Notícias saber cooperar

 

Comunicação 4.0

Podemos começar esse texto assumindo uma premissa: é bastante provável que a sua leitura seja interrompida por uma mensagem, um e-mail, um alerta vindo de algum dispositivo, provavelmente, conectado à internet. No mundo atual, estamos em constante disputa por atenção. Em um contexto marcado pelo grande volume de informações, no qual smartphones, computadores e tablets entregam mensagens de forma praticamente instantânea – e, muitas vezes, caótica —, os desafios de comunicar são ainda maiores. 

“A presença da tecnologia digital já é tão ampla e onipresente que, na maior parte do tempo, nem percebemos essa presença. Percebemos a existência da internet apenas quando ela falha, pois ela está a todo o tempo nos conectando”, explicou Mario Rosa. diretor da Associação Brasileira de Empresas de Design (Abedesign).

Em tempos de hiperconectividade e baixa atenção, Rosa se considera um “designer de futuros desejáveis”, focado no desenvolvimento de planejamentos de comunicação “pós-digital”.

 “Usar ferramentas digitais, como sites, Instagram ou Twitter, não é mais suficiente. É preciso pensar e ter uma alma digital. E, para nós, que trabalhamos com comunicação, é super importante estarmos conectados, presentes e atualizados em relação ao que está acontecendo”.

Ser relevante em um contexto de efemeridade exige novos saberes.Como as pessoas consomem informações de forma cada vez mais caótica, um planejamento linear não funciona mais.

 “Para uma comunicação gerar engajamento, é preciso pensar muito além do tema e da chamada criativa. É preciso trazer entretenimento, ludicidade, interatividade, possibilidades de co-participação”, explica. 

A única maneira de fazer isso é entendendo e conhecendo o público a que se destina essa comunicação. “Essas pessoas, o público, também se tornaram veículos de informação com grande potencial de viralização. Ou seja, para inovar na comunicação, não basta só criar mensagem. É preciso, também, criar o meio”, argumentou. 

Segundo Rosa, o comunicador 4.0 auxilia nessas reformulações, pois o desenvolvimento de projetos na área implica em pensar problemas e soluções de forma sistêmica, mas sempre centrado no indivíduo

Ainda de acordo com o especialista, as cooperativas estariam em vantagem no cenário traçado por ele. Isso porque já são consideradas comunidades relevantes de troca e aprendizado. Ou seja, são potenciais meios de intensificar uma mensagem.

“O marketing do futuro passa por gestão de comunidades, as cooperativas já são comunidades atuantes que interagem com valor e propósito. A provocação que deixo é: como usar a potência da rede para criar modelos de comunicação muito mais relevantes, inovadores, atuais e conectados com a própria forma de interagir das cooperativas”, finalizou. 

Carimbado pelo cooperativismo

Para a gerente de Comunicação do Sistema OCB, Samara Araújo, as cooperativas se tornam ainda mais relevantes ao reforçar o próprio caráter cooperativo nos processos de comunicação. Essa estratégia pode ir do nome adotado comercialmente pela instituição ao discurso utilizado em peças de comunicação. E passa ainda por iniciativas integradas, como a utilização de símbolos para identificar o modelo de negócios. O movimento SomosCoop, exemplifica Daniela, conta com um carimbo que pode ser incluído na embalagem de produtos, em publicações e outros materiais.

“O carimbo indica que o produto integra uma cooperativa e isso começa a trazer para as pessoas a possibilidade de fazer escolhas conscientes. Nesse momento, as pessoas querem muito mais do que um produto, elas querem saber a história desse produto. Eu fico satisfeita, porque temos muita história pra contar. Então, as cooperativas precisam trabalhar com suas próprias histórias, a narrativa do cooperativismo”, defendeu.

Uma boa maneira de fazer isso é destacando — sempre que tiver oportunidade — que o cooperativismo é mais que um modelo de negócios, é uma filosofia de vida que busca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos. Um caminho que mostra ser possível unir desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, produtividade e sustentabilidade. E esses são valores buscados também pelos consumidores conscientes.

“O cooperativismo precisa contar histórias em sua comunicação. Histórias de pessoas que mudaram ao se associar a uma cooperativa. São essas narrativas que irão humanizar o nosso modelo de negócios e conquistar a sociedade”, acrescenta Samara. 

A gerente de Comunicação do Sistema OCB alerta que o digital permite às cooperativas chegarem no público mais facilmente. No entanto, para que essa comunicação seja efetiva, é necessária uma “informação clara, concisa e engajada”. “As nossas mensagens precisam ser mais assertivas quando falamos de cooperativismo, porque ainda existe confusão. E para começar, é importante ter em mente que é legal ser de uma cooperativa. Então, tudo começa por dizer que sim, somos uma cooperativa”.

Desafios da comunicação cooperativista

Autor do e-book Cooperativas e Branding, o consultor de branding e comunicação corporativa Levi Carneiro aponta que as cooperativas falam pouco de si mesmas. “E, quando falam, quase sempre se voltam para dentro da própria comunidade cooperativista.”

Carneiro defende a comunicação em si como um ato de cooperação e troca. Nesse sentido, para ele, comunicar uma marca de cooperativa é educar mais gente para a colaboração. Na avaliação dele, o branding poderia ser utilizado para destacar e fortalecer pontos de relevância do cooperativismo no contexto atual. 

“A boa gestão de marca pode fortalecer demais as cooperativas, suas conexões com os públicos e seu poder de transformação positiva. Tendo a era da cooperação como pano de fundo, as cooperativas devem destacar esse propósito fundante como valor: nascem para ser coletivas e não individuais, para distribuir e não concentrar, para incluir e não desconsiderar”, escreve o consultor.

Ainda segundo Carneiro, o novo ambiente tecnológico reforça ainda mais esse direcionamento, uma vez que “agudiza” a crise dos modelos de negócio vigentes e, na outra ponta, disponibiliza inovações, plataformas e suportes que facilitam as ideias e práticas compartilhadas. 

“Reforçar o movimento cooperativo e suas marcas é trabalhar para superar a crise atual de valores. Muito mais pode ser feito e o ambiente digital não só cria oportunidade, mas propicia o aprofundamento desse movimento, uma vez que disponibiliza múltiplos recursos para que as cooperativas expandam suas plataformas e suas redes de interação, passando a se relacionar com novos públicos e educar jovens e novos segmentos interessados na cooperação”, afirma, no e-book Cooperativas e Branding.

=====================================================================================

Entenda a comunicação 4.0

A Comunicação 4.0 é apontada pela pesquisadora Juliana de Rezende Penhaki como uma resposta à uma nova revolução industrial, chamada de Indústria 4.0. Esse novo momento histórico prevê a integração entre humanos e máquinas, mesmo que em posições geográficas distantes, formando grandes redes e fornecendo produtos e serviços de forma autônoma. Nesse novo contexto de hiperconectividade, a comunicação deve ser precisa e concisa, aprimorada tanto na forma oral, quanto na escrita e na escuta. “Isso porque ela, a comunicação, passa a acontecer entre homem-homem, homem-máquina, máquina-máquina, sendo extremamente necessária apresentar-se assertiva. Destaca-se também a comunicação interpessoal que consiste em estabelecer contatos com as pessoas, entendê-las e ter habilidades de auto-apresentação”, defende. 

Ainda segundo Juliana, é interessante pensar nessa Comunicação 4.0 como uma soft skill (competência comportamental), ou seja, uma habilidade que implica em questões sociais e interpessoais, e não apenas técnicas e cognitivas – que teriam lugar nas hard skills (competências técnicas)

Engajamento e inovação na pauta

O InovaCoop oferece um guia prático sobre comunicação e engajamento, com sugestões para as cooperativas serem protagonistas no ambiente digital, sem sobrecarregar o público. O guia aponta que, caso a organização se torne apenas mais uma em disputa de atenção, estará contribuindo para o excesso de informação. Com um conteúdo focado em inovação, engajamento e relevância, a publicação indica alguns caminhos para o comunicador. Entre eles, ser mais direto, atraente, simples e útil.

O conteúdo do guia foi oferecido aos participantes da Semana InovaCoop pela Gerente de Comunicação Sistema OCB. Ela destaca que, em um contexto de excesso de informação, cria-se um problema: a pobreza de atenção. E, com ela, a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de informação.

“Algumas ferramentas podem ajudar no mapeamento de interesses, interpretação de dados e consumo de conteúdos etc. A análise dos dados é importante para definir estratégias a serem usadas para conseguir inovar e ter bons resultados na comunicação. Entendendo melhor seu público fica mais fácil escolher algumas possibilidades de atuação”, sugere Samara.

De acordo com o guia prático de comunicação e engajamento do InovaCoop, existem seis possibilidades de atuação inovadora para comunicação cooperativista:

Curadoria de conteúdo

Pesquisa, organização e contextualização das informações disponíveis em diferentes fontes. Se a sua marca tem uma identidade forte e boa reputação, seu público-alvo vai confiar e considerar relevante o seu filtro de conteúdo. Em um contexto de sobrecarga de informação, o público valoriza o que realmente é relevante para ele, selecionando e contextualizando informações.

Storytelling 

Se a atenção é escassa, por que não fisgar o público-alvo utilizando técnicas narrativas para contar uma história envolvente? Storytelling é a arte de contar, desenvolver e adaptar histórias. Ele se utiliza de elementos narrativos como personagem, ambiente, conflito e uma mensagem para contar eventos com começo, meio e fim. A ideia é transmitir uma mensagem de forma inesquecível ao conectar-se com o leitor no nível emocional. 

Gamificação 

Utilizar técnicas de design e mecânica de jogos é outro caminho para engajar seu público-alvo e se comunicar com ele. Essa técnica aproveita a predisposição psicológica humana de se engajar em jogos para diferentes objetivos: tornar a tecnologia mais atraente, educar e comunicar, estimular usuários a se engajarem em determinados comportamentos, entre outros. 

Microlearning 

Essa técnica propõe um formato de ensino curto, direto e disponível em qualquer lugar. Apesar de ser bastante difundida na educação corporativa, outras áreas como marketing digital e comunicação se inspiram no microlearning para entregar conteúdo de forma objetiva e fracionada.

Experimentação e engajamento 

A experimentação não é uma ferramenta, mas um conceito que deve permear o trabalho de comunicação e engajamento com seu público. Como fazer isso? Testando formatos, mensagens e, então, analisando os dados. Isso permitirá que você entenda melhor seu público-alvo. O melhor jeito de não errar é “sair da bolha” e conhecer, de fato, seu público, interagindo com ele, experimentando e analisando os resultados dessas interações.

Relevância 

As cooperativas, como sabemos, têm um forte compromisso social e com a comunidade em que estão inseridas. Busque a relevância por meio de uma comunicação com foco em resolver os problemas dos cooperados e da comunidade, com concisão, e que ajudem a diminuir ruídos e a sobrecarga informativa. É igualmente importante saber onde, como e com quem falar. Seu público não é uniforme. 

Fonte: Guia Prático: comunicação e engajamento (InovaCoop)


Esta matéria foi escrita por Larissa Leite e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Quando prever o futuro é uma ciência

Você não precisa mais confiar apenas na sua intuição ou em dados na hora de tomar decisões. E se eu lhe disser que existe um profissional especializado em prever tendências de futuro para o seu negócio? O nome dele é futurista, uma pessoa capaz de identificar com anos de antecedência quais serão os produtos, tecnologias e comportamentos que irão moldar as nossas vidas em uma ou duas décadas.

Investigar o futuro e trazê-lo para o tempo presente é principal desafio proposto por futuristas para que lideranças e profissionais sejam mais assertivos na tomada de decisão e na geração de impacto para os negócios e a sociedade.

Momentos de grande ruptura — como a pandemia de Covid-19 ou o atentado ao World Trade Center (11/09/2021) — são propulsores de movimentos futuristas, pois antecipam planos e nos colocam mais perto do que já estaria por vir. Esse, aliás, foi o tema central da palestra de encerramento da Semana InovaCoop, promovida pelo Sistema OCB, com o investigador de futuros, Thiago Mattos, professor na Singularity University, nos Estados Unidos, cofundador da Aerolito — laboratório de construção de futuros — e autor do livro “Vai Lá e Faz".

INVESTIGADOR DE FUTUROS

Em um mundo cada vez mais digitalizado e com um volume imenso de informações circulando, as relações pessoais, de trabalho e com o meio ambiente passam por transformações rápidas e geram novas necessidades que demandam novas soluções.

E não há apenas um caminho para alcançar as soluções. O especialista observa que diante de tantas possibilidades há uma pluralidade de futuros, que coexistem e podem ser desvendados de diversas formas e motivar diferentes iniciativas em sua direção. “Futuro no singular fica muito determinista, no plural dá mais ideia de liberdade e diversidade”, disse.

E para não perder as várias possibilidades do porvir, o investigador de futuros Thiago Mattos sugere conhecer quatro forças que têm dominado o mundo, são elas: a digitalização, a automação, a personalização e a distribuição. Todas relacionadas ao avanço da tecnologia e no seu potencial de facilitar a vida das pessoas e gerar oportunidades.

“A primeira dica é entender as quatro forças do digital. Tudo o que puder ser digitalizado, automatizado, personalizado e distribuído, será.  De tudo o que eu investigo, essas são as quatro forças dominantes da internet que qualquer modelo de negócio, qualquer liderança, qualquer profissional tem que conhecer e adequar seu business. Se não adequar, a onda vem e é importante estar atento a ela”, sugere Mattos.

CARROS INVISÍVEIS?

Esse exercício de se transportar para o futuro permite o contato com uma realidade impactada por inovações disruptivas, que tem levado alguns setores da economia a transformações antes inimagináveis. Todo esse movimento é impulsionado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, o avanço da pesquisa científica e pela mudança na forma de consumo e nas interações sociais.

Um mundo cheio de robôs, carros invisíveis, comida que pode ser impressa, turismo no espaço, novos meios de pagamento, moda e bebida sendo produzida em casa e tantos outros setores que estão descentralizando os processos e tornando a produção cada vez mais on demand.

“As empresas estão percebendo que a produção pode ser feita na casa das pessoas (...). A lógica centralizada da produção industrial será questionada cada vez mais, dia a dia”, comentou o palestrante.

DO FUTURO PARA TRÁS

Aproveitar a relação entre passado, presente e futuro não é novo no mundo dos negócios, mas o sentido dessa relação é que tem mudado, trazendo o futuro para o início da linha do tempo. Segundo o palestrante, a inversão permite romper com estruturas arcaicas do presente que podem atrapalhar os processos de planejamento e de tomada de decisão.

“Precisamos liderar a partir de visões. Não façam planejamento estratégico. Planejamento estratégico da forma como a gente conhece extrapola o presente para o futuro. Faça uma gestão do futuro para o presente. A administração clássica nos ensina a planejar do presente para o futuro, ou seja, imaginando que o futuro vai ser uma versão um pouquinho diferente do presente, e esse é o grande perigo. É uma visão incremental de como será o futuro, mas ela não funciona mais, principalmente no mundo pós-pandemia”, explica Mattos.

O palestrante ressaltou ainda que a visão futurista vai além de pensar em tendências, mas envolve o processo de desaprender o que já não serve mais e reaprender uma nova forma de planejar e gerir os negócios. “Quanto mais o mundo muda e quanto mais se torna mais rápido, é importante que você crie visões, entenda como vai ser o futuro, enxergue o futuro, dê uns passos para trás e  entenda o que é necessário para que isso seja feito”, completa.

É possível criar futuros

Lala Deheinzelin, futurista desde 1995, também reforça que a prática de olhar para o futuro não consiste em pensar em tendências e em reagir de forma previsível aos atos do presente. Mas, sim, passa por estudar “as forças” que estão moldando os futuros e fazer as melhores escolhas em função delas, criando novos caminhos.

"Um dos principais futuristas, Peter Drucker, diz que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Na verdade, é a única maneira. E o futurista Buckminster Fuller diz que a melhor maneira de lutar contra um paradigma não é atacando, mas criando um novo e tornando o antigo obsoleto. Então, as coisas que são necessárias mudar, a gente não reage lutando contra elas, mas a gente cria novas”, disse a futurista.

Inspirada nessas premissas, Lala iniciou, em 2008, o movimento chamado “Crie Futuros”, que visa dar elementos e subsídios para pensar futuros desejáveis e possíveis. Por meio de oficinas de criação de futuros, o movimento já alcançou vários países e recebeu menção e prêmios em importantes eventos internacionais.

O método de trabalho utilizado por Lala é chamado fluxonomia, uma combinação de futuro e novas economias, com o objetivo de capacitar lideranças no processo de enxergar e criar coletivamente o futuro.

“Nesse momento de transição não é possível solucionar através de inovação incremental, que são ajustes que dão um jeitinho. Uma transição grande como a nossa exige solução disruptiva, que é realmente criar novas formas. Velhas maneiras de fazer não solucionarão novos problemas. Isso Einstein já dizia”, provocou a futurista.

Lala reforça que é impossível prever o futuro, por isso é necessário criá-lo, verificando o que as partes e o coletivo necessitam e como atender a essas necessidades. Ela ressalta ainda que é importante que o gestor saiba se desafiar e entender que fazer mais do mesmo não vai levar a outro lugar. 

“Os gestores precisam estar preparados e aprender a ler essas forças que estão moldando o futuro e que não são tendências, porque às vezes elas vão até contra a tendência. Por exemplo, o mundo está construído na base da competição, mas isso é uma característica dos séculos 19, 20, que não faz sentido no século 21. Então, pensar em colaboração é contra a tendência, mas é o que é necessário. Então, é preciso trabalhar, antes de mais nada, a mudança de mentalidade, a consciência, a cultura”, declarou.

FORMANDO LÍDERES DE VISÃO

Traçar uma jornada de visão, baseada em conceitos “fora da caixa” e de padrões consagrados de planejamento, exige conhecimento e constante atualização sobre inovações do mercado. Trazer o futuro para o presente demanda mudança de mentalidade e tem desafiado o mundo acadêmico a moldar a formação de líderes e gestores aos conceitos futuristas e de inovação.

Uma das escolas mais bem avaliadas no mundo dos negócios, a Fundação Instituto de Administração - FIA Business School criou, em 1980, o Programa de Estudos do Futuro, chamado Profuturo. Nos cursos ofertados pelo programa, a perspectiva futurista tangencia as discussões e os projetos em diversas disciplinas, com o objetivo de estimular entidades públicas e privadas a desenvolver estratégias de prospecção de futuro.

Segundo o coordenador de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do programa, Daniel Estima, a introdução do futuro na literatura acadêmica remonta à década de 1960, no contexto da Guerra Fria, com estudos americanos e viés militar. 

Ao longo do tempo, as universidades avançaram com estudos setoriais, de maior impacto, e nos últimos 20 anos cresceu o interesse das empresas em usar métodos para aplicar estudos do futuro em projetos de inovação e de impactos, principalmente de tecnologias que ainda não existem.

“As decisões estratégicas têm que estar muito mais próximas do dia a dia da empresa, dos líderes, das diretorias. E o pensamento de futuro também tem que ser mais constante, é preciso criar uma cultura de pensar o futuro para alicerçar os passos da empresa. Virá alguma revolução, alguma solução ou novidade tecnológica que pode tirar valor da empresa e te deixar no meio do caminho”, disse Daniel Estima, que também atua em projetos de consultoria para organizações públicas e privadas.

PROSPECÇÃO CORPORATIVA

A pandemia mostrou que não dá para ficar na zona de conforto e elevou os estudos do futuro a outro patamar. “Entender o futuro é importante. Inclusive, a Unesco elegeu a questão do futuro como uma das competências para o século 21 que deve ser discutida na escola desde cedo. Fala-se muito de inteligência emocional, programação, ferramentas que devem ser dominadas pelos profissionais, mas também essa capacidade de olhar para o futuro já é importante e será cada vez mais”, reforça o professor Daniel Estima.

Contudo, o especialista alerta para os modismos e para o risco em tratar cenários e o futuro de maneira superficial, sem de fato promover impacto na tomada de decisão e na geração de ideias e ações inovadoras na empresa.

“Essa conexão corporate foresight, que é a prospecção corporativa, está olhando as ações estratégicas dentro da corporação, para fomentar essa cultura, pensamento conectado direto nas avaliações e decisões da empresa. Acho que deveria ser algo para ficar. É criar visões de futuro e conduzir a empresa para esse futuro desejável, sabendo que não é um caminho linear, tem pedras no caminho para desviar”, explica.

A futurista Lala, que também atua com formação de lideranças, reitera que é imprescindível que as empresas trabalhem com estudos de futuro, principalmente aqueles que extrapolam a ideia de projeções e cenários, mas que promovem a criação do que é necessário para chegar ao futuro desejável da empresa e também da sociedade como um todo. “Nos círculos futuristas, falamos em analfabetismo em futuro. Não é mais possível ser analfabeto em futuro”, exorta Lala.

COOPERATIVISMO É O FUTURO

Na perspectiva da futurista Lala, considerando o passado e as dinâmicas das outras transições que a humanidade passou, os próximos anos serão moldados pela colaboração. A especialista destaca que a humanidade está vivendo a maior transição da história e, principalmente depois da revolução digital, a sociedade tem a possibilidade de operar de forma desmaterializada, por meio de uma rede não material, que está fora do tempo e do espaço, em uma dinâmica exponencial. 

“A principal força moldando o futuro nesse momento é a necessidade de convergir, de fazer junto, colaborar. Quando olhamos o futuro desejável, o que é bom para todo mundo é o que traz um equilíbrio e atende a indivíduos, empresas e a países, atende ao todo da sociedade, ao planeta. Aí sabemos o que não é uma moda e o que não é uma tendência”, comenta Lala.

A futurista lembra que, depois da crise de 2008, surgiram gigantes da tecnologia que foram capazes de convergir dados, mercados e, que após esta crise de 2020, veremos convergir os gigantes da colaboração. Nesse contexto, Lala aposta no potencial do cooperativismo para a criação de futuros desejáveis e soluções inovadoras que possam de fato fazer frente aos problemas impostos pela atualidade.

“O mundo tem desafios, velocidade, informação, complexidade exponencial. Mas nós, o tempo e o planeta não somos exponenciais, somos lineares, então, fica difícil uma capacidade linear responder a desafios exponenciais. A solução está em colaboração. O cooperativismo é o futuro, porque fazer juntos é a única maneira de fazer frente e dar responsa ao mundo exponencial”, declarou Lala.

O professor Daniel Estima de Carvalho  também vê no cooperativismo a oportunidade de aprendizagem de algo estratégico, por meio do intercâmbio de ideias entre os cooperados, colaboradores e os tomadores de decisão. O especialista chama a atenção para a capacidade que a rede formada pela colaboração tem para transformar ameaças em oportunidades.

“Os cooperados são partes importantíssimas para fornecer informação, conhecimento e também oportunidades. Usar essa rede de cooperados para troca de informações disparadas no mercado e transformar isso num sistema de mapeamento e de análise de riscos e oportunidades e, nesse sentido, deixar as coisas mais mapeadas e ágeis. Todo mundo só tem a ganhar nessa rede”, destaca o professor.

=====================================================================================

Dicas para construir um futuro melhor para sua cooperativa

Pensar no futuro sem cair na trama da ansiedade e sem perder conexão com o presente ou apostar em tendências vazias requer conhecimento, mas também disciplina e disposição para lidar com o incerto de forma otimista e propositiva. Para ajudar a sua cooperativa a caminhar nesse sentido, aqui vão algumas dicas:

1 - Adote novos hábitos no dia a dia, tanto na vida pessoal, quanto profissional. A principal coisa é conseguir sair do medo, o medo é a única coisa que deveríamos temer, porque ele nos paralisa. Como sair do medo? Primeiro, diminuindo, ou até quase eliminando, o acesso à informação que só nos coloca no modo reativo. Pare de se alimentar de problema e se alimente de solução. O mundo está enfrentando grandes transformações, sim, mas vivemos num momento de maior abundância da história da humanidade. Nunca vimos na história tantas ferramentas, tanto recurso, tanta inteligência, mas não sabemos o que fazer com isso, porque pensamos com a cabeça do passado. Nós temos tudo o necessário para construir um mundo desejável e possível.

2 - Treine o seu olhar  para reconhecer a imensidão de soluções inovadoras que já estão sendo desenvolvidas em diferentes setores. Nutra-se de informações sobre possibilidades e faça as perguntas principais dos estudos de futuro: se tudo fosse possível, como eu gostaria que as coisas fossem? Essas coisas são só boas pra mim ou para todo mundo? E depois, perguntar, por que não? O que impede a gente de colocar isso em prática?

3 -  Dedique-se a tudo que tem relação com a cooperação, com o fazer junto, e, por fim, prestar atenção nas novas economias: Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multimoedas.

4 - Outro fator de sucesso de um time é desenvolver na organização um ambiente de respeito, empatia e segurança psicológica, que não gere reações de medo para expressar novas ideias ou compartilhar dúvidas, erros e preocupações. E, claro, ter um propósito claro delineando o caminho até o futuro, ou melhor, do futuro até o presente, também é essencial para que um plano seja bem-sucedido e deixe um legado. E para fazer tudo isso, só temos o hoje.

Afinal, como disse o futurista americano, Thomas Frey, no livro Communicating with the future, “o jeito que você imagina o futuro muda suas ações no tempo presente. Portanto, não é apenas o presente que constrói o futuro, o futuro também constrói o presente”. 

=====================================================================================

APRENDIZAGENS

Para quem deseja se aprofundar sobre o assunto, vale a pena conhecer o curso “Pesquisador de Tendências”, disponível gratuitamente no InovaCoop.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Conheça as cooperativas de plataforma brasileiras

Duas iniciativas brasileiras já são consideradas referências internacionais em cooperativismo de plataforma. Uma delas é a Cooperativa de Plataforma Ciclos, criada em 2018, em Vitória, no Espírito Santo, a partir de uma iniciativa do Sicoob Central do estado. 

A Ciclos oferece a seus cooperados planos mais baratos de telefonia móvel e internet.  Resultado? Em um ano de efetiva operação, essa coop inovadora conquistou cerca de 14,5 mil associados e já faz planos de expansão. Em breve, ela também disponibilizará pacotes de planos de saúde e energia limpa. 

Hoje nosso principal desafio está relacionado à expansão em nível estadual e nacional da Ciclos. Temos três verticais de atuação e muitas possibilidades, pois estas áreas não se limitam a apenas uma solução para nosso quadro de associados”, destaca Gustavo Bernardes, coordenador da cooperativa que pretende alcançar 20 mil cooperados ainda este ano.

“Se conseguirmos estabelecer, dentro de nossas áreas de atuação, soluções simples, de fácil acesso e que gerem valor ao nosso quadro de associados, arriscaria dizer que estamos inovando, se considerarmos a finalidade na qual fomos constituídos.”

Inovar também faz parte do vocabulário da Coopertáxi de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Com mais de 40 anos de existência, a cooperativa colhe hoje os frutos do enfrentamento à concorrência com as grandes plataformas de transporte. Além de operar pelo telefone e Whatsapp, a cooperativa criou uma plataforma própria para receber chamados.

Arregaçamos as mangas e começamos a usar as mesmas estratégias deles, inclusive dando 30% de desconto na corrida para o preço ficar equivalente”, conta Clauber Marcos Borges, presidente da Coopertáxi de BH. 

A cooperativa também passou a oferecer cursos e palestras para atualizar os motoristas cooperados e garantir uma melhor qualidade de serviço. Outra estratégia foi o convênio com mais de 400 empresas. “Com a elevação no preço da gasolina, muitos motoristas deixaram o aplicativo e o nosso movimento cresceu 50%. Isso tudo já se reflete no aumento de cooperados. O valor da cota passou de R$ 5 mil para R$ 15 mil.”

Crédito: Coopertáxi

As cooperativas de plataforma da área de transporte usam como atrativo para os cooperados o menor percentual de taxa administrativa. Cerca de 15% do rendimento dos motoristas cooperados ficam na cooperativa, enquanto as grandes plataformas multinacionais abocanham 25% a 30%. 

Além disso, a taxa cobrada pela cooperativa tem a vantagem de se reverter em recursos para o desenvolvimento da economia local, permitindo a geração de renda e empregos na própria cidade. Esse é um dos motes da campanha publicitária da Podd (Pay On Demand), do Espírito Santo. O slogan da cooperativa é “Seja Capixaba, Seja Podd”. Além do aplicativo para chamados, os cooperados contam com seguro veicular, seguro saúde, convênio com plano de saúde, cartão digital, plano telefônico e dados, seguro de vida, aquisição de veículos facilitada e descontos em mais de 120 mil estabelecimentos. Benefícios aos quais os motoristas de aplicativos comerciais jamais teriam acesso.

MULHERES NA LIDERANÇA

O Brasil é um país com enorme potencial para o cooperativismo de plataforma. E por tratar do futuro das relações de trabalho, é fundamental que o assunto seja mais debatido pela sociedade.

Como vamos construir relações que não sejam só de exploração no seu limite mais precário e desumano? Construir um outro modelo é algo complexo, precisa de financiamento, demanda muito debate, mas precisamos pensar que é possível”, propõe Georgia Nicolau, co-fundadora e diretora do Instituto Procomum — organização não governamental criada para promover a um mundo comum entre diferentes.

Consultora em projetos de inovação social, Georgia foi aluna do criador do conceito do do cooperativismo de plataforma, o escritor Trebor Scholz. Parte dessa experiência ela aplica agora no projeto Grana.Lab. Trata-se de uma parceria com a rede alemã Supermarkt que vai permitir a realização de uma série de encontros virtuais sobre justiça econômica e novos modelos como cooperativas, criptomoedas, economias feministas e economia do comum.

Entre as experiências compartilhadas no Grana.Lab está a Señoritas Courier, um coletivo de mulheres e pessoas LGBTQIAP+ que fazem entregas de bicicleta por toda a cidade de São Paulo. O lema do coletivo é o trabalho com carinho e responsabilidade. 

Integrante e fundadora do coletivo, Aline Os explica que uma das estratégias do Señoritas Courier é usar como valor agregado o impacto ambiental positivo que esse serviço, carbono zero, traz para uma das maiores cidades da América Latina. 

Como trabalhamos somente com bicicletas, nossas entregas não liberam gases do efeito estufa na atmosfera. Nosso desafio atual consiste em desenvolver uma cooperativa de plataforma para coletivos de entregadores, além de olhar para a inclusão digital das pessoas que fazem entrega (a maioria não tem computador), pois acreditamos que esta é a única forma de combater os abusos de aplicativos comerciais”, destaca Aline. 

Ainda segundo a fundadora da Señoritas Courier, são necessários subsídios do governo e redução da taxa tributária para que os coletivos de ciclo entregas se organizem enquanto cooperativas de plataformas no Brasil.

Señoritas Courier/ Reprodução

No sul do país, mulheres da Puma Entregas, em Porto Alegre, vivenciam dificuldades bem semelhantes às experimentadas pelas entregadoras da Señoritas Courier. O coletivo gaúcho surgiu em plena pandemia, por iniciativa de um grupo de mulheres que já tinham passado por aplicativos de entrega. Uma vez cadastradas e nas ruas, elas comprovaram que muitos desses sistemas restringem a demanda para mulheres entregadoras. Daí a ideia de criar a Puma, que atende prioritariamente novos empreendedores, especialmente aqueles que aproveitaram o isolamento social para oferecer produtos personalizados, como cestas de café da manhã e cosméticos artesanais. Como a maior parte deles tem como foco clientes que moram em um raio de distância próximo, fica mais fácil realizar a entrega dos produtos usando a bicicleta. 

Criadora e integrante da Puma, Carol Corso conta que, em apenas um ano, foi possível estabelecer com fornecedores e consumidores uma relação de trabalho mais humanizada e digna. Por outro lado, ela reconhece ainda ser difícil escapar das grandes plataformas quando não se tem todas as ferramentas tecnológicas.

O apagão do Whatsapp mostrou que somos reféns e dependentes de aplicativos, mesmo quando não trabalhamos para grandes plataformas de entrega”, alerta Carol. 

================================================================================

=========================================================================

Onde aprender mais sobre o assunto?

Cooperativismo de Plataforma — curso online, gratuito, oferecido pela plataforma de ensino à distância do Sistema OCB, o CapacitaCoop.


Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Plataformas mais justas e sustentáveis

A pandemia da Covid-19 aumentou a demanda por serviços e produtos oferecidos por meio de plataformas —  aplicativos e sites que entregaram comida, remédios, informação e entretenimento para milhões de pessoas em isolamento social. Mas antes mesmo de ouvirmos a expressão lockdown, especialistas já falavam na “plataformização” da economia, ou seja, em um novo modelo de negócios e geração de renda mediado por gigantes como Uber, Amazon, Airbnb e Netflix. Um mercado capaz de crescer em escala, muitas vezes explorando trabalhadores anônimos e precarizados.

Nesse cenário, o cooperativismo tem se mostrado, cada vez mais, como um caminho capaz de transformar a economia de plataforma, trazendo mais equilíbrio, justiça social e sustentabilidade para quem trabalha ou utiliza esses ambientes virtuais, criados justamente para conectar quem produz a quem consome.

Para se ter ideia, hoje, grandes aplicativos de transporte chegam a ficar com 30% dos valores pagos pelos usuários aos motoristas. Já as cooperativas que operam nesse setor retém entre 10% e 15% em forma de taxa administrativa que são revertidas em favor dos próprios cooperados. E por serem os verdadeiros donos do negócio, os motoristas, além de aumentar seus rendimentos, participam da gestão do negócio e podem definir os rumos do empreendimento. 

Para impulsionar a abertura de cooperativas na área de plataforma, o Sistema OCB lançou em setembro, por meio da plataforma de EAD CapacitaCoop, um curso de três módulos sobre o tema. A aula magna contou com a participação do doutor em Direito Mario De Conto, professor, pesquisador e diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop). 

A cooperativa de plataforma se torna valiosa quando consegue escalar, ou seja, atingir muitos usuários. A estratégia de negócios é fundamental para o sucesso de uma cooperativa nessa área, bem como a utilização de soluções tecnológicas inovadoras”, ressalta De Conto. Para ele, o cooperativismo de plataforma revoluciona à medida em que coloca os trabalhadores como protagonistas do negócio. A ideia é trazer a propriedade e gestão da plataforma para as mãos de quem nela trabalha.  

Ainda de acordo com o pesquisador, alguns entraves legais dificultam o aumento no número de cooperativas de plataforma no Brasil. O fato de a lei geral das cooperativas não permitir sócios-investidores é um deles. Uma alternativa para superar esse problema é a parceria com cooperativas de crédito, incubadoras e startups.

Na Inglaterra, organizações como a Start.coop e Unfound oferecem assistência técnica e financeira para cooperativas interessadas em ingressar no mercado de plataformas. No Brasil, a OCB também inovou e lançou duas edições do programa InovaCoop Conexão com Startups. A primeira delas visa a intercooperação e o desenvolvimento de ambientes digitais para cooperativas que atuam na área de saúde, serviços e transporte. O programa está na fase de desenvolvimento dos projetos piloto.

Cooperativismo de plataforma é um tema que tem despertado interesse do nosso público já há um bom tempo. E o cenário de pandemia e de digitalização que estamos vivendo ampliou fortemente essa atenção. Estudos e pesquisas de tendência mostram um crescimento significativo nesse setor, um movimento do qual o cooperativismo não pode e nem irá ficar de fora”, garante a gerente geral da OCB, Fabíola Nader Motta.

CASES INTERNACIONAIS

Equipe Fairbnb

A busca por parceiros e novos caminhos para o cooperativismo de plataforma também mobiliza cooperativas europeias. Um bom exemplo disso vem da área de turismo. A Fairbnb é um aplicativo cooperativista de locação de imóveis a preço justo e com foco em nos princípios do turismo sustentável. Desde 2016, ela reúne os donos de imóveis aos locatários de países europeus. A taxa de administração para a cooperativa é de 15%. Metade desse valor vai para projetos que fortalecem as comunidades onde estão localizados os imóveis. 

Durante a fase mais aguda da pandemia, a Fairbnb enfrentou a crise estimulando os cooperados a reformar os imóveis e seguir em conexão com as comunidades. O resultado desse esforço foi o lançamento de uma nova versão da plataforma em junho deste ano, com mais roteiros e projetos apoiados. A atuação cooperada e em rede se mostrou como um valor agregado para a concorrência com as empresas do setor de turismo. 

A desaceleração econômica mundial ensinou o valor de estratégias como trabalho por nicho e em intercooperação (nacional e internacional). A utilização de ferramentas de governança digital já permitidas no Brasil, como assembleias gerais remotas, fizeram a diferença para cooperativas como a Stocksy, que reúne mais de 2 mil fotógrafos e produtores audiovisuais de vários países.

Conheça o case completo no site do InovaCoop

A agência fundada em 2013 no Canadá distribui produções artísticas que atraem principalmente o mercado publicitário. De 50% a 75% das licenças de uso de imagem são pagas diretamente para os artistas cooperados. O banco de imagens sobre a vida na quarentena foi um dos mais procurados nos últimos meses. Mais uma prova de que muitas mentes em sintonia conseguem inovar e manter o fluxo de negócios mesmo em tempos difíceis.


Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Informação é poder

Por terem uma forte conexão com as pessoas, as cooperativas brasileiras são impactadas por todas as flutuações econômicas do mercado em que atuam, sejam elas de proporção local, nacional ou internacional.

Juan Jensen, economista e sócio da 4eintelligence

 O movimento dos juros nos Estados Unidos, o ritmo de crescimento na China ou uma possível terceira onda da pandemia da Covid-19 são questões que afetam todas as economias do mundo e, portanto, têm reflexo nas operações das cooperativas — especialmente as exportadoras, fortemente impactadas pelas taxas de câmbio e preço de commodities”, explica Juan Jensen, economista e sócio da 4eintelligence — consultoria especializada na entrega de soluções de inteligência artificial para questões críticas de negócios.

De fato, em uma sociedade global — onde a crise de uma nação ou empresa afeta as bolsas e a economia de todo o mundo —, as cooperativas precisam se manter atualizadas sobre os indicadores que regem a macro e a microeconomia. Assim, poderão acompanhar as cada vez mais rápidas mudanças na conjuntura econômica e, a partir daí, definir estratégias assertivas de atuação. 

Disposto a apoiar as cooperativas nesse sentido, o Sistema OCB criou um ambiente que reúne, em um único lugar, informações, análises e projeções econômicas com potencial para impactar o cooperativismo de alguma maneira: o Dashboard de Indicadores Econômicos, ferramenta interativa que apresenta índices internacionais, nacionais e regionais atualizados, além de trazer indicadores segmentados por ramo do cooperativismo.  

“Nosso objetivo com essa ferramenta era trazer não somente os dados do cooperativismo, mas sim dados que impactam o nosso modelo de negócio de alguma maneira para, dessa forma, ajudar as cooperativas e unidades estaduais a saber como o cooperativismo está situado dentro de indicadores macroeconômicos, como PIB, taxa de juros, inflação e índices de emprego”, afirma Clara Maffia, gerente Técnica e Econômica do Sistema OCB.

TUDO NUM SÓ LUGAR

Uma das principais vantagens do Dashboard de Indicadores Econômicos é reunir, em um único lugar, informações estratégicas para subsidiar a tomada de decisão dos gestores e das lideranças cooperativistas. 

Essa ferramenta proporciona uma economia de tempo para as cooperativas, que não precisam mais buscar o valor do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, na plataforma do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e depois procurar informações de câmbio no site do Banco Central, para ainda pesquisar sobre crédito em outra plataforma”, resume o economista Juan Jensen, sócio da 4intelligence, contratada pelo Sistema OCB para desenvolver o sistema.

Outro benefício importante é a atualização automatizada de dados sensíveis como o câmbio, que varia diariamente, até as taxas básicas de juros e a inflação, que têm variação semanal. “Economia é a ciência que estuda decisões. E saber tomar decisões passa pela compreensão do cenário econômico”, ensina Rodolfo Cabral, economista da área internacional e setorial da 4intelligence.

Rodolfo Cabral, economista da área internacional e setorial da 4intelligence

Ainda segundo Rodolfo, é uma análise combinada de dados que permitirá a um gestor definir questões essenciais, como a quantidade de produtos e insumos que deve ser mantida em estoque, quantas lojas abrir e em que localidades, quantos funcionários contratar e manter em cada unidade.

Para tornar esse processo decisório ainda mais assertivo, é preciso ter acesso não apenas a dados atuais, mas a projeções econômicas. É por isso que o Dashboard de Indicadores Econômicos do cooperativismo conta com projeções feitas por uma equipe multidisciplinar, que analisa com cuidado cada uma das variáveis disponíveis, rodando modelos e fazendo estudos que consigam mostrar não apenas o cenário atual, mas projeções futuras de indicadores como emprego e câmbio, para facilitar o planejamento das cooperativas. 

TOMADA DE DECISÃO

Um dos principais desafios da construção do Dashboard de Indicadores Econômicos foi identificar quais dados seriam mais úteis e necessários para cada ramo cooperativista. 

Clara Maffia, gerente Técnica e Econômica do Sistema OCB

Foram meses de estudos e diálogo com a base até conseguirmos construir um Dashboard que entrega informações relevantes para embasar o processo de tomada de decisão de cooperativas de todos os portes, setores e regiões do país”, explica Clara Maffia.  

De acordo com Clara, nas cooperativas ligadas ao setor de serviços, os dados mais importantes costumam estar relacionados ao ambiente local. No ramo saúde, o desempenho das coops está diretamente relacionado à atividade econômica — sobretudo à formalização do trabalho, aspecto que interfere nas contratações de planos de saúde, que costumam ser oferecidos aos colaboradores como benefício.

Juan Jensen, da 4intelligence, lembra, ainda, que o Brasil possui uma heterogeneidade regional grande em termos de indicadores como o desemprego. 

Não é porque o desemprego no Brasil está alto que ele estará alto também em uma determinada região; é possível ter uma dinâmica que descola do padrão nacional. Para cooperativas, costuma ser mais importante saber como está o desempenho local. Olhar para dados regionais, sobretudo de atividade econômica, faz toda a diferença para a tomada de decisão”, orienta.

Segundo a gerente técnica e econômica do Sistema OCB, o acesso a esses indicadores é o que vai moldar a competitividade do modelo de negócio cooperativista. 

O cenário econômico interfere em tudo e impacta em qualquer decisão que a cooperativa for tomar. Por isso, as cooperativas precisam ter bons subsídios e saber onde estão situadas no mercado”, afirma Clara. 

Com acesso a dados atualizados e contextualizados, uma cooperativa que atua na área de comercialização de leite, por exemplo, pode reajustar os preços com base nas projeções de inflação para evitar prejuízos. Além de decisões pontuais como essa, Clara explica que os indicadores podem sustentar projetos de inovação das cooperativas, seja em um plano de internacionalização com base em mudanças favoráveis no câmbio, ou de ampliação de unidades com vistas ao crescimento da atividade econômica no país.

Para finalizar, a gestora faz um convite a todas as cooperativas brasileiras: “Acessem nosso dashboard para ter a dimensão de o quanto estar ciente dos cenários econômicos e da conjuntura atual pode subsidiar decisões mais assertivas para nosso modelo de negócios”. 

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 Por dentro do Dashboard de Indicadores Econômicos

O conteúdo da ferramenta está dividido em sessões, com dados internacionais, nacionais e regionais, além de uma área voltada especificamente para cada um dos sete ramos cooperativistas. 

“Na sessão com dados do Brasil, nós destrinchamos todos os aspectos interessantes que competem às áreas econômicas, como o PIB, dados da Indústria, de Emprego e Renda, Varejo e Serviço, Cooperativas, Crédito, Inflação, Política Monetária, Política Fiscal, Setor Externo. Tudo isso com resumo das últimas atualizações, análises e gráficos. Também temos uma sessão de destaques, alimentada diariamente com informações curtas de fatores que podem impactar os mercados”, detalha Rodolfo Cabral, da 4intelligence.

O formato interativo do dashboard permite que seja feito o download das planilhas com os dados públicos disponíveis na plataforma. 

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

======================================================================================

O QUE AS COOPERATIVAS VÃO ENCONTRAR

Feito para ajudar nossas cooperativas a ir mais longe e a tomar decisões importantes para a longevidade e a competitividade do negócio, o Dashboard de Indicadores Econômicos trará, entre outros dados, informações sobre:

======================================================================================


Esta matéria foi escrita por Mariana Fabre e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Um guia para o futuro

Nos dias de hoje, só há uma saída para quem quer sobreviver no mundo dos negócios e ter relevância em seu nicho: I-NO-VA-ÇÃO. Sabendo disso, a Casa do Cooperativismo tem procurado oferecer cada vez mais conteúdos relevantes sobre o tema. De e-books a cursos rápidos, as cooperativas encontram os mais variados recursos e ferramentas nos sites do Sistema OCB. 

E 2021 fechou com chave-de-ouro, o primeiro livro sobre inovação está saindo do forno feito sob medida para as cooperativas brasileira: Inovação no cooperativismo — um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop.

De forma leve e didática, a obra tira todas as dúvidas da sua coop sobre inovação e ainda apresenta estratégias e ferramentas para viabilizar a implantação de programas de inovação dentro das organizações cooperativistas. Quer mais? Cada capítulo traz um artigo assinado por especialistas no assunto. Gente como Martha Gabriel — uma das maiores palestrantes de inovação do Brasil — e Jackson Fressato, criador de uma startup de saúde que coleciona prêmios nacionais e internacionais na área.  Assim, o leitor começa a se familiarizar com os grandes nomes do ecossistema brasileiro da inovação. 

 Fizemos esse livro pensando nos líderes cooperativistas que desejam implantar programas de inovação em sua cooperativa, mas sabemos que acadêmicos e estudantes também vão se interessar no assunto, pois apresentamos muitos cases de cooperativas que estão inovando”, explicou Samara Araujo, coordenadora de Inovação do Sistema OCB.

Ainda segundo ela, a obra tem tudo para se tornar um se tornar um importante item para aprendizado e também pesquisa para estudiosos e professores do tema. Por isso, o Sistema OCB pretender disponibilizar exemplares para bibliotecas, universidades e outros locais de acesso público.

INSPIRAÇÕES

Destinado às cooperativas e escrito por experts em inovação, o livro traz seis cases de inovação realizados por coops de diferentes ramos. “Cada projeto apresentado servirá como inspiração para os gestores que desejam enveredar por essa seara”, acrescenta Samara.

Outro diferencial da publicação é acabar — de uma vez por toda — com a percepção equivocada de que inovação caminha de mãos dadas com as novas tecnologias. A obra deixa bem claro que o segredo da inovação é encontrar novas soluções para velhos problemas. A boa e velha caneta esferográfica, por exemplo, mudou a forma como nós escrevemos, continua atual e não tem nenhuma tecnologia disruptiva acoplada. Portanto, sua cooperativa pode inovar revendo processos, melhorando produtos já existentes ou criando novas maneiras de atender bem ao consumidor.

Além disso, o livro traça um retrato panorâmico de como as cooperativas enxergam a inovação em seu ramo, entre seus pares, e o que pode ser feito para agilizar e melhorar esse processo. Além disso, mostra as vantagens que as cooperativas possuem — em relação a outros modelos de negócio — na hora de inovar, e  traz dicas para implantação de um programa de inovação cooperativista. 

Ao final da obra, você ainda encontra um dicionário completo de inovação, com os principais verbetes e conceitos relacionados ao tema. 

PORTFÓLIO COMPLETO

Desde o lançamento do InovaCoop — site que reúne em um mesmo lugar informações, e-books, cases de sucesso e ferramentas sobre inovação cooperativista—, o Sistema OCB colabora ativamente com a construção de um ecossistema inovador dentro do cooperativismo.

Nós já tínhamos oferecido aos nossos cooperados cursos de EAD na plataforma CapacitaCoop, blogposts com textos mais curtos, ferramentas para colocar a mão na massa e e-books sobre o tema. Recentemente, observando nosso portfolio de soluções, serviços e produtos de fomento à inovação,  percebemos que faltava um material mais denso, profundo, robusto, perene e de consulta mais constante. Daí a ideia do livro”, explica a coordenadora de Inovação do Sistema OCB, Samara Araujo. 

Quem participou da Semana InovaCoop, realizada em setembro de 2021,  já sentiu o gostinho do que está por vir, durante o pré-lançamento do livro. O intuito do Sistema OCB é que a versão  impressa da obra comece a circular no início de 2022, e seja disponibilizada para as cooperativas.

=============================================================================

=============================================================================

Confira, em primeira mão, um trecho do primeiro capítulo do livro Inovação no cooperativismo: um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop:

Quando falamos em inovação, qual imagem vem à sua mente? Máquinas de última geração, laboratórios de ponta, equipamentos modernos, estruturas grandiosas com design arrojado ou outros símbolos que representam alta tecnologia? Inovação é tudo isso, mas vai muito além. 

A busca por soluções inovadoras acompanha os seres humanos desde a pré-história. A roda, a prensa tipográfica, as vacinas e a internet foram inovações criadas para solucionar problemas importantes e ajudaram a melhorar a vida das pessoas e a impulsionar diversos setores da economia. Mas, atenção: o progresso não acontece apenas com grandes rupturas. Inovações consideradas mais simples também foram responsáveis por novos comportamentos e impactaram a vida de muita gente. Entre elas, podemos citar a caneta esferográfica, os post-its, a comida enlatada e os serviços de delivery. 

Se antes o impacto das inovações demorava décadas para se consolidar, atualmente, temos um cenário de aceleração do ritmo das transformações e uma rápida adesão das pessoas, o que impõe que as organizações permaneçam atentas — e em movimento — para se manterem competitivas.

É claro que as novas tecnologias da informação impactam — e muito — a inovação. A velocidade com que essas ferramentas se desenvolvem é catalisador para grandes mudanças em nossa sociedade. É importante destacar, no entanto, que a inovação não depende exclusivamente de equipamentos modernos, tecnologias disruptivas e tampouco do porte da organização em que está sendo gestada. 

Entretanto, antes de avançar nesse debate, precisamos alinhar nosso entendimento sobre o significado da palavra inovação. Existem vários conceitos, em diferentes áreas do conhecimento, para definir esse vocábulo. E não há resposta simples, ou uma única correta, para a pergunta com a qual iniciamos este capítulo. Para Peter Drucker, considerado o pai da Administração moderna, inovar é pensar uma solução nova a cada vez que surge um problema novo. 

"Inovação é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos) existentes na empresa para gerar riqueza", explica o pensador.

Quando pensamos em grandes exemplos de inovação, os serviços de entrega de refeições prontas por aplicativo são referência. Na sua essência, o que iFood ou Rappi disponibilizam não é, exatamente, um produto novo ou uma engenhoca própria inventada por eles. O serviço de delivery já existia, mas antes era administrado pelo próprio estabelecimento, exigindo uma logística própria de administração. 

No caso específico do iFood — uma empresa 100% brasileira —, a ideia original era simples: criar um cardápio impresso que reunisse todos os serviços de delivery de uma região em um mesmo lugar. Conforme cadastravam esses estabelecimentos, os idealizadores do serviço foram percebendo que ali havia uma baita oportunidade de negócios. Foi então que decidiram conectar quem queria receber uma refeição pronta em casa aos restaurantes e às lanchonetes interessados em oferecer o serviço, sem arcar com os custos de um delivery próprio. Para fazer isso, eles tiveram de sair do universo off-line (fora da internet) e entrar no digital, criando um dos aplicativos mais populares e lucrativos da América Latina.  

Também é comum confundir os conceitos de inovação e tecnologia — o que é compreensível, já que muitas transformações importantes se deram a partir do desenvolvimento de uma nova tecnologia, como a internet. Mas, vale lembrar que tecnologia é ferramenta e, por isso, tem prazo de validade em termos de utilidade, já que dentro de algum tempo surgirá uma nova que cumprirá aquela atividade de forma mais satisfatória. É o caso do VHS, que evoluiu para o DVD, que evoluiu para o formato Blu-ray até que todos fossem ultrapassados pelos serviços de streaming (transmissão, em tempo real, de dados de áudio e vídeo). A inovação pode ser, inclusive, a descoberta de novos usos para velhos produtos.

Outro erro comum é pensar que a inovação surge como fruto do acaso ou em um lapso de genialidade de algum membro do time ou líder engenhoso. A verdade é que inovar dá trabalho, exige método e afinco, como veremos mais adiante neste livro. Habilidades como a criatividade e o pensamento disruptivo são relevantes, mas é fundamental ter em mente que a inovação é um processo sistemático — portanto, passível de organização e de gestão. 

Ernest Gundling, autor do livro The 3M way to inovation, que conta a história da companhia norte-americana criadora dos famosos post-its, defende que inovação é “uma nova ideia implementada com sucesso, que produz resultados econômicos". 

Perceba o destaque que se dá à questão econômica: uma boa ideia só pode ser considerada uma inovação, no contexto de uma organização, se gerar algum ganho econômico, direta ou indiretamente. 

De forma simples e objetiva, a inovação é pensar novos caminhos para resolver problemas e oportunidades que se colocam a cada dia na rotina de uma organização. A gestão de uma organização — incluindo cooperativas — lida com desafios que surgem quase diariamente. O erro está em tentar resolver novas questões com fórmulas antigas que podem ter sido muito eficientes em outros momentos, mas não se aplicam aos contextos atuais. 

Portanto, a inovação é fruto do trabalho. Trata-se de uma inspiração organizada. Pode ser disparada pelo mercado, por mudanças sociais, legislativas, por novos hábitos de consumo de uma população ou mesmo uma mudança geracional que modifica comportamentos. Dominar a capacidade de inovar, no cenário atual, não é mais uma opção para as organizações, sejam elas comerciais ou cooperativas. Ela passou a ser uma habilidade muito importante para a manutenção dos negócios e para a preservação da competitividade, conforme abordaremos adiante. 

E já que todo cooperativista gosta de uma boa história, vale compartilhar uma anedota muito comum nas conversas sobre inovação. Ela fala sobre uma dupla de moscas que caiu em um copo de leite. Uma delas optou por ficar inerte, afogou-se e morreu; a outra se debateu desesperadamente e, com o movimento de suas asas, o líquido talhou, transformou-se em manteiga; ela conseguiu voar e se salvou. Após algum tempo, a mesma mosca sobrevivente caiu com outra no refrigerante. Sua colega viu o canudo e sugeriu que escapassem subindo por ali. Mas ela se lembrou de sua experiência passada e disse: “não, eu já sei como sair. É só bater as asas, insistentemente”. O líquido não mudou sua consistência e ela morreu de cansaço, após tanto se debater. A outra saiu pelo canudo, sem dificuldades. A moral da história é: não adianta tentar resolver novos problemas com soluções antigas. É preciso estar atento ao contexto para inovar, sempre. 


Esta matéria foi escrita por  Lílian Beraldo e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Pontes para o futuro

Não é novidade que o cooperativismo tem investido cada vez mais em inovação para modernizar e ampliar seus negócios. E 2021 termina com mais um passo importante do Sistema OCB para impulsionar a inovação dentro das cooperativas: segue em pleno vapor a primeira edição do Conexão com Startups, programa que está criando pontes entre cooperativas de diversos ramos e empresas inovadoras. A ideia é unir a força do cooperativismo com a agilidade das startups em busca de soluções para problemas comumente enfrentados por cooperativas de todo país. 

Todas as organizações, sejam pequenas ou grandes, tropeçam diariamente em problemas que  afetam seu funcionamento— seja a necessidade de uma nova ferramenta, o aprimoramento de um processo produtivo ou mesmo a busca por novas plataformas de vendas. Muitas vezes, um olhar externo, com uma pegada ágil e inovadora, pode ser muito mais eficiente do que a busca por soluções caseiras. É aí que entram as startups e o chamado modelo de inovação aberta, ou seja, aquele que busca parceiros fora do negócio para encontrar essas saídas. 

Quando fazemos uma conexão com startups, estamos aproveitando um conhecimento e experiência de um agente externo para realizar as inovações. Em geral, as startups são modelos de negócio ágeis, baseados em tecnologia e que já têm uma ferramenta desenvolvida que pode ser personalizada ou adaptada para conseguir entregar aquilo que a cooperativa precisa. Há um ganho de know-how e agilidade, que se a coop tivesse que entender e desenvolver aquilo do zero, ia demorar muito mais tempo e teria que ser investido muito mais recurso”, explica Samara Araújo, coordenadora de Inovação da OCB. 

Na primeira edição do programa,  54 startups se inscreveram para participar. Ao todo, 30 desafios foram inscritos pelas coops e 10 chegaram à fase final. A seleção levou em conta a relevância da solução do desafio para o ramo, a possibilidade de aplicação da solução em pelo menos cinco outras cooperativas, a disponibilidade de pessoal para desenvolver o piloto junto à startup e o perfil do desafio adequado para o ecossistema de startups. Mas o que seriam esses desafios? 

A Unimed Vitória, uma das participantes do Conexão, busca por exemplo uma solução para consolidar um prontuário eletrônico que funcione em tempo real e reúna informações de diferentes sistemas. Já as centrais Ailos e Sicoob Espírito Santo necessitam de uma ferramenta que permita registrar e mensurar ações sociais e de patrocínio. 

A experiência tem sido bem rica porque temos uma diversidade grande de ramos, modelos de negócios e desafios. Há alguns que atendem cooperativas, outros singulares ou federação. Além disso, há um aprendizado nessa própria conexão com as startups porque, para muitos participantes, é a primeira vez que está tendo contato com esse ecossistema de inovação e há muito aprendizado Tem sido bem didático para os participantes aprenderem na prática como a inovação aberta acontece”, destaca Samara.

Um dos diferenciais do programa é que o Sistema OCB está bancando 70% dos custos de desenvolvimento dos projetos piloto - o restante fica por conta das cooperativas. Era o impulso que faltava para que a Fetrabalho/RS pudesse desenvolver uma ferramenta que estava já há algum tempo entre as metas da organização: um aplicativo de oferta de serviços que servisse como portfólio das cooperativas para avançar no modelo de economia de plataforma. 

Nós começamos a estudar sobre o cooperativismo de plataforma e ainda em 2019 percebemos que esse era um mercado importante. Aí  veio a pandemia e nós estávamos com isso dentro do nosso planejamento, era uma necessidade para nós. Qual era o nosso desafio? O investimento. Nós já tínhamos entrado em contato com coops de tecnologia da informação, mas o custo era alto. Então surgiu o desafio, nós nos inscrevemos e o que nos deixa mais feliz é que fomos contemplados, a única cooperativa do Rio Grande do Sul que ganhou esse espaço”, afirma Margaret da Cunha, presidente da federação.

A dirigente conta que o contato com as startups tem sido muito enriquecedor. Um dos primeiros desafios foi que a maioria delas tinha um foco em e-commerce de produtos, e não de serviços. “Agora vamos estudar juntos como vender serviço. A Fetrabalho pode ser um piloto, mas nosso interesse é desenvolver essa plataforma para que possa servir de vitrine para as cooperativas do país inteiro”, explica Margaret. Em outubro, coops e startups fizeram um trabalho de imersão para detalharem o desenvolvimento das soluções e estão agora realizando o projeto piloto para que os trabalhos estejam concluídos até março de 2022. 

TECNOLOGIA PARA O CAMPO

Por mais tradicional que seja o negócio, como são algumas cooperativas do ramo agro, a inovação aberta pode trazer enormes contribuições. “Os programas de inovação aberta com startups, além das  próprias soluções, também trazem uma abertura de perspectivas, um banho de novas ideias. Essa dinâmica passa muito pela sensibilização da alta gestão das cooperativas em relação a esse processo de transformação que estamos vivendo hoje e por dar visibilidade às possibilidades que existem. Hoje, muitos gestores estão focados no seu negócio e não têm tempo de enxergar o que está acontecendo no ecossistema”, explica Felipe Scherer, fundador da InnoScience. 

A empresa de consultoria especializada em gestão da inovação foi parceira da OCB na formatação e implementação do programa. A partir de uma metodologia própria desenvolvida para potencializar a capacidade de uma organização em inovar, o objetivo foi  conseguir engajar e tirar o melhor da interação entre cooperativas e startups. 

Pela nossa experiência, o sucesso de uma iniciativa de inovação aberta e de uma conexão com startups, está relacionado no máximo 50% com a solução da startup propriamente dita. Eu diria que tem uma parcela no mínimo igual que está relacionada com essa mentalidade e a capacidade da cooperativa em absorver essas novas soluções”, aponta.

Segundo Felipe, a taxa de sucesso de uma solução aberta em cooperativas tem o potencial de ser ainda maior em justamente em razão do alto grau de envolvimento dos participantes da organização.

Isso em função de uma característica que é inerente ao cooperativismo que é o tema da colaboração e o envolvimento das pessoas com o projeto. Isso é fora da curva. As pessoas se envolvem mais, aquele sentimento de pertencimento é muito legal e aparece no relato das startups, elas percebem a diferença”, compara. 



AGRO


A primeira edição do Conexão com Startups se encerra em março, com a entrega dos pilotos para as cooperativas. Mas já está em andamento uma nova etapa do projeto, que terá como foco o ramo agro. A segunda edição está sendo desenvolvida pelo Silo, uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Neoventures. Os desafios do programa já foram selecionados e neste momento as startups interessadas em ofertar soluções estão fazendo inscrição no programa.

Nessa relação, o ganho é em mão-dupla: para as startups também é enriquecedor - e possivelmente rentável - conhecer mais a fundo o sistema cooperativista brasileiro. “O mercado das coops é muito atraente porque tudo que uma startup quer é escalar seu negócio, oferecer uma solução para vários clientes e as cooperativas são ótimos clientes. Se ela desenvolve uma solução para uma cooperativa em determinado ramo, provavelmente essa dor também é a de várias outras coops e singulares ali dentro do sistema. A startup vai poder escalar e oferecer essa mesma solução que tinha desenhado para uma cooperativa pras outras similares”, explica Samara.

===================================================================

Mas, o  que é uma startup?

Uma  startup pode ser definida como uma pequena empresa, com DNA inovador, custos baixos de manutenção e que consegue crescer rapidamente. É formada por um grupo de pessoas que procura um modelo de negócio ágil, enxuto e escalável. A tecnologia é sua principal ferramenta para oferecer soluções ao mercado e, por natureza, uma startup trabalha em condições de extrema incerteza: um dos lemas dessas organizações é “falhar rápido” para poupar tempo e dinheiro na busca de soluções que sejam efetivas.

De acordo com a Associação Brasileira de Startups, o país tem mais de 13 mil empresas com esse perfil, sendo São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul os estados com maior concentração delas. O total  de startups no país cresceu 20 vezes entre 2011 e 2021. Educação, finanças, saúde e bem-estar e Internet são os principais ramos de atuação das startups brasileiras. 

==========================================================================


Esta matéria foi escrita por  Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


“As cooperativas já estão no caminho do futuro”

Como levar o cooperativismo para o caminho da inovação? Como transformar totalmente seu produto ao ponto de extingui-lo para criar outro ainda melhor? Perguntas desafiadoras que norteiam pesquisas e palestras do escritor e empreendedor Maurício Benvenutti, líder da Startse — plataforma educacional de conhecimento em negócios.

Gaúcho de Vacaria e filho de professores, Benvenutti foi sócio da XP Investimentos por 10 anos e, desde 2015, atua na meca da inovação mundial: o Vale do Silício, na Costa Oeste dos Estados Unidos. De lá, acompanha o trabalho das cooperativas brasileiras e garante: elas já estão no caminho do futuro.

O diferencial de tudo está nas pessoas. O cooperativismo faz justamente isso: valoriza as pessoas. Isso eu aprendo com vocês e o mercado tem muito a aprender também”, destaca o escritor.

De acordo com Benvenutti, pesquisas indicam que os líderes do século XXI precisam entender de pessoas tanto quanto de negócios. “Elas são a essência por trás da instituição. Você constrói um time e esse time constrói uma instituição.”

Por isso, inovar é acima de tudo investir na capacitação. Empoderar equipes a ponto de criar intraempreendedores dentro de cada cooperativa, ávidos a propor novos produtos e soluções para tempos (pós) pandêmicos. Quem consegue fazer isso, tende a conseguir se reinventar de forma contínua, mesmo em contextos arriscados e complexos como os atuais. Inspire-se nas reflexões e dicas de Maurício Benvenutti.

Saber Cooperar: Como criar uma cultura da inovação?

Maurício Benvenutti: A partir da nossa experiência de acompanhar inúmeras empresas, eu acredito que a inovação acontece pelas pessoas. Não adianta nada ter acesso às principais tecnologias disponíveis no mundo, à quantidade infinita de recursos, estar do lado das melhores ferramentas, se a minha equipe, meu time, não se dispõe a testar, ousar, validar. Tudo começa pelas pessoas. Transformação organizacional é uma transformação humana. O empoderamento das equipes, o empoderamento das pessoas, dos indivíduos que fazem parte de uma organização é crucial para fazer o novo e o inusitado acontecerem. Isso passa pela valorização, empoderamento e disposição de colocar as pessoas à frente da organização ou da entidade.

Por que investir em inovação?

Hoje tudo se torna obsoleto cada vez mais rápido. A Deloitte Insights, que é uma grande consultoria global, divulgou recentemente que a meia vida de uma competência é de cinco anos. Tudo que a gente aprende hoje, todos os recursos incríveis que a gente possui em 2021, em 2026 eles vão perder metade do seu valor de mercado. Para a organização se manter na vanguarda, ela precisa aprender novos conceitos e habilidades. Entregar novas soluções. As ondas de inovação estão cada vez mais curtas. Nós enquanto cooperativas, organizações, temos de nos orgulhar de tudo que nos trouxe até aqui. Mas não necessariamente o que nos trouxe até aqui vai nos levar daqui para frente. Investir em inovação, investir na construção do novo, testar novas hipóteses para construir novas soluções é fundamental nos dias de hoje onde tudo se torna obsoleto mais rápido. É quase ter que decidir se a gente vai respirar ou não. Não pensamos nisso porque é natural. Se não respirar, morre. Hoje em dia trabalhar inovação dentro desse cenário cada vez mais dinâmico é fundamental para uma estrutura organizacional se manter competitiva, forte e atuante por muito tempo.

Como criar uma cultura intraempreendedora dentro do cooperativismo?

As grandes inovações, os grandes feitos organizacionais que transformaram segmentos inteiros não nasceram no senso comum dessas indústrias. Cada vez mais as grandes inovações nascem nas margens, nas bordas, nas fronteiras do senso comum. A única forma de nós, enquanto organizações, navegarmos por essas fronteiras e transitarmos por essas bordas é nos permitindo questionar mais, interrogar mais, muitas vezes desobedecer um pouco a normalidade das coisas. Isso passa muito pela valorização do indivíduo, do ser humano, das pessoas, pelo incentivo ao intraempreendedorismo. São as pessoas que levam uma organização às fronteiras do senso comum e, não, ao contrário. Não construo uma organização. Eu construo um time e ele constrói a organização. O time leva a organização para longe do senso comum, que é justamente o lugar onde nascem as grandes novidades que vem transformando indústrias inteiras nos últimos anos.

Qual o perfil das equipes inovadoras?

Para equipes inovadoras, as demandas são cada vez menos mecânicas e cada vez mais cognitivas, emocionais, sociais e tecnológicas. Os profissionais precisam saber criar e avaliar novos processos. A consciência digital e tecnológica se apresenta como matemática do novo século. Estamos fechando o ciclo tecnológico e começando um novo ciclo guiado por instituições que armazenam e processam dados. Esse ciclo deve ir até 2030, quando deve ser iniciado o ciclo da computação quântica. As relações de trabalho seguem um ritmo totalmente diferente, potencializado ainda mais com a pandemia, que aprofundou a digitalização do mundo. Como as novas tecnologias são adotadas pela população cada vez mais rápido, mudanças significativas na sociedade não levam mais décadas e, sim, meses para acontecer. As pessoas estão mais abertas para o novo e a competitividade no mercado aumentou exponencialmente.

Qual o futuro do mercado da inovação?

Hoje um dos profissionais mais requisitados no mercado é justamente o profissional relacionado à inovação. Coordenadores, gerentes, diretores. A inovação está ou deveria estar no DNA de toda organização. Estamos em um cenário cada vez mais competitivo. As pessoas entregam produtos cada vez mais incríveis. Está difícil competir no mercado com muitos players. O consumidor tornou-se mais maduro e seleto. Eu vou estar fora do mercado se não me dispor a constantemente inovar no que eu faço para eliminar aquilo que o cliente não quer ou que não faz mais sentido para a vida dele. Temos de construir a próxima versão daquilo que o cliente vai desejar, e essa próxima versão pode ser muito diferente do produto, serviço e solução que eu entrego hoje. Costumo dizer que hoje, em uma organização, os colaboradores pagam o salário da empresa, e os profissionais de inovação pagam a aposentadoria. O mercado de inovação é promissor e está cada vez mais clara a necessidade das empresas e organizações colocarem o assunto inovação como prioridade.

================================================================================


Esta matéria foi escrita por  Juliana César Nunes e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Três perguntas para Tatiana Prazeres

Saber Cooperar: Qual dica você dá para as cooperativas que querem chegar ao mercado externo?

Tatiana Prazeres: O principal conselho que eu tenho para aqueles que querem buscar o mercado externo é planejamento. Isso envolve avaliar quão prontas para exportação as cooperativas estão. E isso, por sua vez, envolve definir os mercados prioritários, entender quem são os concorrentes, conhecer as barreiras tarifárias, qual é o imposto de importação que se aplicaria a esse produto. Saber também quais são as barreiras não tarifárias, por exemplo, que podem ser embalagens, exigências. E descobrir as melhores formas de fazer promoção comercial no mercado definido como prioritário. Isso requer inteligência comercial e investimento. A notícia boa é que há parcerias com que as cooperativas podem contar para viabilizar esse esforço — incluindo ao OCB, a Apex e outros. 

Saber Cooperar: Ainda há a possibilidade de ampliar a participação brasileira no mercado chinês?

Tatiana Prazeres: Certamente, a China é o segundo país que mais importa no mundo, importa muitos produtos e produtos muito diversificados. Além de importar muito, é um mercado que cresce muito, é muito dinâmico. Então, as oportunidades são maiores, mas, ao mesmo tempo, é um mercado mais difícil porque é menos conhecido, aí requer um investimento mais alto. É evidente que a China ainda tem um potencial muito grande a ser explorado por exportadores brasileiros, apesar de já ser o principal destino de exportação do Brasil há mais de uma década. Há muito espaço ainda, porém o desafio clássico do Brasil nas exportações para a China é diversificar a pauta de exportação, agregar mais produtos e fazer com que eles sejam de maior valor agregado. 

Saber Cooperar: Quais erros mais comuns os exportadores brasileiros devem evitar para começar?

Tatiana Prazeres: Um dos erros mais comuns é tratar a exportação como algo ocasional. É você se preparar para fazer uma venda, mas não ver aquilo como parte de uma estratégia mais ampla, que requer investimento e planejamento. Então, você vende agora porque o câmbio é bom, porque surgiu uma oportunidade, mas você não se prepara para fazer aquilo se tornar parte da estratégia da empresa. Isso não funciona. Um outro erro muito frequente é a falta de planejamento das empresas, o fato de que às vezes elas não recolhem todas as informações necessárias para fazer esse processo e acabam se deparando com situações imprevistas e que fazem com que a experiência da exportação não seja bem-sucedida e não valha a pena.


Esta matéria foi escrita por Fábio Fleury e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


No caminho da exportação



Dilvo Casagranda, diretor de exportações da Aurora



Há pouco mais de uma década, a Coopercentral Aurora já era uma das principais cooperativas agropecuárias do Brasil e mantinha um volume constante de vendas para o exterior. Mensalmente, cerca de 300 contêineres de carnes suínas e de frango eram enviados para fora do país. 

No início dos anos 2000, nós vínhamos exportando cerca de 8 mil toneladas mensais. Era um bom volume, mas andávamos de lado, sem grandes aumentos”, relembrou o diretor de exportações da Aurora, Dilvo Casagranda.

Uma mudança de posição estratégica, em 2010, fez a cooperativa dar um salto. A decisão foi simples: ampliar a participação no mercado externo. Para isso, entretanto, eram necessários alguns passos extremamente cautelosos e bem dados. O primeiro deles foi o planejamento. Segundo Casagranda, foi preciso responder três questões básicas: onde a cooperativa está; para onde quer ir, e como chegar até lá.

Conhecer os pontos fortes da organização e suas vantagens competitivas era fundamental, mas também era preciso estar atento a um diálogo aberto com o governo e entidades ligadas à importação.

Essa parte é crucial, porque muitas coisas não dependem de você. A interação com entidades governamentais é inevitável porque você não manda o produto sozinho; se não houver acordo comercial com os países, aprovação ou habilitações você não vai chegar lá. Tudo isso tem que estar delineado e muito bem planejado, todos têm de estar envolvidos”, frisou.

Como exemplo, Casagranda contou como foi o processo que levou a Aurora a exportar carne suína para o Japão em 2017. “Havia uma abertura nesse mercado. Nós não participávamos até então, e houve uma decisão estratégica de fazer essa entrada. Fomos até as fábricas conversar, explicar para quem embalava os produtos qual era o destino e a importância de cada um deles”, recordou.


“A qualidade do produto também é essencial, você precisa ter um produto de qualidade. Não podemos pensar em ir para o mercado e vender o que temos em mãos. Temos que vender aquilo que o mercado demanda, atender às condições, e atender com qualidade”, acrescentou. 

Hoje, os produtos que vão para o mercado japonês são colocados em embalagens exclusivas, desenvolvidas com conceitos emprestados da arte das dobraduras, os origamis.

Casagranda cita também a necessidade de observar e respeitar questões culturais e de relacionamento.

É preciso conhecer os aspectos culturais de cada local, entender hierarquização social, ter paciência. Você não vai vender carne suína nos países árabes, por exemplo. Por isso, temos um catálogo de exportação para atender mercados árabes sem carne suína. Já quando você lida com o Japão, tem que ter uma dose de paciência. É normal, depois de duas horas de reunião, quando você espera uma resposta, o diretor levantar e falar ‘obrigado, na próxima acertamos’, isso faz parte”, alertou.

Ano após ano, os mercados e números foram se ampliando e, hoje, o volume exportado pela Aurora é quase sete vezes maior. “Houve um crescimento a partir de 2010 e em julho de 2021 fechamos 54 mil toneladas no mês, isso equivale a mais de 2 mil contêineres. Isso partiu de uma decisão estratégica em 2010 e uma canalização de esforços, foi um divisor de águas”, contou.

Casagranda destacou que a Aurora exportou mais de 291 toneladas de alimentos para 80 países, apenas entre janeiro e junho de 2021. A maior parte dos produtos foi para a China, mas o diretor deixou uma dica que pode ser importante para cooperativas que queiram buscar o mercado internacional: “Temos que também estar de olho na África, que vai dobrar de população, para dois bilhões até 2050 e ser quatro bilhões até 2100”.

Hoje, o mercado africano é o sexto maior importador dos produtos da Aurora, com pouco menos de 5% do volume. China (40,5%), Ásia (13,9%), Américas (11,5%), Oriente Médio (10,84%) e Japão (10,25%) são os principais destinos, ou seja, há muito mercado para conquistar no continente.

==================================================================================

==============================================================================


Esta matéria foi escrita por Fábio Fleury e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Como fazer negócios com o mundo

Se o melhor remédio para sair da pandemia é a vacinação, um dos melhores remédios para a recuperação de uma crise econômica pode estar na exportação. De janeiro a julho de 2021, as vendas brasileiras para o exterior cresceram 35,3% em relação ao mesmo período de 2020, com um resultado total de US$ 161,42 bilhões.

Um dos motores para esse crescimento foi o agronegócio. Sozinha, a soja respondeu por pouco mais de 17,8% das exportações brasileiras (cerca de US$ 28 bilhões em valor de vendas), e um crescimento de 23,79% em relação ao total negociado no ano passado, O açúcar, com 22,27% de crescimento e US$ 4,08 bi em vendas, e os farelos de soja e outros alimentos, com aumento de 29,28% e US$ 3,68 bi, também tiveram um papel importante.

Os resultados são animadores, mas ainda há muito espaço para crescer, especialmente no cooperativismo.

O coop é um modelo que já deu certo e tem um enorme potencial quando a gente olha os próximos 15, 20 anos, não apenas na agricultura, mas também na saúde, no crédito, em outros modelos, como as cooperativas de catadores e recicladores, e outras”, disse o engenheiro agrônomo Marcos Fava Neves, um dos convidados da Semana ConexãoCoop, realizada pelo Sistema OCB, em julho, para discutir novos caminhos para o ecossistema cooperativista. 

Criador do site Doutor Agro e professor da USP de Ribeirão Preto, Neves destacou a importância das cooperativas agrícolas para o mercado internacional e mostrou a evolução dos números das exportações do agronegócio nos últimos 20 anos. Segundo ele, nesse período, o total de exportações cresceu quase cinco vezes — de US$ 20,5 bilhões para US$ 100,7 bilhões —, uma demonstração clara de como a relação do Brasil com os diversos mercados foi se alterando.

NEGÓCIO DA CHINA

Neves destacou também a mudança nos mercados que consomem os produtos brasileiros.

O país só vendia cerca de US$ 500 milhões para a China em 2000; em 2020, vendemos US$ 34 bilhões. A União Europeia e os Estados Unidos representavam de 52% a 55% de tudo que a gente vendia. Naquela época, em todas as reuniões, as reclamações do empresariado eram sobre o protecionismo desses mercados”, relembrou.

Os mercados europeu e norte-americano continuam importantes, mas o total de vendas para ambos não chegou a dobrar — passando de US$ 11,1 bilhões, em 2000, para US$ 21,9 bilhões, em 2020. Diferentemente, as vendas para o mercado chinês cresceram quase sete vezes em duas décadas.  

O professor destacou a importância de os produtores estarem atentos ao que ele chamou de “segunda China”, um conjunto de países que o Brasil pode mirar para ampliar suas vendas sem depender apenas do mercado chinês.

Esses países, todos com volume de exportação entre US$ 2,5 bilhões e US$ 1,29 bilhão cada, são: Japão; Coreia do Sul; Vietnã; Hong Kong; Turquia; Indonésia; Tailândia; Arábia Saudita; Bangladesh; Egito, e Emirados Árabes. 

O Reino Unido, 12º da lista, com pouco menos de US$ 1,3 bilhão, tem regulamentação semelhante à União Europeia e muito protecionismo. Os resultados dos seis primeiros meses de 2021 também mostram um grande crescimento de exportações brasileiras para o Irã — mais de 154%.

A ideia é fortalecer a nossa entrada nesses mercados e apresentar uma alternativa de crescimento à China”, explicou Marcos Fava Neves. 

Ele destacou ainda que, segundo o jornal Financial Times, há uma grande possibilidade de um novo ciclo de crescimento de commodities, e isso pode impactar na recuperação econômica brasileira.

===============================================================================

Livros digitais

Durante a Semana ConexãoCoop, o Sistema OCB lançou uma série de e-books para ajudar as cooperativas a se prepararem para ampliar sua atuação no mercado internacional. A série se chama Exportação para Cooperativas e os dois primeiros volumes, intitulados “Primeiros passos para exportação” e “Estratégia comercial e marketing para exportação”, já estão disponíveis para download.

Clique para acessar
Clique para acessar

===============================================================================

MOTOR ECONÔMICO

Também presente na Semana ConexãoCoop, a professora de Comércio Internacional na Universidade de Negócios Internacionais em Pequim, na China, Tatiana Prazeres, destacou a importância de as cooperativas e os investidores se familiarizarem com o mercado chinês e asiático como um todo. 

A Ásia é um dos motores da economia mundial e, em função disso, vêm as oportunidades. A China, em 2020, cresceu quando as outras grandes economias caíram; foi um dos países que mais atraíram investimento direto quando no resto do mundo o investimento diminuiu”, destacou Tatiana. 

Na avaliação da especialista, para quem quer abrir horizontes e crescer no mercado internacional, é impossível fugir desse mercado, mas é necessário ter preparo, ousadia e persistência. 

“Me preocupa um pouco quando se vê a Ásia como algo distante, exótico. Buscar o que é familiar e mais próximo não é o ideal. Hoje, a Ásia é inescapável e é importante encarar esse desafio. Isso requer preparação, requer investimento, ousadia e persistência. Nesse contexto, as cooperativas têm um papel importante de ajudar o produtor brasileiro a chegar a esses mercados. Exportar por meio de cooperativas ajuda a reduzir os custos, mitigar riscos e preparar melhor o produtor e as empresas”, explicou.

Segundo Tatiana, o perfil populacional da China vem evoluindo de uma maneira que traz oportunidades duradouras ao mercado. O último censo, divulgado em 2020, mostrou que a população em áreas urbanas cresceu de 50%, em 2010, para 64%. Em termos absolutos, isso significa quase 900 milhões de pessoas vivendo nas cidades chinesas — e os números ainda podem crescer.

Há um importante aumento na classe média na China, com crescimento da renda per capita, Isso traz também novos hábitos de consumo, cria uma demanda por alimentos importados, valorização de marcas. Na compra de alimentos, o fator mais importante para eles é a segurança alimentar, seguida de perto pela qualidade. Sabor, marca e preço vêm depois”, relatou.

Uma oportunidade interessante, na opinião dela, é que os chineses já consomem muitos alimentos brasileiros — cerca de 18% do que a China compra vem daqui —, mas não sabem, não os conhecem. Isso acontece porque muitas vezes os produtos são exportados como insumos e essa origem se perde no momento do processamento. Os alimentos chegam até a casa dos consumidores sem nada que os ligue ao Brasil.

“Isso, na verdade, é uma oportunidade, uma tela em branco. Os chineses valorizam muito os alimentos vindos de fora e o Brasil, como país, tem uma boa imagem aqui. Aproveitar essa abertura requer investimento, mas é possível; requer uma promoção comercial bem feita e bem adaptada. Um bom exemplo é o das cerejas chilenas. O Chile costumava priorizar os Estados Unidos para vender suas cerejas, mas, em um dado momento, começou a posicioná-las como um produto ‘premium’ no mercado chinês e hoje é um produto que as pessoas compram para dar de presente a amigos e familiares”, contou.

Com quase um bilhão de usuários, o comércio eletrônico também é uma porta de entrada importante para o mercado chinês. Nos próximos dez anos, de 30% a 35% das importações chinesas serão realizadas por meio de e-commerce, índice que deverá subir para até 55% no caso dos alimentos. A especialista ressaltou, entretanto, que o “ecossistema digital” da China é diferente do que estamos acostumados no Brasil, com sites e redes sociais próprias, e requer mais estudos para apostas de negócios.


Esta matéria foi escrita por  Por Fábio Fleury e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Gestão: 10 passos para implementar uma cultura de dados na sua coop

Um estudo divulgado em fevereiro de 2020 pelo professor e pesquisador americano David Waller, na Harvard Business Review, elenca os 10 passos para criar uma cultura orientada por dados em qualquer organização — do RH à comunicação, passando pelo atendimento à produção. São eles:

  1. A cultura orientada a dados começa (lá) de cima: tal qual qualquer grande mudança na cultura empresarial e corporativista, os líderes precisam dar o exemplo e incentivar essa mudança.
  2. Selecione métricas de forma cuidadosa e inteligente: antes de analisar os dados, é preciso definir o que se busca fazer com eles e de quais deles irá precisar.
  3. Não isole os seus cientistas de dados: o profissional de dados, seja o analista ou o engenheiro de dados, precisa estar por dentro do que está acontecendo no dia a dia da cooperativa. Para isso, não pode trabalhar isoladamente, em uma sala longe da linha de produção.
  4. Resolva com agilidade problemas básicos de acesso de dados: voltamos novamente para a transparência e democratização dos dados. Aqui, evite ao máximo a burocracia para liberar os dados para os analistas. Quanto mais rápido for disponibilizado e maior o número de dados, melhor.
  5. Esteja ciente do nível de incerteza: trabalhar com dados significa ter um nível de assertividade maior nas tomadas de decisões. No entanto, assim como acontece nas pesquisas eleitorais, por exemplo, saiba que sempre existirá uma margem de erro, por menor que seja.
  6. Prefira as provas de conceitos simples e robustos, não as extravagantes e frágeis: você possui ideias mirabolantes do que quer fazer com os dados? Ótimo! Mas comece do mais simples e desenvolva com o tempo.
  7. Ofereça treinamento especializado no momento certo: treinar uma equipe para trabalhar com dados requer tempo, pois o número de informações aprendidas será enorme. Então, não adianta treiná-los agora se não for utilizar esse conhecimento! 
  8. Utilize inteligência analítica para ajudar os colaboradores: a cultura baseada em dados é essencial para otimizar os processos também dentro da cooperativa, não somente para o cliente final. 
  9. Esteja disposto a trocar flexibilidade por consistência — pelo menos, em curto prazo: a cultura de dados inicial pode trazer certas inconsistências; por isso, será necessário manter a rigidez e a padronização dos processos.
  10. Crie o hábito de explicar as escolhas analíticas: as soluções baseadas em dados podem ser feitas por uma infinidade de caminhos, mas é sempre recomendável explicar quais foram as decisões tomadas e o porquê para os colaboradores. 

================================================================================

Dicionário de dados

A tecnologia tornou-se essencial para alavancar os negócios de qualquer organização, e as cooperativas não estão fora disso. Para conhecer um pouco mais sobre a cultura de dados e como ela pode ajudar a sua organização a dar o passo que faltava, a Revista Saber Cooperar separou os principais termos usados nessa área. Confira abaixo:

  • Big Data: enormes conjuntos de informações coletadas em grandes bases de dados para depois serem processadas e analisadas pelos cientistas ou analistas. Podem ser toda e qualquer informação: números, nomes, cores, entre outros. 
  • Machine Learning: é um conjunto de técnicas computacionais que visam utilizar dados para a elaboração de algoritmos que possam aprender padrões de forma independente. Permite que os computadores consigam aprender sozinhos a tomar decisões.
  • Data Science: a ciência de dados diz respeito a tudo relacionado à cultura dos dados, desde a coleta, passando pelo processamento e pela análise, até a visualização da informação. 
  • Data Analytics: a análise de dados faz parte da ciência de dados e é uma das etapas mais importantes. Afinal, sem uma análise correta do Big Data, os dados são apenas um amontoado de informações sem relação entre si. 
  • Business Intelligence (BI): traduzido como Inteligência de Negócio, é saber utilizar os dados para tomar as melhores decisões para o negócio.
  • Internet of Things: a Internet das Coisas, como é popularmente conhecida no Brasil, está cada vez mais difundida pelo mundo. Usando grandes bases de dados, essa tecnologia conecta à internet todos os apetrechos e utensílios do dia a dia, como relógio, óculos, veículos e até geladeiras.
  • LGPD: a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais é imprescindível para quem busca trabalhar com cultura de dados. Em vigor desde agosto deste ano, a lei diz respeito aos tipos de dados que as empresas de pequeno, médio ou grande porte podem armazenar. 

================================================================================


Esta matéria foi escrita por Renato Crozattie está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O novo petróleo

Na atual economia, não há espaço para decisões importantes com base em intuição e achismo. Para quem quer ser relevante e ter espaço no mercado, é preciso adotar medidas certeiras, baseadas em informações estratégicas. E o “culpado” disso tudo é um só: a cultura dos dados! 
“[Vivemos] novos tempos, em que temos internet, big data e inteligência artificial”, afirma o arquiteto de software e professor do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI) Ângelo Assis. “Temos um potencial que está transformando o mundo muito rápido. Não podemos tomar as decisões com base nas intuições que sempre tivemos. Temos que olhar o que está acontecendo, o que aconteceu no ano passado ou mesmo no primeiro semestre deste ano”, destaca

Ângelo Assis, arquiteto de software e professor do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI)




Se durante a primeira e a segunda Revoluções Industriais, o petróleo foi essencial para o desenvolvimento das indústrias e da sociedade como um todo, hoje temos um novo “combustível”. “Dados são o novo petróleo”, cunhou o matemático londrino Clive Humby, ao se referir à nova economia digital. E ele não estava errado.

Mas, assim como o petróleo precisa ser refinado para poder ser utilizado como combustível, os dados também precisam passar por um processo similar.

Big Data sem gerar valor é apenas um amontoado de dados”, afirma Ângelo Assis.

O desafio é trabalhar os dados com inteligência e, a partir da sua combinação ou cruzamento, gerar informação relevante, estratégica, de alta performance, e, sobretudo, potencializar resultados e dar segurança para a tomada de decisão.

Engana-se quem pensa que dados são importantes apenas para indústrias ligadas a informática e tecnologia. Eles podem (e devem) ser aplicados no modelo cooperativista. 

A superintendente do Sistema OCB, Tânia Zanella, destaca a importância do engajamento das cooperativas e dos cooperados para a transformação digital do setor, essencial para o futuro do cooperativismo.

Essa cultura de dados, através da transformação em ferramentas, agrega muito valor às cooperativas e, consequentemente, a todos os cooperados brasileiros”, diz.

INOVAÇÃO COM PROPÓSITO

O uso de dados pelo cooperativismo pode servir a inúmeros propósitos, entre eles, ajudar a solucionar problemas corriqueiros, do dia a dia dos cooperados. Um exemplo recente e premiado é o da Unimed Belo Horizonte. A filial mineira do sistema de cooperativas médicas inovou, em 2019, ao desenvolver um sistema inédito com a Kunumi, principal startup de inteligência artificial do Brasil. 

Os cientistas da Kunimi, com a área de Tecnologia da Informação da Unimed-BH, desenvolveram uma inteligência artificial para analisar e autorizar ou negar exames médicos com base no histórico e em outros dados dos pacientes. O que antes era feito manualmente por um time de médicos, que passava horas lendo e assinando papeladas intermináveis, hoje é automatizado por uma Inteligência Artificial (IA) — Artificial Intelligence, em inglês — desenvolvida por meio do machine learning

Imagine os médicos estudando tanto tempo para ficar somente assinando papel? É um uso de inteligência artificial que é super nobre”, diz Ângelo. 

O projeto rendeu à cooperativa o 1º lugar na categoria saúde e o 5º lugar geral no prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI 2019

O uso de dados e inteligência também pode ajudar a dar escala ao negócio e aumentar tanto a produtividade quanto a eficiência da cooperativa. É o caso da Cocamar, de Maringá (PR), que fez uma parceria com o HUB de Inteligência Artificial do Senai no estado. Juntos, eles desenvolveram uma tecnologia capaz de capturar imagens de amostras de grãos de soja, extrair informações e treinar um algoritmo, por meio do aprendizado de máquinas, para monitorar o nível de acidez e concentração de clorofila. Dessa forma, a IA seleciona os melhores grãos de soja para oferecer ao produtor. 

O processo de classificação dos grãos é crucial na negociação da produção agrícola. É por meio dessa classificação que os grãos são avaliados para compor o preço de compra que a Cocamar oferecerá ao produtor. Com a transformação desse processo, que hoje é parcialmente manual, para a classificação por imagens utilizando a Inteligência Artificial como ‘cérebro’ da operação, o objetivo é ganhar agilidade”, explica Guilherme Bulla Zago, especialista de projetos da Cocamar. 

Outro uso mais comum de dados no cooperativismo são os chatbots, atendentes virtuais presentes nos portais do Sicredi, Sicoob e de diversas outras cooperativas no Brasil. Ao alimentar a ferramenta com um grande banco de dados, é possível fazer a máquina aprender e se comunicar com o usuário do site — e o melhor de tudo, de forma bastante informal. 

Alice, atendente virtual do Sicoob

O Sicredi tem o Theo como atendente virtual desde 2018; o Sicoob tem a Alice, que, no ano passado, ganhou até um rosto próprio! 

TRANSPARÊNCIA E DEMOCRATIZAÇÃO

Dados evidenciam o nível de performance da organização, o produto que vende ou deixa de vender e o desempenho de outras empresas do ramo. Todas essas informações dão embasamento para a ação e, em um mundo competitivo, abrir mão desses dados é inaceitável. Em algumas organizações, entretanto, há barreiras culturais que precisam ser sobrepostas.

Na avaliação do professor Ângelo Assis, que participou da Semana ConexãoCoop, para uma cultura de dados realmente efetiva, é importante manter a transparência e disseminar as informações com rapidez, seja entre os cooperados, empregados ou mesmo entre outras cooperativas — desde que não sejam sigilosas, claro. “A democratização dos dados é um dos princípios da indústria 4.0”, explica.

A cooperação descentralizada favorece muito, faz com que mais pessoas analisem os dados e pensem mais ao mesmo tempo.” relata Ângelo.

Ele reitera que a falta de transparência pode alimentar o individualismo, um dos erros mais comuns entre as organizações que buscam investir em uma cultura de dados. “Os dados são de todos e para todos. Como faço uma análise de dados com tanta burocracia?”, reflete.

Outros equívocos destacados pelo professor se referem à tomada de decisões (jamais decida algo importante baseado somente em intuição e achismo: “Analise os dados e depois tome a decisão”), ao trabalho com dados obsoletos (“O mundo muda muito rápido! Com a pandemia, mais rápido ainda. Tem que usar dados atualizados!”) e à falta de investimento. 

CRESCIMENTO ORIENTADO

Além de incentivar as cooperativas de todo o Brasil a expandir fronteiras e investir na cultura de dados, o Sistema OCB aposta em informações estratégicas para a consolidação do modelo e para o crescimento do setor. 

O cooperativismo vem construindo uma credibilidade por suas ações, atitudes e entregas. A base disso é a informação”, afirma o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, destacando a importância de produtos como o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2021 “É para sabermos quem somos, quantos somos, como somos e o que estamos informando. Se não temos essa informação boa, saudável, legítima e correta, não temos condições de desenvolver nossa missão”, completa.

=============================================================================

Como chegamos na indústria 4.0?

Desde o século XVIII, o mundo passou por uma de suas primeiras grandes transformações. Entre 1760 e 1840, os países começaram a se industrializar devido à Revolução Industrial que acontecia na Inglaterra. Os centros urbanos cresceram com o surgimento das primeiras máquinas a vapor e, consequentemente, a criação dos maquinários têxteis, para a fabricação de roupas. 

Entre 1850 e o começo da Segunda Guerra Mundial, começou o que ficou conhecido como a Segunda Revolução Industrial. Nesse período, foram aprimoradas as técnicas de produção e surgiram novas máquinas graças ao uso de aço, eletricidade e petróleo pelos grandes centros urbanos — que se expandiu para as regiões rurais em todo o mundo. 

Durante esse período foram criadas as primeiras cooperativas do Brasil, com a Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto (MG), em 1889, e as cooperativas de crédito do Rio Grande do Sul, em 1902. 

Após a Segunda Guerra Mundial, graças à globalização, às telecomunicações, à informática, à robótica e à genética, ocorreu a Terceira Revolução Industrial, automatizando o processo produtivo em larga escala. 

Atualmente, graças ao avanço da tecnologia, principalmente ligada à internet, inteligência artificial e ao número exorbitante de dados disponíveis, vivemos a Quarta Revolução Industrial — ou, como ficou conhecida, Indústria 4.0. 

=============================================================================


Esta matéria foi escrita por Renato Crozatti e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


De olho no amanhã


Em meio a uma programação repleta de oportunidades e ideias para que as cooperativas ampliem sua atuação e inovem cada vez mais, foi lançado o estudo Coop de Olho no Futuro: Tendências de mercado diante de um novo mundo, uma parceria da OCB com o Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE). O objetivo é que cooperativas de todos os ramos e partes do país possam ter acesso a informação de qualidade que ajude na tomada de decisões e no desenvolvimento da cultura de predição e inovação. 

O estudo aborda aspectos importantes da cultura de monitoramento, análise e interpretação das transformações que estão acontecendo e as projeta em um futuro. Além disso, traz um levantamento sobre as tendências locais e globais que deverão impactar os mercados e a sociedade nos próximos anos, além de apontar mudanças que já estavam em curso e foram aceleradas em razão da pandemia.

Essa primeira parte do estudo aborda as principais forças estruturantes, ou megatendências, que impactarão os mercados ao redor do mundo. “São as mudanças imparáveis. Forças que surgem e já vêm há muitos e muitos anos acontecendo, mas vão ganhando velocidade e se tornam grandes desafios estruturantes do nosso modo de vida. Elas alteram as prioridades da nossa sociedade e são as grandes impulsionadoras das inovações”, explica Paula Abbas, uma das autoras do estudo e professora de design thinking e inovação do ISAE.

As forças estruturantes citadas no estudo são organizadas a partir de cinco principais vetores: demográfico; econômico; social; ambiental, e tecnológico. No vetor demográfico, por exemplo, o trabalho explica como tendências já consolidadas, como o envelhecimento populacional, impactarão o mercado de bem-estar, saúde e tecnologia, além de se tornarem um desafio para governos. 

No vetor social, o estudo aponta como alguns valores emergem com mais força nos últimos anos e devem ser levados em conta nos negócios, como a questão racial, o empoderamento feminino e o forte impacto da pandemia na saúde mental das populações. Por menor ou mais tradicional que seja a sua cooperativa, um olhar atento para o futuro pode ser chave para a sobrevivência do negócio. 

No caso do ramo agro, por exemplo, seja o pequeno ou grande produtor rural, ele precisa compreender quais são os desafios do mundo. Nós teremos desafios de recursos energéticos em um futuro muito próximo, desafios de alimentar toda a população que está crescendo, desafios de recursos hídricos, e precisamos entender de que forma o produtor pode ser um agente de otimização da cadeia”, exemplifica Paula. 

Na seção vetores tecnológicos, o estudo aponta os rumos de transformações importantes, como a digitalização, que foi acelerada pela pandemia; o uso crescente da inteligência artificial; o crescimento da preocupação com a segurança cibernética, e o fortalecimento das criptomoedas. 

Nos próximos meses, conteúdos complementares trarão insights direcionados a cada ramo do cooperativismo. O estudo está disponível para download gratuito


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Como será o amanhã?

Prever o futuro não é mais tarefa de astrólogos, cartomantes e videntes. Virou profissão e é uma atividade que pode ser muito importante para determinar o sucesso ou fracasso de um negócio — inclusive das cooperativas. O trabalho dos futurologistas e a cultura de predição foram alguns dos temas discutidos na Semana Conexão Coop. A mesa contou com importantes nomes da área que trabalham constantemente na busca por respostas que ajudem a prever como a sociedade vai se comportar a curto, médio e longo prazos — e os impactos dessas mudanças, cada vez mais aceleradas, nos diferentes mercados. 

O futurismo é um trabalho que busca explorar futuros alternativos, inclui desenhos de cenários, análise de movimentos científicos e tecnológicos capazes de transformar nossa sociedade. É um campo de pesquisa amplo em que a gente usa um misto de abordagens e métodos para compreender e nos aproximar das informações que possam apontar para futuros”, explica Paula Abbas, pesquisadora de tendências e professora de design thinking e inovação do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE).

Ela é uma das autoras do estudo Coop de Olho no Futuro: Tendências de mercado diante de um novo mundo, que foi lançado durante o evento. Ela falou aos representantes de cooperativas sobre a importância da “alfabetização em futuros”, considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma habilidade essencial para se adaptar ao Século XXI. Trata-se da capacidade de compreender melhor o papel que o futuro vai desempenhar naquilo que as pessoas veem e fazem no presente. 

Paula Abbas, futurologista

Profissionais como a Paula não trabalham com bola de cristal, mas se dedicam a estudar pesquisas de diversos campos do saber para analisar os movimentos da sociedade, em diferentes áreas, seja na tecnologia, na economia ou no comportamento das pessoas. São informações que podem mudar a forma de enxergarmos nossa atuação enquanto cooperativa, e até mesmo o futuro do próprio cooperativismo.

Isso vai se realizar? Esse é um dos grandes questionamentos que vêm quando pegamos um estudo de tendências. O propósito é imaginar futuros, se tornar capaz de compreender para que direção a nossa sociedade, que é dinâmica, está caminhando. Para que a gente possa conseguir propor alternativas estratégicas para futuros desejáveis”, aponta. 

Paula sempre fala de futuros, assim mesmo no plural, porque eles dependem da nossa habilidade em analisar cenários e a capacidade de intervenção. Eles podem ser possíveis, prováveis ou desejáveis. “Não temos nenhum tipo de bola de cristal, mas uma quantidade de dados quantitativos e qualitativos que nos mostram as mudanças que estão acontecendo na nossa sociedade, no meio ambiente, no pensamento das pessoas, nas tecnologias e que causam um impacto sistêmico”, indica. 

INOVAÇÃO NA UNIMED

Para entender como o trabalho de pesquisa de tendências funciona na prática de uma cooperativa, o painel contou com a participação da Unimed-BH, cooperativa que tem trabalho reconhecido na área de inovação.  

Em 2014, a organização criou um Centro de Inovação para fortalecer e disseminar essa cultura dentro da cooperativa. O centro mantém uma equipe permanente de análise de tendências, promove eventos internos e externos, e parcerias com instituições de pesquisa. Por essa razão, a telemedicina, que passou a ser utilizada em larga escala durante a pandemia do novo coronavírus, já estava no radar da Unimed BH há alguns anos. 

Rafael Paolinelli, gerente de inovação e convergência da Unimed BH

Apenas três dias após a declaração da pandemia e a autorização para realização de consultas on-line, nós já estávamos operando o sistema. Por meio da teleconsulta, fizemos mais de 451 mil consultas on-line, é um público que foi retirado do serviço do pronto-atendimento. A gente salva muitas vidas com essa plataforma, porque seriam possíveis 451 mil clientes com algum sintoma, circulando pelas ruas”, explica Rafael Paolinelli, gerente de inovação e convergência da Unimed BH.

Justamente pelo trabalho de análise de tendências, a cooperativa já estava apostando no formato de consultas on-line e um projeto-piloto operava desde 2018. Com isso, a equipe teve condições de colocar uma solução no ar em um curto espaço de tempo no momento em que a pandemia foi deflagrada. Outra “coincidência” foi que o último grande evento presencial do Centro de Inovação da cooperativa discutiu, justamente, o futuro da telemedicina, no início de em março de 2020. Havia, inclusive, a previsão de palestrantes internacionais, que tiveram que participar a distância — o primeiro evento híbrido da cooperativa, antes mesmo de a pandemia surgir com força.

Isso só foi possível porque a gente estava com uma equipe interna estudando futuros e cenários que tínhamos pela frente e sabíamos que precisávamos falar de telemedicina, mesmo ainda em um cenário desfavorável para aplicação com o cliente, mas sabíamos que era uma tendência”, afirma Paolinelli. 

Desde o início da pandemia, o serviço de telessaúde da Unimed BH foi ampliado, com a oferta de outras especialidades, mesmo não relacionadas à Covid-19. Atualmente, a média é de três mil atendimentos diários de telemedicina. Além desse projeto, o Centro de Inovação é responsável por iniciativas que reduzem custos e ampliam a capacidade de atendimento ao cliente por meio do uso da inteligência artificial. 

O diretor administrativo da Unimed-BH, Eudes Magalhães, lembra que a telemedicina já era adotada de maneira intensiva em diversos países e as experiências mais arrojadas no Brasil começaram na década de 1990. A aposta, agora, é que ela siga em franca expansão.

Eudes Magalhães, diretor-administrativo da Unimed-BH


“A pandemia acelerou uma discussão que já estava em curso sobre a evolução da prática, impulsionou o uso em massa e também demonstrou que o país já tem recursos tecnológicos e de segurança digital que conseguem suportar essa expansão, criando garantias de que este é um modelo que veio para complementar e aprimorar o trabalho dos profissionais de saúde, bem como criar alternativas que vão sofisticar o vínculo e a interação com pacientes daqui para a frente”, acredita.

MAPEAR TENDÊNCIAS

A futurologista Letícia Setembro destacou que a pandemia enfatizou muito a “ansiedade pelo futuro” e a “dificuldade de enxergar o caminho” para todos os tipos de empresas. Segundo ela, o exercício de desenhar futuros ainda é novo, mas deve ser encarado por todas as organizações, independentemente do tamanho.

Letícia Setembro,sócia-diretora da IF Futures.

Uma das grandes vantagens desse trabalho permanente de mapeamento é, justamente, tentar identificar oportunidades e riscos para o negócio a curto, médio e longo prazos. “A gente não vai vencer todas, porque não somos oráculos. Mas, ao tentar mapear a maioria dos possíveis caminhos, você começa a identificar mais oportunidades ou riscos do que você havia previsto e com isso desenha um mapeamento estratégico mais assertivo. Caso o seu cenário mais catastrófico aconteça, você já tem um plano de contingência. Ou, se caminhar para o seu melhor cenário de inovação, você já tem um plano de ação na manga”, aponta Letícia Setembro, sócia-diretora da IF.Futures e uma das autoras do estudo lançado pela OCB. 

Para os futurologistas, o surto sanitário mundial é considerado um wildcard: um evento que tem baixíssima possibilidade de acontecer, mas gera um grande impacto na sociedade. “Sempre me perguntam se nós já sabíamos do que aconteceria. A pandemia já estava no radar, mas não poderíamos apontar como, quando, nem com que velocidade ela aconteceria, tampouco quais transformações e decisões seriam tomadas frente a esses gatilhos”, afirma Paula.

Durante o painel, Letícia destacou que a cultura de predição se desenvolve dentro de uma empresa ou cooperativa a partir do momento em que há pessoas dedicadas, periodicamente, a acessar materiais de tendência e observar esses movimentos. Ela recomenda que as cooperativas criem um núcleo de inteligência ou inovação que possa funcionar como um radar, acompanhando as tendências para entender a velocidade com que elas caminham, quais devem receber uma atenção maior ou podem representar uma ameaça ao negócio. 

Um primeiro passo seria trabalhar — em workshops, por exemplo — os cenários de futuro. A partir deles, mapear oportunidades e riscos, e incluir esse detalhamento no planejamento estratégico da cooperativa. Por fim, manter o trabalho constante de monitoramento e avaliação das tendências para compreender se elas caminham conforme o esperado e quais devem ser os ajustes nas ações internas para acompanhar essa velocidade. 

Não é um trabalho simples, mas o importante é tirar os pontos cegos, priorizar e começar a fazer hoje o que você quer alcançar amanhã”, destaca. “A gente tinha uma ilusão de que o futuro era linear; gostaríamos que fosse por um caminho, mas a gente não tem controle. A pandemia veio comprovar isso, mas é algo que as empresas já deviam saber”, complementa. 

Paula destaca que há várias possibilidades de futuros e não precisamos ficar à mercê dos acontecimentos. Ao contrário, devemos procurar ser protagonistas. “A ideia do futuro desejável é justamente eu tomar ações no presente, para que eu possa construir ou protagonizar um futuro melhor para a minha organização, para a sociedade ou mesmo para mim, individualmente”, diz.  “A mudança é a lei da vida, nós mudamos o tempo todo. Quem está só olhando para o passado e apagando fogo no presente, certamente vai perder o futuro”, complementa.

A mudança é a lei da vida, nós mudamos o tempo todo. Quem está só olhando para o passado e apagando fogo no presente, certamente vai perder o futuro.” Paula Abbas, futurologista

Ao tentar mapear a maioria dos possíveis caminhos, você começa a identificar mais oportunidades ou riscos do que você havia previsto e com isso desenha um mapeamento estratégico mais assertivo. Caso o seu cenário mais catastrófico aconteça, você já tem um plano de contingência. Ou, se caminhar para o seu melhor cenário de inovação, você já tem um plano de ação na manga.” Letícia Setembro, sócia-diretora da IF.Futures. 


Esta matéria foi escrita  por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cooperativas adotam estratégias da nova economia para aumentar as vendas

As cooperativas brasileiras não estão paradas; pelo contrário, estão com o pé no acelerador e têm adotado estratégias da nova economia para aumentar as vendas. Elas não esperaram ter um plano 100% perfeito, mas colocaram em ação boas ideias. A paranaense Cocamar, da agroindústria, ampliou a sua presença digital com um e-commerce; a paulista Coop, de consumo, apostou em um serviço de delivery; e a mineira Coopmetro ampliou a atuação no transporte para e-commerce com intercooperação. 

AS TRÊS LIÇÕES DA COCAMAR (PR)

Com a chegada da pandemia, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial — que nasceu em 1963, no Paraná — agiu rápido para não ficar para trás e investiu recursos para adaptar e amadurecer a iniciativa de implementação do e-commerce (www.lojacocamar.com.br)

Com as vendas pela internet, a cooperativa entendeu as necessidades dos cooperados e clientes, e ampliou a capilaridade da atuação.

Na avaliação da gerente de marketing e comunicação, Cristiane Kondo — responsável pelo e-commerce —, a iniciativa tem como intuito preparar a cooperativa para o futuro. "A proposta de valor sempre foi pautada em entender para atender", afirmou.

Cristiane Kondo, gerente de marketing e comunicação

Ela conta que foram mapeados dois grandes públicos: o primeiro, ligado ao agro, é composto por cooperados, pecuaristas, produtores rurais e agricultores; e o segundo, classificado como clientes de consumo, é integrado por empresas com intuito de revenda, industrialização, transformação e consumo. 

Segundo Cristiane Kondo, a experiência de implementação da loja virtual continua sendo desafiadora, uma vez que o e-commerce mexe com todas as estruturas tradicionais da empresa. "Nós tivemos que entender essa nova dinâmica digital, quebrar paradigmas, testar e evoluir constantemente."

Com todo o esforço, a cooperativa contabiliza resultados surpreendentes. Houve, nas Lojas Cocamar, um crescimento consistente nas buscas; nos acessos e nas vendas mês a mês, superando todas as metas estabelecidas.

Isso gera um fortalecimento de marca, levando o nome da cooperativa para regiões em que atuávamos muito pouco, até então — como Santa Vitória do Palmar (RS), na fronteira entre Brasil e Uruguai, até cidades do Rio Grande do Norte." 

Responsável pela implementação do e-commerce, Cristiane Kondo destacou três grandes lições com o processo de inovação implementado: a importância de ter um time dedicado e multidisciplinar, capaz de conciliar a visão de futuro com a cultura da empresa; a necessidade de assumir riscos calculados:

se permitir errar para poder corrigir ainda mais rápido”; e, por fim, estar atento aos sinais de oportunidade que o mercado apresenta.

DELIVERY PARA OS CLIENTES E COOPERADOS DA COOP (SP)

Nascida em São Paulo, a COOP é uma rede de varejo colaborativo que ajuda o cliente a resolver tudo o que precisa num só lugar. São 32 unidades de supermercados distribuídas por 10 cidades; mais 77 drogarias espalhadas em 20 municípios do estado. Com 65 anos de história, é a maior cooperativa de consumo da América Latina. 

Em 2016, criaram o serviço Coop Retira (click & collect) e — até 2019 — os clientes faziam os pedidos dos produtos pela loja virtual, realizavam o pagamento e faziam a retirada da mercadoria na loja física, em um horário agendado. Mas, com o agravamento da crise sanitária e o endurecimento das regras de circulação de pessoas, a cooperativa foi obrigada a repensar suas operações e viu a necessidade de criar um sistema de entrega (delivery) para os seus cooperados. Assim nasceu o Coop Entrega.

Em menos de um mês, a cooperativa conseguiu colocar o delivery em operação, tanto nos supermercados quanto nas drogarias. Entre maio e agosto de 2020, ampliaram o hub de distribuição. Iniciaram o serviço em duas lojas em Santo André e uma em São José dos Campos; já em setembro, ampliaram para as mesmas praças do serviço de Coop Retira. E, no decorrer do ano passado, consolidaram as operações. Os números refletem o crescimento: somente em 2020, foram realizadas 2.100 entregas pelo Coop Entrega; este ano, só até julho, foram 8.200 entregas. O mesmo ocorreu com o Coop Retira. Em 2019, foram 1.960 pedidos; em 2020, um salto: 7.700. Até julho deste ano, os dados parciais apontavam 1.900 pedidos. 

Para o presidente da COOP, Márcio Valle, a aceleração da digitalização das operações de varejo foi uma das mudanças trazidas pela pandemia. O jeito cooperativista, entretanto, não fica de lado, e há uma presença ativa da equipe de funcionários nos canais digitais, o que possibilita um atendimento mais personalizado aos clientes, inclusive com ligações, sugestões e aconselhamento sobre compras e trocas de produtos.

É uma relação digital entre duas pessoas que, praticamente, estão interagindo 'fisicamente’ e fazendo compras juntas. Essa é uma oportunidade que nós conseguimos pelo nosso diferencial, por sermos cooperativa, por conta desse atendimento, que é o nosso DNA", comenta, ao falar que o calor da compra presencial ganhou uma nova forma com a transformação digital. 

INTERCOOPERAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE EXPANSÃO: COOPMETRO (MG)

A Coopmetro começava a implementar seu e-commerce quando a pandemia chegou ao país. Habituada com o transporte de cargas refrigeradas e secas (quando o produto não precisa de refrigeração), a cooperativa de logística mineira viu os pedidos de entrega acelerarem rapidamente com o crescimento das compras on-line

Para aumentar a capilaridade de atuação no mercado nacional e melhor atender os clientes, a Coopmetro investiu na intercooperação como estratégia de expansão e crescimento dos negócios. Nesse sentido, firmou acordos com várias cooperativas — entre elas, algumas de transporte de passageiros, como táxis, escolares, vans executivas, e cooperativas de transporte de cargas. 

O diretor da Coopmetro, Evaldo Matos, avalia que foi uma oportunidade de ajuda mútua entre as entidades.

Somos mais de 10 cooperativas parceiras neste grande projeto de expansão do e-commerce.

O crescimento possibilitou à Coopmetro atuar dentro de grandes plataformas de marketplace (entre elas, o Mercado Livre). Atualmente, fazem não só o transporte das mercadorias da empresa argentina, como também apoiam na elaboração de roteiro para os fretes; e fazem o armazenamento dos produtos. A realização da distribuição das encomendas do e-commerce nos grandes centros urbanos ocorre por meio das parcerias entre cooperativas. 

Evaldo Matos, diretor da Coopmetro

No ano passado, em plena pandemia, a Coopmetro cresceu 30%. Evaldo atribui essa ascensão não somente às demandas do e-commerce, mas também ao grande volume de entrega de alimentos aos supermercados e ao consumidor final. 

Atualmente, a Coopmetro conta — somente no e-commerce — com mais de 600 cooperados. O faturamento mensal com o frete de compras on-line é da ordem de R$ 2,5 milhões. “O segmento já representa mais de 10% de todo o nosso faturamento, de um total de R$ 20 milhões”, revela.  

Para Evaldo Matos, o cooperativismo de transporte é um grande parceiro da economia, tanto no cenário de pandemia quanto no arrefecimento do surto. A expectativa é de, até o final do ano, alcançar a marca de mil cooperados somente no frete relacionado ao e-commerce e dobrar o faturamento nesse segmento de entregas para R$ 5 milhões em 2022.

==============================================================================

SISTEMA OCB DISPONIBILIZA O CURSO VENDA MAIS A FÓRMULA PARA VENDER NAS REDES SOCIAIS

Confira as técnicas para montar boas estratégias de comunicação e vendas para a sua coop usando as redes sociais como ferramenta. Os interessados vão aprender: como gerar vendas; como usar as redes sociais para acelerar o crescimento do seu negócio; e como montar estratégia de vendas usando as redes. 

Para esse curso, o Sistema OCB convidou Eduardo Carvalho, especialista em redes sociais, campanhas e comunicação, que modelou o conteúdo para ser aplicado como estratégia de sucesso para as cooperativas.

A qualificação é oferecida gratuitamente aos profissionais de cooperativas regulares, por meio da plataforma EaD do site ConexãoCoop. Basta fazer o cadastro e mergulhar nas ferramentas e técnicas que podem alavancar o negócio das cooperativas. 

A maioria das decisões devem ser feitas com cerca de 70% das informações que você deseja ter. Se esperar até conseguir 90% na maioria dos casos, vai se atrasar.”, Jeff Bezos fundador e CEO da Amazon

Antes, ganhava quem tinha uma super ideia e um super planejamento; hoje, ganha quem aprende mais rápido, quem tem capacidade de adaptação: adequar o plano à medida que o cenário muda. E a pandemia trouxe isso como aprendizado.” Renato Mendes, professor do Insper

===========================================================================


Esta matéria foi escrita por Manuel Marçal e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Digitalização e compartilhamento: novos caminhos

Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood

Líder no setor de entrega de comida na América Latina, o iFood é uma empresa brasileira fundada em 2011. Hoje, ela atua também na Argentina, no México e na Colômbia. Aberta como startup, a empresa de base tecnológica é considerada uma fintech e faz parte da nova economia. O que as cooperativas podem aprender com esses novos modelos de negócio? O que falta para que elas se destaquem no mundo cada vez mais competitivo? Confira algumas dicas no bate-papo com o vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, Diego Barreto. 

Saber Cooperar: Qual é o seu contato com o ambiente das cooperativas?

Diego Barreto: Meu avô tinha uma fazenda em Uberaba, Minas Gerais, e eu ficava ali, ajudava ele a tirar leite e via essa relação. A figura da cooperativa para mim, nesse momento, é do pequeno produtor de leite, que tinha dificuldade grande para fazer a distribuição depois de tirar o leite e definir o preço. A cooperativa é muito importante para trabalhar com essa escalada. Meu avô, como produtor de leite isolado, não fosse a cooperativa, teria dificuldade para fazer essa negociação; isso tiraria tempo dele de trabalho na fazenda, por exemplo. Teria um poder de barganha pequeno e não conseguiria rentabilizar. A cooperativa, então, é importantíssima para permitir que um pequeno empreendedor, como o meu avô, tivesse um resultado final digno, de alguém grande. 

Saber Cooperar: O que o iFood tem a ver com as cooperativas?

Diego Barreto: A nova economia é baseada em interação e conectividade. Na prática, é uma replicação do que as cooperativas fazem, no ambiente empresarial. As empresas são lineares e as cooperativas são ecossistemas físicos. A cooperativa entende o que é montar um ecossistema. E é esse o nosso desafio do iFood. Nós conectamos restaurantes, entregadores, empresa de pagamentos, indústria… Tudo isso de forma digital. Não somos uma cooperativa no modelo econômico, mas no conceito de ecossistema. 

Saber Cooperar: E como as cooperativas podem aprender com esse modelo da nova economia?

Diego Barreto: As cooperativas podem aproveitar esse ativo que construíram ao longo do tempo, justamente esse ecossistema. A dificuldade que enfrentam, agora, é serem mais digitais, mais dinâmicas. Se olharmos para o ano 2000 e pensarmos 15 anos antes, quais empresas surgiram do nada e arrebentaram? A gente tem até dificuldade para lembrar. Se olhar de 15 anos para cá, temos iFood, 99, Nubank, Picpay, Loggi e diversas outras empresas, e isso por causa da digitalização, um processo que permite um surgimento muito mais fácil das novas empresas.  

Saber Cooperar: As cooperativas têm um tipo de interação entre si que fortalece esse ecossistema cooperativo. Esse aspecto, de colaboração e compartilhamento, tem mudado na relação entre as empresas? 

Diego Barreto: As empresas da nova economia têm uma disposição muito maior para trocar. Elas trabalham na estratégia de integração, de troca, de compartilhamento, muito maior que as empresas lineares. As APIs [conjunto de padrões que fazem parte de uma interface e que permitem a criação de plataformas de maneira mais simples e prática para desenvolvedores] com os dados dessas empresas, muitas vezes, são abertas, estão disponíveis. Então, existe um espírito que leva para isso. Mas ainda não dá para dizer que é uma tendência. 

Saber Cooperar: E qual é o desafio do iFood neste momento? 

Diego Barreto: O grande desafio do iFood agora é continuar se reinventando, compreendendo a mudança comportamental e o desejo do consumidor, e fazer disso uma realidade rápida, prioritária. Continuar sendo o que sobe a régua e não a empresa que precisa acompanhar quem está subindo a régua. O desafio é continuar a compreender essa sociedade, diversa e heterogênea, que tem pensamentos diferentes. 


Esta matéria foi escrita por  Por Lucas Pavanelli e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Fortalecendo o ecossistema

A primeira vez em que Diego Barreto teve contato com uma cooperativa foi há uns 30 anos, quando ele ajudava o avô a tirar leite no curral na fazenda da família em Uberaba, a 481km de Belo Horizonte. A cidade, de 330 mil habitantes, é uma das maiores da região e se desenvolveu graças ao agronegócio. A presença de propriedades para a produção de cana-de-açúcar, algodão, milho, soja ou criação de gado para corte e leite contribui para o desenvolvimento de um ecossistema que influencia na indústria e nos serviços. O leite tirado na fazenda do avô de Diego, desde aquela época, é vendido com o de outros produtores rurais da região, por meio de uma cooperativa local. 

Era o clássico cenário ganha-ganha: o avô de Diego conseguia vender toda a produção sem muito esforço e com um preço melhor. E o comprador só precisava negociar o valor com a cooperativa, em vez de ter que bater na porta de diversos produtores para conseguir um volume de leite satisfatório. 

A cooperativa era importantíssima para permitir que um pequeno empreendedor, como o meu avô, tivesse um poder de barganha maior. Como produtor isolado, meu avô teria dificuldade grande para fazer a distribuição, definir o preço e conseguir um comprador. Teria que tirar o tempo dele da fazenda para isso”, explica Barreto. 

Hoje, Diego Barreto é vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, uma empresa de base tecnológica que nada tem a ver com o modelo das cooperativas, certo? Não necessariamente. 

Segundo ele, o modelo de intercooperação, em que cooperativas se integram para resolver problemas e fortalecer o modelo de negócios baseado na cooperação, tem muito o que ensinar às empresas tradicionais. 

A nova economia é baseada em interação e conectividade. Na prática, isso é uma replicação do que as cooperativas fazem. As empresas são estruturas lineares, mas as cooperativas são um ecossistema físico.”

O modelo econômico em que empresas precisam construir todo um universo em torno delas para se desenvolver tem dado espaço à noção de ecossistema, que as cooperativas já conhecem muito bem. No caso do iFood, por exemplo, uma plataforma digital, como um aplicativo instalado no smartphone do usuário, é capaz de conectar restaurantes, entregadores, empresas de pagamento, indústria, entre vários outros segmentos, em uma única transação. 

“Não somos uma cooperativa no sentido do sistema econômico adotado, mas do ecossistema que precisamos montar para existirmos.”  

 COOPERAR E INOVAR

O processo de transformação digital dentro das cooperativas tomou corpo a partir do ano passado, quando a pandemia forçou uma mudança brusca nas relações não só de trabalho como de compra, venda e prestação de serviços. 

Foi o caso da Unifop, uma cooperativa de saúde localizada em Petrópolis, a 65km do Rio de Janeiro. De uma hora para a outra, a diretora-presidente Jociane Gatto viu as medidas de restrição fecharem os consultórios de seus cooperados, todos profissionais de saúde nas áreas de psicologia, nutrição e fisioterapia.

Sem as consultas presenciais, a Unifop se viu ameaçada, mas soube contornar as dificuldades de uma forma muito rápida. 

Não houve um planejamento, mas a necessidade de operacionalizar as atividades em formato diferente”, conta Jociane.

Segundo ela, em dois meses, o site da cooperativa estava no ar e os profissionais começaram a prestar consultas on-line por meio da plataforma.  

Para os psicólogos, a modalidade de atendimento remoto foi regulamentada em 2018 pelo Conselho Federal de Psicologia, mas foi a pandemia que tornou esse tipo de atendimento uma possibilidade real, tanto para os pacientes como para os profissionais da saúde. O que era uma adaptação para um momento singular se tornou um novo nicho de negócio. 

Está se mostrando, mesmo, uma tendência. Vamos continuar no modelo misto, já que há pacientes com dificuldade de se ambientar ao on-line, mas muitos outros preferem o atendimento remoto. Vemos hoje, como opção”, destaca. 

Para firmar ainda mais a consulta on-line como alternativa aos clientes, a Unifop, agora, investe em modificações para que seu site se torne mais funcional — e completo. De acordo com a diretora-presidente Jociane Gatto, o que é feito manualmente, com a ajuda de secretárias, será levado diretamente ao sistema digital, como o agendamento das consultas e o pagamento, além de uma plataforma própria para os atendimentos — do tipo Meet ou Zoom, que se tornaram ferramentas de trabalho durante a pandemia. 

As mudanças tecnológicas pelas quais a Unifop passou só foram possíveis graças a uma outra cooperativa, a Libre Code, que desenvolve soluções em software livre. 

Jociane conta que a Unifop tem cerca de 20 anos de existência e, nesse período, sempre contratou serviços de outras cooperativas, como também prestou serviço a outras entidades do mundo cooperativo. Na avaliação dela, a intercooperação fortalece o modelo econômico e o setor como um todo. 

Comecei a me aproximar e a construir uma relação mais forte com as cooperativas da redondeza. Agora, estamos olhando cada vez mais para fora. A impressão que tenho é que essa relação de intercooperação funciona como deve ser mesmo; se a gente não se amparar e não fortalecer os laços, ninguém se sustenta.” 

INTERCOOPERAÇÃO

A digitalização também foi o caminho encontrado por um conjunto de cooperativas de São Paulo e da Região Sul do país. A Supercampo, uma empresa SA com DNA de cooperativa, foi criada para reunir em um único marketplace diversas cooperativas com o objetivo de fomentar a intercooperação entre elas. 

O negócio nasceu com a Frísia, que reúne quase 900 cooperados no Paraná. De acordo com o presidente da Supercampo, Ronald Eikelenboom, a ideia foi agregar uma série de outras instituições para dentro de um mesmo marketplace

Percebemos que não fazia sentido ter um marketplace somente da Frísia, portanto, no ano passado, convidamos mais cooperativas para serem sócias da plataforma. Se não fosse a Supercampo, cada cooperativa teria seu marketplace. O objetivo é fazer com que a Supercampo preste um serviço digital para elas. No nosso modelo, cada cooperado é dono da plataforma e estamos buscando atendê-los de forma digital, com cashback, serviço diferenciado, um time de relacionamento, SAC etc.” 

Para Eikelenboom, a digitalização é um caminho sem volta. “As cooperativas estão vendo o digital como futuro, e isso é um caminho sem volta. Acho que estamos em processo de maturação, em que temos que desenvolver, fazer um trabalho interno de divulgação.”

Hoje, 12 cooperativas que reúnem mais de 80 mil cooperados estão na plataforma Supercampo, que reúne, também, mais de 240 lojistas de diversas áreas ligadas ao universo do agronegócio, além de peças, pneus, autopeças, lubrificantes, entre outros. 

====================================================================================

 Vitrine digital

Pensando no fortalecimento da intercooperação, a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) lançou, em julho, durante a Semana ConexãoCoop, uma plataforma de intercooperação que agrega, em um só lugar, diversas cooperativas das mais diferentes áreas, que podem divulgar seus negócios de forma prática, simples e gratuita. 

A plataforma NegóciosCoop funciona como um grande marketplace para que cooperativas possam encontrar outras cooperativas em nível nacional e, assim, fazer negócio e fortalecer o ecossistema em todo o país. 

A plataforma nasceu durante a pandemia, na perspectiva de trazer um ambiente de inovação capaz de conectar iniciativas de diferentes lugares do país. 

O objetivo é consolidar um grande e-commerce cooperativista, em que as cooperativas tenham um ambiente customizado e se sintam à vontade para expor seus produtos e serviços, contar as suas histórias e oferecer o que tem de melhor: a parceria. 

Conheça a plataforma NegóciosCoop

====================================================================================


Esta matéria foi escrita por Lucas Pavanelli e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Uma fábrica de experimentos

Olhando o calendário, o ano corrente é 2021. Mas, quando o assunto é transformação e aceleração digital, já estamos no Brasil de 2030. E não se trata de viagem no tempo. A provocação é de Renato Mendes, coautor do livro Mude ou Morra. Segundo ele, sob a perspectiva dos negócios, a pandemia trouxe um fenômeno interessante que deveria ser aproveitado por todos: a aceleração no processo de digitalização.

Renato Mendes,professor do Insper.


No cenário pré-pandemia, o digital ‘era quase uma obrigação’; o que estamos vendo hoje é que ele agora é uma necessidade”, afirma Renato, também professor do Insper e da Pontifícia Universidade Católico do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Para o pesquisador, o surto sanitário, em si, não trouxe elementos novos, apenas acelerou mudanças que já estavam por ocorrer: maior consumo de plataformas on-line, como cursos e reuniões. 

“Não tem desculpa para não estar se preparando para o digital, porque isso já iria acontecer. A diferença é que essa mudança aconteceria daqui a dez anos, mas aconteceu em alguns meses”, endossa. 

“Estamos vivendo o Brasil digital em 2030. E a minha provocação inicial é: vocês estão preparados para o Brasil digital de 2030?”, questionou ao participar de painel on-line com a presença de representantes de diversas cooperativas durante a Semana ConexãoCoop.

CAMINHO SEM VOLTA

Na avaliação do especialista, não há alternativa, no mundo de hoje, que não passe pelo uso dos canais digitais. E os objetivos são claros: conhecer melhor o público; vender mais, e se comunicar com a base. 

O digital tem que estar na agenda de todo mundo, independentemente do setor de atuação ou do tamanho de cada uma das operações”, enfatizou.

Renato Mendes destaca que vivemos uma mudança de paradigma da “economia tradicional” para a “nova economia”. Por isso, é  necessário estar preparado para não ficar para trás e perder relevância. 

“Não temos opção, a não ser entender o funcionamento desse novo mundo digital, conhecer as melhores práticas e se aproveitar delas nos negócios.”

Na avaliação dele, é preciso aprender “o jeito startup de fazer negócios”. “Essa é a turma que puxa a fila, qualquer que seja o assunto ligado ao digital. Eles recrutam as melhores pessoas, vendem melhor, se comunicam melhor, têm ferramentas de gestão mais eficientes.” 

CLIENTE EM PRIMEIRO LUGAR

Entre os principais aprendizados da nova economia, Renato Mendes aponta o que considera o principal: foco no cliente. 

Nas economias tradicionais, empresas e cooperativas desenvolvem um modelo de negócios que funciona para elas, criam um produto internamente e, em seguida, empurram essa “solução” para os clientes. 

Na nova economia — guiada pelo pensamento startup —, esse tipo de receita não funciona. O caminho é inverso: elas primeiro ouvem o cliente para depois planejar algo para eles. Existe uma cultura de escuta ativa, que valoriza e prioriza a opinião do usuário final, não havendo espaço para suposições ou achismos. 

Ele alerta, ainda, para um erro comum nas empresas de pensamento analógico: tentar copiar o concorrente, em vez de criar soluções para o consumidor. 

Apaixone-se pelos problemas do seu cliente e não pelo seu produto”, enfatizou.  

Ainda segundo ele, a premissa que move as startups é ser mais eficiente na resolução de problemas. “Eu costumo dizer que startup boa é aquela que é resolvedora de problema de cliente. Qual problema a cooperativa de vocês resolve? De quem é esse problema? Como é que essa turma resolvia esse problema antes de você existir, ou como é que ela resolve com o seu concorrente? Vocês estão colocando na mesa pra fazer melhor? É a melhor condição de pagamento? É a melhor experiência? O que vocês fazem melhor?”, questionou o especialista. 

JOGO DA APRENDIZAGEM

Errar faz parte do processo de crescimento e aperfeiçoamento dos negócios. De acordo com o professor do Insper, startups entendem que nada nasce perfeito e, portanto, é preciso focar no aprendizado para ter um produto ou serviço melhor. “Só não evolui quem está parado”, afirmou. 

Um modelo de negócio que faz uma empresa crescer hoje pode não funcionar amanhã. Por isso, segundo o especialista, é preciso observar os ciclos de aprendizado e crescimento. 

Crie seu modelo desafiante antes que o modelo campeão — aquele que dá certo e que lhe trouxe até aqui — mostre sinais de esgotamento.” Um caminho para isso, aponta, é testar rápido e constantemente novos produtos e serviços.  

“Na velha economia, ganhava o jogo quem tinha a melhor ideia, e isso mantinha o negócio por anos. Na nova economia, ganha quem aprende mais rápido. É um jogo de aprendizado, de tentativa e erro, com metodologia, não é bagunça”, avaliou.

Segundo ele, na economia tradicional há uma aversão ao erro. As startups, entretanto, testam muito e 80% das hipóteses mostram-se equivocadas. 

É preciso entender que o erro nada mais é do que um processo de aprendizado para o novo, mas isso não quer dizer que é para cometer um erro que vá colocar a cooperativa, a saúde financeira da empresa em risco”, advertiu, destacando que é preciso ser proativo e agir rápido para evitar ficar para trás da concorrência. 

E atenção para a dica de Mendes: “é preciso incentivar que as pessoas experimentem coisas novas. As cooperativas têm que ser uma fábrica de experimentos”.

Ainda segundo Renato, o modelo de gestão do futuro é o que faz as pessoas se sentirem empoderadas e instrumentalizadas para testar e experimentar constantemente. “Empresas tradicionais gastam muito tempo tentando evitar erros, quando o foco deveria estar em corrigi-los rapidamente e aprender com eles”, concluiu. 

O caminho para mudança de mentalidade — ele admite — não é simples, porém é urgente. “Antes, ganhava quem tinha uma super ideia e um super planejamento; hoje, ganha quem aprende mais rápido, quem tem capacidade de adaptação: adequar o plano à medida que o cenário muda. E a pandemia trouxe isso como aprendizado”, observou. 


Esta matéria foi escrita por  Por Manuel Marçal e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Compromisso com a excelência

Em São Paulo, uma cooperativa se destaca pelo compromisso com a excelência da gestão: o Sicoob Coopmil. Fundada em 1989, a singular atende cerca de 60 mil associados, entre policiais militares e civis, servidores da Secretaria de Segurança Pública, pensionistas, funcionários da Cruz Azul e das Guardas Civis Municipais. São mais de vinte anos a serviço de um público exigente, trazendo resultados. Por isso, hoje o Sicoob Coopmil conta com 35 postos de atendimento espalhados em todo o estado, incluindo a capital  paulista. 

Apesar do histórico de sucesso, a cooperativa decidiu avaliar sua gestão em 2014 e se deparou com um amplo campo de evoluções necessárias. Na época, ainda não havia o Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas. 

Por isso, a diretoria optou por um outro modelo de avaliação: o CMMI (sigla em inglês para Modelo Integrado de Maturidade em Capacitação). "O processo do CMMI tem cinco níveis de maturidade. Naquela oportunidade, quando nós fizemos essa avaliação, chegamos à conclusão de que estávamos apenas no nível dois, então havia muito espaço para melhorias”, explicou o diretor de Negócios do Sicoob Coopmil, Coronel Wellington Venezian. 

Logo no início, a singular estabeleceu metas ambiciosas. "Queríamos que todos os processos ligados ao associado fossem certificados pela ISO 9001/2015. Conseguimos a certificação em 2016. Fomos a segunda instituição no Brasil a conquistá-la; com isso, subimos para o nível três no CMMI", recorda.

Ao saber do lançamento do PDGC, Venezian optou por mudar de programa de avaliação de gestão. "Nós precisávamos de um apoio mais robusto, né? Que pudesse levar a cooperativa à excelência, à maturidade e que tivesse relação direta com o nosso modelo de negócios. Por isso, adotamos o PDGC.” 

Já em 2017, a cooperativa foi reconhecida na categoria Bronze pelo Prêmio SomosCoop Excelência de Gestão, no estágio “Compromisso com a Excelência”. Em 2019, foi prata na mesma categoria. Decidiram, então, que este ano buscarão o reconhecimento na modalidade "Rumo à Excelência", o último estágio premiável (já que o nível "Excelência" ainda não está disponível). O objetivo é alcançar o último estágio em 2025, ou seja, depois de dois ciclos no "Rumo" certo. 

O que nós buscamos é fazer do Sicoob Coopmil uma organização de referência nas melhores práticas de governança e gestão do Ramo Crédito. Sabemos que essas práticas geram resultados e, acima de tudo, a sustentabilidade do nosso negócio”, resume o coronel. 

===============================================================================================
Norma ISO 9001 2015 incentiva a qualidade dos processos de uma organização, por meio da aplicação de importantes requisitos, como: planejamento das atividades; definição de metas; implementação de planos de ação; e relacionamento com clientes, fornecedores e colaboradores

===========================================================================

QUALIDADE NO RIO GRANDE DO SUL

Os gaúchos têm no analista técnico do Sescoop/RS Guilherme Quadros uma referência para tirar dúvidas e ficar por dentro do PDGC. “O programa é ferramenta indispensável no momento que vivemos. O diagnóstico da governança e da gestão gera insumos para a melhoria contínua e a sustentabilidade das nossas cooperativas, seja qual for o seu ramo, porte ou tempo de atuação”, diz. Foi a partir das indicações dele que a Saber Cooperar chegou a dois cases de sucesso em relação ao PDGC no estado: a Unimed Central de Serviços, de Canoas (RS); e a Sicredi UniEstados, de Erechim (RS).

"A Sicredi UniEstados teve início em 14 de abril de 1981, quando um grupo de agricultores de Erechim juntou forças para constituir a sua cooperativa de crédito. Em 1992, ingressamos no Sicredi e passamos a fazer parte de um sistema nacional, fato que fortaleceu a nossa atuação local. Em outubro de 2006, com uma estrutura já sólida e bem-vista pelo Banco Central, conseguimos aprovação para nos tornarmos uma cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados, passando a atender outros públicos, além do rural", lembra o coordenador de Processos e Qualidade da Sicredi UniEstados, Iran Joel Bandurka.

O que era uma cooperativa pequena tornou-se, com o tempo, uma gigante. Desde 2006, expandiu-se para Santa Catarina e, mais recentemente, para Minas Gerais, somando 105 mil associados em 45 municípios nesses três estados. Era, claro, preciso organizar a gestão e ter instrumentos corretos para crescer mais e melhor.

A caminhada da Sicredi UniEstados no PDGC começou em 2015, no nível Primeiros Passos. No ano seguinte, avançamos para o Compromisso com a Excelência, permanecendo de 2016 a 2019. Em 2020, identificamos que estávamos preparados para novamente nos desafiar e avançar para o nível Rumo à Excelência. A cultura da Excelência foi se consolidando nestes anos, embasada nos fundamentos da Excelência e, principalmente, no olhar do PDGC para a melhoria contínua", destaca Iran.

Para trabalhar no PDGC, a cooperativa estabeleceu seis etapas estratégicas, que passam pela análise do ciclo anterior, a construção do plano de trabalho, a revisão de práticas de governança e gestão, a avaliação de resultados, a participação no Ciclo do PDGC e, a cada biênio, a participação no Prêmio SomosCoop Excelência de Gestão.

“O PDGC, em todos os seus ciclos, nos deixa a validação do trabalho e as lições aprendidas, nos motivando a seguirmos em frente, buscando, cada vez mais, construir uma cooperativa sólida, sustentável e inovadora”, arremata Iran.

Já a Unimed Central de Serviços-RS tem sede em Canoas, no Rio Grande do Sul. Ela presta serviços para as cooperativas do Sistema Unimed, hospitais, clínicas, laboratórios e cooperativas de crédito de todo o Brasil.

Desde 2009, a entidade tem como norteador de suas atividades e estratégias o Modelo de Excelência em Gestão (MEG) — metodologia também criada pela Fundação Nacional da Qualidade para avaliar a maturidade da gestão das organizações. Mas a Unimed Central de Serviços encontrou no PDGC a oportunidade de potencializar o processo de aprendizado organizacional, no que tange às boas práticas de gestão e governança. Em 2019, participou pela primeira vez, e foi possível identificar e promover as melhorias necessárias ao seu desenvolvimento.

Em função da pandemia da Covid-19, a cooperativa enfrentou diversos desafios, como a adoção do teletrabalho pela maior parte de seus 318 colaboradores. Foi a oportunidade, porém, de tornar a cooperativa mais conectada e digital.

Para o diretor-presidente da Unimed Central de Serviços, Jorge Guilherme Robinson, “a participação no PDGC é um estímulo permanente para mantermos o nosso nível de prontidão para a gestão da Cooperativa, e a participação no Prêmio é uma oportunidade de termos uma avaliação externa qualificada sobre as nossas práticas e os nossos resultados”.

QUALIDADE TAMBÉM EM MATO GROSSO E EM RORAIMA

Sediada em Sorriso (MT), município considerado a capital brasileira do agronegócio, a Sicredi Celeiro MT RR participa do PDGC desde 2015 — segundo ano de premiação. 

A gente sempre tem um olhar mais interno da nossa cooperativa, né? E nós procurávamos uma visão externa do nosso processo de governança, das nossas práticas. Foi quando conhecemos o PDGC. Vimos no programa uma oportunidade de ter um olhar especializado, de uma entidade que conhece o cooperativismo e seria capaz de mostrar se estávamos caminhando no rumo certo.  Foi isso o que nos levou a, no primeiro momento, buscar a participação no PDGC. Não tínhamos a ambição de configurar entre as melhores classificadas, os melhores pontuados", lembra o diretor executivo Marcio Luiz de Abreu.

Se o processo foi despretensioso, também despretensiosamente, já no primeiro prêmio, a Sicredi Celeiro MT RR conquistou a medalha de prata na categoria Primeiros Passos. 

"Em 2017, nos inscrevemos de novo, já no segundo nível (Compromisso com a Excelência). Uma grande felicidade aqui pra toda a equipe: a gente conquistou a posição Ouro dentro dessa categoria. Com isso, cada vez mais, a expectativa aumenta. A vontade de melhorar, de realmente se superar, fez com que, em 2019, nos  inscrevessemos na categoria Rumo à Excelência, conquistando a Prata. Agora, queremos seguir melhorando para conquistar o Ouro nessa categoria", revela Márcio.

Com 31 anos de história, 380 colaboradores atuando em oito municípios mato-grossenses, a Sicredi Celeiro ganhou, em 2020, a autorização do Banco Central para atuar; também em todo o estado de Roraima. São, hoje, 75 mil clientes só em Mato Grosso, e serão muito mais quando forem instalados os pontos de atendimento no novo estado de atuação —- no momento, estão na pré-implantação desses pontos. 

Está vendo só? Não é à toa que a cooperativa segue crescendo, mesmo em um ano difícil como o pandêmico 2020. Se quiser o segredo do sucesso, ele está nas quatro letrinhas que dão título a essa reportagem: PDGC!


Esta matéria foi escrita por  Por Morillo Carvalho e está publicada na Edição 34 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação