande diferencial dos imigrantes para a empresa é a cultura. Eu cuido do mercado do Oriente Médio, que é de onde eu venho. Então eu sou mais familiarizado com o jeito de pensar das pessoas, os tipos de negociação, como tem que conversar com o cliente”, explica.
Foi a paixão por uma brasileira - hoje mãe dos seus filhos nascidos aqui - que o trouxe para o Brasil e o fez conhecer o modelo do cooperativismo. “Meu sogro é associado à Coamo, que é uma cooperativa de agricultores, e por meio dele eu entendi como funciona o modelo que eu acho que é bem eficiente, um trabalho em equipe e um sucesso no Brasil”, acredita.
A C.Vale hoje conta com 526 estrangeiros no seu corpo de funcionários, de diversas nacionalidades - o maior grupo, cerca de 80%, é de haitianos. O terremoto de 2010, que atingiu diversas localidades do país e matou mais de 200 mil, fez com que diversas pessoas deixassem o país e viessem ao Brasil em busca de novas oportunidades.
Essa abertura começou a partir de uma necessidade de mão-de-obra. Tínhamos uma carência grande e isso foi se consolidando com a chegada dos haitianos. Nós nos estruturamos para lidar com esse público e nos organizamos para oferecer treinamentos. O número de imigrantes tem crescido em razão do sucesso do programa. Hoje acolhemos sem nenhum receio sabendo que são uma força de trabalho promissora, eles têm um bom potencial e acabam se adaptando”, conta Neivaldo Burin, gerente do Abatedouro de Aves da C.Vale.
A maioria dos funcionários imigrantes e refugiados da C.Vale trabalha em atividades operacionais e passam por treinamento para conhecer as normas e boas práticas de higiene, segurança alimentar e do trabalho. “O abate é uma atividade muito procedimental, existia no início o receio, mas a prática foi mostrando que sim, eles se adaptam”, diz Burin.
COOPERAÇÃO
Ainda não há um levantamento da participação dos imigrantes estrangeiros nas cooperativas brasileiras, apesar dos relatos de várias partes do país do aumento dessas contratações. Professora do programa de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas da Pontifícia Universidade do Paraná (PUC-PR), Leila Dissenha estuda o tema para entender as potencialidades dessa parceria.
Nós temos o princípio do interesse pela comunidade e o da educação, então essa atitude de acolhimento se coaduna perfeitamente com as bases do cooperativismo”, afirma.
Há um projeto de iniciação científica em andamento na instituição para fazer uma radiografia da presença de imigrantes e refugiados nas cooperativas brasileiras. “É preciso aprimorar esse trabalho de intermediação porque muitos refugiados que chegam ao Brasil já têm uma formação que interessa às cooperativas: são veterinários, agrônomos, técnicos em segurança do trabalho. A cooperativa já faz seu papel econômico tão brilhantemente, ela também pode fazer esse papel social que é tão relevante”, acredita.
IDIOMA
Para os que chegam ao Brasil, o idioma ainda é um obstáculo. Na C.Vale, os os principais documentos, normativos e materiais de treinamento foram traduzidos para as diversas línguas. E os funcionários estrangeiros mais antigos, com o tempo, tornam-se uma espécie de “monitores” para auxiliar a adaptação dos novatos.
Para Burin, o investimento compensa pela entrega desses funcionários à cooperativa. “A maior parte deles está na área de produção, desde o abate até embalagem dos produtos. Mas já temos casos em que o funcionário foi evoluindo e crescendo na empresa, chegando às áreas administrativas”, conta.
Um desses destaques é Jackenson Forestal, um dos 462 haitianos empregados na cooperativa. Ele chegou no país há cinco anos - veio juntar-se a um primo que já morava no Paraná, em busca de crescimento profissional. Começou na C.Vale há dois anos em atividades operacionais e hoje trabalha na área de recursos humanos da empresa. Auxilia, principalmente, a contratação de outros trabalhadores imigrantes, mas também desempenha outras atividades de atendimento ao público.
Os primeiros anos no Brasil foram difíceis e Jackenson se dedicou aos estudos enquanto não conseguia emprego. “Na C.Vale, eu entrei na filetagem do peixe e na época eles precisavam de alguém para ajudar os estrangeiros que só falavam francês. Depois de algum tempo, eu fiz uma seleção e fui contratado para a área de recursos humanos”, lembra.
Casado e com uma filha brasileira, ele terminou o ensino médio no Brasil e sonha em cursar o ensino superior em tecnologia da informação - e quem sabe trabalhar nesta área dentro da própria cooperativa. “Foi uma grande oportunidade para mim, na minha área eu sou o único estrangeiro. No início eu achei que não fosse dar conta do trabalho, que não fossem me aceitar por eu ser negro e imigrante. Mas depois de um mês de trabalho, minha encarregada disse que eu entregava mais do que ela esperava. Eu vou seguir em frente e chegar no lugar onde eu quero”, sonha.
Depois de alguns meses no Brasil, Yadira conseguiu trazer o marido, que tinha ficado na Venezuela por problemas de saúde. Espera que ele também possa conseguir um emprego e se diz muito feliz com a nova vida, em especial com o trabalho.
Sou muito grata à cooperativa pela oportunidade e pela forma como tratam os estrangeiros. A cooperativa é uma empresa maravilhosa e tenho muito orgulho de trabalhar lá porque sei que é uma empresa pujante. Estou feliz em colaborar e colocar meu grãozinho de areia para que a empresa siga adiante e eu também ajude o Brasil a se desenvolver”, diz emocionada.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Apesar do fluxo recente de imigrantes, a história deles com o cooperativismo é antiga. Um dos exemplos foi a criação da Cooperativa Agrária, em Guarapuava, no Paraná. Em 1951, ela nasceu com o objetivo de apoiar cerca de 500 famílias de Suábios do Danúbio, que chegaram ao Brasil na década de 1940 em razão dos conflitos da Segunda Guerra Mundial.
Essa população origina-se na região que hoje é o Sul da Alemanha e tinha a agricultura como principal atividade. A partir do século 18, colonizaram o sudeste europeu e, com a guerra, passaram a viver em abrigos para refugiados na Áustria. Com o apoio de uma instituição humanitária, vieram para o Brasil e a comunidade criou a Cooperativa Agrária. Hoje, as principais culturas produzidas pelos cooperados são soja, milho, trigo e cevada. São 630 cooperados, 1.450 empregados e R$3,5 bilhões em faturamento.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação